quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Rapidinha

Estou a tentar sobreviver as frequências, por isso não tem sobrado muito tempo para o blogue. Como saldo da semana, eis algumas questões com que fui sendo confrontado e que merecerão tratamento em postagens posteriores:

Vi uma Gazelle à venda em Lisboa. Assim, sem mais, numa montra. Sou maluco pela marca e quis saber mais sobre a loja, se importam as biclas ou se aquilo era obra do acaso. Infelizmente, o estabelecimento, que se especializa em aluguer a estrangeiros, estava fechado.

Chamei burgesso a um tipo que estacionou um enorme X6 em cima do passeio e da ciclo-coisa que passa em frente à Gulbenkian. Comentei que ele estava ali muito bem, ele disse que eu devia ter muito a ver com isso, trocamos galhardetes, o costume...

Arranjei mais um espelho, e andei em testes com ele durante dois dias. Lisboa é uma cidade de tal maneira vibrante que ao fim do segundo dia caiu e ainda não tive paciência para voltar a coloca-lo.

Assustei uma dúzia de peões, nos últimos dias, fiz voar um chapéu de chuva de umas miúdas e levei com uma mala de senhora numa mão. E isso tudo foi na estrada, imaginem se andasse nos passeios... Deve ser do Natal.

Está frio e as compras de quadra (é disso que se trata, não é verdade?) estão a deixar as pessoas loucas. Boas pedaladas mas tomem cuidado com o stress alheio!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bike Wars

Imagem: treehugger.com

 
Retiro o que disse no último post. Bem me estava a estranhar tantas facilidades... Hoje tive um commute dos infernos, e não foi por causa do tempo. Aliás, esse é outro mito/desculpa que não convence ninguém. Somos uma sociedade de novos-ricos comodistas, com um serviço de meteorologia que declara alertas por tudo e mais alguma coisa. Eu passei ao todo uma hora em cima do selim hoje, em diferentes alturas do dia, e não vi nem senti nada que se parece-se com uma tempestade. Não só o vento nunca chegou a ser perigoso, como nem chuva apanhei.

Mas para perigo não precisamos cá do clima, pois temos o famoso Zé-do-volante português, um elemento que inspira muito mais receios que um nevão na Dinamarca. Hoje apanhei tantos sustos, que se tivesse uma arma comigo teria acabado o dia estilo Rambo First Blood. Primeiro, na Rua da Prata um automobilista fartou-se de andar a trás do eléctrico e resolveu mudar de faixa. O problema é que estava lá eu e só me consegui desviar por milímetros. Um pouco mais à frente um Kangoo dos CTT saltou (literalmente) de cima do passeio onde estava, na lateral do teatro Dona Maria II, para a faixa de rodagem, onde eu vinha. Mais uma vez evitei a colisão por muito pouco e desta vez não me contive e apliquei o meu melhor vernáculo ao motorista, que não me passou cartão. De notar que o piso estava molhado e escorregadio, o que tornava as manobras de emergência ainda mais complicadas.

As pessoas pareciam que estavam histéricas, os automobilistas tinham comportamentos erráticos, imprevisíveis. Pouco mais à frente evitei por muito pouco levar com a porta de um taxi, que se tinha imobilizado no meio da lateral da Av. da Liberdade. Com a adrenalina no máximo e a paciência no mínimo, já com o reportório de palavrões quase gasto, estava a chegar ao destino quando uma senhora num monovolume, a sair do estacionamento da Gulbenkian, olha para mim a passar e atira-me o carro para cima! Evitei a colisão nem sei bem como, mas envolveu uma enorme derrapagem controlada da roda de trás, muito equilíbrio e um golpe de guiador BTT-Style, de tal maneira que ultrapassei a senhora. Ela limitou-se a dirigir-me um olhar de desprezo, com aquele ar de "não se deve dar confiança a esta escumalha" e lá se foi embora no seu Rernault com um autocolante de "miúdo a bordo" ou coisa do género.

Cheguei à faculdade bastante stressado e a equacionar esta coisa de ir todos os dias de bicicleta. Os portugueses ao volante são tão ignorantes como são agressivos. Começo a questionar as minhas hipóteses de sobrevivência a longo prazo nas actuais condições que Lisboa oferece.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Commuter Hardcore

A caminho de  Lisboa

Nas últimas semanas tenho, por fim, utilizado a bicicleta a diário em Lisboa. Vou de comboio até ao Cais do Sodré e depois é só dar ao pedal. Não tenho grandes dificuldades a relatar, na verdade tudo tem sido mais fácil do que aquilo que eu tinha antecipado.

Trânsito: Tenho sido mais respeitado do que aquilo que estava à espera. Eu ando em parte por grandes avenidas e algumas zonas de transito denso e/ou rápido, como a rotunda do Marquês de Pombal. Até agora tenho tido alguns sustos, mas menos do que o esperado, talvez até menos do que o que encontrava há uns tempos numa scooter ou moto.

Subidas: Ao contrário dos mitos e das desculpas, é possível fazer uma série de percursos praticamente planos na cidade de Lisboa. Infelizmente não é o meu caso, pois tenho que passar da cota do rio até à Av. de Berna. Faço a Av. da Liberdade pela lateral, todos os dias. É chato porque faz-me transpirar quase sempre um bocadinho. O pior é o trânsito (é a zona ao ar livre mais poluída de Portugal por alguma razão) que fica tão compacto que por vezes nem de bicicleta se fura.

Pavimento: O estado do pavimento das nossas ruas e avenidas é bem pior do que as pessoas imaginam. Os automóveis modernos com pneus enormes e suspensões sofisticadas são uns sofás de conforto e desculpam muita coisa que uma bicicleta sem suspensão não consegue filtrar. A descer a António Augusto de Aguiar ou a Av. da Liberdade, tenho que segurar o guiador com muita força, não vá ele saltar-me das mãos ao passar sobre algum buraco mais camuflado, coisa que já esteve para acontecer um número assustador de vezes. O empedrado e os carris de eléctrico também estão presentes em múltiplas zonas.

Peões: A maioria dos peões lisboetas encaram a bicicleta não tanto como um veículo mas como uma espécie de peão armado ao pingarelho. Se me vêem a chegar, atiram-se para a minha frente sem receios, convencidos que eu não posso vir assim tão depressa e que, de qualquer forma, posso sempre desviar-me sem esforço, como qualquer...peão. Só que a 30 km/h as coisas não se passam bem assim. Eu já apanhei alguns sustos e eles também. O pior é que as pessoas ficam indignadas, parecem pensar que eu as estou a assustar de propósito ou algo assim. (Costumo gritar ATENÇÃO em caso de perigo iminente). Das pseudo ciclovias é melhor nem falar, até porque quase não as uso.

A Bicla: Uso uma bicicleta de Trekking de roda 700 e 24 mudanças de gama média/baixa. Não é leve, não é chic, mas tem o equipamento necessário e até agora tem chegado para o que se lhe exige. Tem mudanças suficientes para subir tudo e mais alguma coisa e também para rolar depressa (atingi o outro dia 65 km/h, nem sei bem como). Não tem suspensão, uma coisa que eu achava supérflua para uma bicicleta deste género, mas que faz falta numa cidade como Lisboa. Ou isso ou pneus largos! 

De noite: Tenho circulado de noite, utilizando só as luzes e reflectores que fazem parte do equipamento de série da minha bicicleta. O resultado é excelente, até porque o centro de Lisboa não tem grandes problemas de iluminação pública. As zonas mais "escuras" por onde passo à noite são a Av. 5 de Outubro e a Rua do Arsenal. De notar que eu não ando com coletes reflectores nem uniforme de power ranger ou coisas desse género. Uso roupa normal.


Os Taxistas estão mais civilizados
 
BUS: Embora não tencionasse inicialmente fazê-lo, tenho verificado que circulo bastante em faixas BUS. Sobretudo na Baixa. Até agora nunca senti que estava a incomodar ou a atrasar fosse quem fosse, e até sou a favor da liberalização destas faixas de modo a acomodar também os ciclistas, mas não pretendo fazer um uso reivindicativo e circulo aqui o menos possível.

O tempo: Tenho pensado que se os Suecos andam de bicicleta com neve, isto por cá são peanuts. Ainda não apanhei nenhuma molha séria enquanto pedalava, mas tudo indica que amanhã será um bom dia para isso. O pior nestas alturas é o piso escorregadio e a visibilidade reduzida, a minha e a dos outros. Nestes momentos é que sinto que seria bom dispor de ciclovias, para fazer o caminho mais descansado.

Policia: Já se sabe que a policia em Lisboa permite fazer quase tudo em matéria de tráfego. Felizmente as bicicletas não são excepção. Eu sou um tipo que cumpre o código até ao limite, mas mesmo eu já senti necessidade de desafiar a lei, por virtude de ela estar tão mal preparada para acomodar o ciclista. Assim, peço autorização aos policias municipais para seguir em frente na praça do município (que está cortada ao trânsito) e entrar na rua do Arsenal, (que é só para BUS), e eles: Força!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Órbita Estoril II

Finalmente!

Fomos há uns dias buscar a bicicleta nova da Marta. Feito o luto da desaparecida B'twin, a co-habitante encantou-se com esta bicicleta urbana portuguesa e não descansou enquanto não arranjou uma. E arranjar uma Órbita não é exactamente fácil. Não se vendem em qualquer loja. Podem ser encontradas por acaso, por vezes até em hipermercados, mas nesse caso a escolha será sempre limitada (limitadíssima!) aos modelos e tamanhos de quadro disponíveis.

Na loja AIRAF, ao pé do mercado de Alvalade, em Lisboa, é possível encomendar qualquer modelo do catálogo da marca portuguesa, caso esse modelo não esteja lá disponível. Foi isso que a Marta fez, tendo que esperar uns dias por esta Órbita Estoril II:

What you see is what you get

Entrar nesta loja em Lisboa é quase como viajar no tempo, concretamente até princípios dos anos oitenta. Tanto a decoração como as próprias bicicletas e peças expostas nos transmitem esta sensação de nostalgia. Os preços também são de outras décadas, e o pessoal mais disposto a falar de bicicletas e a efectuar pequenas reparações ou alterações não tabeladas. A Marta optou por colocar um cesto à frente, algo não previsto para este modelo, mas que foi montado sem custos adicionais, para além do preço do próprio cesto.

Uma Órbita em Lisboa

Não vou aqui fazer uma review detalhada deste modelo, até porque não a experimentei (ao contrário da velha B'twin). A Estoril II traz luzes de dínamo, guarda lamas e grade porta-bagagens. Notam-se algumas debilidades na qualidade do equipamento e, pelo preço, a Órbita enfrenta a concorrência de vários competidores, como a habitual rede de mega-lojas Decathlon à cabeça. Mesmo assim, é de realçar que existe uma marca portuguesa ainda em plena actividade, que dispõe de um catalogo completo de bicicletas urbanas e utilitárias, por preços comedidos, com uma simpática representação na cidade de Lisboa. Como última nota, gostava de realçar uma questão importante: apesar dos desviadores e demais equipamento de qualidade inferior à da minha Riverside, a Estoril II regista um peso bem mais comedido: cerca de 15 kg. Parece que a marca portuguesa ainda sabe uma coisa ou outra sobre bicicletas.