Chamem-lhe Jukebox |
A cidade é o caos.
Circular em Lisboa é percorrer uma espécie de percurso de obstáculos, uns conhecidos, outros sempre novos e literalmente surpreendentes. O caminho exige concentração e um certo esforço. Desde que tenho a Raleigh que circulo também mais depressa, e ao fazê-lo procuro evitar os perigos da urbe, os carris de eléctrico, os peões distraídos, os taxistas enraivecidos e os outros mamutes metálicos tresmalhados.
Apesar de ir muito atento, sempre sem conceder facilidades à fortuna e ao acaso, por vezes uma coisa estranha acontece. Os movimentos tornam-se muito fluidos, instintivos mesmo, e tudo parece ficar sobre controle. Como se de outro estágio de consciência se tratasse, de repente sou capaz de escutar coisas como o som da corrente a passar nos carretos, ou sentir a quantidade exacta de atrito que os pneus estão a gerar. Normalmente por esta altura surge também um som na minha cabeça, uma música que toma conta dos meandros do meu cérebro, sem ter sido convidada. Normalmente não é algo que eu costume escutar, mas simplesmente uma música que eu já ouvi alguma vez, nalgum lado.
E assim dou por mim a escutar Heroes, do David Bowie, ao subir a Avenida da Liberdade, tão bem como se tivesse uns oscultadores colocados (que nunca uso). A culpa provavelmente é da cerimónia de abertura dos Jogos Parolimpicos em Londres. Acho incrível como sou capaz de me lembrar da letra de uma melodia que não ouviu assim tantas vezes.
Outras vezes, em alturas de maiores velocidades e perigos, sou inundado com um som do Moby, Extreme Ways provavelmente tirado da banda sonora da saga Bourne, de que sou fã. Em alternativa e nas mesmas circunstâncias acontece-me também ter Rolling Stones na cabeça, concretamente o Gimme Shelter que toca, invisível e inaudível, a altos berros dentro do meu cérebro. É uma canção usada em inúmeros filmes de guerra, por isso não estranho que o meu subconsciente a vá buscar quando estou no meio do trânsito.
Mais estranho é uma melodia que me costuma acompanhar em momentos de cansaço e esforço especialmente difíceis, como circular numa estrada nacional sem berma, de noite. É algo que devo ter apanhado nalguma discoteca há muitos muitos anos e que tive que ir pesquisar para ver o que era:
Este "One More Time" costuma traduzir-se em "mais uma pedalada" e mais de uma vez este som me ajudou a concluir uma viagem e a chegar a casa. Será caso para procurar o terapeuta?
Sem comentários:
Enviar um comentário