Do tempo em que os homens eram homens e Shimano SIS era material do bom |
Depois de terem lido que eu tenho usado uma ancestral bicicleta de estrada inglesa nas ruas de Londres, um dos meus dois assíduos leitores pode ter-se questionado sobre como será a experiência. Ou não. Seja como for, resolvi falar disso.
Nunca tinha andado numa bicicleta de estrada por mais do que uns minutos, por isso o tipo de bicicleta em si era uma novidade para mim. Tal como meter mudanças com shifters no quadro. Ou ter travões que na verdade não travam, só abrandam. Ligeiramente. Às vezes.
A blast from the past |
Nunca acreditei muito nas potencialidades utilitárias das bicicletas de estrada, com os seus quadros frágeis e componentes ultra leves. Excepto talvez as mais antigas, fininhas mas em aço, com maior tolerância para pneus largos, guarda-lamas, e outros extras práticos. O ciclismo veicular exige velocidades elevadas, para tentar acompanhar o trânsito motorizado e isso faz com que as bicicletas "rápidas" sejam especialmente desejadas por cá. E na prática, só há dois tipos de bicicletas rápidas: híbridas leves e bicicletas de estrada, em todas as suas variantes.
Park it like a boss! |
Aqui é muito fácil encontrar dispendiosos modelos em carbono amarrados a postes. É o que as pessoas usam para ir para o trabalho. Também há muitas empresas que têm balneários com chuveiros e isso faz com que os commuters possam ir vestidos de licra e suarem tudo o que quiserem a caminho do trabalho. Muitos chamam-lhe treino.
Uma impressionante percentagem destas bicicletas nem sequer têm guarda-lamas, numa cidade famosa pela sua pluviosidade. Justificadamente, devo dizer. Mas o que interessa mesmo é falar da experiência, como é rolar no meio do trânsito londrino numa bicicleta de estrada com 30 anos? É porreiro. Pá. É assustador ao princípio, quando se sabe que a bicicleta não trava nada de jeito, travões dos anos 80 têm dessas coisas, mas com o tempo vamos ganhando experiência e habituei-me a antecipar os problemas, para não ter que travar muito.
Toda a gente em Londres pedala rápido. Muito rápido. O trânsito motorizado, por sua vez, circula a um ritmo um bocadinho menos criminoso que em Lisboa. Uma bicicleta de estrada consegue acompanhar o trânsito urbano daqui com alguma facilidade, mas isso obriga a uma postura mais agressiva e a um ritmo forte. Se o percurso não for curto, é impossível chegar apresentável ao destino. A Raleigh é divertida de pilotar e suficientemente estável para inspirar confiança entre os mastodontes enlatados.
Não ter suspensão não é um problema tão grave como em Lisboa. Aqui as crateras são mais pequenas e não existem carris de electrizo. O aço absorve mais vibrações que o alumínio. E os pneus mais largos que instalei, 700x28, tornam a ride confortável quanto baste. E muito rápida. De resto, Londres é quase plana, pelo que as 12 mudanças chegam e sobram. Na prática não preciso de mais que duas ou três. A posição dos shifters antigos torna mais lenta a operação de trocar de relação de transmissão. Também neste capítulo se progrediu muito desde mil novecentos e oitenta e troca o passo. Mas como disse, as mudanças são quase desnecessárias, esta é uma cidade ideal para a simplicidade de uma single speed.
A qualquer interessado em saber mais sobre bicicletas de estrada old school, recomendo a leitura das palavras do mestre.
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