quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Madrid e a bicicleta

Madrid me mata!

Passei este fim de semana em Madrid. Tinha outras coisas que fazer, mas não pude deixar de dar alguma atenção às questões da mobilidade na capital espanhola. A cidade do Manzanares vive actualmente um período de transformações e melhoramentos urbanos. Muitas ruas foram alvo de obras recentes e outras continuam a sê-lo.

Senhorial e imponente, Madrid é uma grande capital europeia. As suas dimensões, características e população residente colocam-na numa outra escala que não a de Lisboa. Mesmo assim, penso que as comparações são pertinentes, senão mesmo inevitáveis. É, afinal, a capital do país que temos mais próximo e com o qual partilhamos, goste-se ou não, muitas coisas.

Zona de trânsito condicionado
As alterações recentes no centro urbano da cidade parecem ter como ideia central torna-la mais humana. Há mais zonas pedonais, mais ruas e praças total ou parcialmente fechadas à circulação automóvel, menos espaço de estacionamento público. Há jardins e esplanadas no lugar onde antes circulavam as vacas sagradas. Há medidas de acalmia de tráfego, com ruas com a faixa de rodagem propositadamente estreita e piso irregular em pedra, por exemplo. Os automobilistas circulam de forma bem mais civilizada que neste nosso cantinho dos degenerados do volante.

Fim da ciclovia da calle Serrano

Isto é tudo o que identifica a "ciclovia"
E ciclovias, perguntais vós? Pois, a verdade é que elas devem existir, uma rápida procura na net pode prova-lo. Pessoalmente, só vi uma. E fartei-me de andar pela cidade. Essa ciclovia que encontrei foi a da calle Serrano, uma das vias comerciais mais importantes da capital do Reino. Já tinha nestas páginas feito menção a esta ciclovia, pela polémica que estava a despertar. É tão só uma faixa estreita de passeio, como a maioria das que surgem em Lisboa, com a agravante de estar muito mal assinalada, com piso de cor igual ao resto do pavimento.

Ciclistas urbanos na Gran Via
Tal como em Lisboa, a bicicleta não parece fazer parte das prioridades do actual executivo do município espanhol. Pelo contrario. Não existe esquema de bicicletas de uso partilhado, nem há praticamente ciclovias. Mas medidas físicas de acalmia de tráfego, medidas de desencorajamento da entrada de carros no centro da cidade, redução dos limites de velocidade, isso está claramente a ser implementado, e com êxito. Ora em Madrid como em Lisboa, a construção de ciclovias está longe de ser pacifica, mesmo para os seus eventuais beneficiários e utilizadores. Há pois quem considere estas medidas atrás referidas, por si só, extremamente benéficas para o uso da bicicleta como transporte utilitário. Depois de 4 dias em Madrid, só posso concordar.

Espaço para as pessoas, não só para as vacas sagradas

Os estacionamentos de bicis não têm muito uso

As zonas pedonais são muito concorridas
É de notar que Madrid, apesar de completamente plana, não parece ter grandes afinidades históricas com a bicicleta. Apesar de dispor de excelentes transportes públicos, o carro por aqui continua a ser rei e os ciclistas olhados como excêntricos, na melhor das hipóteses. As medidas tomadas visam tornar a cidade mais agradável de viver e conhecer a pé, afinal os espanhóis gostam de sair, comer as suas tapas e beber as suas copas. E ainda fazem compras nas grandes avenidas, não só em centros comerciais de plástico, como sucede por cá. Seja como for, as medidas tomadas estão a tornar a cidade também muito mais ciclável.

Um artista no parque do Retiro
Todas estas mudanças não foram pacificas. Tal como em Lisboa, houve oposição a fechar ruas ao trânsito e reduzir lugares de estacionamento. Houve quem questionasse o dinheiro gasto. Mas as pessoas em geral parecem satisfeitas com o resultado, mesmo os automobilistas incondicionais. Fiquei muito bem impressionado, é uma cidade que sempre me marcou e que parece agora, apesar de monumental, bem mais humana. Já para pedalar, apesar de tudo acho que vou continuar a preferir Barcelona!

4 comentários:

  1. Em Madrid também há centros comerciais só que estão implantados bem longe na periferia. Alguns destes colossos do consumo estão integrados em áreas do tipo Alfragide (Jumbo/Ikea/Decathlon & all) acessíveis quase só por carro e onde são frequentes engarrafamentos gigantescos.
    No centro da cidade ficaram apenas as super lojas do tipo ElCorte que coabitam com o pequeno comércio em grande medida devido à grande densidade populacional da cidade e ao poder aquisitivo dos habitantes do centro.
    A recente requalificação da calle Serrano e a revitalização da Gran Via são exemplos de como é possível devolver as cidades aos peões, desenvolver o comércio, integrar diferentes tipos de mobilidade pessoal e colectiva, plantar árvores, manter património arquitectónico, etc.
    Como se pode ver pelas fotos deste artigo, ao contrário do que ameaçam os velhos Velhos do Restelo lusitanos, as pessoas sempre que saem dos carros, entram nas ruas e nas lojas e as lojas só têm a ganhar.
    Convém no entanto acrescentar que em Madrid -ao contrário de outra capital ibérica!- não se consegue estacionar um carro sem pagar ou de forma irregular... e se calhar a chave para o problema passa também por aqui. Como se diz em Portland: criem as condições que as pessoas vêm.

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  2. Claro que também há mega centros comerciais em Madrid e sobretudo nos arredores. No entanto, mesmo tendo estes aparentemente atingido já a saturação do mercado - Ver http://www.idealista.com/news/archivo/2010/08/26/0248581-el-centro-avenida-m-40-madrid-cierra-definitivamente-sus-puertas - os espaços comerciais do centro, grandes e pequenos, ainda existem. Só os cinemas não sobreviveram.

    Sobre o estacionamento, a questão é que em Madrid a fiscalização existe. A policia faz o seu trabalho. Só em Lisboa é que é possível estacionar um automóvel em cima do passeio no centro da cidade e escapar impune. Se calhar devia comparar Lisboa com Rabat e não Madrid...

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  3. Que inveja de um fim-de-semana na espectacular Madrid em fantástica companhia!! Gostei de ver o Álvaro e o Diego numa das fotos. O Álvaro está grande! :)

    Abração do Dubai, onde ando a chatear o Johnny por uns dias!

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  4. Sim, Madrid está ainda mais fantástica. Também está com um trânsito caótico, eu perdi o avião depois de 3 horas em filas. Abraço!

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