segunda-feira, 26 de março de 2012

Últimas: a licra está de volta, Lisboa é fixe e o Carlos Barbosa que se lixe

Helsínquia? Copenhaga? Não. Lisboa!

Querem saber o futuro? Sim, o futuro. Aqui, agora, já. De graça.

Precisam de uns momentos para se prepararem psicologicamente para uma coisa dessas? Não faz mal, compreendo perfeitamente. Eu espero um bocadinho.

Prontos? Pode ser que doa um bocado, mas eu prometo que sou meiguinho: 

"Num mundo onde tudo crescia exponencialmente, a população, os GDP's, o consumo, a poluição, as pessoas fingiram esquecer que o planeta era o mesmo de sempre. Numa era em que tudo se queria novo, a velha Terra continuava a ser a mesma que medíramos pela primeira vez na antiguidade. O mesmo espaço, os mesmos recursos. Só mais degradada. Enquanto continuámos a cuspir no nosso próprio prato de sopa, os problemas foram-se avolumando. Quando o combustíveis fosseis escassearam e o seu preço se tornou proibitivo, todas as alternativas falharam e a economia, depois de crises sucessivas, colapsou de vez. Milhões perderam os empregos, as casas, e por fim a capacidade de se alimentarem. A sociedade como a conhecíamos mudou por completo. O que se seguiu bem podia ser descrito como o caos e as trevas (...)"  

Foi o Nostradamus que previu, no Séc. XVI. Vão procurar.

Conhecedor das profecias do famoso médico francês, António Costa está decidido a preparar atempadamente a capital do império para o Apocalipse vindouro. Como qualquer pessoa, o presidente da autarquia sabe que é impossível separar um "lisboeta" dos subúrbios do seu automóvel, mesmo recorrendo a ameaças terríveis, como o estacionamento supostamente-quase-talvez-pago e avenidas de apenas 8 (10, vá) faixas. Por isso o executivo camarário resolveu nem sequer tentar. Em vez disso, a câmara tem vindo a criar secretamente uma infraestrutura que permita à cidade uma existência pós-apocalipse.         

É verdade. Com o cognome secreto de "Operação Fenix", inúmeras empreitadas têm sido adjudicadas. As obras mais visíveis até ao momento têm sido as mal compreendidas ciclovias. Agora, a "Operação Fenix" entra na sua segunda fase, em que hortas urbanas e espaços públicos pedonais tomam forma. As obras são feitas de modo a não retirar nenhum espaço ao tráfego e estacionamento dos veículos automóveis (97,2 % da área do município), para não levantar suspeitas. Todo o processo é controlado a partir de um "bunker" secreto construído no Intendente, com o objectivo de garantir a continuidade dos órgãos executivos autárquicos. O Intendente foi escolhido não pela vasta experiência da zona com órgãos, mas pela sua semelhança com o que se espera que seja a cidade depois do Apocalipse.

E como é que eu sei tudo isto?

Simples. Eu tinha ido dar uma longa volta por Lisboa, de bicicleta "desportiva", em preparação para uma maratona de BTT para a qual me inscrevi. Ia vestido a rigor, mesmo que a maior parte do trajecto fosse por ciclovias, onde aliás a minha indumentária mereceu a reprovação dos ciclistas urbanos em traje informal. (Que pena que sejamos sempre tão tribais!). Chegado aos arredores do Colombo, não pude deixar de reparar nas novas hortas urbanas e no pedaço de ciclovia ao lado da estação dos autocarros:

Directamente da horta para o Continente? Com facturas a 90 dias, claro...

Não é todos os dias que se vê um espaço público perfeitamente urbanizável do município de Lisboa não ser "aproveitado" para fazer mais parques de estacionamento ou prédios de luxo. Não é todos os dias que vemos o betão, o automóvel e o enriquecimento dos patrões da construção civil serem suplantados pela preocupação pela qualidade de vida dos munícipes. Eu estava siderado.

Mais deste lado

O meu entusiasmo pelo que estava a presenciar não passou desapercebido a um profissional do volante, um condutor de autocarro. Após alguns minutos à conversa com um colega, ambos admirando obsessivamente as formas ainda escassamente femininas das moças menores de idade que passavam, o homem veio à minha beira e pouco depois estava a partilhar comigo a história secreta dos projectos da CML cujos contornos eu acabo de vos narrar. Incrível, não é?

Há um prémio para quem identificar esta imagem

Com a cabeça a latejar, com toda esta informação que eu não conseguia bem digerir, voltei ao meu percurso, que incluía atravessar o Monsanto antes do anoitecer. Não conhecia bem o caminho e o pulmão verde de Lisboa vendeu cara a passagem. Quando sai do "mato" estava nas proximidades da embaixada do Irão e era já noite cerrada. Mau presságio. Em casa adormeci de cansaço no sofá e cai num sono inquieto, povoado por imagens de um mundo pós-apocalíptico, onde o Carlos Barbosa comandava um exército de Zombies marrecos, na tentativa de tomar o que sobrava de uma Lisboa abandonada e semi-destruída.

3 comentários:

  1. A foto é no Jardim dos Montes Claros em Monsanto!

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  2. O Francisco tem razão: a foto foi tirada do centro deste mapa. Lembro-me de passar aí a correr num treino bem longo há 2 anos! Boas pedaladas!

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  3. Bessa
    Nostradamus? Será que acreditas nos glutões?
    Também eu sou bom a fazer profecias sobre o futuro... passado. Só se começou a falar de combustíveis fósseis a partir do séc. XIX, da poluição no século passado, do boom populacional no séc. XVIII. Essa do Nostradamus é uma peta ainda maior que a lagartixa de Loch Ness.
    Claro que haverá sempre profetas do apocalipse, a prever as maiores catástrofes. Eu, por exemplo, prevejo que uma grande bola de fogo irá bater neste terceiro calhau que circunda a pequena estrela amarela que conhecemos por Sol. Só não digo é quando acontecerá tal coisa, para os meus terrenos não desvalorizarem. Mas há-de suceder. Ou então o Sol irá dilatar, engolindo todos os chamados planetas interiores. Espera, pensando bem, é melhor não prever isso, quem me irá acreditar, parece demasiada ficção científica... :)
    Mas o petróleo ainda não acabou e o seu preço ainda é mais baixo que um maço de cigarros. E não é o petróleo que faz com que as pessoas queiram carros. Pelo contrário, a existência de carros é que torna especialmente precioso o ouro preto. Porque, mesmo que o petróleo acabe (coisa que é, decididamente, ficção científica) alguém acabará por inventar um processo de substituir o petróleo por outra coisa qualquer. E os chaços continuarão por aí, a infernizar a nossa vida. A não ser que a sociedade evolua para desvalorizar as máquinas e passar a tratar as pessoas como o mais importante. Eu prefiro pensar que o petróleo vai durar indefinidamente, lutando para mudar o paradigma agora, nestas condições, ao invés de aguardar pelos amanhãs que cantam do mundo sem desengordurante.

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