sábado, 8 de maio de 2021

Projecto Bacalhau: Dia 16 - Até à Casa do Salazar

Viseu


Amanhece em Lamego. É o segundo dia na N2, que fica mesmo ali no fim da rampa de acesso do Parque de Campismo. Despeço-me do velho pastor alemão gigante, um amistoso local, que veio mais uma vez ver se eu precisava de alguma coisa. O que eu precisava era de um bom pequeno almoço, mas hoje não há disso por aqui. Mais vale ir andando para esta que será mais uma etapa de 100Km, como acordado. 


Castro Daire

A estrada é agradável até Castro Daire. Mas depois desta bela localidade, a N2 está cortada. Sou encaminhado para uma volta por estradas secundárias, onde a determinada altura até o asfalto desaparece. Por mim tudo bem, para isso é que tenho uma bicicleta Gravel. Mas isto corta a velocidade média e hoje não sei mesmo onde irei acabar. 


Às voltas pelos montes, a tentar regressar à N2

Depois de alguns atalhos, o desvio leva-me de novo para a N2. Pela hora do almoço estou em Viseu e mais uma vez estranho o burburinho da urbe, já não lido bem com muita gente, nem com muito trânsito. Eu estou bem é nos montes e vales, em zonas recônditas onde por vezes tenho a N2 toda só para mim.

Convém talvez esclarecer, para quem não conhece, o perfil da N2. Esta estrada nacional, como tantas outras, não tem sempre as mesmas características, devido ao progresso e ao crescimento urbano e do tráfico. Mas na maioria dos quilómetros, a N2 é a típica estrada de duas faixas, uma para cada sentido de transito, com uma berma pequena ou mesmo inexistente. No Norte do país, a N2 sobe e desce bastante, mas sem exageros. Há também muitas curvas, que fazem as delicias dos motards e ciclistas, e obrigam os outros utilizadores a estarem sempre atentos ao volante, o que juntamente com o trânsito reduzido, torna o percurso, a meu ver, bastante seguro.

    

Conhecem?

O Almoço foi McPorcarias numa McEsplanada. Estava em caminho e eu tinha preguiça de ir à procura de algo mais substantivo. Nesta fase já desci pelo país o suficiente para o calor ter regressado e preciso de me abrigar um pouco do Sol do meio dia. Mas também não me posso acomodar, ainda falta bastante para os 100Km do dia.


Oi?

Mais a Sul encontro a Ecopista do Dão, e como ela é paralela à N2, a determinado ponto eu decido ir explorar. O caminho é super agradável, com árvores, muita sombra e tranquilidade. E ainda são uns largos quilómetros. Mas a ecopista comete o erro de tantas outras ciclo-coisas, termina no meio do nada, sem indicações de nenhum tipo. Largado num arvoredo, sigo o Google Maps até encontrar a estação ferroviária de... wait for it... Santa Comba Dão!  

Mas estou do lado errado da via e sou perseguido por mais um cão dos Baskervilles. O enorme animal parece ser o cão de guarda de umas obras e claramente não está ali para fazer amigos. Tenho que pular literalmente a cerca e depois atravessar várias linhas férreas para chegar à bonita estação, abandonada ao calor do dia, que já vai longo. 


Ecopista!


Respirar fundo. Isso.

Não muito longe da estação está uma casa de um cavalheiro bem conhecido, um filho da terra. Parece-me estar a reconhecer a modesta vivenda, de filmes e fotografias antigas e parei para confirmar. Uma placa esclarece que, sim senhor, ali nasceu Salazar.


Aqui nasceu Salazar


O meu alojamento para o dia é um fantástico turismo rural, uma quinta que me obriga a afastar-me da estrada. Mas não há problema, amanhã retornarei ao mesmo exacto ponto. À chegada encontro apenas inúmeros cães e gatos e vários outros animais. O portão está aberto, mas na casa não se encontra ninguém. O meu telemóvel tem várias chamadas não atendidas de um número que eu não conheço. A reserva, feita pela net, não indica hora de chegada, e eu parece que cheguei em hora inconveniente para o proprietário. A coisa resolve-se por telefone, e recorrendo ao uso de uma chave escondida!     





A propriedade é muito gira, e como disse, está cheia de animais que andam soltos. Já na presença do proprietário, não posso deixar de reparar que o preço que paguei não condiz com a qualidade do serviço de porcelana empregue para me servir o jantar, pelo que tudo indica que esta quinta antecede a era do turismo massificado em Portugal. Em tempos deve ter atraído clientela bem mais abonada que este vosso escriba, que janta no salão com a indumentária de sempre: chinelos de dedo, calções e camisola sintética de desporto. Tudo cinza, claro, que eu não brinco em termos de opções cromáticas. 



Bicicleta no quarto III

Em conversa com o proprietário, fico a conhecer um bocadinho mais da zona. Ele parece estar envolvido na dinamização da Ecopista do Dão. Aliás, toda a temática da natureza visa atrair turistas sensíveis a estas questões para a zona, sobretudo do Norte da Europa. Foi uma rara conversa nestes dias, uma agradável troca de ideias com um tipo inteligente, mas não podia durar. Because COVID, e também porque eu tenho mesmo que ir dormir. Cumpri mais uma vez com a distancia mínima e amanhã isso é para repetir. 

Dia 16. Lamego-Vimieiro. 109km. (Estrada).

Sem comentários:

Enviar um comentário