Temos os políticos que merecemos? |
Há muitas razões para andar de bicicleta. Para uns será pela saúde e bem estar físico, para outros é por consciência ecológica, ou porque é pratico, talvez porque seja económico... Eu subscrevo todas estes motivos, mas tenho mais um, do qual nunco ouço ninguém falar.
Lembro-me de ler há muito tempo algo num blogue de um Português que emigrou para a Dinamarca. Queixava-se ele da elevada carga fiscal que os Dinamarqueses aplicam ao automóvel, coisa que definia como "imposto de doidos". Vindo de um país pequeno e pobre, mas com milhares de quilómetros de autoestradas, onde estacionar é onde um homem quiser e onde a verdadeira crise é ter que pagar portagens, até percebo a surpresa. Mas então porque emigrou este senhor para a Dinamarca, se quer continuar a viver como se faz por cá?
O "imposto de doidos" dinamarquês procura fazer duas coisas: dissuadir as pessoas de andarem de carro e financiar as alternativas a essa prática. Assim, este país nórdico têm das maiores percentagens de utilizadores de bicicleta, apesar do clima severo. E é um dos países mais felizes do mundo. Quando o petróleo atingir níveis de preço insuportáveis, a Dinamarca terá alternativas de transportes para quem não puder ou não quiser continuar a utilizar o automóvel. A nível local, a bicicleta é a alternativa. Por cá, mais do mesmo: fecham-se ferrovias e incentiva-se o uso da vaca sagrada, com mais e melhores autoestradas, pagas com dinheiro que há de vir não se sabe de onde.
Todo este "progresso" já se sabe onde nos trouxe: estamos na pior situação financeira dos últimos 100 anos. A elevada dependência do petróleo tem algo a ver com isso, mas ninguém liga, porque todos a consideram como inevitável. E o que irá acontecer ao nosso sistema de transportes tão dependente do automóvel quando o preço do petróleo se tornar insuportável? De que servirá toda esta rede de magníficas estradas quando nem os mais fanáticos adoradores da vaca sagrada poderão suportar o preço dos combustíveis fosseis? Nenhum político por cá fala disso, claro, mas há muito que o problema do Peak Oil saiu do domínio das teorias da conspiração entrou para o mundo da economia. Preços exorbitantes para produtos derivados do petróleo podem estar a poucos anos de distância.
Se calhar os Dinamarqueses não serão assim tão doidos. Se calhar eles, e outros, estão a precaver-se para a altura em que serão necessárias alternativas ao actual paradigma insustentável de mobilidade. Para eles a transição será mais fácil. Por cá falar-se-a de novo em "crise imprevisível" e os responsáveis da nação encolherão os ombros e assobiarão para o lado. Eu, pelo menos, avisei.