Mas para isso estou cá eu. Sem mais demoras, das montanhas do Isaltinistão para o mundo, eis os mais importantes ciclo-aconteceimentos de 2013. Um ano que começou assim:
Um milhar em todo o país? |
Num sábado tempestuoso, em que foram emitidos alertas meteorológicos que recomendavam justamente às pessoas que não saíssem de casa, as televisões tinham outras coisas que noticiar. Mesmo assim não faltaram esforços para difundir um evento de nível nacional, que acabou por ter pouca adesão mas bastante divulgação. O Markl explica do que se tratava:
A aparente falta de adesão na altura chegou a ser criticada. Estava no entanto dado o mote para um ano extremamente mediático para a bicicleta no nosso país. Enquanto dezenas de milhares de portugueses fugiam à crise galopante e abandonavam este Portugal esquecido pela Grande Marmota que está no Céu, alguns para se instalarem em autênticos paraísos da bicicleta, por cá a luta continuava. Ainda que muitas vezes sobre o signo da excentricidade, a bicicleta ocupava cada vez mais espaço nos jornais, revistas e televisões.
Ainda no início do ano, entrevista com o director da FPCUB na RTP 2:
Hugo Sabido e Rui Sousa na RTP 2:
Além da mensagem mais institucional de organizações e ciclistas famosos, as TV's mostraram interesse, a uma escala nunca vista, por aqueles "maluquinhos" que trocaram o carro pela bicicleta na sua vida diária.
No Porto:
Ou em Lisboa:
São só alguns exemplos, porque em 2013 a bicicleta esteve definitivamente na moda, aparecendo cada vez mais em público não só em noticias como em campanhas de marketing e publicidade, ou mesmo como objecto decorativo. Em paralelo com tudo isto, era possível visualizar, nas ruas de Lisboa, um aumento significativo dos utilizadores de bicicleta. Não há estatísticas nem cálculos decentes que permitam estimar o número de ciclistas urbanos entre nós, mas tudo parece indicar, pelo menos a olhómetro, que têm vindo a aumentar substancialmente.
O culminar aparente desta dinâmica de crescimento real e mediático no uso e defesa da bicicleta como meio de transporte foi a aprovação, a meio do ano, de alterações ao código da estrada que contemplam algumas novidades interessantes para os ciclistas. Como nunca é demais recordar, as principais alterações são:
- Obrigatoriedade dos veículos motorizados deixarem um espaço lateral de 1,5m na ultrapassagem a velocípedes, abrandando também a velocidade.
- Equiparação dos velocípedes, para fins de definição de prioridade, a qualquer outro veículo nos cruzamentos não sinalizados.
- Quando autorizado pelos municípios, os velocípedes poderão circular em faixas BUS.
- Permissão de circulação nos passeios para crianças até aos 10 anos
- Obrigatoriedade de cedência de passagem aos velocípedes quando atravessam as passagens especiais assinaladas para estes.
- Fim da obrigatoriedade de circular o mais à direita possível da via.
- Fim da obrigatoriedade de circular na ciclovia.
- Fim da proibição de circular a par.
O decreto de lei que aprova esta coisa toda entra em vigor daqui a menos de 24 horas, a 1 de Janeiro de 2014. Há toda uma série de razões, históricas e sociais, para questionar a possível eficácia destas alterações. Mas deixemos isso para depois. Não menosprezemos o facto de que se tratou mesmo de uma grande vitória. O resultado do esforço e contributo de inúmeras pessoas e uma marco incontornável na caminhada para o que eu chamaria de normalidade no uso da bicicleta como meio de transporte. Ponto.
A novidade de 2012 morreu em 2013 |
Em Lisboa, aparentemente por causa das reclamações de ciclistas e de automobilistas, a Câmara de Lisboa recuou nas polémicas alterações à circulação na Av. da Liberdade, e os ciclistas voltaram a poder usar as laterais da avenida. Infelizmente isso implica circular aos ziguezagues, e fazer mais quilómetros e paragens que o necessário, mas a velha CML prosseguiu em 2013 com a sua táctica habitual de dar um passo para a frente e dois passos para trás, no que aos modos suaves diz respeito.
Imagem: Público |
Com a reeleição de António Costa, as coisas não devem mudar, provavelmente podemos continuar a contar com ciclovias decorativas e a tradicional falta de coragem para eliminar faixas de rodagem, reduzir os espaço de estacionamento público em excesso, acabar com o estacionamento selvagem, baixar os limites de velocidade, fiscalizar os muitos abusos rodoviários, etc. Nada tenho contra o António Costa, se calhar até era o candidato a Lisboa mais pró-modos-mais-ou-menos-suaves, mas isso diz alguma coisa do nosso complicado panorama político.
Também em 2013, onde há ciclovias há polémica |
Mesmo assim, tivemos direito a mais ciclovias lisboetas em 2013. E mais estão, aparentemente, na forja. Nesse capítulo 2013 foi uma ano de mais do mesmo: mais obra e mais polémica também. As coisas vão andando, só não se sabe se é para a frente.
Rui Costa emocionado |
Quem sabe para onde vai é outro Costa, e outro acontecimento incontornável de 2013: a vitória nos campeonatos do mundo de estrada de um rapaz promessa do ciclismo português, que tive o prazer de conhecer e fotografar certo dia na Povoa do Varzim. A magnitude da coisa escapou um pouco ao país devoto do futebol, mas mesmo assim o triunfo de Rui Costa em Florença dificilmente podia ser ignorado. Foi um ano muito especial para o português, que sumou ainda várias outras vitórias "menores", como duas etapas da Volta à França, e acabou premiado atleta do ano, à frente do colosso Cristiano Osvaldo. Coisa pouca.
E muito mais aconteceu em 2013. A velha raposa matreira Lance-Macho-Alfa-Armstrong foi finalmente obrigado a confessar os seus pecados, coisa que fez sem perder a sua lendária arrogância e sobranceria. A UCI parece continuar cheia da podres, mas até ao momento conseguiram sobreviver ao escândalo e tratam de convencer o público que as mesmas pessoas que estiveram na cama com o Armstrong (espero que não literalmente) gerem agora um desporto limpinho.
"Tipo, menti e coiso. Mas vamos falar do MEU futuro" |
Em 2013, apesar da crise, continuaram os eventos de bicicleta (menos o Bike Tour), as maratonas BTT, passeios Chic, festivais de cinema, etc. Também é cada vez mais fácil comprar uma bicicleta utilitária, não só há mais lojas vocacionadas também para o ciclista urbano, como as já existentes parecem ter acordado para este novo mercado de utilizadores (em vez de gozarem com eles).
"EP diz NÃO!" |
Há outras lutas que foram adiadas, como a travessia ciclo-pedonal da Ponte 25 de Abril, uma possibilidade rejeitada liminarmente pela Estradas de Portugal. Ou a implementação da eternamente adiada rede de Bicicletas Partilhadas de Lisboa. Diz que algo está para breve.
E muito mais aconteceu em 2013, pelo que muito mais haveria a dizer. Mas não temos tempo. Deixo-vos com um último acontecimento feliz de 2013, mesmo que a maioria dos eleitores de Oeiras aparentemente não concordem. Um feliz e prospero 2014 para todos, com muita pedalada!
"O Vistas avisou-me para não deixar cair o sabonete" |
Foi realmente um ano brutal, obrigado por nos recordares de tudo isto!!! E 2014 vai ser ainda mais fabulástico, não só mas também pelo esperado encerramento do ano, com a famosa Passagem de Ano em Bicicleta a 31/Dez/2014! Boas pedaladas!
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