domingo, 10 de outubro de 2010

O Homem que mudou o mundo


O sítio onde moro não é bom nem é mau. É o que é, um subúrbio pseudo-confortável da cidade de Lisboa, perto da praia, bem servido de transportes públicos eficazes (comboio) mas cercado de estradas com pretensões a vias rápidas, onde o uso regular da bicicleta para fins utilitários não é recomendado.

Em Carcavelos trava-se a mesma batalha pelo espaço urbano que se regista um pouco por todo o país. Como em quase todo o lado, o automóvel está a vencer por goleada. Cá no burgo o espaço público destina-se à circulação ou ao estacionamento das vacas sagradas. Não há largos, não há praças, há cruzamentos rodoviários. Isso não impede que os minúsculos passeios sejam mesmo assim reclamados para acomodar ainda mais automóveis.

Carcavelos no seu melhor
Isso acontece a diário mesmo no centro de Carcavelos e é também o caso dos passeios que rodeiam a minha casa. Moro num R/C e estava farto de ter carros a entrarem-me pela janela do quarto (só o ruído sugeria isso mesmo). Farto de vista para o tubo de escape do Golf Xpto do Zé-do-Boné cá do sítio, farto de ver o passeio a degradar-se, farto de observar carros debaixo da minha janela para aproveitar a sombra, mesmo quando a rua estava vazia. Resolvi escrever à Junta.

Antes: a vista habitual do meu quarto
A primeira iniciativa deu-se na sequência de uma carta que tinha escrito ao Público, sobre o mesmo assunto, e não obtive resposta nenhuma. A segunda tentativa foi em finais de Julho deste ano. Escrevi uma reclamação detalhada, com fotografias e uma proposta de acção, ou seja, a colocação de pilaretes. Desta vez não só obtive resposta rapidamente, como com ela vinha a promessa de obras quase imediatas.

Terreno recém libertado

Imediatas não terão sido, mas o espaço regularmente invadido pelos paquidermes de aço tem desde ontem o aspecto que as fotos documentam. O piso está a ser reparado.

O pavimento vai ser reparado
Não faço ideia se algum outro vizinho reclamou da situação ou se por aqui mora alguma sumidade, daqueles com connections, que tenha pressionado a junta de freguesia no mesmo sentido. Tanto quanto sei, eu fiz isto acontecer. Eu mudei a realidade triste da esquina do meu prédio. Eu.

ReichFüher Barbosa: 0 - Bessa: 1

E que interessa isso? De uma coisa estou seguro: se vamos conseguir alguma coisa no campo da mobilidade sustentável neste país, vamos ter que lutar. Vamos ter que insistir. Vamos ter que dar a cara. Vamos ter que acreditar. Não se trata sequer de qualidade de vida, de mais ou menos ciclovias, trata-se de direitos. Podemos mudar o nosso paradigma. As coisas acontecem. Mas é preciso investir nelas. Felizmente não faltam exemplos de pessoas que contribuíram muito mais para "a causa" do que alguma coisa que eu alguma vez tenha feito, mas ontem... Ontem senti os meus esforços recompensados. Houve ali um sinal de esperança, uma coisa fugaz, mas poderosa. Continuem a  escrever, continuem a reclamar, continuem a aparecer. Vale sempre a pena.

2 comentários:

  1. Parabéns!
    Não posso dizer o mesmo das várias cartas que enviei em Lisboa.

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  2. Vou tentar o mesmo aqui na rua.
    Depois conto.

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