É suposto ficarmos esclarecidos sobre o percurso Holandês na criação de infraestruturas e hábitos do uso da bicicleta como meio de transporte. A reflexão que somos convidados a realizar é a de que a Holanda não reunia nenhumas condições "mágicas" excepcionais para a adopção da bicicleta pelas massas. Era só mais um país com excesso de motorização, que soube inverter o seu paradigma, e portanto, o seu modelo de sucesso poderá ser adoptado em qualquer outro lugar do mundo.
Aparentemente os holandeses deram rapidamente conta de uma série de malefícios da ditadura do enlatado, nomeadamente:
- Elevado espaço urbano consumido
- Grande número de acidentes com vítimas
- Mortalidade muito alta, especialmente de crianças
- Elevado preço combustíveis
A estas constatações por parte da sociedade, somou-se a crise económica provocada pelo choque petrolífero. Houve protestos, os políticos perceberam o problema e as coisas foram sendo resolvidas. É claro que a tentação para encontrar paralelismos entre os Países Baixos dos anos setenta e o Portugal dos nossos dias é grande. Senão vejamos:
- Excesso de motorização? Oh, Sim.
- Elevada mortalidade nas nossas estradas? Sim!
- Espaço urbano arruinado para acomodar o popó? Check.
- Elevados custos de combustíveis? Os maiores de sempre!
- Grave crise económica? A pior de todas.
Sem dúvida que há muitas semelhanças, mas também há grandes diferenças entre as duas realidades a nível social. Protestos? Também morrem muitas crianças em Portugal vítimas de acidentes de viação, atropeladas por exemplo. Não vejo ninguém a reclamar nas ruas por causa disso. Ainda à pouco tempo foram atropeladas crianças dentro da sua escola. Não me apercebi de indignação pública. Que eu saiba nem sequer ninguém foi castigado. Um pouco diferente da Holanda.
Os "Carfree Sundays" parecem ter sido uma iniciativa interessante para sensibilizar as pessoas. Mas se na Holanda dos '70 foi possível impedir o trânsito motorizado de circular uma vez por semana, em Portugal tal não tem sido possível nem uma vez por ano! Dia Europeu sem carros? Quando foi a última vez que alguém lhe ligou alguma coisa no município de Lisboa?
Fechar os centros históricos das cidades ao tráfego automóvel? Por cá isso começa agora a ser tentado, mas de forma tão tímida e com tanto desrespeito e excepções que ficam grandes dúvidas sobre este tipo de iniciativas a longo prazo.
Portanto, as condições e as causas coincidem. Mas a vontade de mudar nem por isso. Os portugueses querem lá saber das vítimas do automóvel. Nunca foi tema que interessasse aos nossos académicos, aos artistas ou à imprensa. O que indigna a sociedade é a falta de lugares de estacionamento! O que leva o português para a rua são os aumentos nas portagens das Auto Estradas, as mesmas cuja construção arruinou o país. Para o português médio os transportes públicos são coisa de destituídos e bicicleta é um brinquedo de fim de semana. Infelizmente acho que mais facilmente adoptamos a modelo de "mobilidade" do Egipto do que o da Holanda.
Portugal é um país maravilhoso. É pena é estar cheio de portugueses. Pessoalmente, de cada vez que penso em reuniões na CML em que se tomam decisões sobre ciclovias e mobilidade urbana, imagino algo como isto:
Genial! De facto o PREC foi um falhanço e só agora estamos a acordar para a dura realidade.
ResponderEliminarSó não concordo com o comentário no fim, sobre os portugueses serem o problema de Portugal; Os portugueses são [i.e. somos] a solução, e como todos os povos inteligentes e em apuros será possível adaptarmos à nova realidade, a pagar o que gastamos. Mas para tal de facto é preciso trabalhar, e claro está, pedalar!
Espera, não percebi. Estás a dizer que o nosso problema somos nós ?! Desculpa lá, mas não vim aqui para me chamares de amorfo! Então a culpa não é dos políticos ? e da falta de lugares de estacionamento nas cidades ? :-)
ResponderEliminarTalvez se as elites, dos bons pensamentos, divulgarem os mesmos e derem o exemplo (faz o que eu digo, faz o que eu faço), pode ser que se mude!
Um abraço,
NSalgado