terça-feira, 27 de abril de 2021

Projecto Bacalhau: Dia 5 - Figueira da Foz!

Acho que não é por aqui...

A manhã do meu 5º dia começa... devagar. Ainda não me sinto muito energético, e a pele ainda está vermelha, ainda me dói quando visto a roupa, sequelas da primeira etapa. Felizmente o dia está mais fresco, e nublado. Levo mais tempo que o pretendido a desmanchar a tenda e arrumar tudo de volta na bicicleta. Pelo meio das arrumações quase deixo para trás o meu pequeno powerbank, que miraculosamente reapareceu na recepção do parque. 


São Pedro de Moel é fixe


O percurso começa na impecável ciclovia de São Pedro de Moel. Mas como qualquer outra coisa boa na vida, a ciclovia também não dura para sempre. Programei um caminho no GPS que procura manter-me sempre bem perto da costa, enquanto rumo a Norte. No mapa parecia tudo bem. Da ciclovia passo para a estrada, que vai ficando progressivamente mais estreita e de pior qualidade. Confiando nos meus pneus de gravel de 35mm, vou avançando sem muitas preocupações.


Piso degradado, mas nem um carro por perto

A estrada não tem ninguém, e eu gosto disso. Não fico alarmado quando o alcatrão fica tão estreito que um carro teria dificuldades em manter-se sempre nele. Depois começa a aparecer cada vez mais areia na estrada e não há sinais desta ter sido utilizada recentemente. Boa, por mim quanto mais remoto melhor, menos carros e melhores vistas. Venha a aventura!


Noutros tempos devia haver mais trânsito...


Infelizmente, umas centenas de metros mais à frente, a estrada que estava a seguir, confiando no GPS, acaba num portão fechado. O portão, velho, é parte da cerca de uma enorme zona industrial. Tudo à volta do perímetro cercado são dunas, areia e algum mato, até onde a visita alcança. Não há caminhos, trilhos ou estradas, excepto aquela de onde eu vim. Consulto o Google Maps no telemóvel e concluo que se andar um pouco para a direita, devo encontrar uma estrada principal. Não querendo voltar para trás, resigno-me a empurrar a bicicleta pela areia.  


Estradas, quem é que precisa disso?

E empurrar foi o que eu fiz. Mas a tal estrada nunca mais aparecia. Com os pés cheios de areia, persisti por dunas enormes e algum mato, até chegar a um single-track, que me levou até... uma linha de comboio! OK, aquilo era meio numa curva, mas achei que se viesse um comboio eu conseguiria ouvir a tempo de fazer alguma coisa. Pensamento positivo... Carreguei os vinte quilos de bicicleta por cima das vias e pouco depois estava numa nacional com transito razoável.  

A estrada era o caminho certo (N109), e começa a ter mais subidas à medida que me vou aproximando da Figueira da Foz. Não tardo a ter em vista a ponte que leva à cidade. Tenho que admitir aqui uma coisa: faz-me muita confusão passar em pontes grandes e altas de bicicleta. É como se desconfiasse que o vento me vai levar. E o raio da ponte não tem bermas nem ciclovia, só duas boas faixas rodoviárias com ar inóspito de autoestrada, com bermas super elevadas e sinalização grande. O português médio já acha que practicamente todas as vias são autoestradas, quanto mais se tiverem aspecto de o serem. Temo o pior.

 

Figueira da Foz!


Venço a minha fobia e não tarda estou longe do trânsito de alta velocidade da ponte. A cidade e as suas praias parecem desertas. Exploro a zona litoral, até que me entra a fome, e vou almoçar a uma esplanada que me pareceu barata. Não havia lá mais ninguém. Por esta altura já fiz um pouco mais de quilómetros que no dia anterior, mas ainda não me sinto a 100%. Resigno-me a ficar por ali e aproveito que estou sentado para fazer a reserva do hotel. 


Muita areia, pouca gente

Quase todos os hotéis estavam encerrados, mas arranjei um lugar simpático, não muito longe do casino da Figueira. Depois de uns dias na tenda, tudo aquilo me pareceu luxuoso. Uma casa de banho só para mim? O requinte! O luxo! A bicicleta fica a dormir numa sala de arrumos do restaurante no piso térreo, que está fechado. Eu aproveito as instalações para tratar do meu equipamento e de mim mesmo. Depois do banho, ponho mais carradas de creme para a pele. Descubro que a caminhada fora de estrada deixou os meus sapatos SPD com a sola a divorciar-se. Tento resolver o problema com cola de furos de camara de ar, mas não tenho muita fé nas minhas artes de sapateiro. Ponho também todos os aparelhos a carregar, telemóvel, powerbank, GPS, luzes. E claro, trato da lavagem da roupa.   


Ambiente simpático no Hotel


O Casino

Tratadas as tarefas domésticas, ainda falta mais uma, as compras. Está tudo a fechar cedo mas consigo comprar jantar a tempo. Regresso ao hotel, onde aproveito o WiFi para investigar percursos para os próximos dias e carregar o track no GPS. A cama é fenomenal e parece não haver mais ninguém no hotel. Tudo isso promete uma noite descansada, coisa que eu estou a precisar. 

Dia 5. São Pedro de Moel-Figueira da Foz. 62km (Ciclovia/Estrada)

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