domingo, 25 de julho de 2010

Lisboa - São Torpes, dia 1: O Bom, o Mau e o Muito Estranho

Saio da cama com os primeiros raios de sol, consciente que aquele não será um dia qualquer. As bicicletas, carregadas com tudo o que vamos necessitar nos próximos tempos, aguardam na sala. Depois de quase uma semana de preparativos, está tudo a postos para começar as planeadas mini-férias pelo litoral alentejano.

A Marta, companheira de esta e outras aventuras, e eu, entramos na marginal sentindo uma certa ansiedade. O derradeiro teste à resistência das grades porta-bagagens e alforges que carregamos começa agora. Não estamos acostumados a estes equipamentos, nem a transportar tanto peso. A minha bicicleta ultrapassa mesmo os 30 kg. E se o material aguentar, aguentaremos nós? Só há uma maneira de saber.

Surgem os primeiros carros na estrada, e com eles as habituais demonstrações de falta de civismo. Muitos passam a escassos centímetros dos guiadores, a velocidades bem acima do permitido (ou do dobro do permitido). À conta destes mimos, na Cruz Quebrada tomámos o "passeio marítimo", na realidade uma via de manutenção da REFER que na prática é utilizada como tal. Daí seguimos para Algés e depois Belém, onde apanhámos o cacilheiro para a outra margem.

Ciclovia em Belém, a caminho do Cacilheiro

Esta primeira etapa deverá eventualmente levar-nos a Sesimbra, seguindo percursos fora de estrada sempre que possível, utilizando para o efeito tracks de GPS que seleccionámos na net.

Da Trafaria à Costa aproveitámos a excelente ciclovia, até nos embrenharmos nas trilhos de acessos rurais que nos transportam ao longo das terras entre a arriba fóssil e o mar. Pelo caminho, num trilho onde é proibida a circulação de veículos motorizados, somos surpreendidos por um artista numa mota, que se entretém a destruir as dunas e quase me derruba propositadamente ao passar por nós a todo o gás. Para complementar o cenário, surge a seguir a zona da Fonte da Telha. Dá pena ver aquela paisagem arruinada pelas casas ilegais e todo o lixo e detritos que as rodeiam. Regressámos brevemente à estrada, mediante uma subida intimidante, para seguir caminho para a Lagoa de Albufeira.

Depois de em poucos km termos presenciado inúmeras ilegalidades, eis que somos obrigados a cometer nós uma: o track que seguimos indica um trilho que está atrás de uma cancela fechada. Se seguimos em frente podemos perder-nos, se saltamos a cancela e entramos no pinhal, estaremos a fazê-lo contra a vontade dos proprietários. Acabámos por entrar, o pinhal é uma zona de exploração florestal e nós não temos por hábito danificar nada nem deixar lixo para trás.

Alguns km mais à frente paramos para dar passagem no trilho a uma enorme tractor que puxa um atrelado com troncos cortados. Observamos a perícia com que o condutor consegue ganhar tracção numa subida de piso mole de areia, para segundos depois ficarmos boquiabertos ao verificar que o hábil operador da monstruosa máquina é uma criança de oito anos!

Ainda não refeitos desta visão, uns km mais à frente, já tendo contornado parte da Lagoa, surge perante nós uma espécie de cidade de tendas, com muito lixo à mistura. Podia ser um campo de refugiados, mas mesmo vendo pouca televisão penso que teria ouvido falar da existência de tal coisa. Tardámos um pouco em perceber que tínhamos simplesmente chegado ao Super Bock - Super Rock.

Super Bock - Super Rock, Super Pó, Super Lixo...

A partir daqui as coisas ficaram mais complicadas. Apanhámos muita areia e passámos grandes bocados a empurrar as bikes. Fizemos um pedaço de estrada e voltámos à areia. O trilho acabou por ir dar à praia do Meco, ao areal mesmo, que tivemos de atravessar. Foi na zona do Meco que almoçámos, antes de seguir caminho para o Cabo Espichel. O percurso foi ficando mais e mais difícil, até que demos por nós nas imediações do Santuário mas sem conseguirmos encontrar caminho para lá chegar. O track que seguíamos já teria um ano e durante o Inverno aquela zona terá ficado muito diferente, fruto das intensas chuvas. Perdemos literalmente horas às voltas, a içar as bicicletas de dentro de enormes crateras, sem encontrar a saída. Acabamos por recuar e ignorar o GPS, seguindo na direcção da estrada.

Perdidos no Cabo Espichel

Uma vez na estrada, já de lá não saímos. Estava a ficar tarde e estávamos demasiado cansados. Umas bebidas frescas servidas por uma senhora simpática na Azóia deram-nos as forças e ânimo para prosseguimos caminho. Chegámos ao parque de Campismo, que se acede depois de uma subida demasiado íngreme para viajantes cansados, pelas 17:40, praticamente 11 horas depois de termos começado.


Sesimbra à vista!


Dados do dia:

Km totais: 82
Velocidade média: 12,89 km/h
Velocidade máxima: 56,1 km/h
Água consumida: +4 L/pessoa

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