terça-feira, 24 de julho de 2012

O "Ciclismo" e os "Ciclistas"

Bradley Wiggins: As patilhas mais rápidas do universo conhecido!

Na edição deste ano do Tour de França nenhum ciclista foi atropelado por um automóvel da organização que depois se pós em fuga. Rejubilemos. Vá, estou a ser mauzinho. Mas já fui mais. Acho que até já fiz as pazes com o desporto violento que é o ciclismo de estrada. Este ano tive o tempo e o luxo de poder acompanhar boa parte do Tour em directo na televisão.

Os Londrinos estão finalmente a descongelar o stiff upper lip e a começar a afeiçoar-se à ideia de terem os jogos olímpicos na sua cidade. Acho que o Londrino Bradley Wiggins (nascido na Bélgica), também teve alguma coisa a ver com isso. A vitória do patilhas-maravilha e da equipa da Sky, (este é afinal de contas um desporto de equipa!) parece ter ajudado a despertar a atenção adormecida dos ingleses para com o ciclismo, o desporto, e os Jogos Olímpicos em geral.

Eu aprendi a gostar do ciclismo de estrada. Foi um gosto que fui adquirindo, com a ajuda de uma par de entusiastas jornalistas da especialidade, nas intermináveis viagens de autoestrada a caminho de mais uma entrevista com alguma estrela ou velha glória da especialidade. Os jornalistas da Ciclismo a fundo não só me explicaram as regras e as estratégias do desporto, como acho que conseguiram passar algum seu inesgotável entusiasmo pelo seu desporto de eleição.

Ainda continuo a achar que há um excesso de violência, de agressividade, de perigos desnecessários nas competições de estrada. E que isso pode passar a mensagem errada sobre o "ciclismo" em geral. Mas agora já não consigo passar sem ver pelo menos o Tour. Mas a questão que me interessa é perceber as relações entre o "desporto rei" movido a pedal e o uso da bicicleta como meio de transporte. Tendo em conta o meu actual lugar de residência, é impossível não perceber que a vitoria surpreendente da Team Sky nas estradas francesas vai de alguma maneira relacionar-se com a autentica revolução por que está a passar o ciclismo utilitário em Londres e no Reino Unido.

A toda poderosa Sky apoia o ciclismo!

A maneira positiva de olhar para a coisa é afirmar que o ciclismo de estrada, se for suficientemente popular, com atletas nacionais bem sucedidos, vai atrair pessoas para o desporto e que esse maior número acabará por se reflectir também no número de utilizadores da bicicleta como meio de transporte. A divulgação nos media ajuda certamente, e os patrocinadores do Team Sky, para não ir mais longe, estão aparentemente muito empenhados na divulgação do ciclismo.

Menos positivo seria dizer que toda aquela licra, as bicicletas de crabono de milhares de euros e a perigosidade do desporto em si vai alienar os utilizadores da bicicleta como meio de transporte e convencer os indecisos de que o ciclismo é mesmo uma coisa arriscada, para super-atletas e radicais, não algo para o dia a dia de pessoas normais. Na melhor das hipóteses um saudável desporto, mas não transporte.

O que pensam vocês? É certo que não há muitos campeões de ciclismo na Holanda e na Dinamarca, por exemplo, duas nações de referência para o ciclismo utilitário. E Portugal não é actualmente referência nem numa coisa nem outra. Se ofensa para as excelentes prestações recentes do Rui Costa!  

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Boris Bikes Blues

O impressionante Sol de Londres. Não o vejo desde o mês passado.
 
Depois de algum tempo de uso, há algumas limitações do sistema das Boris Bikes que se tornam evidentes. Nada de especial, é apenas um pequeno complemento à análise que já tinha feito aqui. O sistema é em geral bloody brilliant!

Fora de Serviço!

Uma coisa que pode acontecer é que o terminal da estação esteja fora de acção. Isso impossibilita que se levante uma bicicleta, se não se for um utilizador registado. Os utilizadores registados têm um pequeno cartão que se utiliza directamente no ancoradouro (à falta de palavra melhor) das bicicletas, não precisam de recorrer ao terminal. Desde que haja bicicletas disponíveis, é só seguir viagem. Mas o vulgar turista ou utilizador mais esporádico, que tem forçosamente que utilizar um cartão bancário, está tramado.

Muitas Boris podem ser Boris demais.

Não se trata de um problema grave na verdade, porque as estações não distam mais de 400 ou 500 metros umas das outras. Grave é querer devolver a bicicleta e encontrar a estação de destino cheia. Para os utilizadores esporádicos, mais uma vez, o tempo está a contar. A primeira meia hora é grátis, mas daí para a frente os valores crescem praticamente de forma exponencial. Se ficarem umas horas com a bicicleta os custos podem ser assustadores. Seis horas custa 35 GBP, por exemplo. Não são valores superiores ao custo do aluguer de uma bicicleta a uma empresa privada, mas para quem não estava à espera de pagar nada à partida pode ser uma sensação desagradável.

Too much of a good thing?!

É pois fundamental conseguir devolver a bicicleta no sítio planeado. Enquanto não devolverem a bicicleta ela é inteiramente vossa responsabilidade. Perante uma estação completamente cheia só há uma alternativa: pedalar um pouco mais e encontrar outra. Que pode estar na mesma! A prova de que as Boris Bikes estão realmente integradas nos transportes da cidade de Londres e não são só uma curiosidade lúdica, para turistas, é que elas seguem os padrões pendulares das deslocações urbanas: da periferia para o centro de manhã, do centro para a periferia ao fim da tarde. Assim, é normal que a determinada hora certas estações estejam cheias e outras estejam praticamente vazias. Uma coisa a ter em conta, por exemplo ao tentar arranjar um bicla para sair da City em hora de ponta ao fim da tarde. Good luck with that, old chap!

Um lugar! Hurray!

Tudo isto na verdade só prova que as Boris Bikes são um enorme sucesso. Eu acabei por não comprar bicla por cá. Para quê? Tudo o que eu tenho que fazer é consultar o mapa e ver onde está a próxima estação.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

London Cycle Paramedics



O serviço nacional de saúde cá do sítio utiliza bicicletas, além das tradicionais ambulâncias, carros rápidos para médicos e motos. O sistema está em funcionamento em muitas cidades do Reino Unido e Londres não é excepção. Desde há mais de uma década que estes paramédicos movidos a pedal chegam primeiro ao local do incidente e prestam assistência que pode ser a diferença entre a vida e a morte. 

Para os mais interessados no material, o London Ambulance Service informa que estes paramédicos montam bicicletas de montanha, com rodas reforçadas, luzes e alforges.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

E o Orçamento Participativo de Lisboa?

Em Londres também há disto

O OP de Lisboa 2012 não está esquecido. As rodas dentadas da Câmara de Lisboa estão em movimento, e vão digerindo lentamente as propostas entregues. Apenas as exequíveis serão submetidas a votação, que terá lugar entre 17 de Setembro e 31 de Outubro. A proposta em que participei tem o número de registo 532. Se não se recordam, podem ler os pormenores da ideia aqui. Esperemos que chegue à próxima fase, mas é bom saber que também há outros projectos interessantes em análise.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Reichfürer Barbosa Contra-Ataca

Reichfürer ofendido
 
Pensei duas vezes antes de escrever alguma coisa sobre este assunto. Mas não há como resistir. O ACP processou judicialmente um blogger que teve o descaramento de ofender o seu presidente, o inigualável Reichfürer Carlos Barbosa. A posta em questão é esta. A linguagem utilizada é suficiente para motivar este tipo de coisa, num país provinciano, onde as instituições são sagradas, as elites são intocáveis e a justiça só serve para garantir esse status quo.

Acresce o facto de, embora muitos não tenham qualquer dificuldade em concordar que o Carlos Barbosa é de facto um imbecil, coisa que ele próprio se encarrega de demonstrar de cada vez que abre a boca, a verdade é que uma larga fatia da população padece da mesma cegueira que o presidente do ACP. Para eles, os carros não poluem, os carros não endividam o país, os carros não matam, os carros não arruínam os centros urbanos, nunca haverá carros a mais e o petróleo só é caro por causa dos impostos. Mesmo sabendo que o homem só diz disparates, a causa da ditadura do enlatado é no fundo a sua causa e não deixarão de lutar por ela. Basta ver a quantidade de criaturas que rastejaram de debaixo de uma pedra para deixar comentários no tal post que motivou o processo judicial. O Reichfürer tem amigos.

Sendo que eu próprio também já escrevi algumas coisitas sobre o ACP e o seu mentecapto dirigente, e como sou também apenas um tipo sem ligações nem amigos poderosos, que se limita a escrever a sua opinião pessoal numa página da Internet, este assunto interessa-me. Era bom que interessasse também a boa parte da sociedade civil, pelas graves implicações que este caso tem para a liberdade de expressão e da Internet.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Londres vs Lisboa: descubra as diferenças

Not Lisbon
 
Sim, aqui em Londres eles falam estrangeiro, conduzem do lado errado da estrada e usam tomadas com buracos a mais. Mas se os Ingleses também adoram o seu pópó, e têm até mais desculpas para o usar, já que aqui está sempre a chover, há toda uma série muito interessante de diferenças nos comportamentos e na infraestrutura urbana, em relação a Lisboa, especialmente no que toca aos modos suaves.

Outra forma de transporte em Londres: correr até casa

Para começar, em Londres é normal andar a pé. Sim, eu sei, é chocante. Caminhar para chegar a alguma parte da cidade ou para cumprir parte de um percurso é considerado uma coisa razoável de se fazer. Não é algo para os pobres, os destituídos e aqueles que não foram suficientemente espertos para estacionar ilegalmente o carro mesmo em frente à porta de entrada. E como caminhar é uma coisa natural, existem passeios, normalmente desimpedidos, com piso razoável e largura suficiente. Em Lisboa tal coisa é um luxo, só disponivel em pequenas (e poucas) partes da cidade.

Se a via é estreita, os pópós passam alternadamente. Simples.

Quando o espaço é reduzido, em vez de destruir passeios e alargar a estrada, fazer vias rápidas novas e rotundas, como os nossos autarcas do bigode adoram fazer, aqui simplesmente obriga-se o trânsito a andar mais devagar e a esperar antes de poder avançar numa passagem estreita. É claro que há também muitas milhas de motorways, mas o espaço verdairamente urbano, com dimensão humana, onde se pode andar em segurança, é comparativamente muito maior.

Passadeira com semáforo

Típica "ilha" para peões, algures na City

Nem tudo são rosas no entanto. Em Londres as passadeiras para peões são misteriosamentes escassas e o tempo de atravessamento nos semáforos é semelhante ao de Lisboa. Na maior parte das situações, o peão atravessa a rua por sua conta e risco. Existem umas muito típicas ilhas centrais em muita ruas, que facilitam o atravessamento em duas fases, diminuindo o perigo. Como as ruas de Londres tendem a ser estreitas e algo sinuosas, o perigo é minimizado pela reduzida velocidade possível para os veículos, mas a prioridade pertence de facto ao trânsito motorizado, excepto nas tais escassas passadeiras, e os motoristas londrinos podem ser tão implacáveis como os de Lisboa.

O espaço em frente do semáforo é reservado aos ciclistas.

Pintar umas linhas no chão nem sempre garante respeito

No que toca às bicicletas, há algumas diferenças importantes. A começar pelas legislativas, que transcendem a cidade de Londres. Entre as mais significativas estão a possibilidade dos ciclistas circularem a par, desde que a estrada não seja demasiado estreita, a permissão de uso dos espaços e corredores reservados aos transportes públicos e a não obrigatoriedade de circular nas ciclovias e nas ciclo faixas se o ciclista assim o entender. Há também as famosas caixas na frente dos semáforos, para uso exclusivo por ciclistas. É básico, mas em Lisboa não temos nada disto.

Sinal de dois sentidos para velocípedes

Acesso à estrada através de uma ciclovia

Ciclovia com semáforo

De notar que apesar de toda a sinalização especifica, das diferenças legislativas e do empenhamento do gabinete do Mayor of London, no que toca à infraestructura básica, esta é quase igual a Lisboa: na prática circula-se quase sempre na estrada e segue-se as regras da estrada. Tem-se mais liberdade e mais direitos na teoria, mas coisas como "razias" e encostos são uma constante. Os londrinos são bastante mais frios que os lisboetas e toda a gente lida com esta agressividade rodoviária de forma quase impassível. Ou seja, o taxista passa-te a ferro com um ar de absoluta indiferença e tu és passado a ferro sem sequer levantar uma sobrancelha. Esse tipo de coisa.

Circular a par não é ilegal. Em Londres pelo menos.

O Transport for London, a poderosa entidade que gere a complexa rede de transportes e vias da capital britânica, parece realmente empenhado em tornar a cidade ciclável, mesmo que seja seguindo as filosofias do Vehicular Cycling. Prova disso é, por exemplo, a possibilidade de obter no conforto da nossa casa mapas em papel de percursos pre-estudados para ciclistas (e por ciclistas) em toda a zona metropolitana de Londres. São grátis, não se paga nem os portes de correio. Estes são os meus:

Bonitos, Bons e de Borla.

Qualquer semelhança com a falida, burocrática e provinciana administração da CML só pode ser mesmo pura coincidência. Outra coisa que não há em Lisboa e que é importante em qualquer infraestructura urbana básica que tenha em conta os utilizadores de bicicleta são os lugares de estacionamento. Em Londres há um número muito razoável de lugares, quase todos tecnicamente adequados, prevalecendo aqueles em "U" invertido.

Estacionamento público para bicicletas

Outro estacionamento em "U" invertido.

Estacionamento dentro da estação de King's Cross

On other news, segundo dados da Metropolitan Police, o ano passado foram roubadas mais de 23.000 bicicletas em Londres. Esses são os números das queixas apresentadas e já se sabe que, aqui como em Lisboa, a maior parte dos crimes nem sequer são reportados. Nesse mesmo período apenas 580 pessoas foram acusadas de roubo de velocípedes na zona metropolitana de Londres. A diferença para Lisboa neste domínio é que os números existem, são facilmente acessíveis, e o assunto é tratado como qualquer outro deste tipo, aparece nos jornais, e a polícia pelo menos preocupa-se em atacar o problema.

Acesso a zona pedonal e ciclável

Apesar de ser uma cidade ainda muito feita a pensar no carro, há cada vez mais espaços exclusivamente pedonais, ou ciclo-pedonais. Algo que em Lisboa tarda em acontecer, basta pensar na zona da Bica, onde toda a gente que enche aquele espaço num Sábado à noite tem que sair do caminho para deixar o idiota de turno entrar e sair da rua com o seu sagrado pópó.

domingo, 8 de julho de 2012

Pedalar ao Ritmo Frenético de Londres

Um grande autocarro vermelho nunca anda longe da roda traseira

Isto é malta que tem pressa. Muita pressa. Os Londrinos, quero dizer. Mesmo a andar a pé. Reparem que eu tenho não só um físico sedutor e portentoso, como a minha passada é lendária pela sua dimensão ciclópica e passo acelerado. Mesmo quando não tenho pressa. Mas aqui até eu sou sistematicamente ultrapassado por velhotas asmáticas com enormes mochilas às costas, crianças de três anos ou executivos do Barklays em fatos de milhares de euros.

Se as coisas são assim no passeio, acho que podem ir fazendo uma ideia do que será nas ruas, no asfalto de Londres. Eu já tinha falado da agressividade do trânsito londrino, mas agora posso elaborar um bocadinho mais. Penso que em parte tem a ver com as ruas aqui serem em geral estreitas e com muitos cruzamentos. Os automobilistas fartam-se de acelerar, travar, acelerar outra vez, parar. Ficam impacientes e aceleram muito o carro, mesmo que seja para andarem mais uma dezena de metros e voltar a parar. Há também muitas zonas de estacionamento lateral, com os carros parados a obstruírem a passagem, pelo que muitas vezes têm que esperar e passar alternadamente. Os ingleses também estacionam em cima do passeio, mas é muito mais raro do que em Portugal.

Percebem o que eu quero dizer?
 
Depois há faixas BUS por todo o lado, sentidos proibidos, semáforos, etc. Tudo isto torna o uso do carro pouco lógico, mas o vício aqui também é muito grande e na prática as pessoas acostumam-se a lutar pelo espaço disponível, na esperança e chegarem uns segundos mais cedo ao centro comercial ou lá onde eles vão. As estradas estão também cheias dos omnipresentes autocarros vermelhos, que na verdade pertencem a várias companhias privadas diferentes. Estes mastodontes de dois andares (também há dos "normais") juntam-se à grande luta por espaço na capital britânica. O mais recente componente nesta selva urbana é pois o ciclista, que é literalmente atirado às feras. O que ajuda a explicar várias elementos típicos do ciclista londrino:

  • A roupa tipo guerreiro florescente. Num ambiente tão agressivo, numa terra com tantos dias cinzentos, com má visibilidade, usar roupa de alta visibilidade, como lhe chamam, faz algum sentido. Mesmo que seja horrível. Os motociclistas também recorrem a este visual.     

  • O uso de bicicletas de estrada e outros modelos de corrida. Se o commute é para ser feito à máxima velocidade possível, tentando acompanhar o fluxo do trânsito motorizado, faz sentido utilizar uma bicicleta veloz. E como eu já disse, o pessoal aqui está sempre com pressa.

  • O estilo agressivo de condução. Os automobilistas são os mais agressivos, mas toda a gente acaba por agir mais ou menos da mesma maneira. Os autocarros partilham as faixas BUS com os ciclistas e não parecem muito contentes com este facto. Sinto-me mais seguro com um autocarro da Carris por perto do que com estes tipos, por incrível que pareça. Os ciclistas acabam por entrar no jogo, mas quando saem magoados as pessoas só falam de como eles são "loucos" e "perigosos", quando todo o trânsito aqui é particularmente violento e os ciclistas são, como sempre, os mais desprotegidos.

  • O uso de licra e roupa desportiva. Se é para ir fundo e dar uma de guerreiro do asfalto, é natural que se transpire (e/ou se borre as cuecas). Nesse caso, faz sentido utilizar roupa práctica para esforços fisicos prolongados, que será trocada no destino por alguma coisa mais trendy

Quando não são os autocarros, it's the man with a van!

Resumindo e simplificando, que a mim ninguém me paga para ser rigoroso, acho que andar de bicicleta em Londres não é claramente para todos, embora a ideia é que assim venha a ser. Há muitos ciclistas na estrada, são um grupo visível e que já não pode ser ignorado, mas não foram criadas grandes condições para os proteger. Dito isto, muito trabalho foi de facto feito, desde a sinalização vertical às marcações nas estradas e às alterações legislativas, mas quase sempre na óptica do veicular cycling, infelizmente. Os números de acidentes parece ter forçado as autoridades a realizarem campanhas de sensibilização, mas como em outros locais o que se tenta é criticar e disciplinar o utilizador mais vulnerável, sem fazer grande coisa para o proteger.

Tudo o que está a acontecer em Londres é importante por causa das semelhanças com Lisboa. esperemos que não se venham a repetir os mesmos erros, ainda para mais com muitos anos de atraso. O Bike Snob esteve por cá não há muito tempo e também teve uns comentários (im)pertinentes sobre o que é pedalar por estas bandas. Leiam que vale a pena. Mas depois voltem.

domingo, 1 de julho de 2012

The Boris Bike experience

Não sei porque, parece que passo a vida em Camden
 
Imaginem que já gastaram mais de cinco libras em transportes só para chegarem perto de alguma zona emblemática do centro de Londres. Ainda não estão lá, andar a pé leva muito tempo e não estão com vontade de se enfiarem outra vez nos transportes públicos. Qual a alternativa?

Boris Bikes to the rescue!

As Boris Bikes, pois claro! O sistema de bicicletas públicas de uso partilhado da capital britânica é conhecido pelo nome do seu Mayor, o despenteado, auto-centrado, extrovertido, ciclo-activista extravagante, Boris Johnson. Na verdade, o nome mais correcto seria Barclays Cycle Hire, já que esta instituição bancária Britânica é que assumiu as despesas deste ambicioso projecto. Quando não estavam demasiado ocupados com a dominação mundial, parece que a boa gente do Barcklays achou boa ideia financiar esta ideia que já tem provas dadas em outras capitais europeias.

O Bilhete para meia hora de diversão. Pelo menos!

O sistema é similar aos seus congéneres mais antigos de cidades como por exemplo Barcelona: uma série de estações espalhadas pelas zonas centrais da cidade disponibilizam bicicletas mediante um sistema automático aos utilizadores autorizado. Em Londres, qualquer pessoa com um cartão de crédito pode ser um utilizador autorizado. Paga-se uma libra para aceder ao serviço e depois, se só se usar a bicicleta durante menos de 30 minutos, é grátis. Os custos aumentam dai para a frente, mas são muito razoáveis. Mais pormenores das condições aqui.



Naturalmente, é possível devolver a bicicleta em qualquer estação da rede, e no centro de Londres existem inúmeras estações a curta distância umas das outras. Este mapa permite ter uma ideia da magnitude do projecto, que faz parte do Transport for London, a entidade que gere todos transportes da área metropolitana de Londres.

London Barklays Cycle Hire Stations

Sim, cada um desses símbolos corresponde a uma estação do sistema. Todas têm um pequeno estacionamento para prender as bicicletas e um pilar com informações, escritas e acessiveis através de um LCD, e um terminal de pagamento por cartão bancário. Como estas:

Uma

Outra

Mais uma

Bonito, não?

Há sempre uma estação por perto!

As bicicletas em si são exactamente o que parecem: pesadas! Mas qualquer modelo deste tipo é pesado. É uma bicicleta de cidade com todos os extras obrigatórios: guarda lamas, skirt guard, luzes e porta-bagagens. O quadro parece bem robusto, e a bicicleta é estável em qualquer situação. As luzes de LED à frente e atrás, mantidas operacionais pelo dínamo de cubo incorporado na roda da frente, dão uma ajuda à segurança. O selim é facilmente regulável, mesmo para malta mais avantajada como este vosso escriba, e as 3 velocidades do cubo Shimano Nexus são muito fáceis de utilizar. Não esperem maravilhas da travagem e tenham atenção que a direcção é pouco directa, para o que conta com a ajuda de um pneu tão largo que não ficaria mal num motorizada.

Uma Boris Bike com todos os extras
 
Para ajudar à vertente utilitária, existe uma espécie de cesto metálico no guiador da bicicleta, que em conjunto com o elástico incorporado permite tirar a mochila das costas e transporta-la comodamente e em segurança na bicicleta. Só fica a faltar um velocímetro talvez. Embora provavelmente seja melhor que os turistas não tenham vontade de fazer corridas com estas biclas. Aceleras já há demais por aqui.

Há um mapa da zona em cada estação e mais info no LCD.

E quem é que usa estas biclas em Londres? Eu diria que quase toda a gente. Toda a gente que pedala, claro. Desde turistas, nativos a passear, quadros engravatados a caminho do escritório, toda a gente. As bicicletas já fazem parte do cenário da cidade de Londres, como os autocarros vermelhos. Aliás, se repararem, o símbolo do sistema é propositadamente semelhante ao mundialmente conhecido logo do metropolitano londrino. Só com uma alteração cromática. Esperemos que se venha a revelar igualmente durável na paisagem da capital britânica.