domingo, 25 de abril de 2021

Projecto Bacalhau: Dia 3 - Rumo à Costa

Memórias de um passado próximo

O dia está mais fresco e nublado. É o terceiro da minha Volta a Portugal. A manhã começa num pequeno café em Fátima, não muito longe do Hotel, onde não havia pequeno almoço. E o pequeno almoço é muito importante quando uma pessoa se move à base da sua própria energia. Sentado observo a pequena comédia de enganos, enquanto os frequentadores do estabelecimento tentam negociar  as novas regras deste mundo pós-COVID. Alguns entram sem máscara, colocam a máscara quando estão sentados, mas imediatamente a retiram, pois com ela posta não conseguem beber a sua bica. Depois, só se lembram de voltar a colocar a máscara quando já pagaram e estão de volta à rua. A maioria são idosos e as empregadas vão lembrando as regras, mas também parecem não querer ofender os clientes.


No meio de sítio nenhum


O plano que estabeleci para hoje é basicamente chegar até ao mar, até a costa, em São Martinho do Porto. Uma belíssima localidade onde estive apenas uma vez, também de bicicleta, e tenho vontade de regressar. Não tenho track em GPS para seguir, pelo que tenho que arranjar um. A maneira de fazer isso é usar a ferramenta de criação de percursos da Bryton, acedendo através do telemóvel. Depois é sincronizar com o meu GPS da marca, o que apenas dá para fazer fora de casa se eu ligar o GPS ao telemóvel via Wifi Hotspot, pelo que para fazer isso preciso de ter boa rede. A sincronização por Bluetooth não funciona. Não é tão boa solução como usar o Komoot, que também tenho, mas o meu GPS não é compatível. Ainda assim este sistema permite manter uma certa flexibilidade de decidir o percurso, dia-a-dia. 


Há uma relação amor-ódio com este bicho

As minhas queimaduras ainda incomodam um bocado e após alguns quilómetros a minha pele tem um aspecto estranho, uma mistura da vermelhidão da queimadura, com creme hidratante, mais suor e pó da estrada. Talvez fosse disto que os Romanos faziam a sua misteriosa argamassa. Tento não pensar muito no assunto, até porque tenho mais coisas com que me preocupar. Os travões de disco estão a fazer uma chinfrineira desgraçada e nada os convence a calarem-se. Já limpei as pastilhas e os discos, o melhor que pude, sem efeito. Começo a pensar que talvez isso seja sério e afecte a travagem, pois vou passar por estradas de montanha na Serra D'Aire e não quero surpresas. 


Isso está bonito está!


Em Fátima ponderei comprar alguma camisola de manga comprida, mesmo que fosse uma coisa muito simples e não de desporto, para proteger os meus braços do Sol, já que rolar depois do meio-dia torna-se doloroso. Tenho uma jersey de manga comprida, mas acaba por ser muito quente. A solução para proteger os meus braços queimados mas continuar a pedalar ao Sol acabou por ser vestir o impermeável. É fino e o aumento da transpiração que traz o seu uso é suportável. Acabo por preferir isso à sensação de ter os braços a arder! 


Surpresas acabei por não ter, além de umas vibrações mais fortes em travagem, e de ter apanhado mais trânsito que o esperado, inclusive muitos camiões na serra. Pelo caminho lavei a bicicleta numa lavagem para carros, que a libertou do pó dos caminhos de Fátima e levantou a moral da expedição. Entre curva e contra curva, sobe e desce constante, estive na Batalha e em Aljubarrota,  o que trouxe consigo memórias de outras aventuras, de outro tipo, de um passado recente. Mas o caminho é, como sempre, para a frente. E ao fim do dia dei por mim na estrada para São Martinho do Porto, com o mar à vista ao fundo, e com um Parque de Campismo ali à mão. 


Vista em Aljubarrota


A inevitável foto com a padeira



Sombra agradece-se



Monumento a Humberto Delgado



Acho que é aqui...


Este estava fechado


O parque de campismo dos arredores tinha boa pinta, mas estava fechado. Nada de inesperado, na actual conjuntura. Eu sabia que havia outro parque mesmo ao pé da praia, por isso rumei ao centro, confiante de que finalmente iria dar uso à minha minúscula tenda. Assim foi, o parque de campismo era horroroso, mais parecia um descampado, ou mesmo um parque de estacionamento, e tinha zero serviços , tal como tinha zero árvores e zero bancos, mas estava aberto e tinha espaço. Estava demasiado cansado para procurar alternativas. E estando ao lado do mar, a vista não era má de todo. 


A praia não tinha muita gente


São Martinho do Porto continuava absolutamente divinal. Teria sido um final de dia apropriado jantar um peixinho, num restaurante acolhedor junto à baia. Afinal, os 250km em três dias mereciam ser comemorados.  Contemplei a hipótese com um sorriso. Mas sozinho e mal vestido, depressa perdi a vontade. Limitações deste tipo de viagem. Acabou por ser outra vez supermercado e jantar feito no fogareiro, no parque de campismo. Pouco depois do pôr do Sol estava a dormir, pois ainda tinha muitos km pela frente.


Casa, por umas horas


Dia 3.
Fátima-São Martinho do Porto. 75km (Estrada)

2 comentários:

  1. Relativamente aos travões resolveste a situação com a limpeza apenas ou tiveste que agilizar algo mais?

    ResponderEliminar
  2. Olá Gonçalo. Mais para a frente acabei por trocar as pastilhas mas não era necessário, estavam apenas sujas.

    ResponderEliminar