sexta-feira, 1 de abril de 2011

Bicicletas, Burocracia & Democracia

Autor: Rick Smith                                 www.yehudamoon.com

Pois é, já lá vão uns tempos desde a última vez que aqui estive. Não em frente ao computador, onde gasto uma apreciável parte do meu tempo, mas aqui, no Lisboa Bike, este espaço meio esotérico que constitui as páginas do blogue.

Venho juntar-me a toda a vasta comunidade virtual ciclista-utilitária e mobilidade-sustentável-orientada, todos os sete, para falar também eu um pouco sobre o já notavelmente famoso questionário do IMTT. Sim, alguns saberão o que penso da maioria das instituições do estado, mas continuo a pelo menos tentar ter uma atitude positiva em relação a estes assuntos: preenchi o questionário e enviei para "eles".

E numa altura em que somos solicitados para participar cívicamente em todo o tipo de processos democráticos, burocráticos e aristocráticos, porque não perder uns minutos com isto? É verdade que as respostas pareceram-me óbvias e chega a ser ligeiramente irritante preencher o inquérito, que de resto está tecnicamente fraquinho (ando a estudar Amostragem e Inquérito, é assim que se define, tecnicamente falando) mas aconselho mesmo assim toda a gente a fazê-lo. É bom para a... àquela coisa, como se chama... ...consciência!


Não haverá desse lado certamente paciência para ler todas as minhas respostas, por isso deixo aqui só dois exemplos das minhas soluções para as questões levantadas. Já se sabe que não há grandes consensos nestas matérias, por favor enviem o hate mail para aqui e deixem as abordagens mais civilizadas nos comentários.

Questão 1. Porque é que acha que em Portugal ou na sua cidade, a bicicleta não é um modo de transporte mais utilizado?

Há vários factores se conjugam para tal situação. Vou falar de Lisboa:

• Enorme excesso de trânsito automóvel na cidade.
• Urbanismo que tende a transformar ruas e avenidas em Autoestradas.
• Código da estrada tendencioso, injusto e perigoso, que na prática transforma o ciclista em cidadão de 2ª.
• Limites de velocidade inadequados em meio urbano, muitas vezes os 50 km/h são demais.
• Desrespeito grosseiro e constante dos limites de velocidade existentes por parte dos automobilistas e ausência total de fiscalização por parte das autoridades.
• Ignorância e falta de formação dos automobilistas, que não sabem como reagir perante um ciclista, tendo só a ideia geral que o ciclista “nunca tem prioridade”. 
• Existência de uma rede de ciclovias de péssimas características técnicas, com inúmeros cruzamentos perigosos, piso irregular e má sinalização. A rede não está interligada e a maior parte dos troços não vai a nenhum lado.


Questão 9. Neste Plano, qual deve ser, na sua perspectiva, o contributo das autarquias para a promoção das bicicletas e do modo pedonal?

As autarquias devem decidir de uma vez por todas se querem gerir verdadeiras cidades ou conglomerados de vias rápidas e parques de estacionamento. O nosso exemplo deveria vir das cidades do norte da Europa, infelizmente parece muitas vezes mais próximo dos modelos norte americanos, que nada têm a ver com a nossa realidade.

Sucintamente:

• Acabar com estacionamento público gratuito.
• Combater o estacionamento ilegal.
• Reduzir o número de faixas de rodagem, em geral.
• Aumentar a área dos passeios públicos.
• Baixar limites de velocidade para 40 ou 30 ou 20 km/h e fiscalizar ditos limites.
• Converter as avenidas transformadas em vias rápidas de novo em verdadeiras avenidas urbanas.
• Aumentar número de corredores e ruas exclusivas BUS.
• Dar acesso dos corredores BUS aos ciclistas.
• Fechar zonas históricas das cidades (permanentemente) ao tráfico automóvel.
• Aumentar zonas pedonais.
• Construir ciclovias segregadas (com sinalização adequada, piso realmente liso e uniforme, com prioridade e/ou semáforos nos cruzamentos) nas zonas onde os limites de velocidade não permitam a coexistência dos ciclistas com o trânsito motorizado.

2 comentários:

  1. Bem-vindo de volta a estas paragens!!

    O Yehuda Moon está espectacular! E as tuas ideias também.

    Um par de ideias extra, que talvez sejam detalhes do que mencionas acima (parto do princípio de que aumentar o uso de transportes públicos contribui para as pessoas andarem mais a pé):

    . Taxar a circulação de veículos motorizados nas cidades. O exemplo do sistema de ERP em Singapura parece-me excelente: de vez em quando o carro/táxi/moto passa debaixo de uma portagem electrónica e - tlintlin! - o Estado arrecada mais um dinheirinho, que aparece no visor do aparelho tipo via verde que vai no veículo e lembra ao conductor que talvez fosse boa ideia usar o autocarro ou metro, pedalar ou andar, ou circular a horas fora de ponta (o custo de cada "portagem" varia ao longo do dia)
    Para saber mais:
    - site oficial da Land Transport Authority
    - wikipedia

    . Aumentar a frequência de transportes públicos (aliada à redução do tráfego e aumento das vias exclusivas para transportes públicos)

    . Instalar sistemas de bicicletas partilhadas (à semelhança de outras cidades europeias como Barcelona, Londres, ...)

    . Criar sanitários públicos com duches para facilitar uso da bicicleta como meio de transporte quando as pessoas precisam de manter um grau de limpeza e formalismo razoável

    . (Esta fico a pensar se poderá ter maus efeitos mas à partida não parece má) Criar mais parques de estacionamento junto a estações de comboio e terminais de autocarros fora das cidades, para incentivar o uso de transportes públicos por quem mora longe desses lugares (isto requer colaboração entre diferentes autarquias)

    . Promover a aplicação e agravamento de penalizações a condutores de veículos motorizados (ex. retirar carta de condução e obrigar a adquirir uma bicicleta) que passem a menos de x metros de peões ou ciclistas, insultem peões ou ciclistas, não parem nas passadeiras ou ciclovias, passem sinais vermelhos, infrinjam limites de velocidade, estacionem em locais proibidos (ex. passeios, ciclovias)

    . Contratar o Danny MacAskill para vir até à cidade demonstrar o uso multi-facetado da bicicleta (após briefing para assegurar que os comportamentos ousados dele não criam anti-corpos nos cépticos ou críticos). Seria particularmente divertido mas provavelmente arriscado e talvez má ideia que ele demonstrasse como superar obstáculos de veículos atravessados no passeio ou ciclovias, saltando sem inibições por cima deles...

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  2. Tirando a questão do Danny MacAskill, no questionário existem perguntas para as tuas (muito boas) respostas! : )

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