quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Levi's 505 Commuter: uma Espécie de Review

Normalmente não uso "roupa", mas vá...

Lembram-se quando tínhamos amigos? Quando não eram só "bons contactos" e "ter conhecimentos"? Quando não havia Whatsapp nem LinkedIn, nem Livro dos Focinhos, mas pessoas de carne e osso de quem realmente gostávamos e víamos mesmo, quase todos os dias?

É, eu também não.

Bom, se calhar só um bocadinho. Lembro-me por exemplo de um amigo meu que, desde cedo, nunca se deixou levar pelos ditames materialistas da sociedade do consumo e pela pressão dos pares para ter o último, o melhor, o mais reluzente. Nunca teve um carro, nunca vestiu roupa de marca, não teve telemóvel até a empresa o obrigar. Apesar de tudo isso, ou quem sabe, talvez também por causa disto sempre teve o maior sucesso nos seus empreendimentos pessoais, na vida profissional e com o sexo oposto.

Sim, 34 nas Américas é tipo 46 por cá... Eu culpo o Natal. 
 
A maioria de nós não se safa assim. Precisamos de pertencer, temos necessidade de consumir pelo menos ao nível do que fazem os nossos pares e ainda tentar destacar-nos um pouco deles. Marcas como a Levi's sabem disto e posicionam-se no mercado para atrair a nossa luxúria pela qualidade e pelo prestígio social.

Talvez porque está na moda, a Levis's tem uma linha de produtos específicos para ciclistas, de que faziam parte estas 505 Commuter, que me foram oferecidas o ano passado (obrigado malta!), mas parece que já não constam do site. A marca destaca que este modelo oferece algumas vantagens ao ciclista urbano, para além da qualidade tradicional das suas confecções. Eles destacam que:

  • O tecido tem elasticidade, supostamente mais que uns jeans normais.
  • Tem "Tapered Leg", seja lá o que isso for.
  • Tem um encaixe para um cadeado em "U" na cintura
  • Tem a parte de trás um pouco mais levantada, para proteger-nos do ridículo.
  • As calças estão toda reforçadas nos bolsos, na cintura e no crotch.  


Não sei o que vocês acham, mas eu gosto da ideia de ter o meu crotch reforçado. Para além disso, as calças são confortáveis de usar, mesmo com esses supostos reforços estruturais. O suporte para transportar um "u-lock" não chega para levar o meu Kryptonite, que tem um tamanho bastante standard, mas acho que não é coisa que eu realmente usasse no quotidiano.

Consegue-se enfiar, mas à bruta. E não entra todo... Não soa bem, pois não?

Uma coisa que as calças têm de engraçado são as faixas reflectoras nas pernas, por dentro do tecido. A ideia é tornar o ciclista mais visível quando arregaça as calças para não se sujar na transmissão. Funciona mesmo, o material reflector é da 3M e tudo, mas não foi coisa que me fascinasse por aí além.

Uma perna de calças


Bolsos de calças...

E pronto, basicamente é isto. São umas calças. Foram feitas na Colômbia e a braguilha é de fecho éclair.  São confortáveis, resistentes e até assentam bem. Não atrapalham os movimentos e não me expõem o traseiro nem me deixam apanhar frio nos rins. Quaisquer outras com que se tenha gosto em sair à rua também fazem o mesmo, mas estas são especiais de corrida. E às vezes precisamos de nos sentir especiais de corrida também.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Da Indignidade de Andar a pé e Outras Curiosas Divagações

"Bacano, é a TVI!"

Durou pouco o Sol de fim de semana. Mas enquanto durou, aproveitei para tirar o pulso, e também umas fotos, aos comportamentos ciclo-relacionados na era pós Novo Código da Estrada, nesse grande parque de estacionamento gratuito a que normalmente chamamos "Lisboa". 

Como alguns de vós sabeis, (e outros, pelo que vejo, nem por isso) não dá muito jeito tirar fotos a partir de uma bicicleta em andamento. Pelo que me dispus a deslocar a pé. Se circular de bicicleta no país dos doutores e enginheiros já é um acto de retrocesso, mesmo que temporário, na escala social, andar a pé representa um pulo imediato até ao fundo do poço. Os passeios têm péssimo piso e estão atulhados de mobiliário urbano, lixo e carros. São ridiculamente estreitos ou nem existem. Por lá circulam peões, mas também ciclistas, animais e até automóveis (com um animal lá dentro).  

No Isaltinistão como em Lisboa, abundam imagens um pouco terceiro-mundistas que me fazem questionar o porquê de tantos estrangeiros gostarem disto. Mas a malta de cá também vai à Índia e outros países onde há coisas bem piores, por isso julgo que não vale a pena perder muito tempo a refletir sobre o assunto.

Zona pedonal em Algés


Um país rico! Até os vendedores ambulantes têm carro. E não o largam

Enquanto tratava de evitar os perigos da minha condição de apeado, fui fazendo umas fotos com uma compacta que em tempos ofereci à co-habitante, mas que ela nunca usa. Se calhar porque eu a deixei cair e um Peugeot passou-lhe por cima... Mas divago, dizia que achei que era câmara suficiente para o blogue (já usei pior!) e como ia andar uma dúzia de quilómetros, poupava no peso.


Já não é crime de lesa-majestade, mas irrita muita gente


E a velha marginal forneceu aquilo que eu esperava desse habitat natural do ciclista suburbano em dia de Sol: malta a pedalar com fartura. Como de constatações anteriores, pareceu-me ver mais ciclistas a circular a par do que noutras épocas, mas pode ser sugestão. Também vi muita gente a circular no passeio, mas na zona de Belém isso não é novidade.


Se tivesse um guiador desta largura, já tinha morrido!

Anormal é dar de caras com três cromos a fazer cavalinhos na Marginal cheia de trânsito. Na primeira foto da página podem ver dois deles, o terceiro estava na altura a fazer habilidades no passeio cheio de velhotes. É fácil dizer que "é esta malta que dá mau nome aos ciclistas". Por isso não vou dizer nada. Não gosto de coisas fáceis, e um automobilista que estaciona em cima do passeio representa um perigo muito maior para os outros, e ninguém se queixa. Mesmo assim, estranho...

Na estrada...



... ou no passeio.


Sozinho...


...ou acompanhado.

Um dia de Sol de inverno atrai os ciclistas como nunca. E também um monte de outra gente que conseguiu, por uma vez, evitar o centro comercial. Parte de mim quer acreditar que estamos no bom caminho, outra parte prefere dizer: "come antes uma peça de fruta que te faz melhor".

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Rápidos e Furiosos. Mas a Grande Marmota Tudo Perdoa. Porque Ela Ama Você!



Depois de ver toda a gente que eu conheço ficar de cama com gripes, constipações e derivados, tendo eu próprio apanhado algumas molhas, parece que a coisa acalmou. Espero que tenham conseguido escapar aos tornados, vagas gigantes e tenham estacionado o enlatado longe da costa. Se não conseguiram, portem-se melhor este ano. Sim, que a mim bem me podem vir com explicações pseudo-científicas de alterações climáticas e sei lá mais o quê, quando é óbvio que tudo isto não passa de um merecido castigo da Grande Marmota que Está no Céu.

E falando no divino, como anda a relação com as vacas sagradas, agora que já passou uma semana desde a entrada em vigor do revolucionário novo código da estrada? O código que segundo alguns críticos dá "direitos excessivos" aos ciclistas, (como o direito a respirar, por exemplo), será que tem feito alguma diferença?

Pela minha experiência, não.

Nada.   

Mas, sim, claro, pode ser demasiado cedo para estar a tirar conclusões do sucesso ou insucesso das novas medidas. Só que a mim pagam-me é para especular e é isso que tenciono fazer. Reparem, o problema é que Portugal e outros países da bacia do mediterrâneo, a última vez que foram considerados exemplos de civilização, era este gajo que estava no poder:

"Também tu, Barbosa?"

Nas décadas mais recentes (ou, vá, séculos), aqui no Sul da Europa, há um enorme desfasamento entre o aquilo que é a lei e a realidade vivida no terreno. Que eu saiba já era proibido circular a mais de 50 km/h nas localidades, conduzir e falar ao telemóvel ao mesmo tempo ou estacionar em cima do passeio. Tudo coisas que fazem parte do dia a dia de qualquer Lisboeta, sem que isso pareça incomodar minimamente as autoridades que é suposto controlarem esses abusos. 


"Onde é que quer que eu deixe o carro?!"

Caso o temperamento dos Portugueses fosse outro, provavelmente o anterior código da estrada já serviria perfeitamente para compatibilizar a bicicleta com o resto do tráfego (Ok, faltavam uns conceitos e uns sinais, mas ninguém é perfeito!). Já era obrigatório, por exemplo, guardar uma "distância lateral de segurança" ao ultrapassar outro veículo. E a bicicleta já era considerada oficial, legislativa e filosoficamente um veículo. Chama-se "velocípede". Podem ir verificar. Mas como a maioria dos condutores parecia considerar um par de milímetros uma distância de segurança mais do que suficiente para ultrapassar um ciclista, foi preciso deixar por escrito, preto no branco, quantos milímetros de separação devem deixar. E são mil e quinhentos, metro e meio, ok?!

Agora que os portugueses não podem fingir que não percebem a lei, estão aparentemente a adoptar outra técnica muito usada por cá nestes casos: ignorá-la por completo. E não acho que os motoristas tenham alguma coisa de especial contra as bicicletas, aliás, basta ver como tratam os peões, os motociclistas e uns aos outros!

O paradigma existente e a nova legislação fazem-me lembrar um sketch dos GF sobre o aborto. Era só mudar um pouco as questões:

Entrevistadora: Ultrapassar um ciclista à queima-roupa é estar a brincar com a vida e integridade física das outras pessoas, não é?
Professor: Sim.
Entrevistadora: Portanto, devia ser proibido.
Professor: Exacto.
Entrevistadora: Mas eu poderia ultrapassar dessa maneira?
Professor: Podia.
Entrevistadora: E o que é que me acontecia?
Professor: Nada.
Entrevistadora: Mas estava a ir contra a lei.
Professor: Estava.
Entrevistadora: E como é que a lei me punia?
Professor: De maneira nenhuma.

No seu habitat natural, o cidadão português é uma criatura normalíssima, mas que sofre uma mutação tipo Hulk quando as suas mãos tocam num volante. Na sua mente em delírio, uma deslocação quotidiana para o trabalho parece-se com isto:




Quando na verdade o que está realmente a acontecer é algo parecido com isto:  


"São só 700 horas por ano!"

Quem explica muito bem este fenómeno, e o porquê de eu não esperar grandes diferenças no respeito pelos ciclistas na via pública, após a entrada em vigor do novo código da estrada, é o Rui Zink. Ele têm umas "opiniões um pouco fortes", expressão que costuma ser-me dirigida também a mim, pelo que como imaginam, concordo totalmente com ele! É que quando um comportamento desviante passa a ser a norma, quem o denuncia é que está a incorrer num desvio. Mas estou a divagar. Oiçam o Zink, é daquelas coisas que vale mesmo a pena.



Poucos parecem ter a coragem de chamar os bois (ou as vacas sagradas) pelos nomes. Sociopatas é de facto apropriado. Um amigo meu Inglês descreveu a realidade rodoviária que encontrou por cá com outra expressão simples e brilhante: bullying. Mas não se preocupem, porque afinal estamos num país católico, e no fim tudo será perdoado. Mesmo na minha religião, no fim, a Grande Marmota perdoará sempre os arrependidos.

Gordo, molhado, mas feliz!

Se calhar foi por isso que comi como um alarve nesta quadra festiva, como vós infiéis a designais, e só tive consciência disso quando peguei na bicicleta de montanha e me pareceu que estava sempre na mudança errada, sempre numa mudança demasiado pesada.

Raízes molhadas: M-e-d-o

Outra coisa que reparei é que se passar muito tempo sem fazer um bocadinho de BTT, quando volto aos trilhos há coisas simples que me custam muito fazer. Pronto, muito jeito se calhar nunca tive, mas passar por cima de umas pedras e umas raízes com pneu 2.1 não devia ser demasiado complicado. Mas agora parece que é. Muitos sonhos, filhoses, broas e bolo-rei ando eu a arrastar comigo estes dias. A Grande Marmota me proteja!