sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pormenores...

E fechar mesmo isto aos popós, não?

A zona final da ciclovia de Belém está a ficar bastante degradada. Este inverno deixou marcas também nesta zona. Cuidado com o piso, mas também com os muitos enlatados, como sempre parecem uma praga.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Terceira Via


Numa ciclovia no passeio e sem capacete? Cadeia com eles!!!


Há o estado comunista, o estado capitalista e há o estado a que chegámos. A célebre frase atribuída a Salgueiro Maia serve de mote, não para uma dissertação sobre o nível de desgoverno a que o país chegou, mas para falar de ciclovias. (Cá vamos nós outra vez...)

Cada um é como cada qual. Uns gostam de pedalar de roupa desportiva e outros de fato, se uns defendem bicicletas leves e modernas, cheias de comodidades e tecnologias, outros preferem bicicletas clássicas e dão muita importância ao visual, outros ainda usam a bicicleta mais barata que puderem. Uns tiram fotografias, uns quantos têm blogues, outros não. Alguns pedalam ao fim de semana, outros todos os dias, outros quando calha. Uns andam na rua, outros na ciclovia, outros na praia e no passeio marítimo, alguns andam porque querem, outros porque são ecologistas, vários porque são economistas e uns quantos porque não têm dinheiro para outro meio de transporte individual: Who cares?! Cada um faz o que bem entende e a diversidade é uma coisa muito bonita.

Já no que toca à opinião expressa sobre o tema "ciclovias", a diminuta comunidade lusa do ciclismo utilitário também apresenta uma miríade de ideias diferentes, e isso já não será tão bom. Somos muito poucos, a viver num país de viciados em automóveis, muito agressivos, que monopolizam todas as vias, todos os recursos e todos os espaços para as suas máquinas. A falta de união em relação a este tema parece-me trágica. As opiniões costumam, generalizando um pouco, dividir-se em apenas duas:

  • Ciclovias não! Porquê? Porque temos direito a andar na estrada, mesmo o nosso ditatorial código da estrada o prevê. Porque as ciclovias são perigosas, os seus percursos estão cheios de interrupções e cruzamentos, tudo sempre mal sinalizado. Andar na ciclovia é mais lento, e coloca-nos em conflito com os peões, pois muitas foram feitas às custas dos já escassos passeios. Andar na ciclovia reforça nos automobilistas a ideia que não devemos circular na estrada e que as bicicletas são brinquedos, veículos lúdicos, impraticáveis para um uso utilitário.

  • Ciclovias sim! Porquê? Porque já não era sem tempo que se investisse dinheiro público no ciclismo. Lembram aos demais cidadãos que os ciclistas também têm direitos. Porque tornam os trajectos mais seguros e tranquilos, sem ter que estar sempre pendente dos automobilistas loucos. As ciclovias permitem circular mais devagar, em grupo e com crianças ou idosos. Porque são a única forma de se poder circular de bicicleta nalgumas zonas das cidades, nomeadamente ao lado de vias rápidas. Porque as ciclovias atraem novos ciclistas, que nunca se aventurariam na estrada.

E então, em que é que ficamos? Sinto que estou a pregar o pai nosso ao vigário, mas este assunto é importante. Quem critica ferozmente as ciclovias, mesmo que não seja adepto do vehicular cycling, não pode negar que sem elas, uma larga fatia de pessoas nunca se aventuraria de bicicleta na rua. E todos concordamos que o maior número de utilizadores da bicicleta traz mais segurança, para todos (até para os enlatados).

E quem adora ciclovias também sabe bem que elas realmente muitas vezes roubam espaço nos passeios e apresentam, em geral e por todo o país, condições técnicas e de segurança horrendas. Em suma, temos os que querem mexer na legislação, no código da estrada, nos limites de velocidade em meios urbanos, de modo a defender melhor o ciclista que circula na estrada. E temos os que querem mexer na infraestrutura, construir mais ciclovias, interligadas para formar uma rede vasta que seja pratica e segura de utilizar.

Então e o que é que eu quero afinal? Eu sou uma espécie de movimento dos não alinhados de uma pessoa só! Eu quero tudo. Acho humilhante andarmos a discutir por migalhas atiradas para o chão, enquanto outros ficam com o bolo todo. É claro que sou a favor de baixar os limites de velocidade em meio urbano, sou a favor de mexer no código da estrada de modo a obrigar a distancias fixas de segurança por parte dos enlatados, penalizar sempre o veículo motorizado em colisões com velocipedes e dar ao ciclista os mesmos direitos de prioridade em todas as circunstâncias. E sou a favor de infraestruturas próprias, as ciclovias, todas as cidades do mundo com uma taxa de utilização elevada da bicicleta as têm, porque será?

Em Lisboa uso as ruas, as estradas e as ciclovias. Tanto me apanham no Marques de Pombal, na rotunda e de noite se for preciso, como me apanham na (estúpida) ciclovia de Belém. Paro nos semáforos, nos "stop's" e respeito as regras de prioridade, mas nunca me intimido de circular por onde tenho direito a passar. Ser visto a circular é a coisa mais importante, seja em que cenário for, desde que seja legal. As ciclovias têm que melhorar? Sim, muito. A legislação têm que melhorar? Com certeza. Mas tudo faz parte do mesmo pacote.

domingo, 17 de abril de 2011

Vive la Aventura!

Keith no jornal lá da terra. Pelas piores razões

É revoltante chegar ao sítio onde deixamos a bicicleta presa e não encontrar lá nada. Como muitos, eu agora sei exactamente como é essa sensação. Mas por muito frustrante que possa ter sido a minha experiência recente, há histórias bem mais complicadas. Andava há uns tempos a seguir a épica jornada do Inglês Keith Hallagan, nesse infindável repositório de aventuras a pedal que é o Crazyguyonabike, quando o impensável acontece: na Turquia, a bicicleta e toda a sua bagagem desapareceu sem deixar rasto. Para aumentar a intensidade dramática, o Keith ficou não só sem a bicicleta, câmara fotográfica, fotos, computador, roupas, etc, como ficou também sem documentos e sem as cinzas do pai, que andava a espalhar pelo mundo!

O que se segue é uma emocionante relato de resiliência e solidariedade, o tipo de coisa que só encontramos quando saímos fora da nossa zona de conforto. Tendo vendido a sua casa na Escócia para financiar a  aventura que conta já com mais 18.000 km (and counting), o Keith sabe uma coisa ou outra sobre sair fora da zona de conforto. Uma inspiração para alguns de nós, que não se resignam a existir, mas insistem em viver.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Bicicletas para o povo

O povo também quer Ferraris, pá!

E o povo, pá? O povo também quer a nova kalkhoff com cubo de 11 velocidades e corrente em kevlar pá! O povo também trabalha pá...

Eu como de momento nem sequer trabalho, não posso realmente fazer este tipo de reivindicações. Mas posso partilhar convosco a minha épica jornada na demanda se uma bicicleta que substitua a minha Riverside recentemente desaparecida em combate.

Esta perda inesperada permitiu-me reflectir sobre as muitas escolhas possíveis que uma pessoa tem na altura de comprar uma bicicleta utilitária. Já fiz essa reflexão por aqui e estou agora a fazê-la outra vez. Sabem, como é, começar de novo a partir de uma folha em branco. Mesmo assim, tudo o que disse antes continua válido, logo as opções que tenho em cima da mesa resumem-se a quatro:


Hipótese1. Bicicleta Dobrável. Uma bela Dahon em segunda mão escapou-me por pouco, e não estou capaz de dar (outra vez) o dinheiro que uma nova custa. Como não confio nos modelo de marcas mais baratas para aguentarem com um tipo do meu tamanho, a menos que apareça algum outro negocio interessante sou capaz de optar por uma alternativa full size.

Hipótese 2. Bicicleta urbana barata. No site do Decathlon espanhol encontrei imagens de uma Riverside 3 de "2011" que, ao contrario da que está actualmente à venda, volta a estar equipada com guarda lamas e luzes e tudo o mais que um ciclista urbano pode precisar. Além disso, a cor é agora bem mais sóbria e discreta, como eu gosto. Deve ser possível encomendar esta bicla num qualquer Decathlon, mas se não for, há mais hipóteses. Como a gama de Trekking da BH, relativamente fácil de encontrar por cá, na IBA ou na Biclas. O Paulo Guerra dos Santos tinha uma BH London e penso que ainda tem. Uma ida à loja Ciclone em Lisboa pode revelar alguma pechincha em segunda mão. Não sei...

A "nova" Riverside mais barata


Hipótese 3. Bicicleta de "luxo". Também podia perder a cabeça. O Problema é sempre o mesmo, o país tem dúzias (kilos!) de lojas de bicicletas, mas poucas ou nenhumas têm à venda modelos utilitários. Há naturalmente excepções e de qualquer maneira posso sempre convencer algum lojista do carbono e da licra, representante de marcas com modelos utilitários no catalogo (Trek, Cube, KTM, etc...) a mandar vir alguma coisa especifica para mim, com o problema de ter que decidir antes exactamente o que quero, sem poder ver ao vivo ou testar a bicicleta num quadro do tamanho certo. Se o preço e os roubos não fossem problema, eu estaria indeciso entre uma bicicleta de touring inglesa, uma Thorn Sherpa e uma Kalkhoff de trekking de gama alta, tipo esta. Ou quem sabe uma Gazelle da gama com desviador, tipo esta. Decisões, decisões.

Hipótese 4. Projecto X. Outra coisa que tenho ponderado é a construção de uma bicicleta utilitária a partir de um quadro de BTT em aço, usado ou novo. Depois seria "só" juntar umas rodas e outras coisas que já tenho por aqui com mais alguns componentes para conseguir uma espécie de bicicleta de trekking de roda 26, coisa que já alguns fizeram com sucesso. Teria o prazer de andar numa bicicleta feita com componentes escolhidos e montados por mim próprio, o que tem a sua piada.

Na verdade não tenho tido tanto tempo para pensar no assunto, mas não tenho pressa. Não que goste assim tanto de andar a pé e de transportes públicos, mas a própria escolha é uma actividade bastante agradável, para quê apressar as coisas. Afinal sou um tipo que anda de bicicleta.

sábado, 9 de abril de 2011

RIP Riverside

Decathlon Riverside 3 de 2010, tamanho XL

Em Portugal toda a gente odeia bicicletas. As excepções são umas quantas pessoas inteligentes e os gatunos. Entre as 18:30h de dia 8 e as 01:00h de dia 9, alguém que não eu levou a minha Riverside para dar uma volta. Estava estacionada no local próprio da estação da CP de Oeiras. A terminação do número de quadro é 1027199. Se alguém tiver alguma informação que me ajude a recuperar a bicicleta, por favor entre em contacto.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Do Cais do Sodré à Avenida de Berna

Vale tudo menos tirar olhos?

Embora eu seja fotógrafo, nunca senti a tentação de descobrir e retratar pessoas de bicicleta na rua. Eu sei que está na moda e até aprecio o conceito, embora não necessariamente todos os seus resultados. Não excluo fazer algo semelhante de futuro, mas por agora prefiro manter o foco de trazer alguma realidade a este estranho fenómeno do ciclismo urbano, porque muitas vezes sinto que os discursos neste meio se centram numa certa visão utópica do utilitarismo. Assim, em vez de imagens de raparigas bonitas a passear descontraidamente em ruas sem trânsito (nada contra!), eis um relato nu e cru de um dos trajectos que faço habitualmente.

Estação do Cais do Sodré, 15:35 horas. Saio do comboio da CP no meio de um coro de protestos quanto ao atraso da composição e a temperatura excessiva no interior da mesma. Está muito calor, parece um dia de verão. Começo a imaginar o estado em que vou chegar ao destino, as calças de ganga e t-shirt parecem-me demasiado. Coloco o capacete e as luvas sem dedos e arranco para o meio dos taxistas e autocarros da Carris que dominam a praça.

O semáforo fica verde e, da frente da fila, avanço para a minha primeira infracção: sigo pela Rua do Arsenal, onde o trânsito é suposto estar limitado aos transportes públicos, mas onde se podem encontrar enlatados de toda a espécie. Como de costume, não há qualquer problema na interacção com os autocarros e eléctricos, uma vez que eu consigo acompanhar o seu ritmo. Os peões que saltam para a estrada quando eu estou "apertado" entre os muitos buracos e os carris do eléctrico são um problema mais sério.

Depois de novo semáforo, entro no Terreiro do Paço (eu sou tão old school que ainda resisto a chamar-lhe "Praça do Comercio") e tenho que lidar com mais carris de eléctrico e autocarros. Continuo "ilegal", mas por pouco tempo. Corre a notícia que a CML se prepara para autorizar a circulação de velocípedes em zonas BUS, com certas restrições. Em Portugal há sempre a mania das excepções, a ponto de normalmente as regras ficarem incompreensíveis e cada um fazer o que bem lhe apetece. Não percebo porque hão de existir restrições neste caso. Adiante.

Viro à esquerda e começo a subir a Rua da Prata, onde ultrapasso um autocarro. Sigo a bom ritmo na faixa da direita atrás de um Citröen quando a senhora que o conduz decide que quer estacionar. Guardo uma distância de segurança razoável, mas não estava à espera da paragem, uma vez que ali não há onde estacionar. Como para qualquer bom portuga, daqueles do bigode e pelo do peito à vista, (mesmo que seja neste caso um bigode metafórico, que senhora vai formosa mas não segura) isso não representa nenhum problema: ela atira o carro para cima do passeio de uma das mais nobres vias da capital e puxa do travão de mão, parando abruptamente. Duas rodas ficam em cima da calcada, duas em cima do asfalto: quem vier atrás que feche a porta. Desvio-me da traseira do carro com algum esforço e vocalizo um protesto, ao melhor estilo Homens da Luta, na forma de um bem audível Então, pá?!

Depois de aterrorizar a pobre condutora e surpreender os pacatos transeuntes, a quem (julgo) o meu protesto pareceu bem mais reprovável que a atitude da automobilista, chego à Praça da Figueira apanhando os semáforos verdes e entrando de imediato no Rossio. Nesta mui nobre praça está instalada a confusão, com vários autocarros de turismo parados em segunda fila, no local onde os seus congéneres da Carris procuram estacionar. Tenho que ter cuidado no meio destes colossos e quando me livro do aperto sou surpreendido pelo grito, em jeito de desabafo, de uma florista instalada perto da entrada  do Metro: - Caralho!!!! Esta gente não compra nada!! - Ainda há dúvidas que a crise está instalada?

Os taxistas que me ultrapassaram entretanto, são por sua vez por mim ultrapassados no semáforo dos Restauradores, onde viro à direita para subir a Av. da Liberdade pela lateral. Pouco depois é chegada a hora de accionar a roda pedaleira pequena, que a subida se torna pronunciada. Mais à frente a rua estreita, passa a existir uma só faixa disponível e as ultrapassagens tornam-se perigosas, pelo que eu passo a ocupar o centro da via (outra ilegalidade, de acordo com o CE português). Sem stress, os carros circulam devagar e eu facilito as ultrapassagens sempre que possível.

Passo o Tivoli e viro à direita, continuando a subida agora pela Rua Rodrigues Sampaio, onde há menos trânsito, mas existem alguns cruzamentos perigosos, sem semáforos e sem prioridade. Passo pelas traseiras do DN e quase sou esmagado por um furgão que decidiu mudar de faixa, enquanto o condutor dava uma passa no cigarro e falava com o colega. Eu estava atento e tinha espaço para a manobra evasiva, por isso não houve alarme. No semáforo arranco antes de toda a gente e viro para a esquerda, passando nas traseiras da EDP, e entrando na rua Actor Tasso. Aqui tenho que recorrer à experiência de leitura de terreno que o BTT proporciona. A bicicleta não tem suspensão e o único amortecimento é assegurado pelos pneus relativamente largos. Isso e os meus braços e pernas! O pavimento neste troço é uma superfície disforme, um empedrado ondulado e esburacado, e no fim da descida está um semáforo vermelho. Os travões asseguram uma paragem segura e dai a pouco estou de novo a subir, em pedaleira pequena. Na rua Latino Coelho, um tipo num BMW tenta espalmar-me contra os carros estacionados. Normalmente encontro bastante civilidade, mas patos bravos destes apanham-se de vez em quando. Luto por manter a minha posição na estrada e passado pouco tempo o BMW fica para trás, preso numa longa fila de carros parados que eu ultrapasso tranquilamente pela lateral.

Ela adora o vermelho!
 
Um semáforo e um cruzamento manhoso depois (rua Marquês de Fronteira) e estou prestes a entrar num troço de "ciclovia" que passa em frente ao CAM da Gulbenkian e faz a ligação para a Av. de Berna. O único problema é já uma tradição: normalmente está sempre algum carro, com alguém lá dentro, parado em cima do começo da ciclovia, a bloquear completamente a passagem. Normalmente eu digo qualquer coisa à pessoa, do tipo "Você não está aí bem" e recebo normalmente uma resposta do tipo "deves ter muito a ver com isso!" Foi exactamente o que sucedeu hoje, o que me deixou com o humor certo para encarar as muitas pessoas que preferem a vermelhidão da ciclovia às pedras do passeio ali ao lado, bem mais largo. Usar a campainha é inútil e se alguns (poucos) se desviam, outros ficam a olhar intensamente, num medir de forças do género game of chicken. Eu percebo que alguns peões sejam contra as ciclovias em cima de passeios, mesmo que largos como é o caso, mas tenho ideia que a maioria não tem sequer noção de onde está e do que se está a passar. Curiosamente, se alguém estacionar um carro em cima do passeio naquela zona, ninguém diz nada. Foi por isso com alguma irritação que escutei uma boca qualquer sobre excesso de velocidade, lançada por um dos incondicionais do tapete vermelho. Não tenho paciência para tanta ignorância e respondi com um indesculpável gesto, que na altura me pareceu a única resposta adequada.

Av. de Berna em todo o seu esplendor

Alguns segundos depois já estou na Av. De Berna, ou como os senhores automobilistas a conhecem, a Autoestrada de Berna ou a recta do picanço. Aqui a única coisa a fazer é pedalar rápido e esperar que as estatísticas sobre colisões por trás estejam correctas...

Este relato refere-se a uns escassos 6 km. Circular em Lisboa é isto, embora a experiência de cada um possa variar.

Percurso: 6,04 Km
Tempo: 23 minutos
Velocidade Média: 15,6 km/h
Velocidade Máxima: 35 km/h
Estado do ciclista à chegada: Apresentável

terça-feira, 5 de abril de 2011

Perpetuando mitos

O mito perdura...


Lá vamos nós outra vez. Se calhar é um problema meu, uma questão de educação, talvez: desde pequeno fui ensinado a abster-me de dizer disparates quando não sabia nada sobre determinado assunto. Primeiro porque é indelicado, depois porque distrai as atenções e desvia o fluir da conversa, talvez mesmo pondo-lhe um termo.

Assim, ainda consigo ficar surpreendido quando leio na nossa imprensa séria (o jornal em questão já foi mais) coisas como esta. Sob o título: - Denúncia: "Sem carros não há comércio" na Baixa-Chiado - surgem uma série de alarvidades nossas conhecidas, sobre como a falta de lugares de estacionamento para automóveis e (in)suficiente fluidez na sua deslocação estão a arruinar o comercio local. Os testemunhos de empresários e de um director de um jornal localizado na zona servem de mote para a noticia, que tem o mérito de ter respeitado o código deontológico da profissão, estando presente também a opinião da CML, não necessariamente contrária, mas pelo menos diferente.


Não vamos muito longe enquanto as nossas elites intelectuais e económicas continuarem a pronunciar-se com toda a autoridade sobre coisas de que nada sabem. Não é novidade, já conhecemos a opinião de génios como este (conseguem reconhece-lo?) sobre as questões da mobilidade em Lisboa. A minha dúvida é a mesma de sempre: onde vão estas alminhas buscar as suas ideias? Onde está a fundamentação? Estes senhores terão tido o cuidado de pelos mesmos ler alguma coisa sobre o assunto antes de se pronunciarem? Terão ouvido falar dos estudos que contrariam completamente as suas "teses"? Terão alguma vez viajado para outras cidades da Europa e visitado os seus centros históricos?? Ou têm só aquelas ideias vagas do tipo: 

carro=mobilidade; mobilidade=progresso. 'Bora abrir estradas!

De notar que, na verdade, a baixa de Lisboa continua infelizmente aberta ao trânsito! Graças aos esforços do ReichFüher Barbosa e seus poderosos acólitos, tudo o que a câmara conseguiu foi transformar algumas faixas de rodagem em corredores BUS e cortar o acesso directo ao Tejo. Apenas isso. Outro facto interessante é a preocupação, revelada no artigo, com os turistas, que são uma grande percentagem dos frequentadores da baixa da cidade. Será que estes senhores acham mesmo que os turistas estrangeiros se deslocam de carro? Terão tão entranhada a adoração ao Grande Deus Enlatado que não se dão conta do absurdo que isso é? Se alguém se desse ao trabalho de inquirir os turistas sobre o assunto, aposto o que quiserem que as queixas teriam que ver com o excesso de trânsito na zona (e consequente ruído, insegurança, poluição, etc) e a falta de mais áreas exclusivamente pedonais, e não o contrário!

"No car, no business" dizem eles no artigo. Bullshit. Se acham que em Inglês tudo fica mais claro (e com muito mais classe), então tomem lá outros chavões, que para mais, ao contrário do primeiro, podem ser demonstrados empiricamente:

No car, no traffic jams.
No car, no noise.
No car, no pollution.
No car, no dead pedestrians.
No car, no foreign debt.

No open mouth, no flies in it.

sábado, 2 de abril de 2011

Coincidências?



Não terei sido o único a reparar nisto: a data das eleições legislativas antecipadas coincide com o evento mais arrojado do ano a ter lugar em Lisboa, a World Naked Bike Ride Lisboa. A primeira coisa que me parece merecer um comentário é a falha indesculpável da presidência da republica na escolha da data, o evento da capital já estava marcado, não havia necessidade... Cavaco Silva certamente não comenta este caso, afinal ele normalmente abstém-se de comentar seja o que for.

A ironia da situação é difícil de ignorar, no Domingo 5 de Junho vamos a votos para escolher um governo que substitua o anterior, que nos deixou de tanga. Os organizadores do evento World Naked Bike Ride Lisboa (em inglês tudo tem muito mais classe, não é?) pela sua parte, propõem uma passeio em pelota pelas ruas da capital, do Parque Eduardo VII a Belém, para "contestar o domínio dos combustíveis fósseis e o actual sistema de transporte rodoviário".

Ora eu sou inteiramente a favor de contestar o domínio dos combustíveis fósseis e o actual sistema de transporte rodoviário. E todas as iniciativas em prol da mobilidade sustentável são de enaltecer e acreditem que eu aplaudo toda a gente que é capaz de sair do sofá e fazer realmente alguma coisa por aquilo em que acredita. Agora, será boa ideia organizar um evento deste tipo, num país conservador e cheio de preconceitos como é o nosso? Que imagem estaremos a dar do ciclo-activismo a uma sociedade atrasada, deprimida e com muito pouco sentido de humor? Não sei, não estou inteiramente convencido que este evento, apoiado entre outros pela FPCUB seja benéfico para a causa. Talvez também eu seja demasiado sério e conservador. Enfim, irei meditar sobre o assunto nos próximos tempos e logo decidirei se junto o meu corpinho esbelto ao protesto.

On other news, parabéns ao Sérgio Moura pela reportagem sobre as suas actividades fotográficas na cidade Invicta, que acabo de ver no noticiário da tarde da RTP. Desta vez os senhores da montagem até conseguiram elaborar uma reportagem sobre bicicletas sem usar a música dos Queen. Bravo. Se calhar afinal ainda há esperança.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Bicicletas, Burocracia & Democracia

Autor: Rick Smith                                 www.yehudamoon.com

Pois é, já lá vão uns tempos desde a última vez que aqui estive. Não em frente ao computador, onde gasto uma apreciável parte do meu tempo, mas aqui, no Lisboa Bike, este espaço meio esotérico que constitui as páginas do blogue.

Venho juntar-me a toda a vasta comunidade virtual ciclista-utilitária e mobilidade-sustentável-orientada, todos os sete, para falar também eu um pouco sobre o já notavelmente famoso questionário do IMTT. Sim, alguns saberão o que penso da maioria das instituições do estado, mas continuo a pelo menos tentar ter uma atitude positiva em relação a estes assuntos: preenchi o questionário e enviei para "eles".

E numa altura em que somos solicitados para participar cívicamente em todo o tipo de processos democráticos, burocráticos e aristocráticos, porque não perder uns minutos com isto? É verdade que as respostas pareceram-me óbvias e chega a ser ligeiramente irritante preencher o inquérito, que de resto está tecnicamente fraquinho (ando a estudar Amostragem e Inquérito, é assim que se define, tecnicamente falando) mas aconselho mesmo assim toda a gente a fazê-lo. É bom para a... àquela coisa, como se chama... ...consciência!


Não haverá desse lado certamente paciência para ler todas as minhas respostas, por isso deixo aqui só dois exemplos das minhas soluções para as questões levantadas. Já se sabe que não há grandes consensos nestas matérias, por favor enviem o hate mail para aqui e deixem as abordagens mais civilizadas nos comentários.

Questão 1. Porque é que acha que em Portugal ou na sua cidade, a bicicleta não é um modo de transporte mais utilizado?

Há vários factores se conjugam para tal situação. Vou falar de Lisboa:

• Enorme excesso de trânsito automóvel na cidade.
• Urbanismo que tende a transformar ruas e avenidas em Autoestradas.
• Código da estrada tendencioso, injusto e perigoso, que na prática transforma o ciclista em cidadão de 2ª.
• Limites de velocidade inadequados em meio urbano, muitas vezes os 50 km/h são demais.
• Desrespeito grosseiro e constante dos limites de velocidade existentes por parte dos automobilistas e ausência total de fiscalização por parte das autoridades.
• Ignorância e falta de formação dos automobilistas, que não sabem como reagir perante um ciclista, tendo só a ideia geral que o ciclista “nunca tem prioridade”. 
• Existência de uma rede de ciclovias de péssimas características técnicas, com inúmeros cruzamentos perigosos, piso irregular e má sinalização. A rede não está interligada e a maior parte dos troços não vai a nenhum lado.


Questão 9. Neste Plano, qual deve ser, na sua perspectiva, o contributo das autarquias para a promoção das bicicletas e do modo pedonal?

As autarquias devem decidir de uma vez por todas se querem gerir verdadeiras cidades ou conglomerados de vias rápidas e parques de estacionamento. O nosso exemplo deveria vir das cidades do norte da Europa, infelizmente parece muitas vezes mais próximo dos modelos norte americanos, que nada têm a ver com a nossa realidade.

Sucintamente:

• Acabar com estacionamento público gratuito.
• Combater o estacionamento ilegal.
• Reduzir o número de faixas de rodagem, em geral.
• Aumentar a área dos passeios públicos.
• Baixar limites de velocidade para 40 ou 30 ou 20 km/h e fiscalizar ditos limites.
• Converter as avenidas transformadas em vias rápidas de novo em verdadeiras avenidas urbanas.
• Aumentar número de corredores e ruas exclusivas BUS.
• Dar acesso dos corredores BUS aos ciclistas.
• Fechar zonas históricas das cidades (permanentemente) ao tráfico automóvel.
• Aumentar zonas pedonais.
• Construir ciclovias segregadas (com sinalização adequada, piso realmente liso e uniforme, com prioridade e/ou semáforos nos cruzamentos) nas zonas onde os limites de velocidade não permitam a coexistência dos ciclistas com o trânsito motorizado.