terça-feira, 8 de maio de 2012

Transportes Públicos de Lisboa

Bem vindos à Capital! (do carro importado)

Tenho recorrido mais do que o costume aos transportes públicos. Não é a primeira vez que aqui me refiro aos ditos cujos. Os transportes públicos são excelentes complementos para ciclistas urbanos que não possam realizar a totalidade das suas deslocações de bicicleta, coisa razoável e compreensível, numa cidade tão carro-dependente como Lisboa e seus orgulhosos subúrbios. Eis portanto um breve comentário aos operadores de transportes públicos da capital do império e arredores:

Quando no 15, segurem a carteira. Com as duas mãos.

Carris: Não sei o que fizeram aos motoristas da Carris, mas a verdade é que mudaram muito nas últimas décadas. Eu ainda sou do tempo dos Volvos com suspensão manhosa, em que o motorista de camisa aberta até ao umbigo e cabelo lambido seguia descontraidamente à conversa com tipos de aspecto duvidoso, sobre temas que saltavam do penalti e do fora de jogo para a tranca e a prateleira da vizinha, (passando pela bilha), enquanto faziam manobras perigosas dignas de envergonhar um Nelson Piquet, sempre sem deixar cair o palito do canto da boca. Hoje em dia os motoristas são bem mais profissionais. Alguns são tão profissionais que são senhoras! E alguma coisa lhes ensinam lá na Faculdade da Carris, já que esta nova geração de choferes mostra respeito pelo ciclista, mesmo quando este ocupa as faixas BUS, que infelizmente ainda não são território libertado para a Causa. É possível transportar bicicletas dobráveis na Carris, dependendo da sua dimensão e da lotação que o autocarro ou eléctrico tenha no momento, sendo o condutor o juiz e decisor final. Notavelmente há também algumas carreiras que aceitam bicicletas convencionais, o procedimento nestes casos é entrar com a bicla pela traseira, deixa-la segura no sítio correspondente e depois validar o título.

No autocarro ou no eléctrico, uma dobrável é uma boa aposta.

Em Cascais, os comboios são os mesmos de 1958. As tarifas é que não.

CP: As pessoas que só falam das dívidas astronómicas da CP, e das reduções da circulação, com linhas a fecharem pelo país fora e sei lá mais o quê, no fundo não percebem esta empresa. A CP é na realidade uma obra social. Promoveu o proletariado a classe média alta (os maquinistas, revisores, etc), dá emprego aos membros das classes altas e elites dirigentes com deficiências (cognitivas), que não conseguem arranjar trabalho numa empresa a sério, e até tiraram marginais das ruas, vejam o caso dos seguranças do Cais do Sodré, que passaram de aterrorizar velhinhas na estação a andarem de farda e... aterrorizarem velhinhas na estação. Mas também pudera, as senhoras têm a lata de fazer perguntas! Tanta despesa com a mobilidade social deixa pouco para a mobilidade que mais deveria interessar à empresa: o material circulante está velho e cansado, os funcionários gostam mais de fazer greves do que de trabalhar. Apesar de tudo isso, o comboio continua a ser o melhor complemento para o ciclista urbano. É possível levar a bicicleta gratuitamente de e para Lisboa, desde que esta caiba na carruagem das composições suburbanas. Obviamente que em hora de ponta será complicado, mas por enquanto ainda é fácil arranjar um horário em que seja pacífico fazer a viagem, sobretudo na linha de Cascais. O sistema de máquinas de bilhetes é especialmente lento e em algumas estações não funciona. Há cada vez mais gente a andar sem pagar, por causa da crise e porque com as novas tecnologias o revisor se move à velocidade do pensamento. Do pensamento do Jorge W. Embuste, claro.

Imagem de casadoquintal.blogspot.pt

Scotturb: Se a Carris evoluiu, estes camaradas regrediram. Para aí até à idade da pedra. Os motoristas parecem não só terem um grande desilusão em exercer a sua profissão, como demonstram sempre que podem o seu desprezo pelos utentes. O que se compreende, claro, pois só um barra-botas sem eira nem beira é que se faz deslocar de autocharro pelos subúrbios da capital. E servir de motorista para um bando de velhos, crianças e pobres não é coisa de um macho latino com pelo na venta que se preze. Para se vingarem da miséria de vida que o destino lhes reservou, os machos da Scotturb exibem a sua destreza conduzindo em excesso de velocidade permanente, aterrorizando os turistas que vieram a Sintra gastar as suas divisas e provocando mais acidentes que qualquer outra empresa do sector. Ciclistas, acautelem-se na presença destes paquidermes, pois eles adoram medir forças com os mais fracos. Não sei se é possível transportar bicicletas nesta companhia do Burkina Fasso, mas não aconselho ninguém a tentar.

Levaram uns anos, mas lá conseguiram. E o Zapping, pá?

Vimeca/LT: Os camaradas da Vimeca e Cia. não fazem greve. Os autocarros andam limpos, (excepto quando entram no 12 cento e oitenta crianças da escola secundária de Linda-a-Velha), os motoristas são educados e a coisa em geral funciona bastantes degraus acima dos colegas da Scotturb. O problema são os preços praticados nos bilhetes e passes: escandalosamente caros! E os bilhetes pré-comprados passavam a vida a mudar e ficar inválidos antes de uma pessoa ter tempo de os gastar, sendo os motoristas inflexíveis. É que a Vimeca é privada e como tal vê cifrões antes de qualquer outra coisa. Actualmente a empresa adoptou o Viva Viagem, mesmo que não seja possível utilizar-lo em Zapping. Bicicletas não estão previstas no menu, é possível levar uma dobrável pequena, desde que o motorista não considere que ela estorva.

Imagem: Jornal de Notícias

Metro: Não se deixem enganar pelas estações cheias de arte e as plataformas limpas e bem iluminadas. Isto é pessoal que também gosta da sua patuscada e da sua manifezita. Especialmente agora com o PREC. Para este mês já estão programados dois dias de greve. Não apareçam com bicicletas numa estação de Metro em Lisboa, que não vale a pena. Primeiro os acessos dão tanto trabalho que mais vale enfrentar a selva de enlatados lá fora, e segundo há restrições de dias e de horas que eu nunca me dei ao trabalho de tentar perceber. Se mesmo assim aparecerem com uma bicla numa estação do Metro, serão alvo de uma placagem imediata por parte de funcionários em equipamento anti-motim, especialmente de prevenção contra essa terrível ameaça especifica que são os vândalos de licra. Talvez estas equipas de prevenção expliquem o porquê dos átrios e plataformas estarem sempre vazios de funcionários. E nem pensem em ter problemas com os cartões magnéticos nos portais, ficam lá presos até ao Natal.   

Fertagus é fixe. A sério!

Fertagus: O comboio que vai para o grande deserto do Sul também é um business privado, pelo que os seus funcionários não fazem greves, não fazem pausas e não fazem favores. Felizmente as composições têm lugares específicos para bicicletas, normalmente 4 no total, cujo transporte é também gratuito. Os lugares de bicicletas competem no entanto com cadeiras de rodas e carrinhos de bebé. Normalmente sobram lugares, mas eu já vi uma senhora a espumar de raiva e abandonar o comboio porque a minha Kona estava a ocupar o lugar que ela pretendia para o bólide do seu rebento.

A biciclete não pode ir aí!!!! Ponha daquele lado!!!

TransTejo: Ora aqui está uma empresa cheia de potencial. Afinal há montes de espaço dentro daqueles barcos, certo? Certo?? Errado! Existem várias limitações de carreiras e de horários, e os funcionários não se conseguem decidir sobre qual o lugar adequado para colocar a bicicleta, lugar esse que, naturalmente, não está assinalado. Há também uma estranha tendência para falar aos gritos com os ciclistas, que como toda a gente sabe, além de serem excêntricos e de gostarem de roupas justas, são duros de ouvido. Os acessos nas estações obrigam muitas vezes a malabarismos nos portais de entrada, ou à necessidade de recorrer a alguém (o cada vez mais raro funcionário de carne e osso) que nos possibilite a entrada.

Bicicletas a bordo de um catamaram da TT.

Em conclusão, muitas mudanças houve nos últimos anos nos sistemas de transportes da capital. Infelizmente a mentalidade continua a mesma: implementa-se um sistema de bilhetes intermodal, mas persistem inúmeras restrições ao seu uso nas diferentes empresas. Apostou-se na tecnologia, lavou-se a cara, mas aqui e ali ainda assoma aquela mentalidade do "serviço para desenrascar os pobrezinhos" que não podem andar de carro. No que toca especificamente às bicicletas, por convicção ou imperativos de imagem, quase todos os operadores oferecem soluções. Há restrições maiores ou menores, alguma ausência de informação e procedimentos inconsistentes e faltam lugares de estacionamento em estações e paragens. Mesmo assim penso que as empresas fizeram um esforço muito maior para incorporar o transporte de bicicletas na sua realidade diária do que a própria CML alguma vez fez para aproximar a bicicleta da  realidade urbana. Quanto ao utilizador, quem dispõe de horários flexíveis pode evitar as horas de ponta e tirar o máximo partido das opções que descrevi, quem está preso a horários e percursos mais convencionais pode sempre optar por uma boa bicicleta dobrável.

11 comentários:

  1. Excelente artigo! Muito divertido :) e acima de tudo informativo.

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  2. Bom artigo!
    A Fertagus deu um grande passo ao acabar com as restrições de horários. E não precisou de fazer nenhuma alteração aos comboios, pois estes sempre tiveram condições para transportes biclas.
    Eu faço todos os dias a travessia Seixal-Cais do Sodré e não tenho nada a apontar. Os funcionários abrem-me a cancela porque já me conhecem e fecham os olhos se houver mais bicicletas do que o permitido. Na travessia para o Seixal não há restrições de horário.

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  3. Bom trabalho. É um prazer reler o Lisboa Bike!

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  4. Fabuloso post! Digno do melhor jornal ou revista. Parabéns!

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  5. Ola! Gostei muito de ler o artigo!
    Sabe se é possível levar uma bicicleta normal (sem ser dobravel) no elétrico 15, que vai de Algés para a Praça da Figueira?

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    1. Olá Madalena.

      Tanto quanto sei não é possível levar bicicletas no 15, mesmo nos electricos modernos, mais espaçosos. Uma boa alternativa é o comboio, que faz quase o mesmo percurso (só quase)

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  6. Olá,
    Alguém sabe dizer se no metro é possível levar uma bicicleta dobrável, isto que o volume dobrada será até inferior a muitas malas do pessoal que vai para o aeroporto?

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  7. A informação que tenho é que sim, pode recorrer ao Metropolitano de Lisboa a qualquer hora, desde que a dobrável entre e saia fechada e passe sem problemas nos portais.

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  8. Devo dizer que ja utilizeo o metro com a bicla desdobravel e nem me pediram para dobrar a bicla. Apenas quiseram confirmar se era desdobravel. Mas no entanto, por motivos de dimensão e para não atrapalhar....dobrei a dita cuja para não causar conflitos!!! Devo dizer que pelas estações que passei foram todos impecaveis e 5 estrelas!!! estações: São Sebastião, Amadora e Sta Apolonia.

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  9. Nos comboios ainda há muito a evoluir, designadamente nos de longo curso. Os incentivos na utilização esbarram com a necessidade de transportar as bicicletas desmontadas e em sacos. Não seria melhor reservarem uma carruagem para transporte de bicicletas? Este problema não é inédito em Portugal. Em Espanha a Renfe limita o transporte a 3 bicicletas por comboio, mesmo em percursos estimulados pelo turismo de espanha para serem feitos por meio de bicicleta, como é o caso dos caminhos de santiago. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas o mais fácil seria incentivar a utilização, reservando carruagens específicas para o transporte em segurança das bicicletas

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  10. Que Blogue de MERDA!!! Parabéns!!!

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