Fala com Ela! |
Mesmo no pino do inverno, a Bicicleta continua a cavalgar a onda mediática, qual McNamara nas águas do Canhão da Nazaré. Assim não admira que um Espanhol tenha ido ao Polo Sul de bicicleta, que haja uma saturação de bicicletas nas montras das lojas que ainda não faliram, na publicidade nas revistas que ainda não fecharam e na toda poderosa televisão, mesmo em anúncios de carros que não vendem.
Mas podem recorrer ao imaginário da bicicleta em mil campanhas de marketing, que não é isso que vai criar uma cultura que favoreça o seu uso generalizado e as vantagens que daí advém. Felizmente existe uma cultura da bicicleta a criar raízes entre nós, e as provas estão por todo o lado. De repente já não é só nos blogues estrangeiros que encontramos malta a vestir-se de uma certa maneira e a rolar num determinado tipo de biclas. São as Peugeot restauradas, as fixies, os bonés da praxe e tudo mais a dar o seu colorido à velha Olissipo.
Tudo isto é fixe, porque por cada hipster e freak hard core da "scene" das bicicletas, há de haver uns quantos utilizadores absolutamente normais, esses que um dia tornarão banal o uso da bicicleta como meio de transporte na cidade. A banalidade é muito pouco valorizada entre nós, mas acho que é para lá que devíamos caminhar. Sonho com o dia em que seja banal ir às compras de bicicleta. A Grande Marmota assim o permita.
Podem ouvir a "TSF Bikes" em podcast |
Enquanto não chegamos lá, a bicicleta continua a somar pontos na exposição mediática. Na rádio, por exemplo, essa presença tem vindo a tornar-se cada vez mais notória. Em Janeiro a TSF deu início à transmissão do programa "TSF Bikes". Todas as quintas feiras, promete-se "estudar as bicicletas de uma ponta a outra. Tudo o que há a saber sobre elas vai ser partilhado em antena. Novidades, o que fazer e ter em conta para comprar uma bicicleta, opiniões de todos os que estão ligados a esta modalidade (...)"
Tenho escutado as emissões, que duram 12 a 15 minutos. Aquilo é realmente uma mistura de conselhos práticos, histórias e a história da bicicleta. Peca por recorrer a alguns lugares comuns e trocadilhos fáceis, mas acho que é um espaço com mérito. A verdade é que nenhuma outra rádio dedica tanto tempo à nossa realidade. Mas outros têm metido a colher: Laura Alves, co-autora do celebrado "A Gloriosa Bicicleta", deu uma entrevista à Radar, em Dezembro. Nesse memorável diálogo, a que só recentemente tive acesso, a jornalista e escritora fala da sua Felizbina, dos problemas com a malta do "estamos a trabalhar", do dia-a-dia em Lisboa e muito mais. É uma conversa deliciosa, que nós faz acreditar que ainda há pessoas inteligentes e com as ideias bem ordenadas no nosso Portugal dos pequeninos.
Hem?? |
Por fim, há por aí malta satisfeita com a obra megalómana do viaduto ciclo-pedonal da 2ª circular. Eu suponho que devia agradecer à Grande Marmota que se gaste ali o dinheiro em vez de em mais uma autoestrada urbana, mas não deixa de ser irónico que também com a mobilidade dos modos suaves se cometam os mesmos erros que com os popós. Quer dizer, não seria bem mais barato tomar mediadas para reduzir o trânsito automóvel e limitar a sua velocidade? E, sei lá, criar pontos de estacionamento seguros para bicicletas? Mas não, a aposta é, agora e sempre, em mais betão. Ciclovias novas, pontes novas, tudo à grande. Não temos cheta, mas a solução para tudo é sempre a "obra".
Há outras infraestruturas do género em Lisboa que têm muito pouco uso, justamente porque não se adequam aos trajectos casa-trabalho e estão mais ligados a uma lógica de lazer que parece perpetuar-se no ideário da CML. A suprema ironia e a prova definitiva de que a realidade supera sempre a ficção, é o facto de o viaduto da 2ª Circular ser financiado com dinheiro de uma petrolífera, que já antes patrocinara troços de ciclovias e outras ciclo-coisas lisboetas. Obrigado Fundação Galp! Há quem lhe chame "greenwhashing", eu acho que é só esquisito.
Caro Bessa, numa das habituais pesquisas no Google para ver o que se anda a falar sobre A Gloriosa, vim parar ao seu blogue. Muito obrigada pelas suas palavras. É um gosto enorme para mim saber que o livro e as minhas tão modestas palavras fazem alguma diferença, nem que seja pela promoção da banalidade (que sim, deveria ser mais valorizada!). Um abraço! :)
ResponderEliminarAcho esta ponte uma boa ideia. A 2ª circular entre o Campo Grande e Benfica só tinha uma passagem pedonal.
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