sexta-feira, 28 de setembro de 2012

"Wide Eyed and Legless" - Uma visão do Tour

Título estranho, mas perfeitamente justificado!
 
Outra leitura supremamente interessante que é fruto da minha passagem por terras de sua Majestade é este Wide Eyed and Legless: Inside the Tour de France. O Tour nunca tinha despertado o meu interesse até há bem pouco tempo, e embora agora não resista a acompanhar a prova cada verão, mesmo que tenha que recorrer a algum misterioso site Belga para ver o streaming de vídeo em directo, também sou bastante crítico com todo aquele circo.

Wide Eyed and Legless é um relato do Tour de 1987, visto pelos olhos de um jornalista desportivo britânico, que acompanha uma das poucas equipas profissionais Inglesas a tentar a sua sorte na mais dura prova de ciclismo do mundo. O autor, Jeff Connor, viaja com a equipa ANC - Halfords e consegue um grau de envolvimento pouco usual com os ciclistas, o(s) directore(s) desportivo(s), os mecânicos e todo o resto da comitiva. Se o Jeff era um iniciado na cobertura do Tour, também a equipa ANC britânica era relativamente inexperiente e formada por um grupo heterogéneo e relativamente desconexo de pessoas, que são postas à prova desde o primeiro dia no Tour e levadas até ao limite daí em diante.

Embora de leitura ligeira (e rápida) e a traços apenas factual e jornalístico, ler este livro é saltar sem para-quedas para a voragem devoradora que é o Tour. Paulatinamente vamos mergulhamos nas tradições, maquinações e meandros da prova desportiva mais exigentes do planeta. Considerada por alguns o melhor livro de ciclismo de todos os tempos, este é sem dúvida um retrato magistral do que é o Tour e do que é a vida de quem nele se aventura. Para ler e guardar.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

No Reino das Percepções Apressadas

Com um aceno negativo, o condutor fez-me compreender exactamente o que estava a pensar. Já tinha visto aquele olhar reprovador antes, muitas vezes certamente, mas uma em particular veio à memória. Aquela expressão de desagrado resignado, de paternalista paciência, como quem diz: estes tipos são todos parvos, o que é que eu hei de fazer...

De repente estava no Sul de Espanha, não muito longe da fronteira, há muitas luas atrás, a estacionar o carro perto de uma praia cheia de história para mim e alguns amigos. Estava decidido a não alimentar os rendimentos do arrumador-chunga local, essa original  exportação portuguesa, e coloquei o carro longe do lugar que ele indicava e basicamente ignorei-o. No regresso vi como ele me olhava, como observava com ar de julgamento a forma como eu conduzia. A sua expressão de censura dizia tudo: "carro com matrícula portuguesa" + "os portugueses são todos umas bestas ao volante" = "este tipo que estacionou sem a minha autorização é uma besta". E uma besta forreta ainda por cima.

Esta posta é uma seca. Foto de gatinho para compensar

Ainda não tinha andado cinquenta metros hoje, de bicicleta, e estava a levar com a mesma expressão, o mesmo aceno negativo, o mesmo tipo de julgamento. Desta vez porque o senhor que seguia no seu pópó no sentido contrario, ocupando toda a estrada, teve que se desviar para não me passar a ferro. Deduzo que ele pensava que a rua teria apenas um sentido, uma distracção algo comum no local em causa. Mas em vez de concluir que estava a cometer um erro, assim que viu um ciclista, tomou logo a decisão mais lógica: "os ciclistas são todos vândalos" + "a rua parece ser de sentido único" = "Este tipo é parvo e eu é que ainda tenho que me desviar para ele não morrer"

É por estas e por outras que tenho pouca paciência para os artistas que por aí se vêem a fazer todo tipo de barbaridades na estrada (e no passeio!) e que dão mau nome ao ciclista comum. Por outro lado, dado o estado da infraestrutura rodoviária em Lisboa, ainda é muito difícil a um ciclista cumprir o aberrante código da estrada a 100%, ou nunca conseguiríamos chegar sequer a nenhum lado. E isso é algo que um automobilista, para quem a infraestrutura foi pensada quase em exclusivo tem muita dificuldade em compreender.

Um amigo meu queixava-se recentemente no Livro-dos-Focinhos sobre vários casos de comportamentos "perigosos" de ciclistas que ele tinha presenciado e concluía que assim não lhe ficava grande vontade de dar ele próprio umas pedaladas, já que claramente não queria ser confundido com aquele tipo de gente. E assim andamos, todos cheios de razão, todos um bocado frustrados ao fim do dia, quando no fundo todos queremos apenas chegar ao destino em segurança. O Snob falava justamente deste tipo de agruras do commuting, no seu livro mais recente, e dava umas sugestões, se calhar tenho que ir ler aquilo outra vez.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lisboa de Bicicleta de Estrada

Lisboa, Terreiro do Paço


Depois do sucesso em Londres, a Raleigh veio comigo para espalhar charme pelas ruas de Lisboa. (E talvez um bocadinho de óleo também). Ora eu estava à espera de encontrar diferenças e até alguns problemas no uso de uma bicicleta de estrada em Lisboa e, vai-se a ver, tinha razão.

1. Transmissão. Há varias questões a ponderar. Para começo de conversa, que tal as lendárias e absolutamente míticas colinas de Lisboa? Se há coisa que vem sempre à baila em conversas sobre biclas e ciclismo utilitário, até na imprensa, são as colinas. As colinas são o nosso fado. E a derradeira desculpa de uma sociedade comodista, perdida em provincianos ideais de "conforto". Sim, Lisboa não é plana, mas poucas cidades o são, completamente. A minha Raleigh vem munida com uns pratos 52-42 e carreto 14-24. São mudanças relativamente pesadas, normais numa bicicleta de corrida, que privilegiam mais a velocidade do que as subidas. Mesmo assim, não tive qualquer problema em Lisboa, até agora têm chegado para tudo.

2. Piso. Lisboa tem piso bom, assim-assim, e completamente terceiro-mundista. Do excelente ao deplorável pode levar só alguns metros. As bicicletas de estrada preferem asfalto perfeitamente liso, e se esse pavimento pode ser encontrado em Lisboa, é mais fácil localizar empedrado ondulado, asfalto esburacado e deformado, e lajes de betão desalinhadas nas ruas da capital. Mesmo munido de pneus largos 700x28, a Raleigh sofre bastante em algumas zonas de Lisboa. (Av. Duque de Loulé, Rossio, Av. da Liberdade, Rua do Ouro, Cais do Sodré, e um longo etc.) As vibrações e os solavancos podem ser mais que muitos, e é aqui que um modelo de bicicleta com suspensão e/ou um quadro mais robusto claramente leva vantagem. Outro problema nefasto são os carris de eléctrico, onde um pneu 28 cabe sem dificuldade. Todo o cuidado é pouco.

3. Velocidade. Vou vos contar um pequeno segredo. É daquelas coisas que toda a gente no fundo sabe, mas não quer aceitar: todas as bicicletas andam à mesma velocidade em ambiente urbano. O que conta realmente é o motor. Não acreditam? Façam o teste. Num percurso conhecido usem uma bicicleta urbana de 25 kg e 3 mudanças. Depois, noutro dia, façam o mesmo percurso, mas com a vossa máquina desportiva predilecta, tipo uma bicicleta de estrada em crabono de 8 kg e pneus anorécticos. Aposto que a diferença de tempos nunca ultrapassará um minuto ou dois. Isso porque a cidade, com os seus cruzamentos, semáforos, passagens de peões, impõem o seu próprio ritmo. E foi isso mesmo que eu constatei. A Raleigh não é mais rápida a realizar os meus trajectos tradicionais que o era a minha Riverside (7 kg mais pesada) ou a minha BTT adaptada (4 kg mais pesada). Levo exactamente o mesmo tempo. Isso não invalida que eu possa agora acelerar mais rápido ou manter facilmente uma velocidade mais elevada, o que permite fugir dos Fogareirus Raivosum e torna mais fácil (e divertido!) conviver com o resto do trânsito.  

4. Utilitarismo. A maior parte das bicicletas de estrada não têm apoios para grades porta-bagagens ou guarda lamas, não toleram pneus largos, não protegem a  roupa da transmissão e obrigam a posições agressivas, pouco confortáveis. Um modelo mais idoso, como o meu, normalmente sofre de apenas alguns destes males. Graças a uma maior altura do avanço, tenho uma posição confortável, a Raleigh aceita pneus relativamente largos e tem apoios para guarda-lamas. O transporte de carga é que está mais complicado de resolver. Há muitas hipóteses, desde "p-clips" no quadro para colocar a grade porta-bagagens, a grelhas dianteiras, "saddle bags", as opções são várias, até agora tenho optado pela fatídica mochila. Quanto ao sujar a roupa, já me acostumei a dobrar a perna das calças do lado direito. Para quê complicar? 

domingo, 23 de setembro de 2012

Semana da Mobilidade: Semana do quê??

Muito gosta a CML deste sinal

Sim, sim, eu sei que houve uma série de eventos e que Domingo há umas coisas no museu da electricidade. Eu próprio sou menino para lá ir. Isso não invalida que o panorama geral seja paupérrimo. Quero dizer, tudo o que não inclua fechar pelo menos as zonas históricas ao trânsito motorizado é ridículo. Quantas pessoas em Lisboa ouviram sequer falar da semana europeia da mobilidade? De que forma foram sensibilizadas para a necessidade de utilizar modos de deslocação sustentáveis? De que maneira se procurou afirmar os direitos das pessoas de se deslocarem em segurança e com dignidade, independentemente do meio de transporte que decidam utilizar?

Isso das bicicletes é muito giro! Para servir de decoração, claro
 
Não sei, mas se não há coragem para fechar umas miseras ruas um dia por ano, numa cidade onde ainda está tudo por fazer, receio que a mudança só chegue daqui a gerações. E eu não sou especialmente paciente. É claro que tendo chegado há pouco tempo de Londres, depois de lá ter passado meses, a realidade lisboeta parece-me agora especialmente penosa. E a realidade é esta:

Av. Berna: Muitas faixas de asfalto, mas o passeio é assim


Muitos carros=Qualidade de Vida!! Por isso somos todos tão Felizes!




"Ciclovias" no passeio: bom piso para peões e bom para votos


Baixa: Malta do "estamos a trabalhar", com a cumplicidade da PSP


O passeio tem que dar para tudo, menos para as pessoas


Mesmo no passeio, o pópó tem sempre prioridade


Passagem de peões: sitio de recurso para deixar o carro



Um passeio bem aproveitado


Calçada Portuguesa: provavelmente o pior piso para caminhar


Um passeio no fundo é só mais uma faixa de rodagem...


...a usar a gosto



Sinalização tipo AE em cidade: para o pópó não ter que abrandar


Para o pópó tudo tudo tudo!!


Para o peão as sobras. Se houver


Este semáforo foi colocado especificamente para tirar a prioridade ao peão.


Disto é que o povo gosta! Asfalto com fartura=mobilidade



A Av. Duque de Ávila recém renovada tem este aspecto



Ciclovia da Av. Duque de Ávila


Lisboa: carros e degradação urbana



No meio do caos, só os excêntricos se aventuram


Tenho consciência que muitos Lisboetas são sinceramente incapazes de identificar os problemas que estas fotos documentam. E ano após ano, nem na semana da mobilidade consigo encontrar sinais de que as coisas estão a realmente a mudar. A excepção é o número de ciclistas. Eu vejo-os por aí cada vez mais. Eles é que mantêm a esperança viva. Se há pessoas com coragem para enfrentar todas as indignidades e perigos que a Lisboa do Séc. XXI ainda reserva para o ciclista urbano, talvez haja esperança.

Na FCSH

Na minha faculdade esta semana pela primeira vez faltaram lugares de estacionamento para bicicletas e os alunos tiveram que recorrer aos postes mais próximos. Pode ser um sinal dos tempos, mas também podem desaparecer todas com as primeiras chuvas. Vou tentar convencer-me que a primeira hipótese é a mais provável.

sábado, 22 de setembro de 2012

Orçamento Participativo: Vota 151

Vota 151!

Está em curso a fase de votação do Orçamento Participativo 2012 da Câmara Municipal de Lisboa. Como as duas pessoas que lêem este blogue sabem, eu colaborei numa das candidaturas, que acabou por ser integrada noutras propostas. É agora qualquer-coisa-genérica-sobre-bicicletas, o projecto 151.

As ideias originais mantêm-se, embora a câmara pretenda gastar mais dinheiro e fazer outras coisas. Recentemente tivemos direito a divulgação no Menos Um Carro, não no original, no plagiado-institucional. Pretende-se portanto criar algumas excepções para ciclistas, fazendo uso da sinalética, pensada até agora exclusivamente para os pópós, de modo a agilizar e facilitar a circulação em bicicleta, sempre que tal seja possível. É uma forma de conseguir alguma coisa com pouco dinheiro, em vez de andar a pintar passeios de vermelho. Alguns exemplos de Londres, Paris e um de Lisboa:


Londres

Londres

Londres
 
Paris - Imagem: Gabriel J. www.weloveprovence.fr


Belém, Lisboa

A página do Facebook com as ideias originais é esta, a página da CML onde podem efectivamente votar é aqui.

"The Enlightened Cyclist" - Reflexões sobre a mais recente obra do Snob

"Long live the Snob", dizia o Armstrong
 
Sou um admirador confesso do blogue BikeSnobNYC há muito tempo, e tinha curiosidade em ver como o habitual discurso corrosivo do autor se adaptava ao formato de livro. Em Londres passei em sítios que o misterioso autor (que tem este aspecto) visitou para o lançamento deste canhenho, já lá vão muitas luas, e quando encontrei este exemplar por acaso numa livraria Londrina não resisti a compra-lo.

Por favor não levem esta espécie de book review minimamente a sério. Eu não penso fazê-lo. Perguntam vocês:

É sobre o quê? O livro é uma vasta reflexão sobre várias coisas relacionadas com as deslocações em bicicleta. Desde os motivos porque nos deslocamos, os atritos e perigos que essas viagens acarretam, os comportamentos que suscitam, tudo é analisado de uma perspectiva quase filosófica, sem perder o estilo ligeiro e humorístico que caracteriza o Snob.

É igual ao blogue? Obviamente o formato é diferente, afinal são mais de 200 páginas. O humor está mais refinado e o discurso em geral é bastante mais sério e muito mais estruturado. Tal como no blogue, também se fala dos conflitos entre ciclistas e automobilistas, também se fala e critica (e goza!) com as diferentes tribos do ciclismo, os comportamentos desviantes, etc, mas o registo é diferente, mais ponderado.

É só para "ciclistas à séria" ou para toda a gente? Eu diria que um não-ciclista poderia ler e achar graça ao livro. E talvez aprender alguma coisa. Mas terá sempre mais interessante para os adeptos "da causa". Algumas piadas religiosas e linguagem mais forte poderiam ofender Quakers ou assim, de resto acho que é uma obra bastante acessível.

Existe versão em Português?  Que eu saiba não. Este é já o segundo livro do Snob, pode ser que venha ser traduzido.

Eu gostei, e fez-me pensar. Fiquem com o trailer:


Obras da Rotunda do Marquês: 2ª Opinião

É melhor trazer a BTT...

Após a primeira inspecção, a pé e sem pressas, faltava sentir na pratica como é circular de bicicleta por esta zona após as mediáticas alterações. Utilizei para me deslocar a minha importação Britânica, a Raleigh de estrada. Recordo que se trata de um modelo do Cretáceo Superior, concretamente do inicio dos anos oitenta, com quadro em aço e que monta pneus largos 700x28.  

Este set-up provou ser robusto e confortável nas ruas de Londres, mas em Lisboa esperava-me uma grande surpresa. Primeiro os pneus 28 revelam-se insuficientes para abordar os carris de eléctrico com segurança. Há vários relatos de quedas na rua da Prata por culpa dos carris, e eu passo lá com frequência, mas também não estou à espera que um país e uma câmara municipal praticamente na falência se preocupem com estas questões. Pior é constatar que os arranjos na Av. da Liberdade tenham na prática prejudicado os ciclistas.

Quanto custaria asfaltar a berma e pintar de uma cor diferente?

A berma: é verdade que a faixa BUS onde agora podemos legalmente circular é larga e garante alguma segurança ao ciclista. Acontece que uma das razões porque os taxistas e motoristas da carris respeitam o meu espaço é simplesmente porque não querem pôr lá as rodas! A berma está em péssimo estado e circular por ali em qualquer bicicleta sem suspensão é um convite a partir alguma coisa. No sentido Norte-Sul então é quase suicídio. Vibrações capazes fazer largar o guiador são uma constante. Não volto lá de bicicleta de estrada.

As laterais: por causa da alteração de sentidos nas laterais, na prática o ciclista não pode usa-las como alternativa. Tem mesmo que se sujeitar à berma manhosa e ao trânsito da Avenida, que continua, apesar de tudo, demasiado rápido e agressivo.

A lei é para os outros: na faixa BUS não só somos obrigados a conviver com taxistas (Fogareirus Raivosum) e motoristas da Carris, que curiosamente parecem muito mais agressivos agora que podemos legalmente partilhar o espaço com eles, como temos que levar com um número inacreditável de ligeiros de passageiros, cujos condutores também usam o BUS, porque lhes apetece. (Ou se calhar porque o ReichFürer Barbosa lhes disse). Metem o pisca nos Restauradores e vão pela faixa da direita (a BUS!) até ao Marquês, a fingir que vão virar. Como sabem que o que estão a fazer é ilegal, são ainda mais violentos que o resto dos enlatados enlouquecidos.

Sinalização: Não há marcas na estrada, a sinalizar que as bicicletas lá podem circular, não há caixas para bicicletas na frente dos semáforos, e quando a faixa BUS/Bici acaba, e acaba sem sinalização, estamos de novo a cometer uma ilegalidade se prosseguimos pelo BUS "normal" e arriscamos o pelo se tendo uma faixa à direita (BUS ou não), circulamos numa mais à esquerda.

As coisas melhoram sim na Rotunda, onde o trânsito flui agora com mais moderação nas velocidades e onde é sempre possível dar a volta por fora, mais devagar e com menos risco.

Em suma, sendo que um dos principais objectivos destas alterações é baixar a poluição na Avenida da Liberdade, não percebo porquê eu, no meu veículo não poluidor, não me sinto bem vindo àquele espaço (para usar um eufemismo). Fica mais uma vez a ideia de quem planeia estas coisas vive fechado num bunker da CML e nunca andou de bicicleta na vida, muito menos na Avenida da Liberdade e no Marquês de Pombal. Esta é afinal a Câmara Municipal que inventou a ciclovia em empedrado esburacado com carris de eléctrico incorporados, por isso se calhar não deveria estar surpreendido:

Única no Mundo: ciclovia partilhada Eléctrico/cavalo/Bici!

Mais opiniões sobre toda esta problemática podem ser lidas em muitos sítios, eu destacaria este.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Aço Inglês a bordo da TAP ou como viajar de avião com a bicicleta

A TAP chama-lhe Transporte de equipamento desportivo. Eu não pretendo fazer desporto com a minha Raleigh, mas nunca se sabe. Terminologias à parte, estava decidido a trazer a minha fiel montada inglesa das ruas da capital do reino dos bretões para as luxuriantes margens do Tejo. Para a deslocação equacionei adquirir uma bolsa própria para transporte, reutilizável, mas como não pretendia comprar uma do tipo caixa rígida, mais cara que a própria bicicleta, decidi optar por uma flexível. A mais barata à venda na zona de Londres, e talvez, no mundo, era esta:

Sim, é do Decathlon

Verifiquei online a disponibilidade do produto na loja e fui lá disposto a gastar as 50 libras nesta sacola, sem saber se ela providenciaria a protecção suficiente para a viagem. A verdade é que continuo sem saber: o único exemplar disponível estava reservado a um tal de "Alex", e embora ele já tivesse deixado passar o prazo da reserva e não se tivesse dado ao trabalho de ir buscar o saco, os funcionários recusaram vende-lo à minha pessoa. Não havia mais nenhuma coisa destas em Londres por este preço, pelo que me resignei a pedir uma caixa de cartão e fazer o melhor possível com ela.

A caixa

A caixa usada gentilmente cedida pelo pessoal do Decathlon era da marca "Viking" e não era especialmente grande. Talvez algo como 135x77x20cm. Para lá caber o meu quadro tamanho 63 fui obrigado a desmontar muito mais do que estava à espera. Foi preciso tirar as duas rodas, desmontar o guiador (e não apenas vira-lo), até um dos travões removi por segurança. A vantagem da caixa é que permite enfiar coisas como mais cartão e esferovite, a reforçar o amortecimento e protecção do quadro e peças. Deu algum trabalho, mas lá consegui meter tudo na caixa, e ainda juntei um saco de roupa suja que não tinha onde enfiar. Agora acho que esta era provavelmente a melhor opção de acondicionamento, segura e barata, pelo que se calhar até devo um agradecimento ao tal "Alex". Mas ainda acho que ele é um chato.

Todo o processo é bastante simples, mas pode ser demorado. Eis algumas fotos:


Guiador e avanço prestes a saltar fora. O espigão também foi removido


Rodas sem os apertos, devidamente protegidas


Desviador desmontado, para o protecção


Para evitar o esmagamento do garfo. Um cubo teria sido ideal, mas funcionou


A mesma coisa atrás, mais uma caixa para o desviador


As condições da Tap para transportar bicicletas são muito simples:

  • A bicicleta vai no porão.
  • O "equipamento desportivo" deve ser acondicionado com o guiador de lado e os pedais removidos.
  • Se for dentro de uma caixa de cartão ou revestido em celofane o anterior já não é obrigatório, mas recomendado.
  • O peso não pode ultrapassar os 32 kg.
  • O passageiro desembolsará 35 EUR.

Em casa!

Cumpri com estes requisitos e não tive qualquer problema. Excepto talvez que o meu mega caixote conseguiu entupir o tapete rolante da zona de oversize bagage no aeroporto da Portela. Tirando isso, tudo impecável, menos a roupa suja, que chegou suja na mesma.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Rotunda do Marquês: a Polémica e o Resto

A Rotunda, hoje

Num país cada vez mais à beira do precipício, talvez decidido a antecipar o fim do mundo, que, como toda a gente sabe, está marcado para o dia 21 de Dezembro às 16:33h, de repente não se fala de outra coisa senão das alterações à circulação no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade. Sim, eu estou de volta à capital da república do pastel de nata. Estou por cá há menos de 24 horas e já me tentaram atropelar em cima do passeio, já pisei caca de cão e toda a gente aparentemente conduz do lado errado da estrada. E ainda nem peguei na bicicleta...

Nova lateral da rotunda

Cheio de saudades desta terra esquecida pela Grande Lagosta que está no Céu, fui dar uma voltinha pedestre pelo centro, de máquina fotográfica em punho. Não demorou muito tempo a ir ter àquele que é o coração espiritual da cidade, pelo menos para o Zé-do-Volante: a Rotunda do Marquês. O Marquês do Pombal e a sua rotunda rodoviária são um dos marcos da capital, um ícone com história, mas também uma fonte inesgotável de pesadelos para os alunos das escolas de condução e para os jovens recém-encartados. Com as suas múltiplas faixas de rodagem e trânsito muito agressivo, a rotunda era um habitat agreste, onde o predador rodoviário lisboeta mais comum, o conhecido Fogareirus Raivosum fazia mais vítimas.

Um Fogareirus Raivosum na nova lateral da Rotunda

Por detrás do novo arranjo da rotunda, diz a CML, está o desejo de justamente diminuir a perigosidade do local e também agilizar o trânsito dos transportes públicos na rotunda. Outra razão de que se fala é a de diminuir a poluição. E mais discretamente, fala-se em diminuir também o volume de tráfego automóvel na zona.

Dizem-me que há mais ciclistas em Lisboa. Eu vi estes!
 
Ora para diminuir a poluição tem mesmo que se restringir a circulação dos pópós, já que funcionam quase todos a motor de combustão interna. E há muitas mais razões para se diminuir o trânsito automóvel em toda a cidade, mas por cá é praticamente suicídio político dizer que se vai restringir a circulação (e é disso que se trata), porque depois de décadas de facilidades, em que quase se destruiu a cidade para aproxima-la do modelo de "mobilidade" norte americano, o automobilista lisboeta não está habituado a que lhe coloquem obstáculos.

 
Não é alucinação nem montagem!

Território recém libertado

Sinalização

Talvez por isso hoje se tenha instalado "o caos" na Rotunda, segundo os meios de comunicação social. Ao aperceberem-se que circulando por fora podiam aceder a todas as saídas na mesma e simplesmente ignorar as alterações, a maioria dos automobilistas optaram por este caminho, mesmo que tivessem como destino uma das saídas acessíveis pelo centro, de circulação muito mais rápida. Não assumindo responsabilidade pela sua escolha, culpam a CML por falta de informação, quando foi precisamente a informação da Câmara que os levou a tomarem, como sempre, a opção mais espertinha.

O esquema de circulação

Por outro lado, talvez estes automobilistas estejam simplesmente a seguir as instruções do seu Querido Líder, o presidente vitalício e incontestado mestre do Apocalipse Motorizado, o incomparável Reichfürer Barbosa, do ACP, que apelou a uma espécie de desobediência civil na Rotunda. Não é surpresa para ninguém deste lado dos anéis de Saturno que o senhor presidente seja absolutamente incapaz de compreender que menos trânsito em Lisboa é algo bom e desejável.

Ciclista na Av. da Liberdade

Mas o que é que isto significa para o ciclista urbano lisboeta? Bom, significa que vai deixar de poder usar as laterais da Avenida da Liberdade, como eu fazia, que são agora para trânsito local, com sentidos alternados. Por outro lado, vai poder usar a faixa BUS na Avenida. Sim, de repente parece que não há nenhum problema jurídico-legislativo nem se formará nenhum buraco negro com o potencial de sugar todo o planeta por se deixar os ciclistas usarem a faixa do BUS.

Será que é extensível ao resto da cidade?

Ainda não experimentei e não sei se será de facto mais seguro, mas à partida a faixa direita da Avenida pareceu-me larga o suficiente. Já na Rotunda, o novo arranjo efectivamente diminuiu a velocidade e as manobras perigosas "tipo autódromo", pelo que penso que a Rotunda estará agora ligeiramente mais segura para ciclistas. Como outras coisas da vida, tudo isto é ainda provisório e dada a cobertura mediática negativa destas alterações, só a Grande Lagosta que está no Céu sabe se a disposição será para manter.