Lisboa, o Tejo e a bicicleta |
Tinha decidido aproveitar o feriado de quinta feira para fazer um reconhecimento aos novos troços de ciclovias em cima de passeios que a CML achou por bem colocar à nossa disposição. Combinei ir com uns amigos e sendo um deles "recém encartado" no manejo de velocípedes, acabamos por restringir a volta à ciclovia de Belém. Bom, ficou por fazer o tal reconhecimento, mas posso dizer que aprendi bastante com a experiência. Ver este percurso pelos olhos de uma pessoa inexperiente no manejo de uma bicicleta, permite tirar algumas conclusões que de outro modo não passariam de conjecturas.
Ah, o cycle chic |
Sendo um feriado, a ciclovia de Belém apresentava-se repleta de todos os seus elementos habituais: hordas de turistas, pescadores, crianças, grupos, bicicletas, triciclos, automóveis, contentores de lixo, tudo isto e muito mais se pode encontrar na ciclovia.
Diz que mede 7 km de extensão, este percurso ziguezaguante e retorcido que une a Torre de Belém a um beco no Cais do Sodré. Será certamente a ciclovia favorita da capital e o seu uso (e quase de certeza o seu intuito) é eminentemente lúdico. O facto de se ser obrigado a desmontar cada meia dúzia de metros e a existência de inúmeros cruzamentos sem qualquer sinalização, não parece preocupar as muitas pessoas que rumam a este percurso em dias de bom tempo. O primeiro problema que se apresenta a um ciclista inexperiente é mesmo esse: desviar-se de todos os outros ciclistas, peões, e obstáculos que povoam a ciclovia. Aqueles que consideram as ciclovias como percursos seguros para os novatos, deveriam ponderar este simples facto: um percurso seguro é um percurso que permita alguma liberdade de movimentos e possibilite que o ciclista se concentre em operar a máquina.
Ciclovias à moda de Lisboa |
Se o ciclista inexperiente conseguir evitar os turistas parados no meio do caminho a tirar fotografias, os canideos pela trela e os seus orgulhosos donos, os portugas de raça pura, que não sabem o que é uma ciclovia nem querem saber, os atletas de baixo rendimento, os carros que passam na ciclovia para acederem aos seus locais favoritos de estacionamento ilegal, e os Sandokans de fim de semana, sempre a velocidades impossíveis montados nas suas BSO's, terá ainda que lidar com outro tipo de perigo, um perigo que em vez de móvel é fixo, mas ainda assim bastante ameaçador.
Nunca emprestem a bicicleta a um bike ninja |
A infraestrutura em si oferece alguns potenciais dilemas aos menos experientes. Ao longo de tão poucos km, o piso desta ciclovia passa de betuminoso para empedrado várias vezes. Boa parte decorre simplesmente em cima do passeio, de calçada portuguesa. Pelo caminho há buracos, buraquinhos e buracões, carris longitudinais, desníveis da altura de um passeio e muitas mais diversões. Uma bicicleta de montanha lida bem com este pavimento, mas outros tipos de velocípedes não estarão nada à vontade.
Quero, posso e estaciono. Ciclo-quê?? |
Apesar de tudo, consegui "desligar" por momentos e simplesmente descontrair. A ritmos muito lentos, sem pressa e sem sítio onde ir, simplesmente desfrutando do Tejo, do Sol e dos amigos, a ciclovia faz sentido. Quem está de passeio não se importa tanto com todos estes problemas técnicos e de segurança. E a ciclovia conseguiu, na minha opinião, atrair mais pessoas para a zona. Como estrutura de lazer, como qualquer parque ou jardim, até funciona. Não será por acaso que a vereação que na CML se ocupa da ciclovias é a dos Jardins e Espaços Públicos e não a dos Transportes.
Mais uma moedinha, mais uma voltinha |
Mas se os Lisboetas apreciam novos espaços públicos de lazer, não me parece que isto acrescente algo em termos de mobilidade sustentável. Porque a ciclovia de Belém é como um cinema. Ou um ginásio. Vai-se lá de propósito e depois vai-se embora. A maioria não utiliza a bicicleta para chegar a este percurso. A CML tem uma visão muito particular do que pretende das suas "ciclovias".
Eu não sou um bike ninja! Tu é que és uma menina! :p
ResponderEliminarA minha âncora é mesmo gira!
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