domingo, 26 de junho de 2011

Na Ciclovia de Belém

Lisboa, o Tejo e a bicicleta

Tinha decidido aproveitar o feriado de quinta feira para fazer um reconhecimento aos novos troços de ciclovias em cima de passeios que a CML achou por bem colocar à nossa disposição. Combinei ir com uns amigos e sendo um deles "recém encartado" no manejo de velocípedes, acabamos por restringir a volta à ciclovia de Belém. Bom, ficou por fazer o tal reconhecimento, mas posso dizer que aprendi bastante com a experiência. Ver este percurso pelos olhos de uma pessoa inexperiente no manejo de uma bicicleta, permite tirar algumas conclusões que de outro modo não passariam de conjecturas.

Ah, o cycle chic

Sendo um feriado, a ciclovia de Belém apresentava-se repleta de todos os seus elementos habituais: hordas de turistas, pescadores, crianças, grupos, bicicletas, triciclos, automóveis, contentores de lixo, tudo isto e muito mais se pode encontrar na ciclovia.

Diz que mede 7 km de extensão, este percurso ziguezaguante e retorcido que une a Torre de Belém a um beco no Cais do Sodré. Será certamente a ciclovia favorita da capital e o seu uso (e quase de certeza o seu intuito) é eminentemente lúdico. O facto de se ser obrigado a desmontar cada meia dúzia de metros e a existência de inúmeros cruzamentos sem qualquer sinalização, não parece preocupar as muitas pessoas que rumam a este percurso em dias de bom tempo. O primeiro problema que se apresenta a um ciclista inexperiente é mesmo esse: desviar-se de todos os outros ciclistas, peões, e obstáculos que povoam a ciclovia. Aqueles que consideram as ciclovias como percursos seguros para os novatos, deveriam ponderar este simples facto: um percurso seguro é um percurso que permita alguma liberdade de movimentos e possibilite que o ciclista se concentre em operar a máquina.

Ciclovias à moda de Lisboa

Se o ciclista inexperiente conseguir evitar os turistas parados no meio do caminho a tirar fotografias, os canideos pela trela e os seus orgulhosos donos, os portugas de raça pura, que não sabem o que é uma ciclovia nem querem saber, os atletas de baixo rendimento, os carros que passam na ciclovia para acederem aos seus locais favoritos de estacionamento ilegal, e os Sandokans de fim de semana, sempre a velocidades impossíveis montados nas suas BSO's, terá ainda que lidar com outro tipo de perigo, um perigo que em vez de móvel é fixo, mas ainda assim bastante ameaçador.

Nunca emprestem a  bicicleta a um bike ninja

A infraestrutura em si oferece alguns potenciais dilemas aos menos experientes. Ao longo de tão poucos km, o piso desta ciclovia passa de betuminoso para empedrado várias vezes. Boa parte decorre simplesmente em cima do passeio, de calçada portuguesa. Pelo caminho há buracos, buraquinhos e buracões, carris longitudinais, desníveis da altura de um passeio e muitas mais diversões. Uma bicicleta de montanha lida bem com este pavimento, mas outros tipos de velocípedes não estarão nada à vontade.

Quero, posso e estaciono. Ciclo-quê??

Apesar de tudo, consegui "desligar" por momentos e simplesmente descontrair. A ritmos muito lentos, sem pressa e sem sítio onde ir, simplesmente desfrutando do Tejo, do Sol e dos amigos, a ciclovia faz sentido. Quem está de passeio não se importa tanto com todos estes problemas técnicos e de segurança. E a ciclovia conseguiu, na minha opinião, atrair mais pessoas para a zona. Como estrutura de lazer, como qualquer parque ou jardim, até funciona. Não será por acaso que a vereação que na CML se ocupa da ciclovias é a dos Jardins e Espaços Públicos e não a dos Transportes.

Mais uma moedinha, mais uma voltinha

Mas se os Lisboetas apreciam novos espaços públicos de lazer, não me parece que isto acrescente algo em termos de mobilidade sustentável. Porque a ciclovia de Belém é como um cinema. Ou um ginásio. Vai-se lá de propósito e depois vai-se embora. A maioria não utiliza a bicicleta para chegar a este percurso. A CML tem uma visão muito particular do que pretende das suas "ciclovias".

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