Like!! |
Já abriram a vossa loja de nicho? Aquela que só vende quadros de pista retro, específicos para senhora, em titânio com escoras em madeira de mogno, que está mesmo a fazer falta à ciclista urbana lisboeta? Ou o bike-café da moda, ponto de encontro no centro de Lisboa para os
Lembro-me de estar sentado na Bike Boutique, com um latte fumegante à minha frente, a trocar ideias com os donos da pequena loja do Norte de Londres. Enquanto eles falavam dos seus projectos com bicicletas clássicas e ideias de negócio para a capital britânica, eu tive que lhes explicar que em Lisboa não se passava nada semelhante. Não havia nenhum bike-boom, não havia espaço para lojas de nicho de mercado, e que o mercado das bicicletas utilitárias mal existia. Se fosse hoje não diria a mesma coisa.
LentoRápidoBicicletas |
Nos últimos tempos a rebolução parece ter acelerado. Claro que os carros ainda dominam as estradas, as pessoas ainda olham de lado para um adulto vestido de roupa normal a andar de bicicleta, mas lentamente há mudanças que se tornam visíveis nas ruas da capital. E não estou a falar de ciclovias. São lojas de bicicletas focadas numa clientela utilitária, em pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte.
O negócio das bicicletas, e refiro-me ao retalho, vinha experimentado uma fabulosa década de crescimento, senão mais, que viu o país encher-se destes estabelecimentos comerciais onde se promovia uma certa visão elitista do ciclismo, sobretudo do BTT. Ir a uma destas lojas à procura de componentes baratos ou bicicletas utilitárias era expor-se ao ridículo e à chacota mal disfarçada de proprietários e funcionários.
Estes comerciantes e o clima que se construiu à sua volta conseguiram por algum tempo impor a ideia que qualquer bicicleta abaixo de mil euros não servia para nada e iria auto destruir-se em menos de uma semana de utilização. Ou que andar dez metros de bicicleta sem estar devidamente protegido por um capacete e luvas de marca resultaria em morte imediata. O termo jocoso "bicicleta de passeio" impôs-se sobre qualquer modelo que não fosse de BTT à séria ou de estrada, as únicas modalidades tidas como legítimas, sendo que mesmo assim durante anos muita da tribo do BTT desprezava os "licras asfálticos", vistos como um anacronismo, coisa para velhos saudosos da Volta a Portugal dos anos 80.
Será Cycle Chic? |
Hoje as coisas estão diferente, e muita gente tem vindo a arriscar, numa conjuntura incrivelmente difícil, abrir um negócio de bicicletas que visasse um público mais interessado nas questões da mobilidade urbana do que no desporto. Ainda são a minoria, mas uma minoria em crescimento, em claro contra-ciclo com outras muitas áreas da economia num Portugal falido e psicologicamente de rastros.
No espaço de poucos anos passamos a ter por cá coisas tão impensáveis como um importador da Bromptom, bastante activo, vimos surgir marcas de bicicletas nacionais novas, lojas dedicadas aos ciclista urbano com gosto pelo requinte, sites de venda online, oficinas de restauro, empresas de estafetas, jornais e revistas.
A visibilidade conseguida nos meios de comunicação social também não para de aumentar, ainda hoje passou mais uma reportagem na RTP sobre a emergência do ciclista urbano e dos negócios sobre rodas. Este facto é importante para quem tem dinheiro investido em actividades ligadas ao pedal, e têm obrigado alguns retalhistas tradicionais do desporto-crabono a tratar decentemente a nova clientela que quer as tais "bicicletas de passeio".
O original |
É difícil imaginar um tempo em que não havia um Cenas a Pedal, nem um Lisboa Bike Tour, em que os transportes públicos proibiam ou cobravam pelo transporte de bicicletas, em que não havia ciclovias nem legislação adequada para o ciclista da capital... Oops, espera lá, na verdade ciclovias só há aquelas coisas perigosas pintadas em cima do passeio, que obrigam a andar quase sempre desmontado, e as alterações ao código da estrada ainda não passaram da declaração de (boas)intenções.
Mesmo assim é possível olhar para trás e ver o caminho percorrido. Não admira que tantos entusiastas da bicicleta tenham decidido fazer da causa o seu modo de vida, o seu ganha pão. O ciclista lisboeta tem hoje escolha que começa numa Órbita dos Armazens Airaf e pode ir até uma Velorbis da Velo Culture, para dar só um exemplo. Pode ler o Jornal Pedal numa pausa do trabalho, ou escolher um dos muitos blogues que como este, dissecam a cycle scene.
O ciclista urbano cá do burgo pode ir ao Bicycle Film Festival esta semana, participar em discussões no Fórum das Dobráveis, tomar um café enquanto lhe montam um acessório na bicicleta no Velocité Café e encomendar via esperto-fone umas peças novas para a fixie, no Roda Gira. Pode mandar entregar rosas à amada (ou à amante) via Camisola Amarela e inscrever-se num dos muitos passeios da Federação de Cicloturismo ou do Cycle Chic.
A continuar assim, o Reichfürer Barbosa ainda se candidata é à presidência da FPCUB.
a RodaGira não é somente uma loja online é também uma loja física situação na R da Misericórdia N14 Espaço Chiado Loja 32 1200-273 Lisboa
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecimento! A Rebolução não para : )
ResponderEliminarDescobri hoje este seu blog por causa de um outro que já teve de scooters. E gostei da "ebolução" :). Eu ainda estou na fase de vir a passar para a scooter, os 60 km que me separam do trabalho (30+30) ainda me impedem de usar a bicicleta, mas admiro muito todos aqueles que com a sua "roupa normal" têm a coragem de enfrentar o trânsito e o (ainda) todo poderoso automóvel, especialmente na cidade onde trabalho, o Porto. A todos esses elementos desta necessária Rebolução o meu mais sincero bem haja!!
ResponderEliminarEncontrei finalmente através do vosso post o representante em Portugal dos capacetes Dinamarqueses YAKKAY (www.armazemb.com).
ResponderEliminarSe outrora tivemos uma revolução industrial, assistimos agora a uma revolução "a pedal" ! A mudança de mentalidade aliada à conjuntura actual tem certamente contribuido para a utilização cada vez mais frequente da bicicleta em ambiente urbano.
Obrigado e continuação de umas boas pedaladas!