quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lisboa - São Torpes, dia 5: Uma história de duas cidades

GPS mostra o total de km percorridos até ao Outão: 324

Amanhece na Arrábida e é chegada a hora de regressar a casa. Na noite anterior, à frente de uma valente dose de choco frito, tínhamos acordado terminar a viagem recorrendo aos transportes públicos. Assim, descemos do Outão para Setúbal e atravessámos a cidade até à estação da Fertagus.

Pedalar em Setúbal não é especialmente complicado, as ruas são largas e o trânsito não é tão rápido ou agressivo como na capital. Quase me senti seguro no percurso que fizemos. Já a estação tem amplos elevadores para as plataformas e o simpático funcionário da bilheteira foi prestável e não levantou qualquer problema em relação às bicicletas. Quase todos os transportes públicos portugueses apresentam hoje em dia alguma alternativa que permita o transporte de bicicletas, o problema é que existem muitas excepções, restrições e ambiguidades e por vezes não temos a certeza do que iremos encontrar. Neste caso, 5 estrelas para a Fertagus.



A nossas montadas têm lugar especifico no comboio da ponte

O comboio começa com pouca gente em Setúbal e vai gradualmente enchendo à medida que nos aproximamos de Almada e de Lisboa. Alguns passageiros têm um certo ar rufia e deambulam para trás e para a frente na composição, fazendo recordar  comportamentos que conheço da linha de cascais, de quem procura evitar o revisor e fazer a viagem de borla. Não demora muito até duas moças serem apanhadas sem bilhete e multadas, mesmo à nossa frente. Curiosamente, parecem indiferentes à situação e depressa percebemos porquê: não são expulsas do comboio, seguem o resto da viagem agora tranquilamente sentadas e decerto não têm intenções de pagar a multa.


Não resistimos a dar uma de turistas

Saímos em Sete Rios, com a ideia de apanhar a linha de Metro directa para o Cais do Sodré. Infelizmente, depois de subirmos e descermos vários lanços de escadas com 30 kg de bicicleta às costas, somos interpelados por funcionários do Metro e informados, diria que com firmeza desnecessária, que não podemos levar as bicicletas no metro antes das 20:00h. Estamos mais perto da hora do almoço do que da do jantar, pelo que nos vemos obrigados a atravessar Lisboa à força do pedal.

Sete Rios, Praça de Espanha, António Augusto de Aguiar, Fontes Pereira de Melo, Av. da Liberdade, Restauradores, Rossio, Baixa, alguns km e muitos taxistas kamikaze depois, estamos na ciclovia para Belém. Infelizmente, para além do traçado labiríntico, as inúmeras zonas mistas para peões, o piso deplorável, os cruzamentos sem prioridade ou sem informação alguma sobre quem detém a prioridade, a ciclovia começa a ser invadida pelo famoso vírus residente de Lisboa: o pópó.


Carros na ciclovia



Piso irregular, carris, obras e caixotes do lixo na ciclovia


Ciclovia? Qual ciclovia? Isto aqui é um estacionamento!


Chegámos a Algés já sem vontade para confusões. Apanhamos o comboio para Oeiras e em poucos minutos estamos em casa. Depois de um total de 339 km pedalados, o regresso a uma rotina mais normal não é tão simples como parece. De repente já não temos que nos preocupar com uma data de coisas, como transportar água suficiente, montar a tenda antes do anoitecer, deixar a toalha a secar antes de ir dormir... Que estranho! Estes escassos 5 dias de viagem pareceram muitos mais, foi uma experiência intensa, sem dúvida a repetir.


Track GPS do percurso que fizemos disponível aqui.


Percurso carregado no site www.gpsies.com


Dados do dia:

Km totais: 24 (pedalados!)
Velocidade média: 14,40 km/h
Velocidade máxima: 47,2 km/h
Água consumida: 1 L/pessoa

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