quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Em obras...

"I have issues with my bottom. Bracket"
 
A Raleigh está no estaleiro à espera de peças novas, um pouco como eu, que tenho me dado mal com o frio. Mais novidades em breve.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Estranho Caso da Ciclovia da Avenida da Liberdade

Av. da Liberdade, Lisboa, Planeta Terra

O drama, a emoção, a tendinite que vou desenvolver de tanto martelar o teclado sobre o mesmo assunto. Por onde começar? Talvez pelo principio: a Terra arrefeceu e surgiram os organismos unicelulares, que foram evoluindo até aos dinossauros, que ficaram tão grandes e pesados que morreram e se transformaram em pitróleo. Os homens humanos perceberam que aquilo servia de combustível e construíram grandes bicicletas de 4 rodas carroçadas, com motores movidos a nhanha de dinossauro destilada. Depressa toda a gente e mais a mãe deles queria um veículo auto-móvel, pelo que os lideres da velha Olissipo mandaram alcatifar de asfalto o Passeio Público, e assim surgiu a Avenida da Liberdade.

Conseguem ver a ciclo faixa?

Dando um salto para o Séc. XXI, e após décadas a alargar ruas e avenidas até transformar o maior número possível de artérias da cidade em autoestradas, a CML finalmente parece ter acordado para o facto de que é impossível uma mobilidade urbana dependente exclusivamente das bicicletas de 4 rodas carroçadas. Começaram então a surgir planos e obras concretas que tentam aliviar a pressão do ditador automóvel sobre a pobre e indefesa Olissipo. Com a desculpa de possíveis multas da (des)União Europeia, em Setembro avançaram as alterações ao trânsito na Av. da Liberdade e Marquês do Pombal.

Gostava de ver o Nunes da Silva a andar aqui de bicicleta

Digo desculpas, porque num país onde o povo exige sempre mais e melhor alcatrão para os seus paquidermes metálicos e mais lugares de estacionamento mesmo à porta de todos os destinos, é politicamente muito difícil dizer que se quer restringir a circulação automóvel em Lisboa. O António Costa de certeza não pretende hipotecar o seu futuro político com as alterações de circulação na capital. Mas ao não esclarecer as pessoas, o executivo da CML abre a porta às muitas críticas sobre as soluções implementadas. Em vez de dizer claramente "não tragam o carro para aqui", a CML prefere falar em poluição para justificar ter tirado umas faixas à Av. da Liberdade.

O tracejado da faixa BUS antiga ainda lá está


Os Fogareirus Raivosum dominam a Avenida


As viragens à direita são um perigo


Apesar dos riscos e mesmo em dias de tempestade, a Av. tem ciclistas

Com as alterações feitas, surgiu também uma ciclo-faixa-coisa na Av. da Liberdade. Em vez das tradicionais ciclovias em cima dos passeios, roubando o pouco espaço que sobrava para os peões, desta vez fez-se uma faixa ciclável na via BUS, que foi alargada. É das primeiras vezes também que o responsável por implementar estas modificações relacionadas com a mobilidade BICI é de facto o vereador da mobilidade da CML, o independente Fernando Nunes da Silva. As ciclo-coisadas feitas no passeio são normalmente da responsabilidade do pelouro dos Jardins (!), nas mãos do camarada José Sá Fernandes.

Os protagonistas: António Costa, Nunes da Silva e Sá Fernandes

Talvez por falta de experiência, talvez por manifesta incompetência, talvez por problemas na correspondência, a CML pediu pareceres a quem percebia da poda (a FPCUB e o MUBI) e depois borrifou-se no que eles disseram. Fez o que bem entendeu, provavelmente o que era mais fácil e barato. Ficámos assim com uma ciclo-faixa na zona da avenida onde circula o trânsito mais rápido, onde o piso é pior, e onde o ciclista fica mais exposto às viragens à direita nos muitos cruzamentos. Mesmo a sinalética que avisa para a inovação que é um ciclista poder circular legalmente num corredor BUS (ou será numa faixa à direita do corredor BUS, nunca consegui perceber!) é muito escassa, sobretudo no sentido Norte-Sul.

Estes sinais não existem no sentido Norte-Sul

Tal como não houve coragem para dizer claramente que pretendia restringir a circulação automóvel na zona, também não houve coragem para eliminar o estacionamento público nas laterais da avenida, o que teria possibilitado alargar os passeios e criar outro tipo de soluções para a bicicleta. É difícil encontrar em capitais europeias outras avenidas equivalentes que ainda tolerem o estacionamento à superfície, mas se pensarmos que o Vereador Nunes da Silva é professor do IST, que tem um campus na Alameda onde em vez de se abolir a circulação de automóveis, como é normal no mundo inteiro, aboliu-se a circulação de pessoas, para maximizar o número de lugares de estacionamento. Vale a pena uma visita às instalações desta nobre instituição, para perceber melhor a mentalidade de quem manda na mobilidade lisboeta.

Parece que sou só eu que acho que aqueles lugares de estacionamento sobram

Mas afinal como é circular nesta Avenida Lisboeta após as alterações? Eu passo lá todos os dias e resolvi fazer um pequeno vídeo. À boa maneira da CML, eu não disponho das condições técnicas ideais para recolher as imagens numa bicicleta em movimento, mas desenrasquei a coisa na mesma. As vibrações na ciclo-faixa-coisa são mais que muitas, depois não digam que não avisei. Assim, aqui ficam os 1200 metros dos Restauradores ao Marquês de Pombal, à velocidade merdia de 17 km/h:



Sem grandes surpresas, a montanha parece ter parido um rato. Coxo. Depois do enorme interesse mediático, das ameaças do Reichfürer Barbosa do ACP e do caos dos primeiros dias, a coisa parece estar a acalmar, mesmo que ninguém esteja realmente satisfeito. Os automobilistas querem o seu asfalto de volta, os ciclistas sentem que fizeram alguma coisa por eles, e só isso já é um raro reconhecimento da sua existência, mas gostavam que tivessem feito alguma coisa que fosse, sei lá, útil. Os peões têm agora que olhar para todos os lados ao travessar as laterais, que podem ter vários sentidos, e o atravessamento da própria Av. da Liberdade está tão difícil como nunca. Parece que ganhou mais uma vez a mediocridade e o deserrascanço. Se a política é o compromisso do possível, o possível em Lisboa parece ter descido mais um degrau.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Custos do Automóvel: a Verdade Definitiva ou Alguma Coisa Vagamente Parecida

Auto-estrada A5 hoje de manhã
 
Em um lugar dos emails do Mubi, de cujo nome não consigo recordar-me, não há muito tempo vivia um fidalgo... E dizia ele que o pessoal defensor da mobilidade em bicicleta são uma espécie de Xiitas "anti-carro", e que isso seria uma reacção exacerbada normal, por simples oposição à força dominante ou algo assim. Tretas. A maior parte das pessoas que eu conheço fizeram simplesmente uma progressiva aprendizagem sobre os temas da mobilidade urbana. E qualquer um que se debruce minimamente sobre o assunto, acaba por constatar o volume incrível de problemas sociais que derivam da tentativa de acomodar, priorizar e apaparicar excessivamente o pópó e seus utilizadores nas nossas cidades. O uso e interesse na bicicleta pode vir antes ou depois desta constatação.

Há quem faça estes quilómetros de bicicleta em 4 ou 5 anos

Dito isto, talvez não seja estranho descobrir que alguns activistas da causa não são Xiitas e até possuem e utilizam automóvel. Mesmo este vosso escriba mantém na sua base secreta nas montanhas do Isaltinistão, um veículo de 4 rodas, movido à velha tecnologia de queimar nhanha de dinossauro. Trata-se uma pequena berlina alemã a gasolina (de nada, Frau Nein). Como já trabalhei, entre outras coisas, em contabilidade, tenho esta obsessão muito picuinhas de anotar todo o tipo de dados em folhas de Excel. E há um ano que ando a anotar cuidadosamente todas as despesas da viatura cá de casa. Porque uma coisa é fazer estimativas e recordar apenas os gastos mais importantes e outra é anotar mesmo tudo. Foi o que eu fiz.

Sim, o meu Excel é jurássico

Aqui ficam então, em estreia mundial, todos os custos do carro cá de casa, de Novembro de 2011 a Novembro de 2012. Tenham em conta que o meu perfil de utilizador será diferente do de muita gente. O carro não tem uso diário. Quando é chamado a prestar serviço, é para deslocações normalmente curtas. Depois pode fazer umas viagens no verão, mas nada de mais.

  • As despesas incluem: combustível, imposto de circulação, seguro de responsabilidade civil, inspecção, revisão anual, estacionamento, lavagens e portagens

  • As despesas não incluem: valor de aquisição, desvalorização esperada, pneus.       

  
Constatei pois que, sem contar com a desvalorização ou aquisição, o carro, mesmo passando a maior parte dos dias parado, recorrendo a oficinas de "marca branca" e outras medidas de contenção, aspira mensalmente 112 Euros. O custo por km ficou-se pelos 17 cêntimos. Mas este carro é especialmente económico nos custo de utilização. Aliás, aqui não há multas, avarias mecânicas, accidentes e outras surpresas. O valor por km atribuído por muitas empresas é de 0,36 Euros, o que é um valor médio razoável, a atribuir a todo tipo de viaturas e é suposto incluir a desvalorização do pópó.

Diz que o carro come à mesa com a gente. E serve-se primeiro

Para um fanático do automóvel estes custos podem parecer triviais, mas se se recorrer ao valor médio do custo por km para um cálculo rápido de deslocações as coisas tornam-se mais claras. Por exemplo, uma típica deslocação minha ao centro de Lisboa é de 36 km, ida e volta. Nada de especial. Mas isso daria um custo de quase 13 Euros só para chegar a algum lado. Ao fim de cinco dias úteis esse custo ascende a 64,8 Euros, um valor que chega para pagar a maioria das assinaturas mensais de transportes públicos.

Se aplicarmos esta mesma lógica ao antigo valor médio de quilometragem anual esperada para um automóvel a gasolina, 15.000 km, chegamos a um valor anual de 5.400 Euros, ou 450 Euros mensais. Basicamente, é quase um salário mínimo só para fazer os km "normais". Sendo que o salário médio real no nosso país ronda os 800 Euros, o romance tórrido que os portugueses mantêm com o pópó, mesmo que mais nada estivesse em causa, continua a revelar-se difícil de compreender.

É que o automóvel tem ainda muitos outros custos escondidos. Como os sempre crescentes impostos que sustentam uma colossal infraestrutura rodoviária, os custos em vidas humanas, os custos ambientais, os custos económicos de importar milhões e milhões em pópós e fósseis do Cretáceo para queimar, e um largo e penoso etc. E para mim, o custo escondido mais importante é a perda de liberdade e qualidade de vida a nível local. As crianças que não podem brincar na rua, os idosos que não saem de casa, os espaços públicos que só servem para estacionar os paquidermes de metal, a sensação omnipresente de insegurança.

Nada disto é inevitável, como muitos parecem julgar. Usar menos o carro é melhor para todos. E quem faz questão de usar o transporte individual em cidade tem alternativas, n'est-ce pas?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um Postal de Portugal




Esta parolice do vídeo para a Alemanha pode ter boas intenções, mas envergonha qualquer Português a quem ainda sobre um pingo de auto-estima. Para além do mais, parece persistir uma incrível falta de percepção sobre outras culturas, onde não impera a balda e o desenrrascanço. Há países, como, sei lá, a Alemanha, onde as regras são para cumprir, e não apenas meras sugestões. Onde se impõem mesmo castigos quando essas regras não são cumpridas. Fica portanto só uma pergunta:


O que é que estes idiotas estão a fazer em cima da ciclovia???!!!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Lisboa de Bicicleta de Estrada: uma Saga de Pneus Fininhos

Mayda, mayday, mayday! Perda de controle! Queda eminente! Ahhhh!!! (Crash!). Este poderia ser o relato de uma hipotética caixa negra da minha Raleigh após o pequeno incidente de Sexta. Escusam de ir já a correr doar sangue, sentem-se e acabem de ler primeiro, eu estou óptimo. Há quem ache que uma queda de bicicleta é uma coisa normal e expectável, mas não eu. Para compreender este episódio é pois necessário que rebobinemos a poeirenta cassete do tempo até à semana passada, quando...

Com a roda xpto

...Choviam cães e gatos, o que não me impedia de acelerar pela Avenida da Liberdade abaixo a velocidades escassamente legais. Pequenos riachos tinham-se formado na ciclo-faixa-coisa, pelo que eu evitava circular por lá. E o preço a pagar por andar no meio da faixa em Lisboa é ter que andar depressa. Era o que eu estava a fazer, mesmo que já estivesse encharcado até aos ossos. A aderência dos meus pneus baratongos Michelin 700x28 não parava de me surpreender. Nessa noite enfrentei todo o tipo de superfícies urbanas desafiantes, carris, tinta de sinais, empedrado de granito, lajes de pedra lisa, grelhas metálicas, tudo muito bem molhado, sem qualquer surpresa.

Apesar de ter a confirmação de que os meus pneus eram adequados ao uso invernoso, faltava-me um elemento fundamental para tornar a minha bicicleta de estrada realmente polivalente, cuja compra eu tinha atrasado tempo demais. Guarda lamas, pois claro. A maioria da água que me tinha encharcado tinha vindo das rodas, não do céu. Tendo em conta as restrições de espaço dos travões e do próprio quadro, estava certo de ter feito uma boa opção com uns SKS Bluemels 35 e bastante satisfeito com o seu aspecto uma vez montados, até que tentei girar a roda dianteira. Estava presa.

Por mais que eu fizesse ajustes, a roda não passava livremente na zona do apoio do travão. Gastei horas com aquilo, mas a conclusão era inevitável: devido ao desenho do garfo era impossível montar pneus 28 com guarda-lamas. Atrás o problema não existia e era possível manter o pneu "largo". Precisava portanto de uma solução para a frente, pelo que pensei que talvez um pneu mais anoréctico não fosse assim tão mau para um uso utilitário.  

Bonito, bom, barato é que não

Deitei mãos à obra, que é como quem diz, pedi à co-habitante uma roda de estrada com um dos pneus queques que ela usa para o triatlo, um Michelin Pro3 Race 700x23 e fui com ele para Lisboa. Em ambiente urbano e perante os problemas do costume, como o empedrado desalinhado e o asfalto em mau estado, notavam-se mais vibrações e pancadas que o Pro3 não conseguia absorver da forma a que eu estava acostumado. Por outro lado, a maior leveza do conjunto do Aro Mavic e pneu 23, e o tão badalado menor atrito do pneu fininho, tornavam a bicicleta um tudo nada mais rápida. Em termos de aderência não me podia queixar, parecia ser equivalente ao seu primo Michelin mais largo. O que era excelente.

Vade retro!

Cheguei então à brilhante conclusão de que seria possível e quem sabe divertido enfrentar as ruas da capital com um bom pneu 23 na roda da frente e o 28 na roda de trás, que afinal é a que suporta mais peso. Apesar de ficar com a frente mais instável, (ou ágil e rápida, como diria o pessoal que gosta das finhinhas de corrida), estava disposto a viver com isso e ficava assim com a questão dos guarda lamas resolvida. Devolvi a roda xpto à co-habitante e fui arranjar um pneu para mim. Depois de ler algumas reviews achei que um bom compromisso preço-qualidade seria o Hutchinson Equinox 2. E fui comprar um.

O tamanho importa!

Sexta-feira tinha feito os últimos ajustes e estava certo de ter um setup fiável e funcional. Estava a chover outra vez e a estrada estava molhada, o cenário perfeito para testar o funcionamento do novo pneu e dos guarda-lamas. Acontece que menos de quilómetro e meio após sair de casa eu estava a sofrer de síndrome papal, estava literalmente a beijar o chão. Ao passar de uma zona de asfalto para uma de empedrado, um ligeiro rebordo molhado que tinha que subir fez escorregar irremediavelmente a roda da frente. Sou cuidadoso ao ponto da paranóia e estava alerta para essa possibilidade, mas mesmo assim fui ao tapete. O pneu da frente tinha pressão bem abaixo da recomendada, mas de nada serviu. Estava, como de costume, uma carro atrás de mim a fazer má vizinhança, mas felizmente passou ao largo, sem dúvida a caminho de contar lá em casa como "isso das bicicletes é mesmo perigoso".

Lado a lado: Equinox2 700x23; PRO3 Race 700x23 e Dynamic Sport 700x28

A minha falta de jeito para o BTT tem pelo menos o mérito de me ter feito ganhar experiência em quedas. Agora sou perito em cair sem me aleijar, e foi o caso. Só o ego e a manete do travão saíram magoados. Mas o Equinox 2 foi logo posto de lado, para derreter no rolo, e precisava portanto de uma solução alternativa. Após estudar várias possibilidades, acabei por simplesmente me atirar ao garfo com uma velha lima enferrujada e só parei quando havia espaço para colocar o guarda-lamas e o pneu Michelin 28. Foram só uns milímetros numa zona invisível, pelo que não penso ter comprometido nem a segurança nem a estética. Problema resolvido. Venha o próximo.