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Lisboa, Terreiro do Paço |
Depois do sucesso em Londres, a
Raleigh veio comigo para espalhar charme pelas ruas de Lisboa. (E talvez um bocadinho de óleo também). Ora eu estava à espera de encontrar diferenças e até alguns problemas no uso de uma bicicleta de estrada em Lisboa e, vai-se a ver, tinha razão.
1. Transmissão. Há varias questões a ponderar. Para começo de conversa, que tal as lendárias e absolutamente míticas colinas de Lisboa? Se há coisa que vem sempre à baila em conversas sobre biclas e ciclismo utilitário, até na imprensa, são as colinas. As colinas são o nosso fado. E a derradeira desculpa de uma sociedade comodista, perdida em provincianos ideais de "conforto". Sim, Lisboa não é plana, mas poucas cidades o são, completamente. A minha Raleigh vem munida com uns
pratos 52-42 e
carreto 14-24. São mudanças relativamente pesadas, normais numa bicicleta
de corrida, que privilegiam mais a velocidade do que as subidas. Mesmo assim, não tive qualquer problema em Lisboa, até agora têm chegado para tudo.
2. Piso. Lisboa tem piso bom, assim-assim, e completamente terceiro-mundista. Do excelente ao deplorável pode levar só alguns metros. As bicicletas de estrada preferem asfalto perfeitamente liso, e se esse pavimento pode ser encontrado em Lisboa, é mais fácil localizar empedrado ondulado, asfalto esburacado e deformado, e lajes de betão desalinhadas nas ruas da capital. Mesmo munido de pneus largos
700x28,
a Raleigh sofre bastante em algumas zonas de Lisboa. (Av. Duque de Loulé, Rossio, Av. da Liberdade, Rua do Ouro, Cais do Sodré, e um longo etc.) As vibrações e os solavancos podem ser mais que muitos, e é aqui que um modelo de bicicleta com suspensão e/ou um quadro mais robusto claramente leva vantagem. Outro problema nefasto são os carris de eléctrico, onde um pneu 28 cabe sem dificuldade. Todo o cuidado é pouco.
3. Velocidade. Vou vos contar um pequeno segredo. É daquelas coisas que toda a gente no fundo sabe, mas não quer aceitar: todas as bicicletas andam à mesma velocidade em ambiente urbano. O que conta realmente é o
motor. Não acreditam? Façam o teste. Num percurso conhecido usem uma bicicleta urbana de 25 kg e 3 mudanças. Depois, noutro dia, façam o mesmo percurso, mas com a vossa máquina desportiva predilecta, tipo uma bicicleta de estrada em
crabono de 8 kg e pneus anorécticos. Aposto que a diferença de tempos nunca ultrapassará um minuto ou dois. Isso porque a cidade, com os seus cruzamentos, semáforos, passagens de peões, impõem o seu próprio ritmo. E foi isso mesmo que eu constatei. A Raleigh não é mais rápida a realizar os meus trajectos tradicionais que o era a minha
Riverside (7 kg mais pesada) ou a minha
BTT adaptada (4 kg mais pesada). Levo exactamente o mesmo tempo. Isso não invalida que eu possa agora acelerar mais rápido ou manter facilmente uma velocidade mais elevada, o que permite fugir dos
Fogareirus Raivosum e torna mais fácil (e divertido!) conviver com o resto do trânsito.
4. Utilitarismo. A maior parte das bicicletas de estrada não têm apoios para grades porta-bagagens ou guarda lamas, não toleram pneus largos, não protegem a roupa da transmissão e obrigam a posições agressivas, pouco confortáveis. Um modelo mais idoso, como o meu, normalmente sofre de apenas alguns destes males. Graças a uma maior altura do avanço, tenho uma posição confortável, a Raleigh aceita pneus relativamente largos e tem apoios para guarda-lamas. O transporte de carga é que está mais complicado de resolver. Há muitas hipóteses, desde "
p-clips" no quadro para colocar a grade porta-bagagens, a grelhas dianteiras, "
saddle bags", as opções são várias, até agora tenho optado pela fatídica mochila. Quanto ao sujar a roupa, já me acostumei a dobrar a perna das calças do lado direito. Para quê complicar?