sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Haverá esperança?

Hoje acabei o dia um pouco indeciso, algures na zona cinzenta que vai do optimismo contagioso ao negativismo deprimente. Por acaso, estive em Oeiras, andei por Belém e acabei em Cascais. Vamos às boas noticias primeiro:




Este é o novo estacionamento para bicicletas da estação de comboios de Oeiras. Já existem dois outros espaços como este do mesmo lado da estação, mas estão sempre repletos de bicicletas. Muitas vezes os ciclistas são obrigados a recorrer aos postes e corrimões disponíveis por perto. Não sei ao certo há quanto tempo foi criado este novo espaço, só reparei nele hoje.

Este tipo de estrutura em "U" invertido é unanimemente considerada a mais correcta. Como utilizador estou completamente de acordo. Infelizmente não é a mais utilizada pelos municípios e demais autoridades, na hora de construir os seus estacionamentos para velocípedes. Mais um facto que demonstra como muitas vezes os projectos de modos suaves estão desligados da realidade e do público a que deviam servir.


Sinalizado e estrutura em "U" invertido. Um luxo!


Reparem então no meu espanto: numa zona onde já existem pelo menos 3 pontos de estacionamento para bicicletas (a abarrotar, mas existem), foi construído mais um, e ainda por cima, bem feito. É de notar que com esse dinheiro poderiam ter sido construídos 0,05 milímetros de autoestrada, ou o espaço utilizado para o estacionamento de 1/2 automóvel. Não estou habituado a tanto luxo! Rejubilemos!
  
Este pequeno prodígio parece ser da responsabilidade da CP e não da Câmara Municipal de Oeiras. Não deixa de ser curioso que a CP pareça mais preocupada com a mobilidade sustentável que o auto-proclamado "concelho de referencia, sem rival em Portugal". Talvez seja uma questão jurisdicional, mas realmente já não espero muito de uma autarquia governada por um criminoso condenado, reeleito contra tudo e contra todos pela população com maior nível de instrução do país, que nunca deixa de defender o seu autarca com afirmações do tipo: "Roubar roubam todos, mas ao menos ele tem obra feita".


Quase uma bicicleta para cada carro. Ah... Não.


Mesmo que poucos autarcas façam alguma coisa por isso, o facto é que hoje vi muita gente a andar de bicicleta, tanto em Oeiras como na zona de Belém. Foi altamente moralizador. Muitos utilizadores aproveitam a possibilidade de transportar a sua bicicleta no comboio. Outros aventuravam-se na temível marginal, com bicicletas utilitárias. Até vi uma longtail! Aliás, vi tantas bicicletas hoje que comecei a fazer uma contagem de marcas.

Ganhou a Órbita. O que é nacional é bom.


Bicicleta e comboio. O progresso não chegou aqui!


Está imagem, de (pequenos) progressos a serem alcançados na demanda da mobilidade sustentada, foi rapidamente desfeita numa subsequente visita ao novo Hospital de Cascais. Tanto asfalto foi ali derramado que pensei que ia ficar mal disposto. Ou terá sido da meia dúzia de rotundas que tive que navegar em menos de um quilómetro para chegar ao destino? E eu fui para lá de carro, provavelmente a única maneira "fácil" de conseguir chegar. Passeios não se vêem, ou são diminutos, tudo foi mais uma vez idealizado para pasto das vacas sagradas. Até a entrada do Hospital é precedida de uma enorme rotunda de múltiplas faixas, que parece ali existir apenas com intuitos decorativos.

Ali ao lado, cercado por vários pisos de estacionamento e uma cintura de 8 faixas de autoestrada, o Cascais Shopping da minha juventude está irreconhecível. Uma família de clientes do tipo pedonal (sem dúvida em vias de extinção) parecia mais chocada do que eu, ao verificar que o passadiço por onde tentavam aceder ao centro comercial desembocava num túnel rodoviário sem passeio nem berma. Não é deste progresso que eu quero fazer parte.

7 comentários:

  1. Nem de propósito, hoje inseri dois momentos em que se pode ouvir Jaime Lerner, antigo presidente do município de Coritiba, Brasil, e uma das mais escutadas vozes em questões de urbanismo e desenvolvimento sustentável das cidades.
    Está praticamente tudo inventado e se por cá se continua a construir mal, é apenas por incompetência.

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  2. Péráí! O Isaltino foi condenado a 7 anos de prisão? E não está preso?? E ainda é presidente da CMO??? Como é bom não morar por aí para não aturar essas cenas...
    O mais interessante é eu ter visitado o link que indicaste, à espera de rapidamente entender o que se passava... e parece que o assunto "morreu" há 1 ano?

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  3. Fantástico o discurso do Jaime Lerner. O problema por cá simples falta de coragem, não de ideias. Mas não sei como se dá a volta a isso...

    Nuno, o Sr. Isaltino apelou da sentença e pode permanecer em liberdade (e em funções!) até nova decisão das instâncias superiores. Como o Carlos Cruz e essa malta. E há muito mais pelo que deverias ficar feliz de não morar cá, infelizmente...

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  4. Temos de marcar um fim de tarde para pedalar até ao bar dos gémeos, beber umas jolas, dizer mal do Isaltino e do Capucho e falar de bicicletas. Tudo muito chic!

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  5. Boas notícias de Roma!

    Esta cidade além de ser um deleite estético a cada esquina, é também o paraíso para as bicicletas! Só ainda não percebi porque não há mais ciclistas a circular... Talvez não seja assim tão paradisíaca como eu ainda acho... O roubo frequente de bicicletas (ou parte delas) parece ser uma realidade, por exemplo... Mas até agora a minha experiência é super positiva: é quase tudo plano; o centro tem o trânsito automóvel condicionado pelo que nunca é assim tanto; há montes de ruelas pelas quais se pode circular em alternativa às principais vias; e, como forma de inculturação, não me tenho envergonhado muito de fazer aqui e ali algumas ruas em contra-mão... enfim, acho que a cidade merece uma visita do "Lisboa Bike"! :)

    ABRAÇO!
    João.

    PS - Um fenómeno curioso aqui é que os postes, grades e afins da cidade servem não só de estacionamento para as bicicletas mas também como cemitério de bicicletas... Não é raro encontrar cadáveres com alguns meses de vid... de morte pendurados nalgum poste. O exemplo mais exótico foi encontrar os restos mortais de uma bicicleta presos a um poste de sinalização rodoviária... (até aqui mais ou menos normal...) mas com esses restos a cerca de metro e meio de altura do chão... (!?).

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  6. Estás em Roma João? Fantástico. Não me importava nada de dar umas pedaladas por aí!

    Há uma possibilidade mais dramática para essas bicicletas amarradas que viste. Em alguns sítios é hábito marcar dessa forma o local de um atropelamento fatal: http://en.wikipedia.org/wiki/Ghost_bike

    Espero que o que vistes tenha sido outra coisa.
    Um abraço!

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