domingo, 7 de outubro de 2012

A vida na faixa BUS

Circular ou não circular, eis a questão

Olá! Como têm estado? O que têm andado a fazer? Pedalar em cima do passeio, na contra-mão ou em passadeiras, sempre sem capacete? Eu também não. Mas se circularam em Lisboa durante a última semana pode ser que tenham reparado numa coisa chamada "greve".

Sim, o PREC do Séc. XXI continua em curso, e os funcionários das empresas de transportes públicos aparecem para trabalhar basicamente quando lhes apetece. Por causa disso, esta semana que passou fui obrigado a fazer todo o percurso de casa para Lisboa de bicicleta, já que as habituais toneladas de sucata graffitada sobre rodas que a CP carinhosamente chama de "Serviços Urbanos" não estavam disponíveis.

Por enquanto só na Av. da Liberdade

Mais habituado à bicicleta de estrada, e sem alternativas ao ciclismo veicular, reparei que passo algum tempo nas faixas destinadas aos transportes públicos da capital, BUS para os amigos. Embora por artes de magia negra a CML tenha tirado um coelho vesgo da cartola na Avenida da Liberdade, no resto da cidade e do país, oficialmente, os corredores destinados aos transportes públicos continuam interditos aos ciclistas.

Uso ilegal mas legítimo?

Isso não muda o facto de por vezes a faixa "BUS" ser a maneira mais segura de circular numa rua, por estar normalmente mais à direita e ter menos tráfego. Circular na faixa do meio numa avenida de três faixas com trânsito rápido, só porque a faixa da direita é BUS e não podemos legalmente lá estar, parece-me uma patetice especialmente perigosa. E eu não faço patetices. Tolices e disparates talvez, mas isso é uma matéria inteiramente diferente.

Divago. Dizia eu que é mais seguro e por vezes inevitável circular nas faixas BUS, coisa que de resto fiz legalmente e sem problemas durante meses na velha Londres. Imaginem as razias tipo-depilação-das-pernas-por-Fogareirus-Raivosum-em-Mercedes-190D feita à esquerda e à direita ao mesmo tempo. É o que acontece ao circular a, digamos, 25 km/h, na faixa do meio de uma avenida e a ser ultrapassados por paquidermes com exosqueleto metálico ao dobro da velocidade, de ambos os lados ao mesmo tempo. Not good.

Mesmo quando só existem duas faixas, os senhores automobilistas ofendem-se se ocuparmos a da esquerda por virtude da direita ser BUS. É que toda a gente sabe que a faixa da esquerda é para ultrapassar(!!!) e a bicicleta não tem estatuto social para fazer ultrapassagens. Embora isso seja um disparate, não deixa de reflectir a forma de pensar dominante nas nossas ruas. A prudência e os preços das consultas de ortopedia recomendam que circulemos à direita, independentemente de lá haver uma faixa BUS.

Nem sempre há largura para a bicicleta e o autocarro

Coloca-se depois o problema real de estarmos a atrasar os autocarros, eléctricos e táxis e normalmente quem é sensível à temática da mobilidade em bicicleta também compreende o importantíssimo papel dos transportes públicos. Além de que não convêm irritar os senhores motoristas profissionais da Carris, Vimeca ou outros, porque nunca se sabe como poderão reagir. (Dos Fogareirus Raivosum já nem falo). E esse é um problema aparentemente insolúvel, pelo menos por enquanto. Resta o alívio de saber de experiência pessoal que é raro ser ultrapassado por um autocarro em Lisboa, pela razão fundamental que a sua velocidade média real é ligeiramente inferior à minha. Cerca de 14,5 km/h é um pouco abaixo da minha própria média, que anda mais à volta dos 18 km/h.

Depois da "experiência" da Avenida da Liberdade, talvez a Câmara de Lisboa não veja entraves legais nem práticos a alargar o acesso dos ciclistas aos corredores BUS para toda a cidade, mesmo que isso implicasse criar mais faixas BUS. Eu voto nisso, sempre é melhor que tapetes vermelhos em cima do passeio.

5 comentários:

  1. Não diria melhor.
    Gosto de me rever no seu blog, continue o bom trabalho. Às vezes é dificil expressarmos alguns sentimentos, mas quando os lemos escritos por outrem é mais fácil ter uma conversa fluida sobre o que defendemos.

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  2. Parabéns pelo artigo, foste ao busilis da questão. Para que serve uma faixa inteira se está a livre de trânsito e é para nós mais segura pedalar nela?! Eu também votaria caso a edilidade invicta tivesse outra gerência.

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  3. Para mim isto nem é uma questão. Não me importa o que diz o código da estrada, em Portugal ou noutro país qualquer, sinto-me no direito e dever de circular na faixa do BUS ou semelhante. (Até um dia ser multado brutalmente? Preso?? :) )

    É melhor para todos. Faço isso o tempo todo no "fine country" de Singapura e nunca fui nem avisado, nem multado, nem insultado (e acho que não é suposto lá circular). Quando muito, talvez apertado por um bus pontualmente. Mas até acho que os condutores de autocarro singapurenses devem ter tido treino específico para respeitar bicicletas, pois o que me acontece com mais frequência é reparar que vai atrás de mim um autocarro a 30 km/h, a marcar passo até à próxima paragem, para não me ultrapassar e depois parar de repente à minha frente.

    Se nos comportarmos como se a regra já existisse, talvez ela já exista mesmo? Existe alguma história de alguém que já foi multado por ir na faixa BUS?

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  4. Engraçado o que aqui se lê... Preocupados com as faixas BUS, quando não se respeitam sinais, passadeiras, passeios, etc etc etc
    No meu tempo para andar de bicicleta tinha de ser detentor de uma licença e de matricula na bicicleta... Hoje, porque está na moda tudo é permitido aos alegados ciclistas (que sem estarem nos seus tempos livres se fazem deslocar em autos, utilizando na mesma as faixas BUS)
    Hipocrisia...

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  5. Depois de uma semana de razias por parte de alguns, como lhe chamas, "Fogareirus Raivosum" (genial!) e autocarros da TST , tanto na Av. Calouste Gulbenkian como na Av. de Berna - que fazem parte do meu percurso diário para o emprego - comecei a pensar se havia mais gente com o mesmo dilema:

    Faixa Bus = buzinadelas e razias de taxistas e autocarros (estão no seu direito porque, supostamente, não deveríamos andar ali)

    ou

    Faixa da direita = automobilistas furiosos « VAI MAS É PRÁ DIREITA !! »

    É bom saber que, afinal, há mais gente com o mesmo problema. Já começava a achar que seria eu quem estava a "desaprender" de conduzir a bicicleta :p

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