segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dobrável "do Chinês": Actualização

A Giant com algumas alterações
 
Passadas umas semanas de utilização da Giant Conway de que falei aqui, impõe-se fazer um relatório actualizado. Não há muito que dizer, na verdade: a bicicleta tem sido usada regularmente, sem qualquer problema. Não surgiram folgas nem ruídos estranhos. Tudo continua a funcionar como deveria. Apenas há a registar um vulgar furo, que não mancha a reputação dos pneus, já que o culpado foi um espinho.

Prato Campagnolo e pedais de encaixe

O tamanho reduzido não é problema se o piloto também não for XXL

Para melhorar o desempenho da transmissão e permitir uma velocidade de ponta mais elevada, o proprietário trocou a pedaleira de origem (e o eixo pedaleiro) por nada menos que um prato Campagnolo de 52 dentes. A alteração é notória, mas com efeitos limitados: a velocidade máxima na practica não aumentou muito. A Giant monta agora também pedais de encaixe e um selim diferente, por opção pessoal. De realçar que muitos componentes desta bicicleta são standards da industria, o que facilita trocas e upgrades, o que nem sempre é o caso no mundo das dobráveis.

Esta dobrável já enfrentou piso mais complicado, sem problemas

De resto, esta chinesa está aí para as curvas. E parece provar que não é preciso gastar uma fortuna numa dobrável. O facto do uso não ser muito intenso e de o "piloto" não ser muito grande ou pesado, podem também ser factores importantes para este sucesso.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ciclismo Urbano durante o PREC

Amanhã é a última sexta feira de Outubro, pelo que haverá Massa Crítica. Não se prevê chuva para a capital da republica mas ainda estou para decidir se é desta que lá vou estar no Marques de Pombal. Falando em utopias, tem circulado pela blogosfera este vídeo:




É suposto ficarmos esclarecidos sobre o percurso Holandês na criação de infraestruturas e hábitos do uso da bicicleta como meio de transporte. A reflexão que somos convidados a realizar é a de que a Holanda não reunia nenhumas condições "mágicas" excepcionais para a adopção da bicicleta pelas massas. Era só mais um país com excesso de motorização, que soube inverter o seu paradigma, e portanto, o seu modelo de sucesso poderá ser adoptado em qualquer outro lugar do mundo.

Aparentemente os holandeses deram rapidamente conta de uma série de malefícios da ditadura do enlatado, nomeadamente:
 
  • Elevado espaço urbano consumido
  • Grande número de acidentes com vítimas 
  • Mortalidade muito alta, especialmente de crianças
  • Elevado preço combustíveis

A estas constatações por parte da sociedade, somou-se a crise económica provocada pelo choque petrolífero. Houve protestos, os políticos perceberam o problema e as coisas foram sendo resolvidas. É claro que a tentação para encontrar paralelismos entre os Países Baixos dos anos setenta e o Portugal dos nossos dias é grande. Senão vejamos:

  • Excesso de motorização? Oh, Sim.  
  • Elevada mortalidade nas nossas estradas? Sim!  
  • Espaço urbano arruinado para acomodar o popó? Check.  
  • Elevados custos de combustíveis? Os maiores de sempre!  
  • Grave crise económica? A pior de todas.     

Sem dúvida que há muitas semelhanças, mas também há grandes diferenças entre as duas realidades a nível social. Protestos? Também morrem muitas crianças em Portugal vítimas de acidentes de viação, atropeladas por exemplo. Não vejo ninguém a reclamar nas ruas por causa disso. Ainda à pouco tempo foram atropeladas crianças dentro da sua escola. Não me apercebi de indignação pública. Que eu saiba nem sequer ninguém foi castigado. Um pouco diferente da Holanda.

Os "Carfree Sundays" parecem ter sido uma iniciativa interessante para sensibilizar as pessoas. Mas se na Holanda dos '70 foi possível impedir o trânsito motorizado de circular uma vez por semana, em Portugal tal não tem sido possível nem uma vez por ano! Dia Europeu sem carros? Quando foi a última vez que alguém lhe ligou alguma coisa no município de Lisboa?


Fechar os centros históricos das cidades ao tráfego automóvel? Por cá isso começa agora a ser tentado, mas de forma tão tímida e com tanto desrespeito e excepções que ficam grandes dúvidas sobre este tipo de iniciativas a longo prazo.

Portanto, as condições e as causas coincidem. Mas a vontade de mudar nem por isso. Os portugueses querem lá saber das vítimas do automóvel. Nunca foi tema que interessasse aos nossos académicos, aos artistas ou à imprensa. O que indigna a sociedade é a falta de lugares de estacionamento! O que leva o português para a rua são os aumentos nas portagens das Auto Estradas, as mesmas cuja construção arruinou o país. Para o português médio os transportes públicos são coisa de destituídos e bicicleta é um brinquedo de fim de semana. Infelizmente acho que mais facilmente adoptamos a modelo de "mobilidade" do Egipto do que o da Holanda.

Portugal é um país maravilhoso. É pena é estar cheio de portugueses. Pessoalmente, de cada vez que penso em reuniões na CML em que se tomam decisões sobre ciclovias e mobilidade urbana, imagino algo como isto:

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A crise segundo o Snob

Às vezes gostava de ser uma espécie de Lisboa Bike Snob. A sério. Só há duas coisas que o impedem, na verdade. Em primeiro lugar falta-me, como se diz, hum... talento. E depois, e não deixa de ser importante, falta-me uma "bicycle culture" local com a qual gozar. Não digo que essa sub-cultura não exista entre nós, nem que esteja acima de crítica, no entanto são tão poucos e enfrentam um tal mar de injustiças e incongruências na nossa terrinha, que fica muito mais difícil critica-los.

Voltando ao guru norte americano da blogosfera movida a pedais, um post recente deixou-me a pensar mais do que a rir. A propósito de um acidente mortal envolvendo um ciclista e reflectindo sobre a incrível facilidade com que nos EUA são desculpados todos os actos de violência cometidos com um volante nas mãos, o Snob tenta encontrar explicações racionais. Cá não será muito diferente e por isso gostei das explicações que ele avança, meio a brincar, meio a sério.

Diz o Snob que, basicamente, os humanos não conseguem racionalizar as consequências de escolhas que parecendo proveitosas a curto prazo, terão efeitos negativos a longo prazo. Não conseguimos resistir a brinquedos novos, a coisas brilhantes e reluzentes, mesmo que isso implique sérias consequências num futuro não muito longínquo.

Neste quadro, os ciclistas são apenas, na melhor das hipóteses, uns incompreensíveis excêntricos, chatos, que atrapalham o prazer de "disfrutar" da condução de um bom automóvel, o brinquedo da sociedade por excelência desde o pós-guerra. Até aqui nada de novo, ainda o outro dia tive a triste ideia de ligar o televisor e no zapping entre canais deparei com esta cena de uma conhecida série norte-americana:




Mas com esta ideia podemos ir um pouco mais longe: o que são os problemas de urbanismo das cidades portuguesas senão o facto de autarcas gananciosos (ou desesperados por financiamento, depende do ponto de vista) terem autorizado todo o tipo de projectos, em qualquer sítio, sem respeitar a lei ou considerar as implicações? O que são as dificuldades em aprovar medidas em prol de uma mobilidade mais sustentável em Lisboa senão um reflexo da obsessão dos autarcas em serem reeleitos dai a uns anos? O que é a nossa inacreditável crise económica actual senão uma consequência de uma sucessão de governantes terem  trocado obras rápidas agora por um futuro completamente delapidado depois?

Não restam dúvidas que uma das características da nossa sociedade actual é a valorização do imediato. Que isso seja um atributo inato da humanidade também pode ser argumentado. Mas que seja incontrolável já não. A prova de que não abdicamos sempre de futuros proveitos em detrimento de ganhos imediatos é justamente que temos uma sociedade, uma civilização. Não somos caçadores recolectores, somos descendentes de agricultores, que tinham que saber esperar o ciclo da natureza para fazer as suas colheitas e produzir, eventualmente, a abundância.

Mas chegados aqui, parece que andamos a tomar uma série de decisões de curto prazo que são claramente contra os nossos interesses de longo prazo. Perseguindo o sonho de uma casa nova e confiando na mobilidade prometida pelo automóvel, os lisboetas há muito evacuaram a capital e vivem agora dispersos pela vasta periferia, completamente dependentes dos seus pópós e consequentemente da disponibilidade de combustíveis fósseis baratos. A maioria parece pensar que será assim para sempre, quando há sinais inequívocos de que a mudança é inevitável. E urgente.

Fonte: DriveSteady.com

Ávidos de satisfazer as massas auto-mobilizadas, bem como alguns compadrios políticos, as nossas classes dirigentes gastaram milhares de milhões, que na realidade não tinham, numa descomunal infraestrutura rodoviária, ao ponto de Portugal bater recordes atrás de recordes em taxas de motorização. Pelo caminho foi-se desmantelando (e continua-se a desmantelar) a Ferrovia, o único transporte de longo curso realmente sustentável, sob o argumento de que era demasiado caro.

Não é propriamente a minha área, mas não é difícil perceber que grandes infraestruturas levam anos, décadas a construir (Os milhares de quilómetros de AE's levaram mais de 20 anos). Se de repente o lisboeta-dos-subúrbios não pudesse suportar o preço dos transportes e quisesse mudar-se para mais perto do emprego, isso não ia acontecer do dia para a noite. E muito mais complicado é reconstruir a rede ferroviária que foi aniquilada por sucessivos governos fanáticos do asfalto.

Imaginem só por um momento que o crescimento económico não volta tão depressa. Que esta crise perdura. Não deveríamos estar a incentivar formas mais sustentáveis, economicamente, de transportar pessoas e bens? Porque que é que o estado continua a incentivar e financiar directa e indirectamente o uso do automóvel ao mesmo tempo que restringe e penaliza formas de mobilidade mais sustentável?

Ora eu não sou como aqueles manifestantes que são contra qualquer coisa mas nunca oferecem soluções. Mesmo sem mais preocupações que não as económicas, o que se devia estar a fazer agora era exactamente oposto do que se tem feito:

  • O governo da nação deveria estar a renegociar completamente os contractos ruinosos que o estado fez com as concessionárias das autoestradas. Se necessário fosse levava tudo para tribunal. Podia até fechar algumas AE's, que só a sua manutenção tem custos astronómicos.
  • Devíamos estar a investir com pés e cabeça na ferrovia. E não é preciso ser de alta velocidade.
  • A Assembleia devia aprovar legislação que promovesse o uso dos modos suaves, quer através de alterações do código da estrada que os protegessem devidamente, como por medidas fiscais que os incentivassem.
  • Os municípios deveriam restringir ao máximo o uso e estacionamento de automóveis no centro das cidades. O uso desnecessário do automóvel é uma sangria constante de dinheiro para o exterior. Ao mesmo tempo deveriam investir nas alternativas, onde se inclui o ciclismo utilitário.


Mas as mentalidades não se mudam da noite para o dia. Tudo isto que acabei de escrever parecerá nada menos que utópico para muitos. A realidade portuguesa não se deixa intimidar por trivialidades, coisas como "factos", "números"  ou "dados Concretos". E como dizia alguém, Portugal tem a capacidade de visão de futuro da cigarra, não da formiga. Infelizmente.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ideias para a crise, Sr. Antonio Costa

Agora que parece que já não vai ser preciso esperar pelo dia 21 de Dezembro de 2012 para testemunhar-mos o fim do mundo, talvez pareça descabido continuar a insistir em propostas para reforma dos modelos de mobilidade da cidade de Lisboa, nomeadamente no que toca aos modos suaves. Não só as pessoas têm mais com que se preocupar, como a construção de ciclovias e outras medidas são muitas vezes vistas como luxos dispendiosos, ideias a colocar na gaveta até que melhores tempos surjam.

Eu discordo. (Mas isso vocês já sabiam...)

Luxo é ter uma cidade completamente dominada pelo automóvel. Que eu saiba, os veículos automóveis que circulam nas nossas estradas são na sua imensa maioria importados. São movidos por combustíveis não renováveis, caros e importados na sua totalidade de países distantes. Os custos para manter uma enorme rede viária para todos estes popós são astronómicos, tal como é astronómico o custo ambiental que vamos pagando aos poucos,  na forma de cancros e doenças respiratórias. Já para não falar dos custos em tratamentos médicos para os feridos nos milhares de acidentes anuais (Nem vou falar em mortos).

Como pode então uma ciclovia ser cara? Apenas na perspectiva de que ninguém a vai usar e que é o asfalto, que são as ruas e avenidas, elas sim, imprescindíveis para o enorme tráfego de pessoas e bens da capital. Bom, a CML tem duas hipóteses: ou promove a construção de ciclovias à séria, ou promove medidas que restrinjam fortemente não só as velocidades praticadas como o próprio uso do automóvel na capital, possibilitando que as ruas se tornem minimamente seguras para os ciclistas. Idealmente, faria as duas coisas.

Como os técnicos da CML parecem perceber tanto de Ciclovias como o Alberto João Jardim percebe de democracia, aqui ficam só umas dicas:



Repare Sr.Costa:

  • Como a ciclovia está efectivamente segregada, tanto da estrada como do passeio. Não está encima do passeio e está devidamente protegida do trânsito automóvel.

  • Como a largura é razoável, para permitir ultrapassagens e permitir o uso por veículos eventualmente mais largos que a bici normal, Cargo-Bikes, por exemplo.

  • Como não existem paragens e cruzamentos de 20 em 20 metros, que obrigem o ciclista a parar e desmontar constantemente. 

  •  Como não é possível nesta configuração um ciclista ser atingido pela porta de um veiculo estacionado. 

  • Como o piso é liso e uniforme, sem carris de eléctrico, sem pedras soltas ou caixotes do lixo.



    Como diz, Sr. Costa? Não há espaço nas avenidas Lisboetas para algo deste género? Claro que há. Basta começar a remover faixas de rodagem e lugares de estacionamento dos popós! Como? Isso ia criar engarrafamentos e problemas? Claro que sim! Mas só até as pessoas começarem a usar a bicicleta e os transportes públicos, que são eficientes, económicos e podem ser fabricados localmente.


    Falando em transportes públicos, que tal um autocarro 100% eléctrico e com capacidade de transporte de bicicletas. Pois é, essas coisas existem, e não é só nos eco-motivados países do norte da Europa. Este bicho é Norte-Americano:



    Senhores da CML, escusam de enviar e-mails de agradecimento, já tenho a caixa cheia. Mas podem contar comigo para mais sugestões. Pior que o Nunes da Silva não posso ser.

    sexta-feira, 14 de outubro de 2011

    A bicicleta mais leve do mundo

    Um dos meus dois leitores fez-me chegar esta pequena curiosidade. Não que o peso da bicicleta seja muito relevante no ciclismo utilitário, mas tem sempre piada saber estas coisas. Assim, aqui fica a bicicleta de 2,7 kg. Sim, tem mudanças e funciona e tudo. Só não sei a quantos quilómetros sobreviveria nas ruas de Lisboa.

    Anorexia e muito Crabon

    Fiquem a saber mais desta maravilha do minimalismo no site TriRig.com. Por curiosidade e/ou diversão, talvez merecesse a pena comparar este modelo e o seu peso com o de uma tradicional bicicleta utilitária holandesa. Como uma Gazelle de 3 velocidades. Eu sei qual preferiria. E é a que custa 100 vezes menos que a outra...

    quinta-feira, 13 de outubro de 2011

    O regresso do Verão Azul. De bicicleta, claro.



    Agora que o tempo começa a arrefecer e a economia está já a baixo de zero, tomem lá uma injecção de nostalgia bem quentinha. Quem é que nunca sentiu vontade se assobiar o mítico tema do "Verano Azul" durante um passeio de bicicleta numa tarde solarenga? Pois bem, os protagonistas da mítica série dos anos 80 voltaram a reunir-se em Nerja, no Sul de Espanha, trinta anos depois. Foi organizado um passeio de bicicleta pela terra, já que um dos elementos mais carismáticos da série eram sem dúvida as bicicletas, que permitiam aos jovens personagens deslocarem-se com total liberdade, a caminho de mais uma aventura de verão.

    Se acabó la crisis: ahora viene el Apocalipsis

    Os Marathon parece que também furam

    Um bloguer famoso como eu, com uma audiência de mais de 3 leitores semanais, que priva com os ricos e os famosos da nossa praça, também é afligido pelos mesmos males que tiram o sono ao proletariado mais anónimo. Sim, furei um dos meus clássicos Marathon, mas o pneu teve pelo menos a dignidade de apenas tornar o problema notado já estando eu em casa. Pneus de pedigree têm logo outra compostura.

    A falta de ar também aflige a economia aqui do nosso cantinho, o pequeno rectângulo também conhecido por um certo líder regional como "o sítio onde os Cubanos escondem a massa". Já o título desta posta é uma frase em castelhano, uma piada ao estado da nação espanhola muito escutado em Madrid, quando lá estive o ano passado. Neste contexto, daquela que possivelmente é a maior crise económica de todos os tempos, é difícil esperar grandes avanços na área da mobilidade sustentável. 

    E como sempre, consensos entre a meia dúzia de excêntricos dispostos a lutar pela causa é coisa que dura menos que o tempo de prisão do Isaltino. Basta ler as discussões nos e-mails da MUBI ou os comentários que vão surgindo nos blogues de referencia. Toda a gente tem uma ideia diferente e todos são experts em mobilidade, acabados de chegar de Copenhaga.

    Entre as "certezas" de uns e a incontrolável vontade de protagonismo de outros, na prática continua tudo na mesma. E nas ruas de Lisboa, business as usual. Carros, carros e mais carros. Tudo lhes é permitido. Hoje foram atropeladas duas crianças dentro da sua escola em Caxias e pouco faltou paras que se dissesse que a culpa era delas. Irresponsabilidade a toda a prova. Assim o determina a maioria. E para que não se diga que sou eu que sou muito crítico, até do Norte surgem desabafos que não diferem muito da minha experiência.

    As infraestruturas não utilizadas têm a sua mera existência  posta em causa

    Mas quem é que faz cortes cegos ?!?!
    Este António Costa parece um menino grande a brincar às Farm Villes.... A CMLisboa continua com um buraco de endividamento de mais de 1000 milhões de euros. Mas António Costa continua a desbaratar dinheiro construindo pistas de ciclismo para os papás e os filhinhos se divertirem nos fins de semana... Nos outros países, onde há dirigentes mais competentes, fazem-se pistas de ciclismo para alternativa à utilização de viaturas, nos percursos para o serviço ou para zonas comerciais. Em Lisboa A.Costa fez uma brincadeira de quintinhas junto ao Colombo (onde enterrou milhões de euros dos nossos impostos) e não pára de fazer pistas para divertimento !!! Travem este João Jardim lisboeta !!!!"

    Este tipo de opinião acerca das ciclovias é bastante comum e reparem que este leitor nem é hostil ao conceito, apenas à forma como os projectos foram executados. Não é a primeira vez que escuto ideias deste género e difícil é discordar. A crise pode bem ser uma oportunidade única para mudar paradigmas e mentalidades, mas ninguém vai largar o carro se os projectos de vias cicláveis da capital estiverem sempre rodeados desta controvérsia (merecida) e forem vistas como elefantes brancos.

    Os capangas do ACP não se importavam de ficar com este espaço também

    Por outro lado, ninguém deveria tomar por certo o pouco que já se conseguiu fazer pelo uso da bicicleta em Lisboa. Nada é irreversível e tudo está à mercê dos detentores dos cargos de poder. Nada impede que as ciclovias passem a ser parques de estacionamento! E os lugares de estacionamento usurpados pelas motos podem perfeitamente nunca voltar a ser lugares para bicicletas. Em Oeiras, essa terra dos amigos do alheio, foi recentemente trocado um estacionamento em U invertido por um miserável "empena-rodas", por razões que a razão desconhece. Nada está garantido. 

    Antes era assim. Agora já não é

    Entretanto, voltou ao activo na blogosfera uma das poucas vozes de sanidade que ainda se podem ouvir neste país. Refiro-me claro ao blogue A Nossa Terrinha, uma das minhas leituras preferidas. Por cá, nem tudo são más noticias. Como a noticia do lançamento de um livro sobre as peripécias menos conhecidas das... errr, muitas edições da Volta a Portugal em Bicicleta, para o qual tive a honra de ser convidado pelos autores.

    Recomendado!

    Algumas figuras do mundo do ciclismo estavam presentes, desde o Vitor Gamito até ao omnipresente José Manuel Caetano. Algumas pessoas deslocaram-se para o evento de carro, outras de moto e ainda alguns de transportes públicos. De bicicleta nem um. Nem sequer eu.

    sábado, 8 de outubro de 2011

    Um passo para a frente, um passo para trás

    Estava à conversa num intervalo das aulas, quando me apercebi de uma certa comoção na rua. Aproximei-me das grades do portão, perfeitamente a tempo de ver passar dúzias e dúzias de ciclistas, naquilo que só poderia ser a Massa Crítica de Setembro. No meio da procissão interminável de velocípedes (diz que eram 400), de todos os tamanhos e feitios, ainda distingui um colega meu, que em vez de estar nas aulas acelerava de licra no meio do pelotão.



    Passou a Semana da Mobilidade e o Dia Europeu sem Carros. Passou a Massa Crítica de Setembro, e acabou o prazo para escolher as propostas para o Orçamento Participativo da CML, que foram hoje divulgadas.

    A proposta em que eu votei ficou em 42º lugar, tendo nela votado mais 45 excêntricos, que como muito bem diz o Reichfürer Barbosa, na verdade nem devem existir. E esta é a primeira das propostas relacionadas com o ciclismo urbano que surge na lista de classificações, daqui para a frente nem me dei ao trabalho de procurar. Entre os 5 projectos vencedores que serão executados, tendo recebido perto de 10% dos votos totais (e 36 vezes mais votos que a ligação ciclável Baixa-Av. da República) está mais um muito necessário parque de estacionamento. Nesta frente, nada de novo.

    Por outro lado, a blogosfera e as listas do Mubi tem andado em ebulição com os últimos episódios dessa telenovela de grande audiência que é o projecto das Bicicletas Partilhadas para Lisboa. Neste momento as propostas parece que são duas, a mais antiga do senhor barrigudo que gosta de bicicletas mas tem o pelouro dos jardins e outra do vereador amigo do ReichFürer Barbosa, que é professor daquela universidade que aboliu os passeios no seu campus e entregou todos os metros quadrados disponíveis ao estacionamento das vacas sagradas. Não vos vou aborrecer com pormenores desta história, de muitos já demasiado bem conhecida, mas basicamente um quer fazer uma coisa semi-civilizada mas não tem dinheiro e o outro quer fazer uma amostra de coisa, com muita tecnologia à mistura, mas só para turista ver. Venha o Alberto João Jardim e escolha.

    No IST, estacionar é assim. Que mais ideias terá o prof. Nunes da Silva?

    Outra importante frente de combate é desta feita nada menos que o parlamento da república, onde uma proposta para a Afirmação dos Direitos do Ciclistas e Peões no Código da Estrada foi levada à discussão, naquilo que a FPCUB descreve como um dia histórico. Aparentemente existem apoios importantes tanto à esquerda como à direita e há até algum consenso sobre a relevância do tema. As pesadas rodas do poder estão finalmente a mexer-se, mesmo que de forma quase imperceptível. Só nos resta esperar.

    É assim em Picoas, no Cais do Sodré e um pouco por toda a cidade

    Enquanto a bicicleta luta por se afirmar na selva de asfalto que é a capital da República Democrática de Cuba, há um outro meio de transporte que fez a sua transição para fora da obscuridade marginal. Sim, se alguma coisa mudou no panorama da mobilidade da capital é o número crescente de motos e scooters que povoam as ruas de Lisboa. Nada de extraordinário quando comparado com cidades do país vizinho, para não ir mais longe, mas uma diferença muito relevante para o passado recente. Infelizmente, não povoam só as ruas, mas seguindo os hábitos dos automobilistas, estes veículos ocupam espaço indiscriminadamente, seja nos passeios, seja nos já de si escassos lugares de estacionamento para bicicletas.

    Motociclos 125: o caso de sucesso da mobilidade em Lisboa

    Esta autentica invasão de motos, sobretudo de pequenas cilindradas, é algo que me deixa com sentimentos contraditórios, pois eu estive na frente de batalha pela "directiva das 125", cuja aprovação é a base que está por trás de todo este sucesso. Agora, a tradicional indisciplina lusitana ameaça transformar os pequenos motociclos numa autentica praga, pelo menos no que toca ao estacionamento. É verdade que faltam os lugares próprios muitas vezes, mas nesse campo o trabalho da CML tem sido incansável e o panorama melhorou muito nos últimos anos. A civilidade é que não. 

    Seja como for, é inegável que muita coisa está a acontecer relacionada com a mobilidade sustentável da capital. Este dinamismo pode acabar por ter poucos resultados palpáveis, mas não tenhamos dúvidas, estes são, pelo menos, tempos interessantes.