sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Custos do Automóvel: a Verdade Definitiva ou Alguma Coisa Vagamente Parecida

Auto-estrada A5 hoje de manhã
 
Em um lugar dos emails do Mubi, de cujo nome não consigo recordar-me, não há muito tempo vivia um fidalgo... E dizia ele que o pessoal defensor da mobilidade em bicicleta são uma espécie de Xiitas "anti-carro", e que isso seria uma reacção exacerbada normal, por simples oposição à força dominante ou algo assim. Tretas. A maior parte das pessoas que eu conheço fizeram simplesmente uma progressiva aprendizagem sobre os temas da mobilidade urbana. E qualquer um que se debruce minimamente sobre o assunto, acaba por constatar o volume incrível de problemas sociais que derivam da tentativa de acomodar, priorizar e apaparicar excessivamente o pópó e seus utilizadores nas nossas cidades. O uso e interesse na bicicleta pode vir antes ou depois desta constatação.

Há quem faça estes quilómetros de bicicleta em 4 ou 5 anos

Dito isto, talvez não seja estranho descobrir que alguns activistas da causa não são Xiitas e até possuem e utilizam automóvel. Mesmo este vosso escriba mantém na sua base secreta nas montanhas do Isaltinistão, um veículo de 4 rodas, movido à velha tecnologia de queimar nhanha de dinossauro. Trata-se uma pequena berlina alemã a gasolina (de nada, Frau Nein). Como já trabalhei, entre outras coisas, em contabilidade, tenho esta obsessão muito picuinhas de anotar todo o tipo de dados em folhas de Excel. E há um ano que ando a anotar cuidadosamente todas as despesas da viatura cá de casa. Porque uma coisa é fazer estimativas e recordar apenas os gastos mais importantes e outra é anotar mesmo tudo. Foi o que eu fiz.

Sim, o meu Excel é jurássico

Aqui ficam então, em estreia mundial, todos os custos do carro cá de casa, de Novembro de 2011 a Novembro de 2012. Tenham em conta que o meu perfil de utilizador será diferente do de muita gente. O carro não tem uso diário. Quando é chamado a prestar serviço, é para deslocações normalmente curtas. Depois pode fazer umas viagens no verão, mas nada de mais.

  • As despesas incluem: combustível, imposto de circulação, seguro de responsabilidade civil, inspecção, revisão anual, estacionamento, lavagens e portagens

  • As despesas não incluem: valor de aquisição, desvalorização esperada, pneus.       

  
Constatei pois que, sem contar com a desvalorização ou aquisição, o carro, mesmo passando a maior parte dos dias parado, recorrendo a oficinas de "marca branca" e outras medidas de contenção, aspira mensalmente 112 Euros. O custo por km ficou-se pelos 17 cêntimos. Mas este carro é especialmente económico nos custo de utilização. Aliás, aqui não há multas, avarias mecânicas, accidentes e outras surpresas. O valor por km atribuído por muitas empresas é de 0,36 Euros, o que é um valor médio razoável, a atribuir a todo tipo de viaturas e é suposto incluir a desvalorização do pópó.

Diz que o carro come à mesa com a gente. E serve-se primeiro

Para um fanático do automóvel estes custos podem parecer triviais, mas se se recorrer ao valor médio do custo por km para um cálculo rápido de deslocações as coisas tornam-se mais claras. Por exemplo, uma típica deslocação minha ao centro de Lisboa é de 36 km, ida e volta. Nada de especial. Mas isso daria um custo de quase 13 Euros só para chegar a algum lado. Ao fim de cinco dias úteis esse custo ascende a 64,8 Euros, um valor que chega para pagar a maioria das assinaturas mensais de transportes públicos.

Se aplicarmos esta mesma lógica ao antigo valor médio de quilometragem anual esperada para um automóvel a gasolina, 15.000 km, chegamos a um valor anual de 5.400 Euros, ou 450 Euros mensais. Basicamente, é quase um salário mínimo só para fazer os km "normais". Sendo que o salário médio real no nosso país ronda os 800 Euros, o romance tórrido que os portugueses mantêm com o pópó, mesmo que mais nada estivesse em causa, continua a revelar-se difícil de compreender.

É que o automóvel tem ainda muitos outros custos escondidos. Como os sempre crescentes impostos que sustentam uma colossal infraestrutura rodoviária, os custos em vidas humanas, os custos ambientais, os custos económicos de importar milhões e milhões em pópós e fósseis do Cretáceo para queimar, e um largo e penoso etc. E para mim, o custo escondido mais importante é a perda de liberdade e qualidade de vida a nível local. As crianças que não podem brincar na rua, os idosos que não saem de casa, os espaços públicos que só servem para estacionar os paquidermes de metal, a sensação omnipresente de insegurança.

Nada disto é inevitável, como muitos parecem julgar. Usar menos o carro é melhor para todos. E quem faz questão de usar o transporte individual em cidade tem alternativas, n'est-ce pas?

3 comentários:

  1. Optimo texto.Eu proprio tb tenho carro e nos ultimos anos tenho reduzido imenso os km ao ano.Realmente os portugueses tem uma relaçao muito especial com o carro, que na minha opniao tira imensa qualidade de vida a quem vive na cidade e nao é assim uma ajuda tao grande para a nossa economia,cumprimentos

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Não se esqueça do grande simulador dos custos do automóvel
    www.autocustos.com

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