terça-feira, 18 de setembro de 2012

Rotunda do Marquês: a Polémica e o Resto

A Rotunda, hoje

Num país cada vez mais à beira do precipício, talvez decidido a antecipar o fim do mundo, que, como toda a gente sabe, está marcado para o dia 21 de Dezembro às 16:33h, de repente não se fala de outra coisa senão das alterações à circulação no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade. Sim, eu estou de volta à capital da república do pastel de nata. Estou por cá há menos de 24 horas e já me tentaram atropelar em cima do passeio, já pisei caca de cão e toda a gente aparentemente conduz do lado errado da estrada. E ainda nem peguei na bicicleta...

Nova lateral da rotunda

Cheio de saudades desta terra esquecida pela Grande Lagosta que está no Céu, fui dar uma voltinha pedestre pelo centro, de máquina fotográfica em punho. Não demorou muito tempo a ir ter àquele que é o coração espiritual da cidade, pelo menos para o Zé-do-Volante: a Rotunda do Marquês. O Marquês do Pombal e a sua rotunda rodoviária são um dos marcos da capital, um ícone com história, mas também uma fonte inesgotável de pesadelos para os alunos das escolas de condução e para os jovens recém-encartados. Com as suas múltiplas faixas de rodagem e trânsito muito agressivo, a rotunda era um habitat agreste, onde o predador rodoviário lisboeta mais comum, o conhecido Fogareirus Raivosum fazia mais vítimas.

Um Fogareirus Raivosum na nova lateral da Rotunda

Por detrás do novo arranjo da rotunda, diz a CML, está o desejo de justamente diminuir a perigosidade do local e também agilizar o trânsito dos transportes públicos na rotunda. Outra razão de que se fala é a de diminuir a poluição. E mais discretamente, fala-se em diminuir também o volume de tráfego automóvel na zona.

Dizem-me que há mais ciclistas em Lisboa. Eu vi estes!
 
Ora para diminuir a poluição tem mesmo que se restringir a circulação dos pópós, já que funcionam quase todos a motor de combustão interna. E há muitas mais razões para se diminuir o trânsito automóvel em toda a cidade, mas por cá é praticamente suicídio político dizer que se vai restringir a circulação (e é disso que se trata), porque depois de décadas de facilidades, em que quase se destruiu a cidade para aproxima-la do modelo de "mobilidade" norte americano, o automobilista lisboeta não está habituado a que lhe coloquem obstáculos.

 
Não é alucinação nem montagem!

Território recém libertado

Sinalização

Talvez por isso hoje se tenha instalado "o caos" na Rotunda, segundo os meios de comunicação social. Ao aperceberem-se que circulando por fora podiam aceder a todas as saídas na mesma e simplesmente ignorar as alterações, a maioria dos automobilistas optaram por este caminho, mesmo que tivessem como destino uma das saídas acessíveis pelo centro, de circulação muito mais rápida. Não assumindo responsabilidade pela sua escolha, culpam a CML por falta de informação, quando foi precisamente a informação da Câmara que os levou a tomarem, como sempre, a opção mais espertinha.

O esquema de circulação

Por outro lado, talvez estes automobilistas estejam simplesmente a seguir as instruções do seu Querido Líder, o presidente vitalício e incontestado mestre do Apocalipse Motorizado, o incomparável Reichfürer Barbosa, do ACP, que apelou a uma espécie de desobediência civil na Rotunda. Não é surpresa para ninguém deste lado dos anéis de Saturno que o senhor presidente seja absolutamente incapaz de compreender que menos trânsito em Lisboa é algo bom e desejável.

Ciclista na Av. da Liberdade

Mas o que é que isto significa para o ciclista urbano lisboeta? Bom, significa que vai deixar de poder usar as laterais da Avenida da Liberdade, como eu fazia, que são agora para trânsito local, com sentidos alternados. Por outro lado, vai poder usar a faixa BUS na Avenida. Sim, de repente parece que não há nenhum problema jurídico-legislativo nem se formará nenhum buraco negro com o potencial de sugar todo o planeta por se deixar os ciclistas usarem a faixa do BUS.

Será que é extensível ao resto da cidade?

Ainda não experimentei e não sei se será de facto mais seguro, mas à partida a faixa direita da Avenida pareceu-me larga o suficiente. Já na Rotunda, o novo arranjo efectivamente diminuiu a velocidade e as manobras perigosas "tipo autódromo", pelo que penso que a Rotunda estará agora ligeiramente mais segura para ciclistas. Como outras coisas da vida, tudo isto é ainda provisório e dada a cobertura mediática negativa destas alterações, só a Grande Lagosta que está no Céu sabe se a disposição será para manter.

2 comentários:

  1. Bem vindo de volta! ;)
    abraço e boas pedaladas!
    Júlio

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  2. Obrigado!

    Para pedalar tenho que montar a Raleigh primeiro, mas já está quase.

    Abraço!

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