segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fui votar. E agora?

Desmonte. Pare, escute e olhe. Muitas vezes.

Sim, fui votar. De bicicleta, claro. Mesmo não vendo nada de novo nos programas eleitorais dos partidos. Mesmo não vendo minimamente representadas as minhas preocupações relacionadas com o uso utilitário da bicicleta em nenhum desses programas.

Eu sou sócio da FPCUB e do MUBI. Mantenho-me informado. Utilizo quotidianamente a bicicleta e falo amiúde desse assunto a quem por ele mostra curiosidade. E mantenho um blogue, este, onde expresso opiniões e falo das minhas experiências. Nos últimos tempos tenho assistido a um crescente interesse pela mobilidade sustentável e pelo ciclismo utilitário em geral. Sucedem-se novos blogues, novos projectos, artigos na imprensa, novas iniciativas mobilizadoras, até algum novo empreendedorismo nesta área. Mais importante que tudo isso, tenho visto mais bicicletas em Lisboa, penso que é um facto indiscutível.

E afinal como estamos? Quantos somos? Que peso temos ou podemos esperar ter? A acreditar nos dados de um estudo Britânico mencionado nas discussões do MUBI, e estabelecendo livremente paralelos (forçosamente pouco rigorosos) com o nosso pequeno rectângulo ibérico, seremos muito poucos e estaremos ainda por muito tempo subjugados às vontades de uma maioria que nem sequer considera a bicicleta como um veículo. Esta maioria não quer partilhar o espaço rodoviário com o ciclista nem está de acordo em que se gastem fundos, cada vez mais escassos, em novas estruturas segregadas, as tão discutidas ciclovias.

Não é Lisboa. Mas podia ser.

A vitória eleitoral de um partido onde a palavra "bicicleta" nem sequer aparece em nenhum ponto do seu programa, e a actual conjuntura económica extremamente negativa, que monopoliza todas as atenções, parecem conjugar-se para manter o actual estado de coisas, no que toca às questões que considero essenciais para o desenvolvimento do ciclismo utilitário:

  • Reforma do código da estrada, incluindo a introdução de regras de Strict Liability. (Poder central)

  • Construção de infraestruturas cicláveis segregadas e implementação de programas de bicicletas partilhadas. (Poder local)

Já sei que estes pontos estão longe de ser consensuais e muita gente está disposta a contentar-se com muito menos. Eu não abdico de exigir um país mais justo, onde uma pessoa se possa deslocar sem poluir, sem gastar combustíveis fosseis, sem provocar engarrafamentos, sem que disso resulte um perigo constante para a sua vida e integridade física. Por isso considero estes pontos essenciais. As eleições legislativas trouxeram-nos oportunidades de atingir estes objectivos? Ou alguma coisa de novo sequer? Não sei. A reforma do código da estrada não parece estar nos planos do grande vencedor, o PSD, embora o CDS, que se presume também fará parte do novo governo da nação, mencione o assunto no seu programa.

Ideias novas precisam-se. Ir votar obviamente não chega.

1 comentário:

  1. Olá. Também tenho visto mais bicicletas em Lisboa e no comboio, o que me deixa contente e a pensar que, de facto, algumas pessoas estarão a aderir, com consistência, a este meio de transporte; para uso quotidiano ou recreação.
    No tocante às tuas sugestões, não concordo com elas na totalidade. Não acredito - mas desmintam-me se estiver errado - que a introdução de uma regra de strict liability (em português, também temos esta regra para outras áreas da vida e do trânsito, não para as bicicletas, que se chama, responsabilidade civil objectiva )no estado actual da utilização da bicicleta é uma medida extrema e que não leva em conta que a maioria dos automobilistas, ainda que cuidadoso, não está habituado a interagir com uma bicicleta. No limite, estou de acordo com a introdução de legislação quando a utilização da bicicleta se tornar mais frequente. E acho que faz todo o sentido, mas não já. Quero dizer, tenho também algumas dúvidas sobre se esperar tem efectivamente um resultado benéfico; não faço ideia.
    Mais importante é, como dizes, a construção de vias segregadas com piso liso para uma condução mais suave, retirando o espaço à rodovia. Efectivamente, parece difícil quando toda a gente só pensa em automóveis, mas acho que é uma medida bem mais importante.
    O programa de partilha de bicicletas, ao nível do poder local, não me acredito que vá levar a um grande incremento do uso da bicicleta. A bicicleta é um veículo de baixo custo; que pode obviamente ser caro, consoante os modelos. Por isso, creio que não levará a pouco mais do que uns quantos utilizadores ocasionais e outro tanto de turistas. Frequentemente, andar-se de bicicleta está preso com o facto de se interessar por bicicletas e gostar de bicicletas (uns mais a fundo, outros menos) e por isso acho duvidoso que não seja mais do que para desenrascar ou para usar muito de vez em quando.

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