segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coisas que ainda são Tabu

Atenção: Tabu

Há coisas que nunca se discutem em família ou com amigos: politica, religião e... bicicletas. É verdade, todos sabemos que há assuntos que não podem nem devem ser abordados fora de um contexto específico. Pela sua natureza delicada, ninguém se põe a falar do aborto num almoço de família. Ou a discutir politica com os colegas de trabalho. A menos que já saibamos bem as opiniões de cada um, caso contrário estão criadas as condições para uns momentos extremamente desagradáveis.

Infelizmente, e como nos recorda esta posta recente do Lovely Bicycle! a bicicleta pode facilmente ser um daqueles temas fracturantes (pronunciar como se fossem o Francisco Louça), capazes de incompatibilizar parentes e amigos de longa data. Pessoalmente, desde que escrevo este blogue tenho sido surpreendido pelas reacções negativas que tenho recebido, pelo que aprendi a ser discreto. Uma apreciável quantidade de pessoas, inteligentes, racionais e aparentemente razoáveis, podem demonstrar ser completamente intolerantes quanto ao direito da bicicleta circular na via pública ou mesmo o direito do ciclista à vida e integridade física. Assumir que se é um ciclista urbano, em alguns contextos, pode ser análogo a contar aos pais, nos anos 50, que se era homossexual ou comunista.

O facto de não se poder falar livremente de uma coisa tão simples como o circular de bicicleta pela cidade sem atrair comentários depreciativos e mesmo críticas pesadas por parte de pessoas que, supostamente, têm connosco alguma ligação afectiva, deveria ser algo elucidativo do actual estado de coisas. Deve ser mais fácil afirmar em público a nossa fidelidade a um qualquer líder politico controverso do que defender o ciclismo utilitário. Chavões como "a estrada não é lugar para as bicicletas" ou "os ciclistas só estorvam, as pessoas têm pressa" ou mesmo o clássico "estão mesmo a pedi-las para serem passados a ferro" não são difíceis de serem ouvidos de pessoas insuspeitas por quem nutrimos amizade.

No fundo, o verdadeiro tabu nestas coisas é apenas um. O ciclista parece para alguns ser uma ameaça, uma ameaça ao paradigma do automóvel como utilitário imprescindível e insubstituível. E tudo o que ponha em causa a hegemonia da vaca sagrada só pode ser tabu.

5 comentários:

  1. ò homem. tu tens mesmo azar! Passas a vida a ter episódios stressantes no trânsito de Lisboa,e agora isto... eu raramente tenho situações dessas quando pedalo por Lisboa, e raramente sou confrontado com discursos anti-bicicleta. Aliás, como as pessoas sabem que ando sempre de bicicleta, estou constantemente a ser abordado sobre o tema, principalmente numa perspectiva curiosa e receptiva. Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Revejo-me no escrito mas não tento ser discreta, o confronto nesta situações só me faz ver a riqueza e a pobreza de algumas pessoas.

    O lobby automóvel impera ainda, mas não vai durar! Tenho carro me não sou fundamentalista e por isso adoro ver a cara confusa, e depois por vezes elucidada, de quem me tenta convencer que andar de bicicleta em Lisboa, e onde quer que seja, que não para lazer, é perigoso e mau para os automobilistas!

    Força! ;)

    ResponderEliminar
  3. Absolutamente certo, Bessa. O carro é rei e senhor, nada de contradizer a sua supremacia. A manada pensa assim e sabes que é perigoso pensar diferente da manada. Aliás, o carro vale muito mais que a vida ou o conforto dos próprios defensores da superioridade dos carros. Neste Inverno já tenho visto pessoas a estacionar o carro em sítios menos molhados, enquanto eles próprios metem os sapatos na água e na lama; tudo para não sujar as jantes!
    Este tipo de discurso é semelhante quando se trata de discutir o problema dos carros enxameando os passeios. Há como que um direito divino em estacionar em qualquer passeio, praça ou jardim. E se alguém lhes chama a atenção sobre o assunto, têm o mesmo tipo de reacção que os mocinhos que descreves, muitas vezes a roçar a violência. Ainda há um longo caminho a percorrer até podermos deixar de ser discretos.

    ResponderEliminar
  4. Acabei de chegar a este blog e devo já dizer que sou altamente preguiçosa no que diz respeito a pedalar (aprendi a andar de bicicleta muito tarde e nunca tive uma bicicleta minha, como sou uma naba não me esforço, em alternativa eu uso os transportes públicos), mas sou defensora da bicicleta em todo lado. Devia haver mais vias para ciclistas, devia haver mais espaços para estacionar as bicicletas, devia haver menos buracos no chão, para não ser tão perigoso para os ciclistas....

    Quem tem força e coragem para pedalar... força! É menos gente a poluir a cidade!!

    Muito sinceramente, nunca pensei que a mentalidade portuguesa estivesse tão atrasada!!

    Força aí, pricipalmente nessa luta contra essa mentalidade...

    ResponderEliminar
  5. Que se passa com o Lisboa Bike? Dois meses sem posts? Serei só eu a sentir falta de publicações bem redigidas, objectivas, certeiras e assertivas sobre a mobilidade urbana em Lisboa?

    Grande Abraço, espero que volte depressa

    ResponderEliminar