terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bike Wars

Imagem: treehugger.com

 
Retiro o que disse no último post. Bem me estava a estranhar tantas facilidades... Hoje tive um commute dos infernos, e não foi por causa do tempo. Aliás, esse é outro mito/desculpa que não convence ninguém. Somos uma sociedade de novos-ricos comodistas, com um serviço de meteorologia que declara alertas por tudo e mais alguma coisa. Eu passei ao todo uma hora em cima do selim hoje, em diferentes alturas do dia, e não vi nem senti nada que se parece-se com uma tempestade. Não só o vento nunca chegou a ser perigoso, como nem chuva apanhei.

Mas para perigo não precisamos cá do clima, pois temos o famoso Zé-do-volante português, um elemento que inspira muito mais receios que um nevão na Dinamarca. Hoje apanhei tantos sustos, que se tivesse uma arma comigo teria acabado o dia estilo Rambo First Blood. Primeiro, na Rua da Prata um automobilista fartou-se de andar a trás do eléctrico e resolveu mudar de faixa. O problema é que estava lá eu e só me consegui desviar por milímetros. Um pouco mais à frente um Kangoo dos CTT saltou (literalmente) de cima do passeio onde estava, na lateral do teatro Dona Maria II, para a faixa de rodagem, onde eu vinha. Mais uma vez evitei a colisão por muito pouco e desta vez não me contive e apliquei o meu melhor vernáculo ao motorista, que não me passou cartão. De notar que o piso estava molhado e escorregadio, o que tornava as manobras de emergência ainda mais complicadas.

As pessoas pareciam que estavam histéricas, os automobilistas tinham comportamentos erráticos, imprevisíveis. Pouco mais à frente evitei por muito pouco levar com a porta de um taxi, que se tinha imobilizado no meio da lateral da Av. da Liberdade. Com a adrenalina no máximo e a paciência no mínimo, já com o reportório de palavrões quase gasto, estava a chegar ao destino quando uma senhora num monovolume, a sair do estacionamento da Gulbenkian, olha para mim a passar e atira-me o carro para cima! Evitei a colisão nem sei bem como, mas envolveu uma enorme derrapagem controlada da roda de trás, muito equilíbrio e um golpe de guiador BTT-Style, de tal maneira que ultrapassei a senhora. Ela limitou-se a dirigir-me um olhar de desprezo, com aquele ar de "não se deve dar confiança a esta escumalha" e lá se foi embora no seu Rernault com um autocolante de "miúdo a bordo" ou coisa do género.

Cheguei à faculdade bastante stressado e a equacionar esta coisa de ir todos os dias de bicicleta. Os portugueses ao volante são tão ignorantes como são agressivos. Começo a questionar as minhas hipóteses de sobrevivência a longo prazo nas actuais condições que Lisboa oferece.

7 comentários:

  1. É preciso calma e muita paciência. A bicicleta ainda é um ser meio invisível. Só mesmo "os números" nos darão a segurança. Depois, há dias assim, marados!
    Uma boa luz, num dia escuro pode ajudar...

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  2. Compreendo-te bem! Já por várias vezes que equacionei deixar os pedais em casa... mas fico sempre contente por não o fazer.
    É preciso muita paciência! Mas não desistas que um dia teremos a recompensa.

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  3. "From the darkest clouds, comes the purest drops of water", confucio? não estejas. Faz parte do trajecto. Ainda hoje tenho dificuldade em controlar alguma raiva, mas ganho tanto quando o faço!
    Abraço

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  4. por acaso sou um bocado contra essa afamada paciência e acho que uns pontapés nos carros são muito mais eficazes. Enfim, sempre evitando os danos em humanos (eu e eles)... abraço e Força!

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  5. Nunca experimentei, mas talvez esses famosos coletes fluorescentes/reflectores possam ajudar a tornar-nos menos invisíveis? E vê lá se a tua iluminação é mesmo boa para circular à noite: o objectivo não é tu veres o caminho (mesmo que a iluminação urbana não fosse excelente tenho a certeza de que conseguirias fazer o teu percurso) mas sim seres visto!

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  6. O problema não é a invisibilidade, mas sim a ignorância e o desprezo. O desconhecimento do código da estrada é grande, as pessoas pensam, em geral, que o ciclista NUNCA tem prioridade. Apesar da monstruosidade de código da estrada que temos, isso nem é verdade.

    Não há nada de errado com a minha iluminação nem penso andar por aí vestido de capitão-fluorescente.

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  7. Que todos tenhamos bem presente que a alteração de mentalidades, mas sobretudo de atitude, terá que ser imposta do topo para a base. Só com medidas limitadoras e repressivas será alguma vez possível domesticar os animais que povoam a selva que é a rodovia no nosso país.
    Isso acontecerá quando os senhores que ocupam as secretárias donde emanam os códigos da estrada e outros não sejam capazes de se deixar fotografar ao lado do troglodita do ACP quando este responsabiliza os mais fracos pelas acções dos mais fortes.
    Ora como são exactamente os selvagens a quem foi dada a possibilidade de guiarem que elegem os amigos (e os próprios) trogloditas, veja-se a dificuldade em que alguma coisa mude.
    Para não falar que ainda há uma sub-espécie de trogloditas que acham que pintar bicicletas nos passeios é garantia para continuar a sentar a sua proeminente barriga por detrás duma secretária com poder.
    A bicicleta é parte da solução tal como "nós", uma cambada de corajosos verdadeiramente heróicos, já descobrimos e provamos diariamente e advogamos fervorosamente. O ano de 2011 aproxima-se a passos largos cheio de prendas no sapatinho da austeridade. Podemos dizer que em 2011 há mais uns bons pontos percentuais a favor da mobilidade em duas rodas!
    Um ano novo bem pedalado e melhor vivido!

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