terça-feira, 5 de abril de 2011

Perpetuando mitos

O mito perdura...


Lá vamos nós outra vez. Se calhar é um problema meu, uma questão de educação, talvez: desde pequeno fui ensinado a abster-me de dizer disparates quando não sabia nada sobre determinado assunto. Primeiro porque é indelicado, depois porque distrai as atenções e desvia o fluir da conversa, talvez mesmo pondo-lhe um termo.

Assim, ainda consigo ficar surpreendido quando leio na nossa imprensa séria (o jornal em questão já foi mais) coisas como esta. Sob o título: - Denúncia: "Sem carros não há comércio" na Baixa-Chiado - surgem uma série de alarvidades nossas conhecidas, sobre como a falta de lugares de estacionamento para automóveis e (in)suficiente fluidez na sua deslocação estão a arruinar o comercio local. Os testemunhos de empresários e de um director de um jornal localizado na zona servem de mote para a noticia, que tem o mérito de ter respeitado o código deontológico da profissão, estando presente também a opinião da CML, não necessariamente contrária, mas pelo menos diferente.


Não vamos muito longe enquanto as nossas elites intelectuais e económicas continuarem a pronunciar-se com toda a autoridade sobre coisas de que nada sabem. Não é novidade, já conhecemos a opinião de génios como este (conseguem reconhece-lo?) sobre as questões da mobilidade em Lisboa. A minha dúvida é a mesma de sempre: onde vão estas alminhas buscar as suas ideias? Onde está a fundamentação? Estes senhores terão tido o cuidado de pelos mesmos ler alguma coisa sobre o assunto antes de se pronunciarem? Terão ouvido falar dos estudos que contrariam completamente as suas "teses"? Terão alguma vez viajado para outras cidades da Europa e visitado os seus centros históricos?? Ou têm só aquelas ideias vagas do tipo: 

carro=mobilidade; mobilidade=progresso. 'Bora abrir estradas!

De notar que, na verdade, a baixa de Lisboa continua infelizmente aberta ao trânsito! Graças aos esforços do ReichFüher Barbosa e seus poderosos acólitos, tudo o que a câmara conseguiu foi transformar algumas faixas de rodagem em corredores BUS e cortar o acesso directo ao Tejo. Apenas isso. Outro facto interessante é a preocupação, revelada no artigo, com os turistas, que são uma grande percentagem dos frequentadores da baixa da cidade. Será que estes senhores acham mesmo que os turistas estrangeiros se deslocam de carro? Terão tão entranhada a adoração ao Grande Deus Enlatado que não se dão conta do absurdo que isso é? Se alguém se desse ao trabalho de inquirir os turistas sobre o assunto, aposto o que quiserem que as queixas teriam que ver com o excesso de trânsito na zona (e consequente ruído, insegurança, poluição, etc) e a falta de mais áreas exclusivamente pedonais, e não o contrário!

"No car, no business" dizem eles no artigo. Bullshit. Se acham que em Inglês tudo fica mais claro (e com muito mais classe), então tomem lá outros chavões, que para mais, ao contrário do primeiro, podem ser demonstrados empiricamente:

No car, no traffic jams.
No car, no noise.
No car, no pollution.
No car, no dead pedestrians.
No car, no foreign debt.

No open mouth, no flies in it.

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