quarta-feira, 22 de setembro de 2010

24h BTT: mais olhos que barriga


Nunca pensei que num post sobre uma prova desportiva viesse a falar de algo relacionado com os temas da mobilidade sustentável, mas a verdade é que estou prestes a fazer isso mesmo.

Para os não iniciados convém explicar que as 24h BTT de Lisboa são uma prova de BTT, amadora, disputada em circuito, a solo ou em equipa, num período de um dia. Neste caso, o percurso foi delineado nos terrenos do Jamor, num total de 13 km. A organização do evento é inteiramente privada, a cargo da Escola Aventura.

A grande K espera para entrar em acção

Infelizmente, a organização esteve mal, e desde a primeira hora. A prova foi adiada por vários meses, por razões nunca bem explicadas. As informações sobre o evento foram chegando a conta gotas, as mais importantes só conhecidas imediatamente antes da prova começar ou mesmo depois. O local escolhido para o acampamento era pouco mais que um baldio, com piso de brita, sem acesso a agua ou electricidade. Os balneários disponibilizados estavam longe, as casas de banho também. O percurso estava mal marcado e pior vigiado. Era fácil, sobretudo de noite, cometer erros que custavam tempo ou mesmo cometer erros propositados que fizeram alguns ganharem tempo. Os pontos de abastecimento de agua estavam colocados em sítios caricatos, antes de descidas, por exemplo. O jantar deixou de ser servido bem antes da hora prevista, etc, etc, etc. De realçar que por tudo isto, cada participante pagou 40 Euros.

Tendas? Quais tendas?
De todos os problemas e contratempos, para mim o mais interessante foi o que aconteceu na zona do campismo. Logo na sexta feira de tarde apareceram participantes para montar as suas tendas. Eu fui uma dessas pessoas. Alguns não se limitavam a colocar a sua tenda mas reservavam largos pedaços de território, marcados com fitas de plástico, para os amigos e membros da equipa. Até aqui tudo mais ou menos normal, não fosse a situação dos automóveis. Não era permitida a presença de carros nesta zona de campismo, provavelmente por causa do exíguo espaço disponível. No entanto, poucos se mostraram disponíveis para dormir sem terem o pópó por perto. Toda a gente precisava do carro ali ao lado, ninguém podia passar sem ele. Os membros da minha equipa foram das poucas pessoas que conseguiram misteriosamente sobreviver sem ter o carro estacionado a 5 metros.

Sem forma de fiscalizar quem estava a prevaricar ou impor penalizações a quem não retirasse o carro do recinto, a organização depressa lavou as mãos do problema. O resultado foi dormirmos todos, não num acampamento, mas num parque de estacionamento, onde se via, de longe a longe, uma tenda. Todo um hino às vacas sagradas e à dependência patológica que algumas pessoas, incluído amigos que tenho como inteligentes e razoáveis, parecem sofrer.

Afinal, para andar de bicicleta faz falta um carro. Aliás, muitos!

Felizmente, o excelente ambiente de convívio e o próprio desafio da prova tornaram a minha participação nas 24h num acontecimento de boa memória. Passar da minha bicicleta utilitária para a BTT, em que já não mexia há algum tempo, foi, ao principio, desconfortável. Guiador baixo, pneus grandes a gerar atrito, ainda levei uns minutos a adaptar-me. Depois foi sempre a rolar, por uma vez até foi a rolar aos trambolhões por uma ribanceira abaixo, a que chamam de "kamikaze", vá-se lá saber porquê.

Imagem: Rita Ramos
No fim, a minha equipa de 4 pessoas, que na sua maioria não levam o desporto muito a sério, que quase não treinaram, e que usam bicicletas que outros designam como velhas e pesadas, acabou a prova na 3º posição, com direito a cerimonia de pódio e taça. E conseguimos isto sem ter um só automóvel a dormir aos nossos pés. Incrível.

4 comentários:

  1. Parabéns!!! Histórico resultado!! E não há um filmezinho dos trambolhões ou de outras aventuras nocturnas curiosas? :)

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  2. Muitos parabéns! Acho que assim (com as tais bicicletas "velhas" e "pesadas", e sem a dependência do automóvel) ainda sabe melhor o merecido lugar no pódio. ;)

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  3. Obrigado! Não há filmes, mas estou a ver se arranjo uma foto da minha queda "kamikaze", havia uma série de fotógrafos presentes...

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  4. Quase não quê?! Bicicletas velhas e pesadas ainda vá... o resto são calúnias!

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