sábado, 8 de outubro de 2011

Um passo para a frente, um passo para trás

Estava à conversa num intervalo das aulas, quando me apercebi de uma certa comoção na rua. Aproximei-me das grades do portão, perfeitamente a tempo de ver passar dúzias e dúzias de ciclistas, naquilo que só poderia ser a Massa Crítica de Setembro. No meio da procissão interminável de velocípedes (diz que eram 400), de todos os tamanhos e feitios, ainda distingui um colega meu, que em vez de estar nas aulas acelerava de licra no meio do pelotão.



Passou a Semana da Mobilidade e o Dia Europeu sem Carros. Passou a Massa Crítica de Setembro, e acabou o prazo para escolher as propostas para o Orçamento Participativo da CML, que foram hoje divulgadas.

A proposta em que eu votei ficou em 42º lugar, tendo nela votado mais 45 excêntricos, que como muito bem diz o Reichfürer Barbosa, na verdade nem devem existir. E esta é a primeira das propostas relacionadas com o ciclismo urbano que surge na lista de classificações, daqui para a frente nem me dei ao trabalho de procurar. Entre os 5 projectos vencedores que serão executados, tendo recebido perto de 10% dos votos totais (e 36 vezes mais votos que a ligação ciclável Baixa-Av. da República) está mais um muito necessário parque de estacionamento. Nesta frente, nada de novo.

Por outro lado, a blogosfera e as listas do Mubi tem andado em ebulição com os últimos episódios dessa telenovela de grande audiência que é o projecto das Bicicletas Partilhadas para Lisboa. Neste momento as propostas parece que são duas, a mais antiga do senhor barrigudo que gosta de bicicletas mas tem o pelouro dos jardins e outra do vereador amigo do ReichFürer Barbosa, que é professor daquela universidade que aboliu os passeios no seu campus e entregou todos os metros quadrados disponíveis ao estacionamento das vacas sagradas. Não vos vou aborrecer com pormenores desta história, de muitos já demasiado bem conhecida, mas basicamente um quer fazer uma coisa semi-civilizada mas não tem dinheiro e o outro quer fazer uma amostra de coisa, com muita tecnologia à mistura, mas só para turista ver. Venha o Alberto João Jardim e escolha.

No IST, estacionar é assim. Que mais ideias terá o prof. Nunes da Silva?

Outra importante frente de combate é desta feita nada menos que o parlamento da república, onde uma proposta para a Afirmação dos Direitos do Ciclistas e Peões no Código da Estrada foi levada à discussão, naquilo que a FPCUB descreve como um dia histórico. Aparentemente existem apoios importantes tanto à esquerda como à direita e há até algum consenso sobre a relevância do tema. As pesadas rodas do poder estão finalmente a mexer-se, mesmo que de forma quase imperceptível. Só nos resta esperar.

É assim em Picoas, no Cais do Sodré e um pouco por toda a cidade

Enquanto a bicicleta luta por se afirmar na selva de asfalto que é a capital da República Democrática de Cuba, há um outro meio de transporte que fez a sua transição para fora da obscuridade marginal. Sim, se alguma coisa mudou no panorama da mobilidade da capital é o número crescente de motos e scooters que povoam as ruas de Lisboa. Nada de extraordinário quando comparado com cidades do país vizinho, para não ir mais longe, mas uma diferença muito relevante para o passado recente. Infelizmente, não povoam só as ruas, mas seguindo os hábitos dos automobilistas, estes veículos ocupam espaço indiscriminadamente, seja nos passeios, seja nos já de si escassos lugares de estacionamento para bicicletas.

Motociclos 125: o caso de sucesso da mobilidade em Lisboa

Esta autentica invasão de motos, sobretudo de pequenas cilindradas, é algo que me deixa com sentimentos contraditórios, pois eu estive na frente de batalha pela "directiva das 125", cuja aprovação é a base que está por trás de todo este sucesso. Agora, a tradicional indisciplina lusitana ameaça transformar os pequenos motociclos numa autentica praga, pelo menos no que toca ao estacionamento. É verdade que faltam os lugares próprios muitas vezes, mas nesse campo o trabalho da CML tem sido incansável e o panorama melhorou muito nos últimos anos. A civilidade é que não. 

Seja como for, é inegável que muita coisa está a acontecer relacionada com a mobilidade sustentável da capital. Este dinamismo pode acabar por ter poucos resultados palpáveis, mas não tenhamos dúvidas, estes são, pelo menos, tempos interessantes.

3 comentários:

  1. São tempos interessantes, sim! Apesar de todos os empecilhos que fazem tardar as mudanças que desejamos, a verdade é que no geral as coisas avançam na direcção certa!
    Quanto à "invasão das 125" percebo o teu sentimento mas lembra-te que o mesmo acontecerá quando o número de bicicletas aumentar exponencialmente! (Oxalá!!) :)
    Como em tudo o que mete muita gente há sempre comportamentos com os quais não nos vamos identificar. Por exemplo, nas últimas MC em que participei incomodaram-me alguns comportamentos que considerei desajustados e provocatórios. Nem sempre é respeitado o principio de facilitar a fluidez do transito... Ainda assim temos que olhar para a MC como um todo. Da mesma forma, essas motas mal estacionadas têm um outro lado da moeda que faz um grande contrabalanço: Significam que o número de motas na estrada aumentou muito, com os benefícios que isso traz para a segurança de ciclistas e motociclistas e da redução do número de carros. Ah... e confesso que eu também estaciono frequentemente a scooter no passeio! Mas faço-o apenas em passeios que tenham espaço suficiente para acomodar a scooter ali estacionada sem que isso constitua um entrave à circulação das pessoas. Há algumas regras de bom senso para o estacionamento nos passeios que sendo cumpridas não o tornam problemático (exemplo: manter mota numa posição longitudinal; escolher pontos em que não haja circulação como aqueles junto a placas, sinais ou outros obstáculos; não colocar em cima de caixas de luz ou de esgoto; não impedir a abertura das portas dos carros; não colocar em zonas que as pessoas usem para abrigo de chuva; etc...) Ah: e nunca estacionar nas zonas destinadas a Bicicletas! isso não!!!!!!!!!!! ;)
    Abraço,
    Júlio

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  2. Impressionantes imagens da Massa Crítica.
    O Marquês do Pombal parece ficar bem mais seguro do que quando passo lá a pedalar sozinho e a tentar manter uma velocidade respeitável para ser respeitado.

    Parece óptima iniciativa. Acho que seria ainda melhor se o pessoal não pedalasse em cima de passeios, pedalasse mais rápido (assim vai sempre transmitir uma ideia de "passeio" e não de locomoção - talvez?) e o fizesse todos os dias! (onde pára esta malta toda no dia a dia?)

    Esta semana não deverei contribuir para a causa, mas volto ao ataque no Natal.

    Boas pedaladas!

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  3. Sim, passam-se coisas estranhas na massa crítica, e essa é a razão porque ainda não participei. De qualquer forma, por onde quer que se olhe para a questão, 400 ciclistas incomodam sempre menos que 400 automóveis.

    Júlio, eu também estacionava no passeio quando não havia alternativas. Infelizmente e como dizes, popularizar também é muitas vezes fonte de problemas.

    Um abraço!

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