domingo, 26 de fevereiro de 2012

Lisboa vista de uma Brompton

Melhor que uma Brompton: 2 Bromptons!

Aqui há uns tempos fui apanhado em repetidas ocasiões a ver coisas que não devia nas internets. Sim, é isso mesmo que estão a pensar: sites de bicicletas! Concretamente, de dobráveis. Para a co-habitante, um determinado padrão de consultas a lojas virtuais é sinal seguro que este vosso escriba se prepara para alguma despesa, do ponto de vista dela, provavelmente mal ponderada.

Ora eu já tive uma dobrável antes e tenho alguma experiência com este tipo de bicicleta, o que a somar ao facto das nossas actuais instalações serem a tirar para o pequeno fazia presumir que o meu interesse não seria apenas curiosidade. Talvez para evitar males maiores, fui agradavelmente surpreendido com uma Brompton de aluguer como presente no dia em que celebrava muitas luas desde que uma cegonha me largou numa loja de Bicicletas à beira Douro. Ou assim reza a lenda.

Seja como for, Dona Maria, é melhor ir fazer o seu chichizinho, que isto vai demorar. O que se segue é não só uma review de uma Brompton M6R, como uma série de reflexões, provavelmente desnecessárias, sobre este tipo de bicicletas. Depois não digam que eu não avisei.     

Bromptons estacionadas na estação

Começando pelas máquinas: a minha Brompton para o dia era uma belíssima M6R, quer isto dizer que se trata de um modelo com 6 mudanças, guarda lamas e grelha porta-bagagens e guiador de cidade. Tinha também um acabamento especial, um dispendioso lacado que permite ver as soldaduras, que não são realmente soldaduras, uma vez que os quadros das Brompton recorrem ao brazing para a sua construção. A co-habitante dispunha de uma M3R em duas cores, em "British Racing Green" e preto, uns anos mais antiga. As principais diferenças estariam nas mudanças, 3 apenas. Para mais informação sobre as características dos modelos podem consultar o site do importador, ou o da sempre útil NyceWheels.

Broptons dobradas no restaurante chinês

A "minha" bicla pesava cerca de 12,4 Kg e a da co-habitante um pouco menos, devido ao espigão de selim normal, já que o meu era telescópico, para poder comportar a minha avantajada figura. Tendo apenas um dia para desfrutar das máquinas, procurámos dar-lhes um uso que se assemelhasse ao que elas teriam nas mãos de um ciclista utilitário. Acabamos por fazer pouco menos de 30 km, cerca de metade em ciclovia e metade nas ruas de Lisboa. Com elas andamos também de comboio (CP) e autocarro (Carris), sem qualquer problema.

Esta M3R tinha 5 anos de uso e abuso. Tudo funcionava normalmente

A primeira impressão que se tem ao montar uma Brompton é de que ela não é tão pequena como parece. Quero dizer, na verdade ela é minúscula, medindo apenas 1,45m de comprimento mesmo com a grelha porta bagagens. Mas apesar disso, a distância entre eixos é de 1,04m, que corresponde ao de uma bicicleta de montanha de quadro pequeno ou de estrada de quadro não tão pequeno. Este pormenor escapa a muitos outros modelos de bicicletas dobráveis e assegura uma estabilidade assinalável. O quadro em aço extremamente sólido para uma dobrável, com fechos simples mas muito eficazes, ajuda a filtrar as vibrações que as irregularidades do piso da capital transmitem às pequenas rodas de 16 polegadas.

Brompton no autocarro

O resultado é uma qualidade e "despreocupação" ao rolar que não se encontram em outros modelos deste tipo. Logo nos primeiros metros já estamos à vontade até para tirar uma mão do guiador e fazer um aceno. Tudo na Brompton parece (e é) o resultado de um longo processo evolutivo que começou no longínquo ano de 1975 (bom ano esse). Não admira que tudo o que é para funcionar, funciona. Não há pormenores inúteis nas Bromptons, um pecado de muitas outras dobráveis, que se arriscam por vezes a ser bonitos bibelous de colecção, mais que objectos utilitários do dia-a-dia.

Vai uma voltinha?

Logo na ciclovia de Belém, e mais tarde na zona oriental de Lisboa, a Brompton revelou que à estabilidade insuspeita e conforto de rolamento juntava uma agilidade mais previsível, graças às dimensões ultra compactas e às rodas pequenas. É extremamente fácil colocar a bicicleta onde queremos, para evitar turistas distraídos, por exemplo. A Brompton lidou bem com as, hum, excentricidades das ciclovias da capital, onde as grotescas irregularidades do piso, os vidros e desperdícios, buracos e outras surpresas são uma constante.

O "menu" da Brompton oferece muitas possibilidades

O guiador tipo "M" é um bom compromisso entre uma posição erguida boa para a cidade, e um bom controlo a velocidades mais elevadas. Sim, eu disse velocidades mais elevadas e não é um eufemismo. A Brompton acelera sem esforço, o que é natural, mas também permite manter ritmos elevados, sem perda de estabilidade, mesmo a descer. O meu GPS acusou 50 km/h, numa descida em Miraflores, sem que eu estivesse a aventurar-me especificamente para chegar a essa velocidade.

E se 50 km/h vos parece pouco, e eu sei que parece para os 95% de automobilistas portugueses que ainda não "sabem" que este valor é o MÁXIMO permitido em cidade, garanto-vos que é mais que suficiente para o uso de uma bicicleta urbana. E mesmo assim, ela certamente "dá" mais.

Em estrada as pequenas dimensões preocupavam-me, porque se uma bicicleta convencional já se arrisca a ser invisível pelas hordas de enlatados, imaginem esta. Mas o facto é que não tive qualquer problema, o mais que aconteceu foi as pessoas abrandarem para verem de perto o número do urso amestrado a fazer malabarismos em cima de um triciclo: eu!    

Imagem: João Serôdio

Em relação aos componentes, quase todos da própria marca, ao contrario do que se costuma encontrar na concorrência, só posso dizer bem. A excepção seria o selim, que não se entendeu com o meu traseiro. Também não perdi tempo a mexer nas regulações. De resto, as manetes e travões funcionam como seria de esperar, muito eficazes, sem chegar ao nível de uns bons "v-brakes". As rodas são sólidas e os rolamentos excelentes. Os pneus da marca também me surpreenderam pela positiva, tendo uma aderência para lá de teimosa, sendo a meu ver desnecessário o gasto suplementar nuns Schwalbe Marathon (bem meus conhecidos e praticamente a referência em ciclismo utilitário). Os fechos e apertos são de grande qualidade.

O cockpit da Brompton

Traseira de luxo: Luz, grelha em alumínio e as "Easy Wheels"

Estas rodas só não se dão bem com empedrado em mau estado

As 6 mudanças foram para mim suficientes para chegar a todo o lado, e isso implicou enfrentar subidas importantes. A co-habitante teve mais dificuldades recorrendo apenas ao cubo de 3 velocidades Stormey Archer, mas a Brompton dispõe da possibilidade de reduzir o o rácio da transmissão em 12 ou 18%, coisa que a M3R verde provavelmente não tinha e que eu recomendaria vivamente para uso em Lisboa. Já o característico Shifter de mudanças da marca é algo estranho, mas fácil de usar.

Cubo de 3 mudanças que combina com o desviador de 2 velocidades

A escolha de tão poucas mudanças para as Brompton tem uma explicação simples: não é preciso mais! Os clássicos cubos são simples e fiáveis. Permitem meter mudanças parado. É fácil ignorar que muito do que se vê à venda no mercado são mais expedientes de marketing que verdadeiras inovações úteis. Travões de disco hidráulicos, sistemas de 30 velocidades e outros que tais em muitos casos apenas acrescentam custo, peso, fragilidades, necessidades de manutenção e complexidade desnecessárias. A Brompton aparentemente não acredita em truques deste tipo nem em obsolescência programada dos seus produtos. Admiro esta perspectiva! Mais fossem como eles.   

Uma verdadeira bicicleta que fique mais pequena não sei se há

Por fim, a dobra. Muito já se escreveu sobre a milagrosa capacidade das Bromptons se transformarem de bicicletas realmente utilizáveis em volumes do tamanho de uma pequena mala de viagem. Não sei se têm a dobra mais rápida, provavelmente também não será a mais pequena, mas o resultado final é um conjunto fácil de dobrar e pratico de transportar. Acho que é tudo o que se pode pedir. O facto de serem muito giras e atraírem os olhares de pequenos e graúdos também é um atributo nada negligenciável. As Bromptons fazem as pessoas sorrir! Nos dias que correm, isso só pode ser uma coisa boa. 

E sim, as Brompton são caras. Muito caras. Mas são o que são, um produto de engenharia de grande qualidade, feito "à mão" na velha Londres por operários do mundo livre. Prometem durar muitos anos e são altamente interessantes para quem tem de combinar a bicicleta com os transportes públicos, além oferecerem segurança contra o roubo e o vandalismo. Parecem brinquedos mas estão muito longe de o serem, embora com facilidade despertem um certo brilho nos olhos em crianças dos 8 aos 80.

Imagem: João Serôdio

Como sempre, as opiniões expressas aqui são apenas minhas. Não tenho qualquer ligação, clara ou obscura, com marcas, lojas, representantes ou importadores. As Bromptons foram alugadas na Loja das Bicicletas, tendo o responsável tido a delicadeza de nos ceder um modelo que à partida não estava disponível para aluguer. Ele não sabe da minha vida secreta como estrela fulgurante da blogosfera. Podem ler outras reviews (mais) interessantes no Lisbon Cycle Chic e no Lovely Bicycle.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Londres e o Ciclismo Veicular

Imagem: Joana Franco

Começo por admitir que tenho um certo fraquinho por Londres. Há qualquer coisa na cidade que me agrada. E não é de certeza a comida. Ou o clima. Talvez eu seja um admirador secreto do proverbial stiff upper lip britânico, aquela mistura de politeness e sangue frio que se mantêm mesmo que tudo à volta esteja a desabar. E talvez seja essa mesma atitude perante a adversidade, dos súbditos de sua majestade, que os leva a serem grandes adeptos do ciclismo veicular.  

Dia dos namorados em Londres

Ora eu já por aqui perdi algum tempo (e fiz perder o vosso), a maldizer o conceito do "vehicular cyclist". Também sou amiúde crítico das "pseudo-ciclovias", pelo que muitos estarão a pensar, não sem razão, que eu sou um (inserir palavrão cabeludo aqui) incoerente. Mas deixem-me tentar explicar.

"Boris Bikes" esperam clientes

Simplificando, o ciclista veicular acredita que isto está é cheio de maricas. Pussies. Então é lá agora preciso vias segregadas, legislação especial e não sei mais o quê para andar de bicicleta?? Nada disso. Um gajo faz-se à estrada, imita os carros e pronto. Vais virar à esquerda numa avenida com 5 faixas? (À direita em Londres...) Então sinalizas a mudança de direcção e colocas-te atempadamente na faixa mais à esquerda. Simples. Está tudo a andar muito depressa? Tens que andar ao ritmo do trânsito também, pois então. É o quê? Têm todos carros com mais de 100 cavalos e circulam nas grandes avenidas muito acima dos limites legais? E tu, não tens pernas? Toca a mexer. Pussie. 

Num país onde velhotes de 100 anos batem recordes de ciclismo como forma de celebrar o aniversário, e onde o prato nacional é um peixe horroroso servido numa folha de jornal, não sobram dúvidas que os Londrinos são tipos duros (e tipas) com pelo na venta e estofo para esta forma particular de ciclismo utilitário. Mas a bravura não anula certamente os perigos, e não admira que o YouTube esteja inundado de vídeos como este:



Sim, este tipo estava praticamente a pedi-las, mas quem tem ido a Londres recentemente pode testemunhar que é comum ver ciclistas a comportar-se desta forma. Em Londres, os ciclistas circulam como veículos motorizados, muitas vezes à máxima velocidade que conseguem, e recebem o mesmo tratamento impiedoso que os automobilistas costumam reservar uns para os outros. É verdade que existe sinalização, que há ciclo faixas pintadas no asfalto em muitas vias, que os ciclistas podem circular nas faixas BUS e esperar pelo verde do semáforo na frente da fila. Em alguns sítios até há ciclovias segregadas, mas poucos são os automobilistas que respeitam estas pinturas rupestres e as distâncias de segurança. Há até quem diga que as ciclo faixas reduzem a segurança dos ciclistas. 

Ao tentar entrar no jogo de igual para igual, sem mudar mais nada, é fácil esquecer quem é que se encontra numa posição muito mais vulnerável: o ciclista. Não estamos nos anos vinte, há muitos (mesmo muitos) carros nas estradas, e circulam muito rápido. E depois acontecem tragédias. Não deixa de ser curioso que mesmo nas campanhas por mudanças no estado da coisa-ciclistica no Reino Unido recorre-se quase sempre a alternativas às vias segregadas. Na conhecida campanha do The Times, propõem-se umas medidas e alterar uma série de coisas, menos o direito a andar na estrada. E quem pode censura-los?

Crachá da campanha do Times

O ciclismo veicular não deixa de ser uma espécie de experiência Darwiniana, onde só os mais fortes sobrevivem. No ciclismo veicular não parece haver espaço para os mais novos e os mais velhos, os mais fracos e os mais lentos. Em Londres circula-se a toda a velocidade, o tempo todo. Existem outras cidades europeias onde o modelo é um pouco diferente e atrai mais pessoas para o ciclismo, não é verdade? Há até muitas semelhanças entre Londres e Lisboa, no que toca ao uso da bicicleta como meio de transporte. Mas se calhar devíamos inspirar-nos naquilo que funciona e não naquilo que gostaríamos que funcionasse.

Apesar de tudo, não esqueçamos que a bicicleta é a forma mais rápida de deslocação na capital britânica, como os insuspeitos tipos do Top Gear se encarregaram de demonstrar há uns anos. E se ficaram tristes com toda esta conversa, tomem lá um estimulante natural: vejam como em Londres se resolve o problema do estacionamento abusivo em paragens de autocarro. Sr. Costa, está a tomar notas?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Coisas Extraordinárias

ReichFüher põe os pontos nos is


Sim, ele está de volta! O único, inimitável, insuperável Master of Disaster, o Barbosa-Cobra-Venenosa ou simplesmente o ReichFüher, o mediático presidente do ACP, voltou a fazer das suas. Desta vez o grande timoneiro do apocalipse motorizado resolveu "botar a boca no trombone" sobre o ensino da condução em Portugal. 

E sabem que mais? Desta vez concordo com praticamente tudo o que ele disse! O Sr. Presidente até pode ter razões pouco altruístas para ter dito aquilo que disse, mas não deixam de ser quase tudo grandes verdades que merecem o tempo de antena que o ReichFüher Barbosa conseguiu obter com as suas declarações no Parlamento. Senão vejamos:


  • As escolas de condução são em geral de muito má qualidade. Da minha experiência pessoal (e tirei a carta de carro e mota com 10 anos de distância, em escolas diferentes), a atitude prevalecente é a complacência. Muitas vezes parece que as próprias escolas vêem a obrigatoriedade das aulas como um ritual inútil, e abundam as "facilidades" e truques de secretaria para levarem os alunos a exame o mais rapidamente possível. Ninguém parece levar o ensino ou a segurança a sério.  

  • Não existe prevenção rodoviária em Portugal, de todo. Embora existam organismos, a ANSR e o IMTT, com competências nessa matéria. As campanhas mediáticas dos anos 80 cumpriram a sua função, mas depois disso parece que se julgou que as mensagens tinham passado e que os automobilistas portugueses já não precisavam de "sermões". Até ao ponto em que se deixou de fazer prevenção, por completo. Bastam 5 minutos em qualquer rua ou estrada do nosso país para perceber que ainda há muito por fazer. 

  • As passadeiras não são adequadamente sinalizadas. De um homem, perdão, de um el presidente, que acha que as passadeiras são meras sugestões pintadas no asfalto para os Senhores Doutores Automobilistas e que os peões-camponeses têm tanto direito à vida como os frangos de aviário, não deixa de ser uma afirmação surpreendente. 



El presidente Barbosa depois diz para lá umas coisas que não me interessam especialmente, nem com elas concordo, mas estas três: na muche! Viva el presidente! 

Na minha nada modesta opinião, se se ensinasse alguma coisa sobre bicicletas nas escolas de condução, como ultrapassar em segurança, por exemplo, e se houvessem campanhas mediáticas de prevenção rodoviária que incidissem também sobre a relação ciclista-automobilista na estrada, os progressos seriam enormes. O governo prefere gastar dinheiro noutras coisas.  


É pá, que chatice!


Entretanto, se de repente deixar de ver carros a entupir tudo em Lisboa, pode ser que seja porque já ninguém os compra! Mas não abram já a garrafa de champanhe. Desde sempre que oiço a malta do lobby do enlatado a choramingar por tudo e mais alguma coisa, desde os impostos elevados à falta de estradas. Isso apesar do país acumular, em proporção, uma das maiores redes de auto estradas do mundo e um dos maiores parques automóveis do universo. Portanto, conto que eles continuem a choramingar à imprensa por tudo e por nada. No dia em que realmente vir menos carros a circular e menos carros em cima dos passeios, pode ser que acredite. Depois então festejo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Bicicletas Partilhadas no Algarve

E Lisboa pá?
 
Na sequência de outras iniciativas que tinha aqui reportado, Vilamoura prepara-se para ter uma rede de bicicletas de uso partilhado, segundo me comunica uma leitora. O concurso público está lançado, e tudo parece bem encaminhado. Entretanto, na capital do império... É melhor nem falar nisso. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Estado da Nação, Murcão!

Pois é. Long Time No See. E entretanto o que aconteceu? "Diz que" agora as bicicletas estão na moda! Em plena crise, ele é lojas novas, ele é jornais e revistas especializadas, debates no parlamento, novas marcas de bicicletas, estudos académicos, desafios audace e todo o tipo de eventos que celebram em Portugal o mais eficiente veículo alguma vez concebido.    

Será?

Me Like!!

Parece que sim. Com a inauguração da Velo Culture, em Matosinhos, o pequeno país à beira mar plantado não ganhou só mais uma nova loja de bicicletas. Trata-se de uma aposta diferente das nossas tradicionais lojas de ciclismo-desporto-brinquedo. Aqui não se promove o último grito em crabono para o guerreiro de fim de semana. O que há são várias marcas de bicicletas utilitárias de qualidade, bem como roupa e acessórios para o ciclista urbano connoiceur. No meio da crise vem esta bofetada de ar fresco na Cycle Scene Portuguesa. Toma.

E falando em Cycle Scene, (existe, não existe, como é?)  um projecto com pelo menos um denominador em comum com a loja do mercado de Matosinhos é a revista B - Cultura de Bicicleta, mais uma aposta arriscada em tempo de vacas magras, que vem trazer um olhar editorial completamente diferente ao que estávamos acostumados. A julgar pela qualidade da revista irmã e pelo curriculum dos protagonistas desta iniciativa, só se podem esperar grandes coisas desta nova publicação.

Há revistas e há revistas, e depois e há a "B"

Recorde-se que, embora não concorrendo directamente com a "B", este é um segmento de mercado  já povoado pela amada-odiada Bike Magazine, a competente e quase única Ciclismo a Fundo, e a grátis-ou-de-borla Free Bike. Na mesma onda da "B" temos agora também o jornal Pedal. Há depois algumas publicações on-line, enquanto pela net se multiplicam sites e fóruns. De repente parece que toda a gente anda de bicicleta!  


Generais do Exército reclamam BMW's de cilindrada superior!

Entretanto, no nosso parlamento (peço desculpa por baixar, ainda mais, o nível desta narrativa) enquanto se vai discutindo quantos furos tem o cinto e até onde ele pode ser apertado, os nossos representantes eleitos ainda têm tempo para apreciar documentos referentes à bicicleta! Rejubilemos!! É claro que, seguindo a lógica da instituição, propostas de partidos minoritários sobre estas temática foram rejeitados e aprovado em vez deles um projecto dos partidos da maioria parlamentar. E propõe exactamente o quê esse projecto? Bom, na verdade não faço ideia. Não percebo parlamentarês. É uma deficiência genética minha. Mas a FPCUB, que tem estado envolvida neste processo, parece que percebe. E eles gostam (Likam, para aqueles de vós com menos de 21 anos).

Sinceramente, a mim não sei se me chega um "prometemos-não-se-sabe-bem-quando-talvez-pensar-genericamente-nesse-tal-assunto-que-vos-preocupa". Isto vindo da malta que desmente categoricamente hoje o que ontem estava gravado em pedra, não me transmite muita segurança. Digo eu...

Corrente branca, sem mudanças e sem travões. O que é que pode correr mal?

E falando em coisas que não transmitem confiança, não vamos esquecer a nova marca de bicicletas portuguesa!!! Não, não estou a falar mal dos rapazes, que ainda agora começaram. É que o que eles vendem são "fixies", um tipo de bicicleta semi-utilitária que eu tenho tantas dificuldades em compreender como elas têm em parar. Mas lá que são giras, são. Bicicletas "Dry Drill", com um nome desses e um site integralmente em Inglês, parece haver uma aposta clara na internacionalização. Afinal, nem toda a gente ignora o Passos Coelho.


Vacaciones?

A propósito de internacionalização, parece que um tipo qualquer com nome de aparelho de registo de consumo de água meteu-se em problemas por causa de um bife que comeu à quase dois anos. (Eu sei que soa rebuscado, mas foi isso que ouvi!). "Diz" que ele não vai poder participar numa tal Volta à França em Carros Coloridos, evento que tem lugar todos os Verões na terra dos apreciadores de caracoletas e na qual os ciclistas são um atractivo de importância razoável: devem tentar acompanhar todos os popós, em número muito superior, enquanto estes lhes gritam, empurram e às vezes atiram ao chão. Um pouco como em Lisboa portanto.

Joshua Hon e uma das suas criações

In other news, talvez tenha passado desapercebida por cá a Revolta na Dahonlândia. Não ouviram dizer? Cheguem mais perto que eu conto... Acontece que o filho do fundador da conceituada marca de bicicletas dobráveis para snobs (e o ocasional ciclista utilitário), resolveu deixar a empresa onde também trabalhava e criar a sua própria marca. Diz o Hon Jr. que as Dahon tinham (têm?!) problemas de fiabilidade e qualidade que não estavam a conseguir resolver, e, frustrado, saiu para tentar uma abordagem nova com os seus próprios modelos. Com ele levou muitos funcionários e know-how da casa fundada pelo pai. Este assunto já fez correr muita tinta e ainda há de encher os bolsos a muitos advogados antes da poeira assentar. Entretanto a nova Tern Bicycles tem uma gama completa de modelos muito interessantes e uma filosofia que vai alem do negócio. Bem vindos sejam.

E sobreviveram para contar!

Por fim, já alguma vez se puseram a pensar sobre aquilo que os estrangeiros dizem do nosso país no que toca ao uso da bicicleta? Recentemente fiquei intrigado pelo relato de uma volta a Portugal feita por um casal de reformados canadianos. Eles podiam escolher qualquer país do mundo para viajar, para conhecerem pedalando as suas belas bicicletas dobráveis. Escolheram Portugal. Apesar de impiedosamente atropelados numa rotunda em Coimbra, o saldo final, segundo eles, é muito positivo.

E assim acontece. A revolução está em curso, mas não passa na televisão. Pelo menos na TV Guia não vem nada.