terça-feira, 28 de setembro de 2010
Deixem lá estar isso
Para grande frustração minha, o meu trajecto diário de bicicleta está, por agora, reduzido a uns meros 3 km. São 3 km todos os dias, são 3 km feitos a fundo, mas são só 3 míseros km. Menos de 10 minutos a dar ao pedal, para ir de casa à estação do comboio e regressar. Forçado a utilizar os transportes públicos, ando mais atento às suas problemáticas. E atenção, eu só uso transportes públicos finos: nada de autocarros comprados em 3ª mão à República Checa, nada de aturar a condução condicionada ao humor do senhor motorista, nada de perder tempo em engarrafamentos, acidentes e confusões a que esses paquidermes viciados em nhã-nhã de dinossauro estão sujeitos. Não, para este vosso escriba só serve bifinho do lombo, ou seja, comboio suburbano (da linha de Cascais) e metro.
Da utilização regular destes dois serviços, só posso dizer bem. Tirando a questão das máquinas dos bilhetes da CP, tudo me agrada. É talvez incrível, mas verdadeiro. Não sei se esses reclamadores profissionais, que têm sempre uma desculpa para usar o carro para ir nem que seja à casa de banho, andaram alguma vez de metro nos últimos 10 anos. Carruagens limpas, estações bem iluminadas, horários cumpridos, tudo o que é para funcionar, funciona. A CP é basicamente a mesma coisa.
Fiquei por isso intrigado quando soube que a cronicamente falida CP se preparava para adquirir carruagens e locomotivas novas, no valor de centenas de milhões de Euros. Boa parte desse novo material seria para a linha de Cascais. Ora eu não sou engenheiro, mas tenho a a ideia que os comboios não são propriamente produtos de consumo, como os modernos pópós, que a maior parte das pessoas acha por bem substituir cada 5 ou 6 anos. Com a devida manutenção, até um comboio a vapor com mais de 100 anos está apto a transportar passageiros. E assim à vista, não há nada nas carruagens que me diga a mim, utilizador, que aquele material é demasiado velho ou ineficaz. Por que razão uma empresa falida estava disposta a gastar muitos milhões, de dinheros públicos, para substituir carruagens confortáveis e seguras era algo que me ultrapassava.
Felizmente a crise parece ter colocado algum bom senso nas mentes geniais que dirigem a CP. Foi hoje noticia que a empresa arranjou maneira de largar o contrato de aquisição sem perder dinheiro. (Só a face). Não fico propriamente feliz de ver menos investimento a ser feito nos comboios, antes pelo contrário. Mas ainda acho que as prioridades de mobilidade continuam por cá muito mal definidas.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Ciclovias no passeio
A existência de uma ciclovia marcada e delimitada não é a panaceia para todos os males do ciclista urbano, todos o sabemos. Este vídeo publicado no site do El País, filmado em Madrid, uma cidade pouco amiga da bicicleta apesar ser completamente plana, prova que o problema não é só nosso.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Dia europeu sem carros?
Finda a semana europeia da mobilidade, um balanço. Confesso que estava na expectativa de ver alguma coisa especial acontecer ontem, o dia europeu sem carros. É que eu ainda sou do tempo em que se fechavam ao trânsito avenidas inteiras do centro de Lisboa, onde só circulavam os transportes públicos (mais as muitas excepções que os portugueses são pródigos em arranjar para qualquer regra).
Desde há uns anos para cá, nada. Para felicidade dos automobilistas mais empedernidos, que não conseguem passar sem a sua fiel montada um dia por ano que seja, nem um metro de asfalto fica nestas datas vedado à circulação das vacas sagradas. A semana da mobilidade é suposto promover o uso dos transportes públicos e da bicicleta, demonstrando que em condições mais favoráveis, ou seja, sem o asfixiante trânsito automóvel, estes podem ser meios de transportes mais cómodos, rápidos e tão seguros como o uso dos supracitados paquidermes que tudo entopem. As principais autarquias do país, e não só, ao que parece, decidiram que isso dá muito trabalho.
As iniciativas agora resumem-se a meros actos simbólicos, como a apresentação em Lisboa de um mapa de ciclovias que não traz absolutamente nada de novo. Aliás pelo contrario, serve de confirmação de que a câmara ainda nem tem previsto o traçado de uma ciclovia que finalmente ligue a cota do rio à zona do centro da cidade, algo como ligar a Praça do Comércio ao Saldanha, para mim o traçado mais importante do ponto de vista do ciclismo utilitário na cidade.
Mas será que podemos realmente esperar alguma coisa de um município que tem as ciclovias entregues ao pelouro dos jardins? Que este ano possibilitou aos ciclistas a benesse de poder ir brincar una noite para o Túnel do Marquês, fechado, das 23:30h às 05:00h??? Acham mesmo que esta gente leva a mobilidade sustentável minimamente a sério?
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Av. de Berna, ontem de tarde |
Desde há uns anos para cá, nada. Para felicidade dos automobilistas mais empedernidos, que não conseguem passar sem a sua fiel montada um dia por ano que seja, nem um metro de asfalto fica nestas datas vedado à circulação das vacas sagradas. A semana da mobilidade é suposto promover o uso dos transportes públicos e da bicicleta, demonstrando que em condições mais favoráveis, ou seja, sem o asfixiante trânsito automóvel, estes podem ser meios de transportes mais cómodos, rápidos e tão seguros como o uso dos supracitados paquidermes que tudo entopem. As principais autarquias do país, e não só, ao que parece, decidiram que isso dá muito trabalho.
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Campo Pequeno, ontem |
Mas será que podemos realmente esperar alguma coisa de um município que tem as ciclovias entregues ao pelouro dos jardins? Que este ano possibilitou aos ciclistas a benesse de poder ir brincar una noite para o Túnel do Marquês, fechado, das 23:30h às 05:00h??? Acham mesmo que esta gente leva a mobilidade sustentável minimamente a sério?
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
24h BTT: mais olhos que barriga
Nunca pensei que num post sobre uma prova desportiva viesse a falar de algo relacionado com os temas da mobilidade sustentável, mas a verdade é que estou prestes a fazer isso mesmo.
Para os não iniciados convém explicar que as 24h BTT de Lisboa são uma prova de BTT, amadora, disputada em circuito, a solo ou em equipa, num período de um dia. Neste caso, o percurso foi delineado nos terrenos do Jamor, num total de 13 km. A organização do evento é inteiramente privada, a cargo da Escola Aventura.
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A grande K espera para entrar em acção |
Infelizmente, a organização esteve mal, e desde a primeira hora. A prova foi adiada por vários meses, por razões nunca bem explicadas. As informações sobre o evento foram chegando a conta gotas, as mais importantes só conhecidas imediatamente antes da prova começar ou mesmo depois. O local escolhido para o acampamento era pouco mais que um baldio, com piso de brita, sem acesso a agua ou electricidade. Os balneários disponibilizados estavam longe, as casas de banho também. O percurso estava mal marcado e pior vigiado. Era fácil, sobretudo de noite, cometer erros que custavam tempo ou mesmo cometer erros propositados que fizeram alguns ganharem tempo. Os pontos de abastecimento de agua estavam colocados em sítios caricatos, antes de descidas, por exemplo. O jantar deixou de ser servido bem antes da hora prevista, etc, etc, etc. De realçar que por tudo isto, cada participante pagou 40 Euros.
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Tendas? Quais tendas? |
Sem forma de fiscalizar quem estava a prevaricar ou impor penalizações a quem não retirasse o carro do recinto, a organização depressa lavou as mãos do problema. O resultado foi dormirmos todos, não num acampamento, mas num parque de estacionamento, onde se via, de longe a longe, uma tenda. Todo um hino às vacas sagradas e à dependência patológica que algumas pessoas, incluído amigos que tenho como inteligentes e razoáveis, parecem sofrer.
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Afinal, para andar de bicicleta faz falta um carro. Aliás, muitos! |
Felizmente, o excelente ambiente de convívio e o próprio desafio da prova tornaram a minha participação nas 24h num acontecimento de boa memória. Passar da minha bicicleta utilitária para a BTT, em que já não mexia há algum tempo, foi, ao principio, desconfortável. Guiador baixo, pneus grandes a gerar atrito, ainda levei uns minutos a adaptar-me. Depois foi sempre a rolar, por uma vez até foi a rolar aos trambolhões por uma ribanceira abaixo, a que chamam de "kamikaze", vá-se lá saber porquê.
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Imagem: Rita Ramos |
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Da News
Este vídeo chegou-me via a newsletter da FPCUB. Vale a pena difundir. É uma reportagem sobre a evolução nos últimos anos (ou revolução?) do uso da bicicleta na cidade de Sevilha. A Andaluzia é das regiões espanholas que conheço pior. Tenho a ideia de que os andaluzes não são muito diferentes de nós, ou seja, também são todos meio ciganos. (Com perdão para o povo Roma.) Antes que comece a chegar o hate mail, esclareço que só quero dizer que são também pouco avessos a cumprir regras, obedecer a normas e talvez bastante obcecados com questões de status. Ou seja, gostam (demasiado) dos seus pópós, e fazem um uso muito "liberal" deles. Como nós.
A julgar pelas imagens do vídeo, os progressos na rede de ciclovias de Sevilha parecem ter sido conseguidos sem incomodar o divino fluxo das vacas sagradas. As ciclovias parecem estar todas nos passeios. As zonas do centro histórico continuam abertas ao tráfego automóvel. Há, aqui e ali, uns cruzamentos esquisitos, umas bicicletas a ter que descer passeios, enfim, coisas que, se fosse cá, diríamos feitas "à portuguesa". Agora, é inegável que eles fizeram notáveis progressos, numa terra com temperaturas médias muito altas, coisa tão ou mais problemática que as tão citadas (na hora das desculpas) colinas de Lisboa. Em suma, quanto mais não fosse pelas semelhanças, um exemplo a analisar.
Mais noticias: na edição do Público on-line vinha esta interessante peça. Já começa a enjoar a conversa dos carros eléctricos. Um trabalho incluído no separador "Ecosfera" do jornal, que não fala mais que de automóveis. Os média têm muita culpa em ajudar a propagar o mito do "carro amigo do ambiente". Tal coisa não existe. Querem um veículo eléctrico amigo do ambiente? Um que já existe há muitos anos? E que não estaciona em cima do passeio? Chama-se "Comboio". Experimentem.
Por fim, mais dois apontamentos. São sobre os blogues que, já terão reparado, sigo mais atentamente:
- Por um lado, os meus parabéns ao Pedro Fontes, o homem que atravessou África a solo, de Angola a Moçambique, montado na sua bicicleta de montanha. Depois de milhares de km, muito calor, muitos furos e alguns encontros mais imediatos com a fauna local, o Pedro chegou, são e salvo, a Maputo, segundo noticiou ontem a RTP2. Mais info também aqui. Uma viagem memorável!
- Por fim, o outro projecto que tenho acompanhado com grande interesse, a volta a Portugal do Paulo Guerra dos Santos está a aproximar-se da sua conclusão. Tendo lido avidamente as reportagens diárias desta epopeia, fica-se com a ideia de que Portugal não é só Lisboa e que no país, felizmente, muitos municípios parecem levar bem mais a sério as questões da mobilidade sustentável que o da nossa capital. Fiquem atentos ao site, era interessante que quem tivesse disponibilidade, se juntasse ao Paulo na sua última etapa, no regresso à velha Olissipo. Uma grande "escolta" de bicicletas seria o final merecido para esta aventura.
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