sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

FPCUB em grande. Acho Eu

2014 "já" cá canta

Recebi hoje no correio o micro-mini-nano selo da FPCUB referente a 2014, para colar no cartão de sócio. Levou portanto dois meses inteiros a chegar. Falei com a malta da federação e eles dizem que "é normal" e que têm muitas inscrições e renovações para processar este ano. Será que houve uma vaga de adesões em massa? Por causa do novo código da estrada e coiso? Parecem boas notícias.

E agora algo completamente diferente: obrigado a todos os que votaram no concurso de Fotografia! Ainda há umas horas para os que não o fizeram. Sei que os concurrentes têm acompanhado a votação com grande ansiedade, afinal está em jogo um ENORME prémio.  

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Concurso de Fotografia que já foi

Tinha regras e tudo

Aqui há uns tempos tentei ensinar umas coisas de fotografia a um grupo de amigos. Para os manter incentivados, promovi depois um pequeno concurso, subordinado ao tema "a Bicicleta na Grande Lisboa". E chegou a hora de eleger a melhor foto. Preciso da vossa ajuda para escolher o vencedor! Em baixo estão as imagens finalistas. Façam a vossa boa acção do dia, evitem que os concorrentes resolvam a questão à pancada e por favor votem na vossa imagem preferida na sondagem da coluna do lado direito. Simplesmente votem naquela que gostarem mais. Obrigado!

Imagem 1:

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Imagem 2:

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Imagem 3:

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Bicicleta na Rádio, TV e Cassete Pirata


Fala com Ela!

Mesmo no pino do inverno, a Bicicleta continua a cavalgar a onda mediática, qual McNamara nas águas do Canhão da Nazaré. Assim não admira que um Espanhol tenha ido ao Polo Sul de bicicleta, que haja uma saturação de bicicletas nas montras das lojas que ainda não faliram, na publicidade nas revistas que ainda não fecharam e na toda poderosa televisão, mesmo em anúncios de carros que não vendem.

Mas podem recorrer ao imaginário da bicicleta em mil campanhas de marketing, que não é isso que vai criar uma cultura que favoreça o seu uso generalizado e as vantagens que daí advém. Felizmente existe uma cultura da bicicleta a criar raízes entre nós, e as provas estão por todo o lado. De repente já não é só nos blogues estrangeiros que encontramos malta a vestir-se de uma certa maneira e a rolar num determinado tipo de biclas. São as Peugeot restauradas, as fixies, os bonés da praxe e tudo mais a dar o seu colorido à velha Olissipo.

Tudo isto é fixe, porque por cada hipster e freak hard core da "scene" das bicicletas, há de haver uns quantos utilizadores absolutamente normais, esses que um dia tornarão banal o uso da bicicleta como meio de transporte na cidade. A banalidade é muito pouco valorizada entre nós, mas acho que é para lá que devíamos caminhar. Sonho com o dia em que seja banal ir às compras de bicicleta. A Grande Marmota assim o permita.

Podem ouvir a "TSF Bikes" em podcast

Enquanto não chegamos lá, a bicicleta continua a somar pontos na exposição mediática. Na rádio, por exemplo, essa presença tem vindo a tornar-se cada vez mais notória. Em Janeiro a TSF deu início à transmissão do programa "TSF Bikes". Todas as quintas feiras, promete-se "estudar as bicicletas de uma ponta a outra. Tudo o que há a saber sobre elas vai ser partilhado em antena. Novidades, o que fazer e ter em conta para comprar uma bicicleta, opiniões de todos os que estão ligados a esta modalidade (...)"

Tenho escutado as emissões, que duram 12 a 15 minutos. Aquilo é realmente uma mistura de conselhos práticos, histórias e a história da bicicleta. Peca por recorrer a alguns lugares comuns e trocadilhos fáceis, mas acho que é um espaço com mérito. A verdade é que nenhuma outra rádio dedica tanto tempo à nossa realidade. Mas outros têm metido a colher: Laura Alves, co-autora do celebrado "A Gloriosa Bicicleta", deu uma entrevista à Radar, em Dezembro. Nesse memorável diálogo, a que só recentemente tive acesso, a jornalista e escritora fala da sua Felizbina, dos problemas com a malta do "estamos a trabalhar", do dia-a-dia em Lisboa e muito mais. É uma conversa deliciosa, que nós faz acreditar que ainda há pessoas inteligentes e com as ideias bem ordenadas no nosso Portugal dos pequeninos.

Hem??

Por fim, há por aí malta satisfeita com a obra megalómana do viaduto ciclo-pedonal da 2ª circular. Eu suponho que devia agradecer à Grande Marmota que se gaste ali o dinheiro em vez de em mais uma autoestrada urbana, mas não deixa de ser irónico que também com a mobilidade dos modos suaves se cometam os mesmos erros que com os popós. Quer dizer, não seria bem mais barato tomar mediadas para reduzir o trânsito automóvel e limitar a sua velocidade? E, sei lá, criar pontos de estacionamento seguros para bicicletas? Mas não, a aposta é, agora e sempre, em mais betão. Ciclovias novas, pontes novas, tudo à grande. Não temos cheta, mas a solução para tudo é sempre a "obra".

Há outras infraestruturas do género em Lisboa que têm muito pouco uso, justamente porque não se adequam aos trajectos casa-trabalho e estão mais ligados a uma lógica de lazer que parece perpetuar-se no ideário da CML. A suprema ironia e a prova definitiva de que a realidade supera sempre a ficção, é o facto de o viaduto da 2ª Circular ser financiado com dinheiro de uma petrolífera, que já antes patrocinara troços de ciclovias e outras ciclo-coisas lisboetas. Obrigado Fundação Galp! Há quem lhe chame "greenwhashing", eu acho que é só esquisito.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sei o que Fizeste o Verão Pasado. Outra Vez.

Uma Kona encostada a uma Igreja

Está a chover outra vez, raios parta. Seja o que for que vocês andam para aí a fazer, a Grande Marmota desaprova. Portanto parem com isso.

Bom, para combater a depressiva climatologia do presente, que tal uma pequena viagem ao passado recente? Mais concretamente ao quente Agosto que deixamos para trás? Ide buscar a mantinha e a caneca do café, ponham mais umas listas telefónicas na lareira e vamos a isto.

Era Agosto e o Sol brilhava. Agora que penso nisso, não o vejo desde essa altura... Mas divago. A Co-Habitante planeara uma viagem à terra dos seus antepassados ancestrais, no Norte do nosso louco rectângulo à beira mar falido. Uns dias de férias no país real era mesmo o que estávamos a precisar. Não queiramos levar o enlatado, mas também não dispunhamos do tempo necessário para fazer a viagem à força do pedal. Comboios para onde íamos, a bela cidade de Caminha, também não são uma alternativa. Ficámos então com a solução que sobrava no fundo do tacho, viajar de autocarro.

Medo. Não, a sério, tenham muito medo!

De todas as formas civilizadas de uma pessoa se deslocar, o autocarro tem que ser a mais indigna. Para mim andar de autocarro está sempre no fim da lista, o autocarro tem todas as desvantagens possíveis de um automóvel sem nenhum dos benefícios. O autocarro apanha trânsito, fura pneu, é desconfortável (porque normalmente é conduzido por uma espécie de taxista que fez a primária), só pára quando está previsto ou o condutor lhe apetece, é relativamente lento e os seus viajantes costumam ser tratados ao nível do gado suíno.

Mas por um preço irrisório, a AVIC prometia levar as nossas bicicletas até ao destino sem qualquer problema nem custos adicionais e convencemo-nos que aquilo até ia ser divertido. Agora sei como se sentem as pessoas que meteram dinheiro no BPN.

Depois de termos atravessado o Isaltinistão e boa parte da cidade de Lisboa antes do nascer do Sol, nas nossas bicicletas carregadas, estávamos na Gare do Oriente vinte minutos antes da hora da partida do paquiderme de aço. Localizamos o dito, fomos ter com o motorista e imediatamente começaram os problemas. O homem parecia surpreendido e mesmo ofendido com a ideia de que íamos colocar bicicletas no seu autocarro. Embora tivéssemos confirmado várias vezes com a AVIC, por telefone e nas bilheteiras, que o procedimento era só aparecer e embarcar as biclas, o motorista parecia desconhecer (e desaprovar) totalmente o próprio conceito de transportar bicicletas como carga.  

"O para-brisas? Ainda faz mais 100.000km!"

Por fim o homem acedeu a que profanássemos a santidade das bagageiras do seu veículo com as nossas máquinas do demo, mas recusou-se a ter alguma coisa a ver com isso, respondendo à minha questão de onde exactamente devíamos colocar as bichas com um inequívoco "de-sem-mer-da-te" não verbal. É claro que por esta altura os passageiros já tinham espalhado os seus pertences por todo o lado e era impossível arranjar lugar para as biclas, embora espaço existisse de sobra. Perante a atitude do motorista, tratei eu de mudar umas quantas malas de sítio, para conseguir colocar as duas bicicletas. Antes de conseguir fazer alguma coisa de jeito, já o homem estava de volta, desesperado, a dizer que tinha os passageiros todos a reclamar que eu estava a mexer nas coisas deles! Com a paciência perto do fim (transporto sempre pouca) e já sem disfarçar a irritação, perguntei-lhe qual era a alternativa. Continuando sem assumir responsabilidades por nada, o condutor recuou para a o seu lugar, lastimando-se em voz alta de que "a culpa é sempre do motorista".

Já foste...
 
Quando finalmente entramos no autocarro, debaixo do olhar fulminante de dúzias de minhotos irritados, já a viagem tinha perdido boa parte do seu apelo. E a coisa não melhorou. Em Caminha, muitas horas de desconforto depois, fomos despejados no sítio habitual, ou seja, no meio da estrada. Tivemos que extrair as biclas à pressa para o lado onde passava o trânsito e no meio da confusão conseguimos não ser atropelados, mas perdemos o aperto da minha roda da frente. Quando dei por isso o autocarro já tinha desaparecido e eu estava capaz de matar alguém. Acabei por comprar um aperto novo numa loja local, onde o proprietário parecia incomodado por atender um cliente que sabia que peça é que precisava... Que dia, senhores.        
 
Caminha é fixe e a AVIC que se lixe

Pela frente ainda tínhamos uns vinte e poucos quilómetros de estrada nacional semi-montanhosa até ao nosso destino, o parque de campismo de Covas. (Não, não fica num cemitério, que engraçados). A estrada tinha pouco trânsito mas muitas curvas e aqui pudemos começar a respirar de outra forma. A minha mente deixou de divagar entre imagens de funcionários da AVIC a serem sodomizados nos caldeirões ardentes do inferno e comecei a apreciar a paisagem e finalmente a descontrair. Podem escrever mil chavões sobre a sensação de liberdade de andar de bicicleta, mas não deixa de ser verdade.

O Acampamento Base
Já instalados, basicamente o que se seguiu foi uma sequência de passeios de bicicleta e pedestres, mergulhos em regatos, boa comida e muito descanso. Há coisas piores. Tipo, quase todas. Também demos umas voltas maiores de vez em quando, fomos a Vilar de Mouros e a Caminha. Pouco trânsito, tudo tranquilo. O único stress foi que tentei meter-me na pesca e a coisa, enfim, digamos que não deu frutos. Tomem lá umas fotos do ambiente local:  


"Tira lá o raio da foto!!"
 
Era assim por todo o lado
         
Spot bom para pescar. Talvez. Não faço ideia.

Vida de Campista

Uma de 389 capelas perdidas no meio do nada

"City boy"

Inevitável como a morte e os impostos, chegou o dia do regresso. Para aproveitar ao máximo o dia, iríamos viajar no autocarro das onze da noite, pelo que fizemos uma última almoçarada campista num belíssimo e deserto parque de merendas local, antes de rumarmos outra vez a Caminha. Comprámos os bilhetes na agência de viagens da AVIC na cidade, minutos antes de eu receber a proposta de boleia de um amigo que seguia de carro da Galiza para Lisboa. Grande Marmota, porque zombas assim deste teu servidor? O nosso destino estava pois inevitavelmente ligado a mais um paquiderme rodoviário e seu domador sociopata, mas até lá havia que aproveitar o dia.


Caminha

Farta da vida dura das esplanadas de Caminha, a Co-Habitante lembrou-se que uma familiar trabalhara em tempos num convento, que ficava ao pé de um miradouro "espectacular", ali em Caminha. Parecia a forma ideal de acabar aquelas pequenas férias. Metemos rodas à estrada e fomos à procura do miradouro. Nunca demos com o tal convento, mas o que se seguiu foi uma das mais épicas subidas de bicicleta de que me recordo. A estrada ia subindo e subindo e subindo e subindo. Havia sempre mais uma placa a indicar o miradouro. Para cima, claro. Não se via trânsito e a nossa única preocupação era o tempo, estava a ficar cada vez mais fresco e ameaçava chover. Mais uma curva, mais uma subida. "É já ali". A Co-Habitante ameaçou desistir mais que uma vez, mas eu consegui sempre convencê-la a continuar. Não era só o cansaço, as bicicletas de montanha carregadas com tendas, sacos cama, roupas e comida, não são propriamente leves. 

Demos com isto pelo caminho. Alguém se lembra do Lost?

A luz começava a escassear e não havia sinal do miradouro. A temperatura desceu de forma notória e a determinada altura deixamos de nos cruzar com outros veículos ou pessoas. A estrada parecia verdadeiramente interminável. O vento frio forçou-nos a vestir mais uma camada de roupa, mas continuámos a subir. Depois de mais mil e uma curvas, sempre, sempre a subir,  por fim alcançamos o topo do monte de Santo Antão, onde há uma capela. A nossa recompensa era a generosa vista, para Moledo e Espanha. O meu GPS não indicava mais que 420m de altitude, mas há momentos em que os números simplesmente valem muito pouco.

A vista era esta

O regresso a casa também foi mais uma epopeia, mas uma epopeia que eu prefiro esquecer. Envolveu mais um motorista sociopata que se recusou a levar as biclas ou a fazer paragens para WC em mais de 400 km de viagem. Acabou por fazer ambas as coisas, muito a contragosto. No louco pós-apocalíptico Séc. XXI português, estes homens são uma mistura da ignorância e paternalismo machista do passado com a precariedade social e laboral do presente. O motorista da viagem de ida admitiu ter dormido menos de três horas antes da viagem e o do regresso deixou escapar algo parecido. Isso não desculpa a forma analfa-bruta com que se dirigem aos clientes da empresa, mas o conhecimento da sua dura situação laboral evitou que eu lhes enfiasse o sapato de encaixe pelo cólon acima. Por pouco.

Fim.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Levi's 505 Commuter: uma Espécie de Review

Normalmente não uso "roupa", mas vá...

Lembram-se quando tínhamos amigos? Quando não eram só "bons contactos" e "ter conhecimentos"? Quando não havia Whatsapp nem LinkedIn, nem Livro dos Focinhos, mas pessoas de carne e osso de quem realmente gostávamos e víamos mesmo, quase todos os dias?

É, eu também não.

Bom, se calhar só um bocadinho. Lembro-me por exemplo de um amigo meu que, desde cedo, nunca se deixou levar pelos ditames materialistas da sociedade do consumo e pela pressão dos pares para ter o último, o melhor, o mais reluzente. Nunca teve um carro, nunca vestiu roupa de marca, não teve telemóvel até a empresa o obrigar. Apesar de tudo isso, ou quem sabe, talvez também por causa disto sempre teve o maior sucesso nos seus empreendimentos pessoais, na vida profissional e com o sexo oposto.

Sim, 34 nas Américas é tipo 46 por cá... Eu culpo o Natal. 
 
A maioria de nós não se safa assim. Precisamos de pertencer, temos necessidade de consumir pelo menos ao nível do que fazem os nossos pares e ainda tentar destacar-nos um pouco deles. Marcas como a Levi's sabem disto e posicionam-se no mercado para atrair a nossa luxúria pela qualidade e pelo prestígio social.

Talvez porque está na moda, a Levis's tem uma linha de produtos específicos para ciclistas, de que faziam parte estas 505 Commuter, que me foram oferecidas o ano passado (obrigado malta!), mas parece que já não constam do site. A marca destaca que este modelo oferece algumas vantagens ao ciclista urbano, para além da qualidade tradicional das suas confecções. Eles destacam que:

  • O tecido tem elasticidade, supostamente mais que uns jeans normais.
  • Tem "Tapered Leg", seja lá o que isso for.
  • Tem um encaixe para um cadeado em "U" na cintura
  • Tem a parte de trás um pouco mais levantada, para proteger-nos do ridículo.
  • As calças estão toda reforçadas nos bolsos, na cintura e no crotch.  


Não sei o que vocês acham, mas eu gosto da ideia de ter o meu crotch reforçado. Para além disso, as calças são confortáveis de usar, mesmo com esses supostos reforços estruturais. O suporte para transportar um "u-lock" não chega para levar o meu Kryptonite, que tem um tamanho bastante standard, mas acho que não é coisa que eu realmente usasse no quotidiano.

Consegue-se enfiar, mas à bruta. E não entra todo... Não soa bem, pois não?

Uma coisa que as calças têm de engraçado são as faixas reflectoras nas pernas, por dentro do tecido. A ideia é tornar o ciclista mais visível quando arregaça as calças para não se sujar na transmissão. Funciona mesmo, o material reflector é da 3M e tudo, mas não foi coisa que me fascinasse por aí além.

Uma perna de calças


Bolsos de calças...

E pronto, basicamente é isto. São umas calças. Foram feitas na Colômbia e a braguilha é de fecho éclair.  São confortáveis, resistentes e até assentam bem. Não atrapalham os movimentos e não me expõem o traseiro nem me deixam apanhar frio nos rins. Quaisquer outras com que se tenha gosto em sair à rua também fazem o mesmo, mas estas são especiais de corrida. E às vezes precisamos de nos sentir especiais de corrida também.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Da Indignidade de Andar a pé e Outras Curiosas Divagações

"Bacano, é a TVI!"

Durou pouco o Sol de fim de semana. Mas enquanto durou, aproveitei para tirar o pulso, e também umas fotos, aos comportamentos ciclo-relacionados na era pós Novo Código da Estrada, nesse grande parque de estacionamento gratuito a que normalmente chamamos "Lisboa". 

Como alguns de vós sabeis, (e outros, pelo que vejo, nem por isso) não dá muito jeito tirar fotos a partir de uma bicicleta em andamento. Pelo que me dispus a deslocar a pé. Se circular de bicicleta no país dos doutores e enginheiros já é um acto de retrocesso, mesmo que temporário, na escala social, andar a pé representa um pulo imediato até ao fundo do poço. Os passeios têm péssimo piso e estão atulhados de mobiliário urbano, lixo e carros. São ridiculamente estreitos ou nem existem. Por lá circulam peões, mas também ciclistas, animais e até automóveis (com um animal lá dentro).  

No Isaltinistão como em Lisboa, abundam imagens um pouco terceiro-mundistas que me fazem questionar o porquê de tantos estrangeiros gostarem disto. Mas a malta de cá também vai à Índia e outros países onde há coisas bem piores, por isso julgo que não vale a pena perder muito tempo a refletir sobre o assunto.

Zona pedonal em Algés


Um país rico! Até os vendedores ambulantes têm carro. E não o largam

Enquanto tratava de evitar os perigos da minha condição de apeado, fui fazendo umas fotos com uma compacta que em tempos ofereci à co-habitante, mas que ela nunca usa. Se calhar porque eu a deixei cair e um Peugeot passou-lhe por cima... Mas divago, dizia que achei que era câmara suficiente para o blogue (já usei pior!) e como ia andar uma dúzia de quilómetros, poupava no peso.


Já não é crime de lesa-majestade, mas irrita muita gente


E a velha marginal forneceu aquilo que eu esperava desse habitat natural do ciclista suburbano em dia de Sol: malta a pedalar com fartura. Como de constatações anteriores, pareceu-me ver mais ciclistas a circular a par do que noutras épocas, mas pode ser sugestão. Também vi muita gente a circular no passeio, mas na zona de Belém isso não é novidade.


Se tivesse um guiador desta largura, já tinha morrido!

Anormal é dar de caras com três cromos a fazer cavalinhos na Marginal cheia de trânsito. Na primeira foto da página podem ver dois deles, o terceiro estava na altura a fazer habilidades no passeio cheio de velhotes. É fácil dizer que "é esta malta que dá mau nome aos ciclistas". Por isso não vou dizer nada. Não gosto de coisas fáceis, e um automobilista que estaciona em cima do passeio representa um perigo muito maior para os outros, e ninguém se queixa. Mesmo assim, estranho...

Na estrada...



... ou no passeio.


Sozinho...


...ou acompanhado.

Um dia de Sol de inverno atrai os ciclistas como nunca. E também um monte de outra gente que conseguiu, por uma vez, evitar o centro comercial. Parte de mim quer acreditar que estamos no bom caminho, outra parte prefere dizer: "come antes uma peça de fruta que te faz melhor".

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Rápidos e Furiosos. Mas a Grande Marmota Tudo Perdoa. Porque Ela Ama Você!



Depois de ver toda a gente que eu conheço ficar de cama com gripes, constipações e derivados, tendo eu próprio apanhado algumas molhas, parece que a coisa acalmou. Espero que tenham conseguido escapar aos tornados, vagas gigantes e tenham estacionado o enlatado longe da costa. Se não conseguiram, portem-se melhor este ano. Sim, que a mim bem me podem vir com explicações pseudo-científicas de alterações climáticas e sei lá mais o quê, quando é óbvio que tudo isto não passa de um merecido castigo da Grande Marmota que Está no Céu.

E falando no divino, como anda a relação com as vacas sagradas, agora que já passou uma semana desde a entrada em vigor do revolucionário novo código da estrada? O código que segundo alguns críticos dá "direitos excessivos" aos ciclistas, (como o direito a respirar, por exemplo), será que tem feito alguma diferença?

Pela minha experiência, não.

Nada.   

Mas, sim, claro, pode ser demasiado cedo para estar a tirar conclusões do sucesso ou insucesso das novas medidas. Só que a mim pagam-me é para especular e é isso que tenciono fazer. Reparem, o problema é que Portugal e outros países da bacia do mediterrâneo, a última vez que foram considerados exemplos de civilização, era este gajo que estava no poder:

"Também tu, Barbosa?"

Nas décadas mais recentes (ou, vá, séculos), aqui no Sul da Europa, há um enorme desfasamento entre o aquilo que é a lei e a realidade vivida no terreno. Que eu saiba já era proibido circular a mais de 50 km/h nas localidades, conduzir e falar ao telemóvel ao mesmo tempo ou estacionar em cima do passeio. Tudo coisas que fazem parte do dia a dia de qualquer Lisboeta, sem que isso pareça incomodar minimamente as autoridades que é suposto controlarem esses abusos. 


"Onde é que quer que eu deixe o carro?!"

Caso o temperamento dos Portugueses fosse outro, provavelmente o anterior código da estrada já serviria perfeitamente para compatibilizar a bicicleta com o resto do tráfego (Ok, faltavam uns conceitos e uns sinais, mas ninguém é perfeito!). Já era obrigatório, por exemplo, guardar uma "distância lateral de segurança" ao ultrapassar outro veículo. E a bicicleta já era considerada oficial, legislativa e filosoficamente um veículo. Chama-se "velocípede". Podem ir verificar. Mas como a maioria dos condutores parecia considerar um par de milímetros uma distância de segurança mais do que suficiente para ultrapassar um ciclista, foi preciso deixar por escrito, preto no branco, quantos milímetros de separação devem deixar. E são mil e quinhentos, metro e meio, ok?!

Agora que os portugueses não podem fingir que não percebem a lei, estão aparentemente a adoptar outra técnica muito usada por cá nestes casos: ignorá-la por completo. E não acho que os motoristas tenham alguma coisa de especial contra as bicicletas, aliás, basta ver como tratam os peões, os motociclistas e uns aos outros!

O paradigma existente e a nova legislação fazem-me lembrar um sketch dos GF sobre o aborto. Era só mudar um pouco as questões:

Entrevistadora: Ultrapassar um ciclista à queima-roupa é estar a brincar com a vida e integridade física das outras pessoas, não é?
Professor: Sim.
Entrevistadora: Portanto, devia ser proibido.
Professor: Exacto.
Entrevistadora: Mas eu poderia ultrapassar dessa maneira?
Professor: Podia.
Entrevistadora: E o que é que me acontecia?
Professor: Nada.
Entrevistadora: Mas estava a ir contra a lei.
Professor: Estava.
Entrevistadora: E como é que a lei me punia?
Professor: De maneira nenhuma.

No seu habitat natural, o cidadão português é uma criatura normalíssima, mas que sofre uma mutação tipo Hulk quando as suas mãos tocam num volante. Na sua mente em delírio, uma deslocação quotidiana para o trabalho parece-se com isto:




Quando na verdade o que está realmente a acontecer é algo parecido com isto:  


"São só 700 horas por ano!"

Quem explica muito bem este fenómeno, e o porquê de eu não esperar grandes diferenças no respeito pelos ciclistas na via pública, após a entrada em vigor do novo código da estrada, é o Rui Zink. Ele têm umas "opiniões um pouco fortes", expressão que costuma ser-me dirigida também a mim, pelo que como imaginam, concordo totalmente com ele! É que quando um comportamento desviante passa a ser a norma, quem o denuncia é que está a incorrer num desvio. Mas estou a divagar. Oiçam o Zink, é daquelas coisas que vale mesmo a pena.



Poucos parecem ter a coragem de chamar os bois (ou as vacas sagradas) pelos nomes. Sociopatas é de facto apropriado. Um amigo meu Inglês descreveu a realidade rodoviária que encontrou por cá com outra expressão simples e brilhante: bullying. Mas não se preocupem, porque afinal estamos num país católico, e no fim tudo será perdoado. Mesmo na minha religião, no fim, a Grande Marmota perdoará sempre os arrependidos.

Gordo, molhado, mas feliz!

Se calhar foi por isso que comi como um alarve nesta quadra festiva, como vós infiéis a designais, e só tive consciência disso quando peguei na bicicleta de montanha e me pareceu que estava sempre na mudança errada, sempre numa mudança demasiado pesada.

Raízes molhadas: M-e-d-o

Outra coisa que reparei é que se passar muito tempo sem fazer um bocadinho de BTT, quando volto aos trilhos há coisas simples que me custam muito fazer. Pronto, muito jeito se calhar nunca tive, mas passar por cima de umas pedras e umas raízes com pneu 2.1 não devia ser demasiado complicado. Mas agora parece que é. Muitos sonhos, filhoses, broas e bolo-rei ando eu a arrastar comigo estes dias. A Grande Marmota me proteja!