Fui recentemente confrontado com mais um mui nobre serviço que o Sr. Carlos Barbosa prestou à nação. Depois de impedir os planos da CML, que pretendia devolver a baixa de Lisboa às pessoas e encerra-la ao trânsito automóvel, depois de confrontar publicamente as autoridades pelo seu descaramento de passar multas a quem circula em excesso de velocidade, (ver aqui texto de um admirador), depois de encher páginas de jornais na sua cruzada contra o elevado custo dos combustíveis, o Sr. Barbosa utilizou uma campanha de sensibilização sobre atropelamentos em meio urbano, cujos números recentes são trágicos, para nos revelar mais uma verdade escondida. E a verdade é só esta: a culpa é dos peões.
O presidente fala. O povo escuta. |
Seria fácil classificar o Sr. Barbosa como uma besta, mas isso seria passar ao lado do problema. Eis uma das frases mais repetidas pelos media, atribuída ao Sr. De Barbosa: "Mesmo que o automobilista venha a 30 ou 40 km/h e o peão se atirar para a passadeira dificilmente o peão não será colhido. As pessoas atravessam em qualquer lado como se lhes apetecessem e tivessem direitos"
Lá está. Não interessa se o peão tem prioridade nas passadeiras, que pelos vistos só tem se não vier absolutamente nenhum carro, segundo o Sr. Presidente. A questão paradigmática é que essa gente, esses peões, pensam que têm direitos. Obviamente, não têm. Há pessoas em Portugal que ainda não perceberam, mas eu faço um favor ao Sr. Presidente e explico: se não estás ao volante de um veículo motorizado, não tens qualquer direito, excepto talvez o de permanecer calado. Essa é a realidade que algumas pessoas não compreendem e para a qual o ReichFüher Barbosa chama, e muito bem, a atenção.
És um camponês miserável: não podes caçar nas terras do rei, ou serás enforcado. É óbvio. És um peão miserável, se te colocares no caminho de um membro da casta superior, a conduzir o seu reluzente exosqueleto com rodas, serás trucidado. É justo. Aliás, só não é justo porque o mui nobre senhor condutor ainda se arrisca a passar pela maçada de se atrasar meia hora, para dar a sua versão dos acontecimentos às autoridades. Depois vai à sua vida, enquanto o peão vai para a morgue.
Out of my way, peasants! |
Ora o Cavaleiro De Barbosa não costuma falar de ciclistas nas muitas entrevistas que dá. Conhecendo o que ele pensa dos peões, acho que consigo formar uma ideia. Mas o que mais incomoda no Presidente do ACP não é o facto de ele aparentemente viver na Idade Média (mais acertadamente, nas Dark Ages como diriam os anglo-saxões), onde uns são donos e senhores de todas as terras e têm todos os direitos e os outros... nem por isso. Não, o que irrita realmente é que este é um eficaz comunicador, que faz chegar a sua mensagem a um público ávido, um público que se sente oprimido pelos elevados custos de andar para todo o lado de pópó e injustiçado pela perseguição do estado, na forma de limites de velocidade, multas e radares. Em terra de cegos, o Barbosa é rei.