terça-feira, 17 de agosto de 2010

The age of stupid

 
Não, não venho para aqui fazer a apologia do filme activista com o mesmo nome, embora tenha ouvido boas coisas dele, ainda não o vi. Sucede que depois de dois dias a utilizar as ciclovias de Lisboa e arredores, e muitos mais na tentativa de resolver um problema burocrático tipicamente "tuga", este é o título que me vem à cabeça.


Como os touros, estes peões adoram o vermelho

Ontem fui dar uma volta ao Guincho. Levei a minha bicicleta nova, (ainda não tem nome) e fui com atenção ao percurso, tentando perceber as qualidades e defeitos da ciclovia ali instalada. Já lá tinha passado várias vezes, mas nunca perdi muito tempo com um olhar mais crítico. Agora rapidamente salta à vista a falta de sinalização nos inúmeros cruzamentos. Só naqueles em que existe um stop há alguma garantia de que os carros vão parar, mas mesmo assim convém desconfiar, a maioria dos automobilistas não conhece o código da estrada, e tem aquela ideia geral de que as bicicletas NÃO têm prioridade e portanto, toma lá disto... No resto dos cruzamentos e saídas de casas particulares, a menos que se considere que os pópós estão a sair de um estacionamento, o ciclista não tem prioridade e deve parar para deixar passar sua excelência, o enlatado. O que é estúpido.

Quem tem prioridade?

Mesmo sendo um percurso recreativo, uma ciclovia simplesmente não funciona se os utentes estiverem constantemente a ser obrigados a parar e a desmontar. Isso reduz a velocidade média drasticamente, já para não falar no perigo enorme que esses cruzamentos representam. Há registo de um elevado número de colisões neste percurso, eu próprio conheço alguns casos, mas não me parece que a câmara esteja muito preocupada com isso.

Via partilhada

Continuemos na ciclovia do Guincho e depressa descobrimos que afinal ela não é mais que um passeio pintado, onde se permite (e se obriga, a existência de uma ciclovia obriga os ciclistas a usa-la em detrimento da estrada paralela) circular bicicletas. Isto porque, em boa parte do caminho, este espaço limitado tem de ser partilhado com peões! Isso inclui naturalmente crianças, famílias inteiras, pessoas a passear o cão pela trela... Será que as cabeças pensantes responsáveis por este projecto não imaginaram os riscos desta mistura, não se lembraram que por aqui passariam agora até desportistas mais "sérios"? Estão a ver a que velocidade circula, mesmo que em ritmo descontraído, um ciclista de estrada, que está agora teoricamente obrigado a usar a ciclovia? Será boa ideia mistura-lo com um miúdo de 4 anos a aprender a andar de patins?

50cm para ti, 50 cm para mim

Certo domingo passei por ali e ignorei a ciclovia, seguindo pela estrada em direcção ao Guincho. Ia depressa (+ 40km/h) e a ciclovia estava cheia de gente, a pé. Fui intimado a sair da estrada por um automobilista militante, que gesticulava e não parava de apontar para o tapete vermelho à minha direita. Respondi-lhe com a educação que as circunstancias impunham. No fundo, parece ser para isto que serve a "ciclovia", para que os peões e os ciclistas não estorvem a circulação a alta velocidade das vacas sagradas. Estúpido.

Ao fim do dia já tinha acumulado um bom número de travagens forçadas e quase colisões com os peões, que mesmo quando existe um amplo passeio ao lado, parecem preferir o tapete vermelho, talvez como os touros. Mesmo que se grite, que se use a campainha, as pessoas não reagem, parecem estar a dormir. No entanto, depois de te obrigarem a parar, acordam rapidamente, prontas a esgrimir argumentos sobre os seus direitos. A situação repete-se uma e outra vez.

Não serei, de longe, a primeira pessoa a debruçar-me sobre estes assuntos, e há uma divisão enorme entre os ciclistas que apoiam as ciclovias e os que são contra. Embora sensível a ambos argumentos, eu sou teoricamente a favor das vias segregadas, mas não a qualquer preço. (continua)

1 comentário:

  1. Deparo-me exactamente com o mesmo problema quando circulo em ciclovias: os peões completamente alheados e que tornam a circulação extremamente perigosa.

    Acho que enquanto não houver massa crítica eles vão continuar a usar as ciclovias para caminhar. Só quando os ciclistas foram tantos que imponham a sua presença os peões irão deixar as ciclovias desimpedidas.

    Até lá tento ser o mais cordial possível para com os peões, pois no fundo acabam por ser o "elo mais fraco" em caso de colisão. Pelo menos eles andam a pé e não de automóvel... Já não é mau! É bastante aborrecido partilhar a ciclovia com peões, mas eu tento ver a coisa assim: estamos do mesmo lado da barricada. ;)

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