sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Cycle Chic, Cycle Chunga

Eu sabia que esta foto ainda seria útil!

No mundo do pedal, participo nisto e naquilo, mas o que faço basicamente é escrever este blogue e usar a bicicleta como meio de transporte. Não conheço ninguém. Não tenho paciência para as intermináveis discussões sobre mobilidade sustentável em que muitos se julgam peritos. A minha falta de jeito para o networking é aliás lendária. A minha maior contribuição para a causa é o meu espírito crítico, no melhor sentido do termo. E se por um lado não estou à espera de prémios da FPCUB, ou coisa do género, por outro sinto-me à vontade para falar de assuntos que, estranhamente para mim, outros deixam na gaveta.

Ora sem ir mais longe, quando me inscrevi me inscreveram no último passeio Cycle Chic não fazia ideia que estava a aderir também a uma espécie de iniciativa anti-capacete. Dando uma olhada nas fotos colocadas no site reparei que nem eu, nem nenhum dos meus amigos lá constávamos. Nada de mais, afinal éramos muitos, e eu certamente não serei nem Chic nem fotogénico para ficar na escolha final de imagens. Mas olhando para as outras fotos publicadas no site, rapidamente se tornou aparente uma discriminação em relação a quem usa capacete, que nunca surge representado. E eu garanto-vos que havia muita gente de capacete no passeio de Sábado:

Eles existem!!

Talvez no conceito de Cycle Chic esteja incluída a proibição do uso do capacete. Eu pensava que tinha mais a ver com usar roupa normal e andar devagar, mas reconheço que não sei muito do assunto. É claro que o autor do site tem todo o direito de escolher as imagens que melhor representem a mensagem que quer passar, mas mesmo assim há aqui qualquer coisa que me deixa desconfortável.

Como o mundo do ciclismo está cheio de sabichões, eu desde já esclareço que sou contra a obrigatoriedade do uso do capacete e que, pasme-se, até estou ao corrente dos principais argumentos sobre esta temática. Mas uma coisa é ser contra algo que estrangula o desenvolvimento do ciclismo utilitário e que felizmente não faz parte da atrofiada legislação portuguesa que cobre as questões dos velocípedes, outra é viver num mundo de fadas e duendes, onde todos podemos circular em bicicletas single speed e de vestido florido ou fatinho de verão e chapéu colorido pelas ruas de Lisboa.

Essa realidade eu não a vejo no dia a dia em Lisboa, onde até há umas colinas, onde até há uns carris de eléctrico, onde há piso em péssimo estado e onde os taxistas e os outros paquidermes motorizados enlouquecidos me tentam matar a cada 20 metros. Aqui, o capacete pode ser muito pouco, mas é melhor do que nada. Em outros locais, em distâncias curtas ou no estrangeiro, eu circulo sem capacete sem qualquer hesitação. Mas em Lisboa? Em Lisboa preciso dele, thank you very much. E raparigas em single speed e vestido de verão? Infelizmente ainda estou para ver alguma nas ruas da capital, sem ser na massa crítica. Será que a tribo do Cycle Chic só circula encima do passeio ou só pega na bicicleta para participar nestes eventos? Não sei.

Not Chic enough

O que eu sei é que sou definitivamente Cycle-Chuga. Ando de capacete. E de luvas. E por vezes até uso algum tipo de reflector na roupa. Não levo a bazuka porque ainda não arranjei nenhuma. Mas é que Lisboa não é Amesterdão. Não temos vias segregadas e bem implementadas. Não temos legislação que nos valha. Ninguém nos respeita. Um ciclista em Lisboa ainda é uma anomalia, ignorado pela câmara e desprezado pelo código e pelos utentes da estrada. Isso é que importa mudar. O esforço do movimento Cycle Chic penso que também seja nesse sentido. Mas por vezes fico com a ideia que eles pedalam noutra cidade diferente da minha.

10 comentários:

  1. Nem mais. Tal como tu, também nunca vejo os tais Chic a andar por Lisboa no dia a dia. Talvez estejam muito ocupados a escolher a roupa e a arranjar o cabelo para aparecerem nas fotos dos passeios mensais.

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  2. Bahhh!! Esta foi completamente despropositada!! Ficaste com ciumes por não teres aparecido nas fotos? Sabes muito bem que o movimento tem um propósito e é perfeitamente natural que o autor tente ilustrar isso da forma que idealizou. Quando vês anunciar uma maratona de BTT são as bicicletas do Pingo Doce que aparecem no cartaz?
    Quando vais ao site do Benfica, tem lá alguma foto dos Super-Dragões?
    Que mal tem tentar cativar as pessoas passando uma inagem de descontração e liberdade? É uma campanha angariadora de utilizadores de bicicletas. Das que mais impacto consegue ter. Infinitamente mais eficaz que a massa critica ou a travessia da ponte de bicicleta. Se calhar a maioria das pessoas que foram convencidas a utilizar a bicicleta chegaram à conclusão que preferem andar de capacete, mas o que interessa é que passaram a andar de bicicleta.

    Este tipo de eventos serve também para mudar as mentalidades de "taxistas e os outros paquidermes motorizados enlouquecidos" para que um dia possas circular na tua Lisboa sem capacete.
    Se não tens social skills para te integrares na tribo, tens que procurar a tua tribo, mas não menosprezes o trabalho dos outros.
    Ou quando vês um cartaz do Sudoeste compras bilhete e depois reclamas com a organização porque não ouviste fados?


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  3. Eu sempre chamei este movimento de Cycle Shit.

    Os que são contra a obrigatoriedade do uso do capacete parecem ser mesmo contra o uso do capacete.

    Também já tinha reparado que excluem sempre os que o usam, há um post do lider (soa mal, mas enfim) desse site a explicar que se trata de mostrar uma imagem mais atrativa, mas o quotidiano é este, há quem use e quem não use, há quem vá de licra, e quem vá de fato, eu prefiria que passassem a ideia de que basta ir de bicla, com ou sem roupa chic.

    Já agora, o verdadeiro utilizador da bicicleta não precisa de aparecer nesse site nem de dizer aos 4 ventos que anda de bicicleta, prefiro os teus posts que são apenas "uso-a e gosto, vejam isto que eu vi, isto que eu pensei". Não pares, que tens público.

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  4. Eu já não fui este ano ao Cycle chic de Lisboa por causa da história do capacete; fazer do não uso do capacete uma imagem de marca é pouco inteligente e (para mim) vagamente irritante; no fundo é criar divisões pouco saudáveis para as quais não há paciência.
    Sendo assim, mais vale ir pregar para outra freguesia.

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  5. Excelente texto, eu já tinha reparado nessa discriminação porque o meu grupo de amigos andamos sempre de capacete, e 2 já tiveram oportunidade de testar a sua eficácia ao circularem em ruas de paralelos e carris. Por isso concordo, o mais importante é andar de bicicleta !

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  6. Eu também não me identifico muito com estes ditos eventos massificados, com ou sem capacete. A minha visão do que deve ser andar de bicicleta diariamente é de que devemos seguir o nosso percurso sendo respeitados e respeitando todos os outros "loucos", sem estrovar, sem complicar...
    Agora em massa o que se consegue? Estrovar o transito, dar nas vistas... andar protegido por um grande grupo que nos permite andar sem capacete.
    Não me identifico com esta massificação, seja Chic ou Critica, o que não invalida os seus esforços.
    Eu gosto mesmo é de andar de bicicleta.

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  7. Olha, só hoje vi este post. O Jorge percebeu bem o que se passa. No blogue em geral não aparecem fotos com capacete - tão simples como isso. As fotos que faço, incluem toda a gente que participa no evento - as que não aparecem no blogue, costumam depois ser colocadas na página da FPCUB... é uma opção editorial. Não tenho nada contra o uso de capacete - cada um é livre de escolher se usa ou não. Agora não me digam o que eu devo ou não devo colocar no blogue. Volto a ressalvar: é uma opção editorial. Tal como um blogue de carros desportivos, não vai colocar fotos de um clio ou de um corsa vulgar. Tal como uma revista de roupa desportiva, não vai colocar imagens de roupa de gala. O Cycle Chic não é um blogue sobre tudo o que tem a ver com bicicleta... segue uma linha editorial, que define que nas imagens, não se passe a ideia de que para andar de bicicleta é necessário capacete. Apenas isso!

    Já agora, quem diz que as pessoas devem viver noutra cidade, visitem o blogue, e vejam as centenas de fotos que lá tenho, muitas delas tiradas no dia-a-dia...

    Um abraço,
    Miguel Barroso

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  8. Ó Miguel Barroso no fundo estás a dizer que quem usa capacete é como um "corsa vulgar" e por isso não tem lugar no cycle shit?

    É só peneiras é o que eu acho.

    Sinceramente até me parece um bocado amaricada esta obsessão pelo chick, por isso gostei do termo do Henrque Gonçalves de Cycle "Shit", acenta como uma luva!

    Se quem usa capacete faz parte da realidade, não haveria razão para não serem incluidos, provavelmente não incluem também homens das obras de bicicleta (que os há), são realidades que nem convém mostrar, vai manchar o blogue concerteza. A elite é um bom caminho para fomentar o racismo. Continua, que vais mal.

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  9. Muito bom post. Parabéns
    Miguel

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  10. Vamos com calma, andem de bicicleta, lutem pelo espaço e deixem-se de merdices próprias das minorias complexadas.
    A causa de ambos é mais que justa e o objectivo é o mesmo. Reivindicar espaço e segurança para quem quer usar bicicletas no dia a dia. Os acessórios são opção de cada um, até há quem as prefira sem selim... abraços.
    Filipe

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