segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Lisboa de Bicicleta de Estrada: uma Saga de Pneus Fininhos

Mayda, mayday, mayday! Perda de controle! Queda eminente! Ahhhh!!! (Crash!). Este poderia ser o relato de uma hipotética caixa negra da minha Raleigh após o pequeno incidente de Sexta. Escusam de ir já a correr doar sangue, sentem-se e acabem de ler primeiro, eu estou óptimo. Há quem ache que uma queda de bicicleta é uma coisa normal e expectável, mas não eu. Para compreender este episódio é pois necessário que rebobinemos a poeirenta cassete do tempo até à semana passada, quando...

Com a roda xpto

...Choviam cães e gatos, o que não me impedia de acelerar pela Avenida da Liberdade abaixo a velocidades escassamente legais. Pequenos riachos tinham-se formado na ciclo-faixa-coisa, pelo que eu evitava circular por lá. E o preço a pagar por andar no meio da faixa em Lisboa é ter que andar depressa. Era o que eu estava a fazer, mesmo que já estivesse encharcado até aos ossos. A aderência dos meus pneus baratongos Michelin 700x28 não parava de me surpreender. Nessa noite enfrentei todo o tipo de superfícies urbanas desafiantes, carris, tinta de sinais, empedrado de granito, lajes de pedra lisa, grelhas metálicas, tudo muito bem molhado, sem qualquer surpresa.

Apesar de ter a confirmação de que os meus pneus eram adequados ao uso invernoso, faltava-me um elemento fundamental para tornar a minha bicicleta de estrada realmente polivalente, cuja compra eu tinha atrasado tempo demais. Guarda lamas, pois claro. A maioria da água que me tinha encharcado tinha vindo das rodas, não do céu. Tendo em conta as restrições de espaço dos travões e do próprio quadro, estava certo de ter feito uma boa opção com uns SKS Bluemels 35 e bastante satisfeito com o seu aspecto uma vez montados, até que tentei girar a roda dianteira. Estava presa.

Por mais que eu fizesse ajustes, a roda não passava livremente na zona do apoio do travão. Gastei horas com aquilo, mas a conclusão era inevitável: devido ao desenho do garfo era impossível montar pneus 28 com guarda-lamas. Atrás o problema não existia e era possível manter o pneu "largo". Precisava portanto de uma solução para a frente, pelo que pensei que talvez um pneu mais anoréctico não fosse assim tão mau para um uso utilitário.  

Bonito, bom, barato é que não

Deitei mãos à obra, que é como quem diz, pedi à co-habitante uma roda de estrada com um dos pneus queques que ela usa para o triatlo, um Michelin Pro3 Race 700x23 e fui com ele para Lisboa. Em ambiente urbano e perante os problemas do costume, como o empedrado desalinhado e o asfalto em mau estado, notavam-se mais vibrações e pancadas que o Pro3 não conseguia absorver da forma a que eu estava acostumado. Por outro lado, a maior leveza do conjunto do Aro Mavic e pneu 23, e o tão badalado menor atrito do pneu fininho, tornavam a bicicleta um tudo nada mais rápida. Em termos de aderência não me podia queixar, parecia ser equivalente ao seu primo Michelin mais largo. O que era excelente.

Vade retro!

Cheguei então à brilhante conclusão de que seria possível e quem sabe divertido enfrentar as ruas da capital com um bom pneu 23 na roda da frente e o 28 na roda de trás, que afinal é a que suporta mais peso. Apesar de ficar com a frente mais instável, (ou ágil e rápida, como diria o pessoal que gosta das finhinhas de corrida), estava disposto a viver com isso e ficava assim com a questão dos guarda lamas resolvida. Devolvi a roda xpto à co-habitante e fui arranjar um pneu para mim. Depois de ler algumas reviews achei que um bom compromisso preço-qualidade seria o Hutchinson Equinox 2. E fui comprar um.

O tamanho importa!

Sexta-feira tinha feito os últimos ajustes e estava certo de ter um setup fiável e funcional. Estava a chover outra vez e a estrada estava molhada, o cenário perfeito para testar o funcionamento do novo pneu e dos guarda-lamas. Acontece que menos de quilómetro e meio após sair de casa eu estava a sofrer de síndrome papal, estava literalmente a beijar o chão. Ao passar de uma zona de asfalto para uma de empedrado, um ligeiro rebordo molhado que tinha que subir fez escorregar irremediavelmente a roda da frente. Sou cuidadoso ao ponto da paranóia e estava alerta para essa possibilidade, mas mesmo assim fui ao tapete. O pneu da frente tinha pressão bem abaixo da recomendada, mas de nada serviu. Estava, como de costume, uma carro atrás de mim a fazer má vizinhança, mas felizmente passou ao largo, sem dúvida a caminho de contar lá em casa como "isso das bicicletes é mesmo perigoso".

Lado a lado: Equinox2 700x23; PRO3 Race 700x23 e Dynamic Sport 700x28

A minha falta de jeito para o BTT tem pelo menos o mérito de me ter feito ganhar experiência em quedas. Agora sou perito em cair sem me aleijar, e foi o caso. Só o ego e a manete do travão saíram magoados. Mas o Equinox 2 foi logo posto de lado, para derreter no rolo, e precisava portanto de uma solução alternativa. Após estudar várias possibilidades, acabei por simplesmente me atirar ao garfo com uma velha lima enferrujada e só parei quando havia espaço para colocar o guarda-lamas e o pneu Michelin 28. Foram só uns milímetros numa zona invisível, pelo que não penso ter comprometido nem a segurança nem a estética. Problema resolvido. Venha o próximo.

7 comentários:

  1. Provavelmente o 700x25 será o melhor compromisso para calçar uma estradista urbana. Optei por essa medida para equipar a minha Cosmos (ainda sem os guarda lamas que pretendo colocar) com uns Michelin Dynamic classicos, até ver confortáveis e seguros no piso molhado.

    ResponderEliminar
  2. Mais um post que dá gosto ler, Bessa.
    Como sabes sou leigo na matéria, mas olhando para o desenho slick de cada uma dessas propostas,custa acreditar que alguma delas possa ter um desempenho razoável em molhado.
    Acho que me convém dar atenção ao assunto antes que os dissabores me assaltem...
    Não há pneus de chuva ou mistos ?

    Abraço,
    Vasco

    ResponderEliminar
  3. Paulo: eu pensei em Pneus 25, mas infelizmente são uma espécie em vias de extinção, mais difíceis de encontrar que um unicórnio cor de rosa! Os que vi não me agradaram...

    Vasco, as bicicletas e sobretudo as bicicletas de estrada dificilmente sofrem de aquaplaning, por duas razões:

    1) A superfície de contacto do pneu é muito pequena e exerce muita pressão sobre o asfalto.

    2) O perfil frontal é redondo e permite que a água saía pelos lados, ao contrário de um pneu de automóvel, onde o perfil é quadrado e "aprisiona" a água na zona frontal.

    Há na net quadros que permitem calcular a velocidade a que um pneu pode sofrer de aquaplaning e para os pneus de bicicleta é bem acima dos 100 km/h...

    É claro que os pneus têm menos aderência no molhado, mas a solução para isso é colocar mais borracha no inverno, ou seja, pneus mais largos (e bons!).

    Pneus com canais de escoamento de água não são necessários e os pneus que têm padrões ajudam a rolar em pisos irregulares e soltos, não em asfalto. Podem ser úteis numa zona com areia ou assim, mas um slick também se safa se tivermos cuidado. Recomendo-te a leitura da Bíblia:

    http://sheldonbrown.com/tires.html

    Um abraço e boas pedaladas!
    Bessa

    ResponderEliminar
  4. Fiquei esclarecido, Bessa. Thanks !
    Ainda não experimentei a fininha com dilúvios.
    Gostei da bíblia. :)

    Abraço,
    Vasco

    ResponderEliminar
  5. Eu na minha uso os originais que vinham com ela (700x23) e tenho me safo ainda só apanhei dois sustos: a descer a conde redondo por causa dos carris do electrico ( não volto a andar por ali e não aconselho pelo menos a descer) e em entrecampos vindo da av roma sobre uma tampa de esgoto ao virar á direita p o campo grande mas aí foi o excesso de veloc :), de qualquer modo a aderencia dos pneus tem me surpreendido tendo em conta que são marca branca ( decathlon).
    Outra situação que considero perigosa e que o Bessa já relatou por aqui é o sobe e desce dos passeios: a roda traseira tende a perder aderencia se não subir completamente perpendicular ao mesmo .Se calhar no verão, e se o quadro o permitir, tento montar uns de estrada para ganhar uns minutos ( e talvez uns furos eheheh)

    Boas pedaladas

    ResponderEliminar
  6. A usar pneus diferentes atrás e à frente, o ideal seria usar o pneu mais largo à frente e não atrás.

    Está tudo explicado aqui (num contexto de bicicletas de BTT, mas também se aplica a bicicletas de estrada:

    http://www.forumbtt.net/showthread.php?11690-Tutorial-Escolha-de-Pneus

    ResponderEliminar
  7. Conheço essa opinião, que é isso mesmo, uma opinião. É bom recordar que a bicicleta de estrada não tem suspensão na frente, como têm a maioria dos modelos de BTT, e não beneficia do amortecimento adicional garantido pelos pneus de grande volume. Como o pneu traseiro suporta cerca de dois terços do peso total em qualquer momento, é boa ideia que tenha algum volume, dentro do possível em pneus anorécticos.

    Conhecidos os prós e contras, cada um deve escolher aquilo que lhe seja mais confortável. Eu voltei a usar medidas idênticas à frente e atrás.

    Um abraço e boas pedaladas.
    Bessa

    ResponderEliminar