sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Em campanha



Este vídeo não será o mais eficaz a passar a mensagem, a julgar pelos comentários, mas mostra pelo menos que existe a preocupação, noutras paragens, de alertar para a presença de ciclistas na estrada. Sempre que me deparo com alguma campanha de sensibilização deste género, sou recordado do facto de que em Portugal, a prevenção rodoviária é coisa que há muito não existe.

Dir-se-ia que nos últimos anos (ou décadas) o estado português abdicou por completo de qualquer tipo de esforço para educar, alertar ou influenciar os comportamentos nas nossas estradas. Apesar de investimentos massivos em novas vias, sobretudo auto-estradas, e da melhoria substancial da qualidade do parque automóvel, os portugueses continuam a conduzir muito mal e a matar-se em grandes números. Muitas destas modernas vítimas são peões e motociclistas, ou seja, aqueles que não andam permanentemente com uma armadura de metal à sua volta. Os ciclistas fazem também parte deste grupo e, à medida que os seus números aumentam e o comportamento agressivo e displicente dos automobilistas não se altera, que poderemos esperar das estatísticas no futuro?

Não há muito tempo escrevi à ANSR, a actual entidade oficial com competências na matéria. Queria saber se tinham alguma campanha prevista ou em curso que visasse a utilização dos modos suaves. A resposta, que tardou meses, foi elucidativa: não só não tinham nada previsto, como pareciam achar a ideia descabida.

E no entanto, a ideia não parece descabida em países europeus que apresentam números de sinistralidade bem menos vergonhosos do que os nossos. Até fora do espaço comunitário há bons exemplos a seguir, como esta campanha de Singapura, promovida por privados:

Boas ideias do Oriente

Não seria este o tema que desejaria para o primeiro post de 2011, mas não é ignorando os problemas que alguma vez os vamos resolver. Neste ponto, e só neste ponto, tenho de concordar com o ReichFüher Barbosa, o estado parece que se demitiu completamente das suas responsabilidades em matéria de segurança rodoviária. Por um lado fala-se muito em mobilidade sustentável, por outro lado tudo o que o estado faz é encerrar caminhos de ferro, construir auto-estradas e vias rápidas e fechar constantemente os olhos às transgressões dos automobilistas. Também neste capitulo estamos a divergir dos nossos parceiros europeus.

Se não podemos contar com o estado, talvez devam ser os privados a organizar campanhas de sensibilização como a singapurense. Afinal, quantos automobilistas realmente sabem os perigos a que estão a expor um ciclista quando, por exemplo, o ultrapassam sem deixarem uma margem segura? Há muita ignorância na estrada, além da má vontade.

As organizações com os conhecimentos e a vontade necessária existem, como a FPCUB. Já pagaram as cotas deste ano?

2 comentários:

  1. Pois é. Aqui em Singapura morrem 20 ciclistas por ano nas estradas. O primeiro de 2011 morreu há dias, numa estrada onde eu, os meus amigos, e quase todos os ciclistas da ilha passam frequentemente. Segundo algumas notícias, o homem estava envolvido na campanha de sensibilização para a distância entre veículos motorizados e ciclistas... Que pedale em paz...

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  2. 20 ciclistas/ano? Parece-me preocupante, sobretudo para uma cidade do tamanho de Singapura, que (consta) até tem legislação e comportamentos mais civilizados que os nossos.

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