segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Terceira Via


Numa ciclovia no passeio e sem capacete? Cadeia com eles!!!


Há o estado comunista, o estado capitalista e há o estado a que chegámos. A célebre frase atribuída a Salgueiro Maia serve de mote, não para uma dissertação sobre o nível de desgoverno a que o país chegou, mas para falar de ciclovias. (Cá vamos nós outra vez...)

Cada um é como cada qual. Uns gostam de pedalar de roupa desportiva e outros de fato, se uns defendem bicicletas leves e modernas, cheias de comodidades e tecnologias, outros preferem bicicletas clássicas e dão muita importância ao visual, outros ainda usam a bicicleta mais barata que puderem. Uns tiram fotografias, uns quantos têm blogues, outros não. Alguns pedalam ao fim de semana, outros todos os dias, outros quando calha. Uns andam na rua, outros na ciclovia, outros na praia e no passeio marítimo, alguns andam porque querem, outros porque são ecologistas, vários porque são economistas e uns quantos porque não têm dinheiro para outro meio de transporte individual: Who cares?! Cada um faz o que bem entende e a diversidade é uma coisa muito bonita.

Já no que toca à opinião expressa sobre o tema "ciclovias", a diminuta comunidade lusa do ciclismo utilitário também apresenta uma miríade de ideias diferentes, e isso já não será tão bom. Somos muito poucos, a viver num país de viciados em automóveis, muito agressivos, que monopolizam todas as vias, todos os recursos e todos os espaços para as suas máquinas. A falta de união em relação a este tema parece-me trágica. As opiniões costumam, generalizando um pouco, dividir-se em apenas duas:

  • Ciclovias não! Porquê? Porque temos direito a andar na estrada, mesmo o nosso ditatorial código da estrada o prevê. Porque as ciclovias são perigosas, os seus percursos estão cheios de interrupções e cruzamentos, tudo sempre mal sinalizado. Andar na ciclovia é mais lento, e coloca-nos em conflito com os peões, pois muitas foram feitas às custas dos já escassos passeios. Andar na ciclovia reforça nos automobilistas a ideia que não devemos circular na estrada e que as bicicletas são brinquedos, veículos lúdicos, impraticáveis para um uso utilitário.

  • Ciclovias sim! Porquê? Porque já não era sem tempo que se investisse dinheiro público no ciclismo. Lembram aos demais cidadãos que os ciclistas também têm direitos. Porque tornam os trajectos mais seguros e tranquilos, sem ter que estar sempre pendente dos automobilistas loucos. As ciclovias permitem circular mais devagar, em grupo e com crianças ou idosos. Porque são a única forma de se poder circular de bicicleta nalgumas zonas das cidades, nomeadamente ao lado de vias rápidas. Porque as ciclovias atraem novos ciclistas, que nunca se aventurariam na estrada.

E então, em que é que ficamos? Sinto que estou a pregar o pai nosso ao vigário, mas este assunto é importante. Quem critica ferozmente as ciclovias, mesmo que não seja adepto do vehicular cycling, não pode negar que sem elas, uma larga fatia de pessoas nunca se aventuraria de bicicleta na rua. E todos concordamos que o maior número de utilizadores da bicicleta traz mais segurança, para todos (até para os enlatados).

E quem adora ciclovias também sabe bem que elas realmente muitas vezes roubam espaço nos passeios e apresentam, em geral e por todo o país, condições técnicas e de segurança horrendas. Em suma, temos os que querem mexer na legislação, no código da estrada, nos limites de velocidade em meios urbanos, de modo a defender melhor o ciclista que circula na estrada. E temos os que querem mexer na infraestrutura, construir mais ciclovias, interligadas para formar uma rede vasta que seja pratica e segura de utilizar.

Então e o que é que eu quero afinal? Eu sou uma espécie de movimento dos não alinhados de uma pessoa só! Eu quero tudo. Acho humilhante andarmos a discutir por migalhas atiradas para o chão, enquanto outros ficam com o bolo todo. É claro que sou a favor de baixar os limites de velocidade em meio urbano, sou a favor de mexer no código da estrada de modo a obrigar a distancias fixas de segurança por parte dos enlatados, penalizar sempre o veículo motorizado em colisões com velocipedes e dar ao ciclista os mesmos direitos de prioridade em todas as circunstâncias. E sou a favor de infraestruturas próprias, as ciclovias, todas as cidades do mundo com uma taxa de utilização elevada da bicicleta as têm, porque será?

Em Lisboa uso as ruas, as estradas e as ciclovias. Tanto me apanham no Marques de Pombal, na rotunda e de noite se for preciso, como me apanham na (estúpida) ciclovia de Belém. Paro nos semáforos, nos "stop's" e respeito as regras de prioridade, mas nunca me intimido de circular por onde tenho direito a passar. Ser visto a circular é a coisa mais importante, seja em que cenário for, desde que seja legal. As ciclovias têm que melhorar? Sim, muito. A legislação têm que melhorar? Com certeza. Mas tudo faz parte do mesmo pacote.

2 comentários:

  1. Apesar do direito a circular na estrada, o desenvolvimento de ciclovias é importante. Ainda que em bom estado, há pavimento em alcatrão que provoca muito atrito aos pneus de uma bicicleta híbrida ou de estrada, aumentando o esforço do percurso. Isto é importante para quem usa a bicleta como meio de transporte, porque o atrito mínimo de uma ciclovia potencia a velocidade e a menor resistência ao rolamento, permitindo uma viagem mais calma. Por outro lado, ainda que com respeito na via pública, acho tranquilizador não ir com um carro atrás.
    Também concordo com a imputação de responsabilidade civil ou criminal objectiva nas colisões com bicicletas.
    No entanto, acho que migalhas ou não, pequenos incrementos têm a sua importância: por cada ciclista (quotidiano/commuter) que uma ciclovia ou uma qualquer medida insignificante chamar ou fizer não desistir, sem dúvida que aumentará a possibilidade de sermos muitos mais - e aí já não haverá como não ligar à existência de bicicletas na estrada.

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  2. sou mais pró ciclovias que contra. o meu argumento é que se houver mais ciclistas vai haver um obrigatório 'transbordar' de bicicletas também para a estrada porque nem todos moramos ao lado de uma.
    mas o que me levou a comentar foi a 'legalidade' das nossas escolhas que consideras fundamental. Eu acho importante transgredir as regras feitas para os carros. acho-o porque as bicicletas são veículos lentos e leves que permitem subir uns passeios para atalhar caminho na rotunda do marques ou na praça do comercio mas também são velozes o suficiente para descer a av da liberdade no meio da faixa de rodagem para aumentar a visibilidade e obrigar a uma ultrapassagem correcta. Eu pessoalmente até faço pequenos trajectos em contra mão; com luz e bem chegado à berma para poupar trajectos absurdos em bicicleta. Para mim a bicicleta e o peão têm de estar em todo o lado e voltar a conquistar a prioridade que perderam para as máquinas assassinas... mas é só mais uma opinião ;-)

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