terça-feira, 27 de julho de 2010

Lisboa - São Torpes, dia 3: Descanso, estrada e mais bitoques

Praia da Galé




O parque de campismo da Galé é uma preciosidade do litoral alentejano. O espaço, as instalações, a organização, e, mais importante, a simpatia do pessoal, fazem deste parque um oásis de descanso e lazer na costa alentejana. Com uma das mais maravilhosas praias do país a servir de moldura, foi neste cenário que nos demoramos mais ao longo da viagem. Optamos por passar a manhã no parque, a tratar das pequenas tarefas que não podíamos mais adiar, como lavar e secar a roupa, limpar e verificar as bicicletas e tratar de algumas afinações. Os mais de 160 km que tínhamos feito até aqui deixaram marcas, não só no corpo, mas também no equipamento.


As nossas fiéis montadas aguardam o duche

Tenho noção que há quem faça 160 km de bicicleta num só dia, talvez antes de ir a casa almoçar, mas nós somos só duas pessoas normais, sem especial preparação física, e utilizamos duas bicicletas de BTT também perfeitamente "normais". A Decathlon da Marta, por exemplo, custou pouco mais de 200 Euros e já fez milhares de quilómetros. Com alguns cuidados, de certeza fará muitos mais.


Realizadas as tarefas, almoçamos no parque e partimos para uma pequena etapa rumo à vizinha cidade de Sines, onde planeávamos pernoitar. Em pouco tempo percorremos os cerca de 40 km de estrada, maioritariamente com berma e chegamos ao centro de Sines. Pelo caminho ainda nos cruzamos com vários outros ciclistas locais, que utilizavam a bicicleta para se deslocarem às praias da região.


A R 261-5 mais parece uma auto-estrada!

Em Sines parecia que já saboreava o peixe grelhado que ia comer ao jantar, mais ainda depois de ter descoberto uma espécie de feira de tasquinhas com comida regional. Tínhamos feito poucos km, íamos comer bem, tínhamos as bicicletas revistas e a roupa lavada, as coisas começavam-se a compor.

Esse "feeling" infelizmente durou pouco. Fomos escorraçados das tasquinhas por uma senhora diligente que parecia não gostar de bicicletas. Depois de uma subida íngreme, obstáculo que começávamos a considerar universal para chegar a todos os parques de campismo, fomos encontrar o dito... fechado! Tivéramos atempadamente o cuidado de ligar para todos os possíveis locais de dormida, a confirmar que estavam abertos, aceitavam seres humanos sem carta de campista e não estavam cheios. Alguma coisa tinha falhado.

Em Sines, mas não por muito tempo.


O cartaz não deixa margem para dúvidas.

Para um cicloturista, ser apanhado desprevenido numa situação destas é extremamente desagradável. Por sorte, nesta zona do país abundam os parques de campismo, ainda não era muito tarde e nós conservávamos energias suficientes para pedalar até Milfontes, se necessário fosse.

Voltámos à estrada e rumamos um pouco mais a Sul. Perdemos algum tempo à procura do Parque de Campismo de São Torpes, o mais próximo. Foi penoso pedalar nas estradas da região, por causa do vento que se levantou ao final do dia, mas sobretudo por causa do trânsito denso que havia na zona e o habitual comportamento execrável do "Zé do Volante" português, que não abranda, não dá espaço, e força a ultrapassagem mesmo que leve o guiador pela frente. Para completar o cenário, quando finalmente chegámos ao parque, constatámos que a zona de tendas era uma espécie de baldio, com lixo e carros espalhados um pouco por todo o lado, numa mistura de estacionamento ilegal com campo de refugiados. As diferenças para o parque da Galé, apenas a 60 km de distância, não podiam ser mais gritantes.


A zona de São Torpes é linda, os condutores nem tanto.

Resignados à nossa sorte, apressámo-nos a montar a tenda e tomar banho, para chegar a horas decentes ao restaurante. Este estabelecimento estava em sintonia com o resto do parque, um homem sozinho atarefava-se a servir à esplanada, fornecer jantares no interior e cafezinhos e licores ao balcão. Algumas horas depois conseguimos comer um bitoque gorduroso, servido sem arroz e sem salada, tal como tinha aliás acontecido na primeira noite em Sesimbra. E já não foi mau.

Dados do dia:

Km totais: 68
Velocidade média: 16,76 km/h
Velocidade máxima: 41,4 km/h
Água consumida: 1,5 L/pessoa

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