domingo, 9 de maio de 2021

Projecto Bacalhau: Dia 17 - Camiões, Cães e uma Piscina de Borla

N2?


- Mas porque é que não ficámos no sofá a ver a Netflix?! - Questiona o Dentuça debaixo do implacável Sol da manhã, enquanto o colossal camião ruge, impaciente, centímetros atrás da minha roda traseira. Atrás deste TIR segue outro, e mais uma fila interminável de outros veículos ligeiros e pesados, rodando ao meu ritmo, até que eu consiga sair da famigerada ponte do IP3. Já tinha dito que odeio pontes?


N2??


A manhã do meu terceiro dia na N2 até tinha começado bem, um pouco como a noite tinha acabado: à conversa com o proprietário do turismo rural onde me tinha instalado, no Vimieiro. Descobri que ele conhece também o Isaltinistão e em tempos até lá viveu, não muito longe de mim. Curioso. Aproveito também que tenho direito ao pequeno almoço para sair para a estrada já devidamente munido de umas calorias para alguns quilómetros. O anfitrião faz questão de me tirar uma foto com a bicicleta, para o seu site, antes de eu abalar de volta à N2.

E sabe bem estar de volta à estrada. Mas a manhã traria consigo algumas surpresas. Uma coisa que é preciso compreender é que a N2, com 738Km de extensão, na verdade não existe... Ou melhor, ao longo do longo percurso, a estrada por vezes desaparece, para se transformar em IP ou IC, para ser uma avenida urbana, ou um arruamento. E por vezes fica difícil seguir o percurso. Em anos recentes, uma vez consolidada a fama desta Route 66 portuguesa, foram colocadas placas em algumas zonas, com vista a ajudar os viajantes a navegar alguma destas zonas mais complicadas.           


N2???



E foi assim que dei por mim a sair e entrar da "N2" naquela manhã, para evitar as zonas em que ela se transforma em IP. Em alguns casos existe sinalização nova que indica que a N2 é agora numa via paralela, claramente de construção recente. Outras vezes somos obrigados a passar por debaixo da estrada principal e andar no meio do nada. Fica difícil fazer a navegação nesta zona, mas o pior é a ponte sobre o rio (Dão, Mondego?) onde a N2 nos atira de volta para o IP3, que nesta zona perde temporariamente esse estatuto, pelo que bicicletas podem passar (E é o único local onde o podem fazer).  



N2????


Sucede que nessa altura o IP3 estava em obras, e os meticulosos senhores da empreitada tinham reservado para si todo o piso da estrada e das bermas, com a excepção de uma faixa, estreita, delimitada por enormes blocos de cimento de ambos os lados. Ultrapassagens não eram possíveis, mesmo a uma bicicleta. E foi assim que dei por mim a segurar o transito, que até há umas centenas de metros rodava como em autoestrada e agora tinha de esperar pelo ciclista. Para que não restassem dúvidas, eu rolava mesmo no meio da faixa, não fosse o camião sentir-se tentado a fazer a ultrapassagem, que seria para mim morte certa. 


?


Saindo do IP3 na primeira oportunidade, para alívio de dúzias de enlatados,  ainda tive que saltar uns separadores para regressar à N2, mas daqui para a frente as coisas melhoraram muito. As paisagens continuavam incríveis. Foi nesta altura que encontrei mais ciclistas. Primeiro estive à conversa com um local, que se interessou pela minha viagem e me informou que havia um grupo mais à frente, também a fazer a N2, com carro de apoio. Alcancei este grupo de uns 5 ciclistas e a sua autocaravana de apoio numa subida ingreme, e para minha surpresa, ultrapassei todos eles. Seguiam sem pesos extra e tinham por objectivo fazer a N2 em menos dias que eu, pelo que o seu ritmo me surpreendeu. Confesso que a sensação foi incrível, com carga e sem treino, na minha bicicleta do supermercado, como alguns lhe chamam, eu passei por aqueles companheiros como se estivessem parados, e não mais os voltei a ver.

 

Come-se bem em Góis...


O almoço foi um petisco jeitoso em Góis, numa bomba de gasolina-restaurante-padaria-posto turístico. Fiz a minha pesquisa do costume e identifiquei um parque de campismo em Pedrogão Grande. Sempre me falaram bem da terra e eu há muito que queria lá ir e hoje teria a oportunidade! Em princípio faria sentido também lá ficar em termos de quilómetros diários percorridos.
 

Vistas da estrada



A Famosa


O parque de campismo de Pedrogão Grande fica junto à albufeira, e para quem vem da N2, no final de uma descida considerável. Pelo caminho ia pensando que o parque de campismo tinha que estar aberto, porque eu não ia conseguir voltar a subir aquilo tudo para regressar à N2 sem um bom descanso primeiro. As primeiras impressões não auguravam nada de bom, a recepção não tinha ninguém e o parque tinha um portão, que estava fechado. Mas depois apareceu um senhor e à conversa percebi que se tratava de um funcionário da Câmara local, a quem o parque pertencia. Fui informado que o parque aguardava por nova gestão privada, e até lá não estava nem aberto nem fechado, já que a Câmara autorizava os residentes de longa data a permanecer, mas não tinha forma de receber novos utentes. 

Simpaticamente, fui convidado a permanecer por uma noite, sem pagar nada, desde que me entendesse com os moradores locais, já que o portão seria de novo fechado. O parque tinha espaços com um matagal impressionante, e claramente precisava de manutenção em algumas zonas, mas os WC's estavam impecavelmente limpos e, melhor que isso, havia uma piscina com água em bom estado! Rejubilai!



SIM! Só para mim!



Parece-me um bom lugar para jantar


E quanto ao jantar? Como disse, eu dificilmente conseguiria deslocar-me por uma distância significativa, mesmo para comer. Mas fui uma vez mais lambido pela língua viscosa da sorte, pois junto à albufeira, uns metros mais abaixo do parque, estava uma roulotte de petiscos, onde comi um hamburger delicioso e brindei ao pôr do Sol. 
   


Home, sweet home!


Dia 17. Vimieiro-Pedrogrão Grande. 101km. (Estrada).

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