quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Rápidos e Furiosos. Mas a Grande Marmota Tudo Perdoa. Porque Ela Ama Você!



Depois de ver toda a gente que eu conheço ficar de cama com gripes, constipações e derivados, tendo eu próprio apanhado algumas molhas, parece que a coisa acalmou. Espero que tenham conseguido escapar aos tornados, vagas gigantes e tenham estacionado o enlatado longe da costa. Se não conseguiram, portem-se melhor este ano. Sim, que a mim bem me podem vir com explicações pseudo-científicas de alterações climáticas e sei lá mais o quê, quando é óbvio que tudo isto não passa de um merecido castigo da Grande Marmota que Está no Céu.

E falando no divino, como anda a relação com as vacas sagradas, agora que já passou uma semana desde a entrada em vigor do revolucionário novo código da estrada? O código que segundo alguns críticos dá "direitos excessivos" aos ciclistas, (como o direito a respirar, por exemplo), será que tem feito alguma diferença?

Pela minha experiência, não.

Nada.   

Mas, sim, claro, pode ser demasiado cedo para estar a tirar conclusões do sucesso ou insucesso das novas medidas. Só que a mim pagam-me é para especular e é isso que tenciono fazer. Reparem, o problema é que Portugal e outros países da bacia do mediterrâneo, a última vez que foram considerados exemplos de civilização, era este gajo que estava no poder:

"Também tu, Barbosa?"

Nas décadas mais recentes (ou, vá, séculos), aqui no Sul da Europa, há um enorme desfasamento entre o aquilo que é a lei e a realidade vivida no terreno. Que eu saiba já era proibido circular a mais de 50 km/h nas localidades, conduzir e falar ao telemóvel ao mesmo tempo ou estacionar em cima do passeio. Tudo coisas que fazem parte do dia a dia de qualquer Lisboeta, sem que isso pareça incomodar minimamente as autoridades que é suposto controlarem esses abusos. 


"Onde é que quer que eu deixe o carro?!"

Caso o temperamento dos Portugueses fosse outro, provavelmente o anterior código da estrada já serviria perfeitamente para compatibilizar a bicicleta com o resto do tráfego (Ok, faltavam uns conceitos e uns sinais, mas ninguém é perfeito!). Já era obrigatório, por exemplo, guardar uma "distância lateral de segurança" ao ultrapassar outro veículo. E a bicicleta já era considerada oficial, legislativa e filosoficamente um veículo. Chama-se "velocípede". Podem ir verificar. Mas como a maioria dos condutores parecia considerar um par de milímetros uma distância de segurança mais do que suficiente para ultrapassar um ciclista, foi preciso deixar por escrito, preto no branco, quantos milímetros de separação devem deixar. E são mil e quinhentos, metro e meio, ok?!

Agora que os portugueses não podem fingir que não percebem a lei, estão aparentemente a adoptar outra técnica muito usada por cá nestes casos: ignorá-la por completo. E não acho que os motoristas tenham alguma coisa de especial contra as bicicletas, aliás, basta ver como tratam os peões, os motociclistas e uns aos outros!

O paradigma existente e a nova legislação fazem-me lembrar um sketch dos GF sobre o aborto. Era só mudar um pouco as questões:

Entrevistadora: Ultrapassar um ciclista à queima-roupa é estar a brincar com a vida e integridade física das outras pessoas, não é?
Professor: Sim.
Entrevistadora: Portanto, devia ser proibido.
Professor: Exacto.
Entrevistadora: Mas eu poderia ultrapassar dessa maneira?
Professor: Podia.
Entrevistadora: E o que é que me acontecia?
Professor: Nada.
Entrevistadora: Mas estava a ir contra a lei.
Professor: Estava.
Entrevistadora: E como é que a lei me punia?
Professor: De maneira nenhuma.

No seu habitat natural, o cidadão português é uma criatura normalíssima, mas que sofre uma mutação tipo Hulk quando as suas mãos tocam num volante. Na sua mente em delírio, uma deslocação quotidiana para o trabalho parece-se com isto:




Quando na verdade o que está realmente a acontecer é algo parecido com isto:  


"São só 700 horas por ano!"

Quem explica muito bem este fenómeno, e o porquê de eu não esperar grandes diferenças no respeito pelos ciclistas na via pública, após a entrada em vigor do novo código da estrada, é o Rui Zink. Ele têm umas "opiniões um pouco fortes", expressão que costuma ser-me dirigida também a mim, pelo que como imaginam, concordo totalmente com ele! É que quando um comportamento desviante passa a ser a norma, quem o denuncia é que está a incorrer num desvio. Mas estou a divagar. Oiçam o Zink, é daquelas coisas que vale mesmo a pena.



Poucos parecem ter a coragem de chamar os bois (ou as vacas sagradas) pelos nomes. Sociopatas é de facto apropriado. Um amigo meu Inglês descreveu a realidade rodoviária que encontrou por cá com outra expressão simples e brilhante: bullying. Mas não se preocupem, porque afinal estamos num país católico, e no fim tudo será perdoado. Mesmo na minha religião, no fim, a Grande Marmota perdoará sempre os arrependidos.

Gordo, molhado, mas feliz!

Se calhar foi por isso que comi como um alarve nesta quadra festiva, como vós infiéis a designais, e só tive consciência disso quando peguei na bicicleta de montanha e me pareceu que estava sempre na mudança errada, sempre numa mudança demasiado pesada.

Raízes molhadas: M-e-d-o

Outra coisa que reparei é que se passar muito tempo sem fazer um bocadinho de BTT, quando volto aos trilhos há coisas simples que me custam muito fazer. Pronto, muito jeito se calhar nunca tive, mas passar por cima de umas pedras e umas raízes com pneu 2.1 não devia ser demasiado complicado. Mas agora parece que é. Muitos sonhos, filhoses, broas e bolo-rei ando eu a arrastar comigo estes dias. A Grande Marmota me proteja!

1 comentário:

  1. Excelente volta de BTT - antes da minha costela dar de si! :)

    E excelente GF - não conhecia!

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