segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ciclismo suburbano


 
O meu programa de festas deste domingo envolvia uma deslocação à Fábrica da Pólvora, para um solarengo picnic familiar. Não querendo entregar mais uns euros à Scotturb, resolvi ir de bicicleta. Imaginei que num domingo de Agosto não houvesse muito trânsito e não me enganei. Fiz um esforço por arranjar um caminho que não metesse vias muito movimentadas e acabei por conseguir um percurso mais ou menos pacifico. Foi algo como Carcavelos-Sassoeiros-Porto Salvo-Leceia-Tercena.


Ciclovia de Oeiras.


Comecei por cruzar a famosa "ciclovia" de Oeiras, no meu caminho para Sassoeiros. É estranho andar pelo lado esquerdo da estrada, mas é assim que a ciclovia foi feita. Também é preciso ter alguma atenção à saída, parte do trajecto é um circuito oval, quem não o conheça bem pode andar ali às voltas àquilo e não chegar a lado nenhum. Isso nem é o pior, depois a ciclovia começa a subir pelos passeios e a ser interrompida cada vez com mais frequência, sempre sem prioridade para o ciclista. Regressei à estrada.


Parece fixe. Mas não é.

Daqui para a frente segui o caminho que teria usado se me deslocasse movido a motor. Graças ao pouco trânsito, não tive problemas nos acessos ao Lagoas Park, que atravessei, nem nas rotundas de Porto Salvo. Utilizei a berma onde ela existia e os poucos automóveis que me passaram fizeram-no com civilidade e a velocidades razoáveis. Imagino que noutra altura do ano as coisas não serão bem assim. A subida para Leceia não custou tanto como imaginava, mas a descida do outro lado do morro provou ser interessante. A bicicleta ganhou facilmente velocidade, dei por mim com os travões cravados, atrás de uma fila de carros que seguiam ao ritmo de um tractor que ia na dianteira. Sentia a bicicleta instável, os pneus com pouca aderência e as rodas com vontade de bloquear sob o esforço intenso da travagem. Achei mais seguro ultrapassar toda a gente e seguir ao meu próprio ritmo. Foi o que fiz. Bicicleta 1, filas de trânsito 0.

Dali até à Fábrica da Pólvora foi um pulo, mas um pulo ligeiramente ilegal. A estrada está reservada a transportes públicos no sentido em que eu seguia. Nestas coisas costumo ser muito cumpridor, penso que se não for assim continuaremos a ser considerados por alguns como "usurpadores da via". Sou daqueles que para nos semáforos, paro nas passadeiras e evito em geral meter-me em confusões. Mesmo assim, a rede viária está de tal forma feita única e exclusivamente a pensar em automóveis ligeiros, que por vezes sinto-me compelido a desafiar as normas. Este foi um caso desses. Poupei uma volta de 3 km, vários cruzamentos potencialmente perigosos e uma subida monumental.


Animais também não são bem vindos


Na Fábrica, novo desafio. Está proibida a entrada de velocípedes. Acho sempre graça a estas proibições, as bicicletas parecem ser uma praga a combater, na cabeça de algumas pessoas. Que não se possa pedalar dentro do complexo (que é enorme), até aceito, mas que eu tenha que deixar a bicicleta cá fora, onde não há nenhum sítio onde a prender... Enfim. Fui falar com os seguranças e fui informado que não existia nenhum estacionamento para bicicletas. Para quê? Toda a gente sabe que ninguém vem para aqui a não ser de carro. Perante a indiferença, levei a bicicleta para dentro, à mão, e amarrei-a a um banco. Segunda ilegalidade?


Sôr Isaltino, estacionamento para bicicletas, SFF

No regresso penei para levar os 20 kg de bicicleta carregada pelo morro de Leceia acima. Foi épico, justamente porque não desmontei, mesmo quando pensei que havia alguma coisa de errado com as mudanças ou que a minha sobrinha se teria enfiado no alforge. O regresso foi feito pelo mesmo caminho e sem sobressaltos. No total do dia somei 23 km, feitos em grande parte em estrada aberta, debaixo de muito calor. Mesmo assim, ainda cheguei apresentável. Quase.

4 comentários:

  1. A questão sobre usar ou não as vias reservadas a transportes públicos é boa. Não sei qual é a resposta correcta, mas decidi há bastante tempo que tenho direito a usá-las (aberto argumentos que me façam reconsiderar!):
    a) quando a via BUS é paralela à via para outros veículos, parece-me geralmente bem mais perigoso circular na via dos outros veículos, não só por eles tenderem a ser mais acelerados mas também porque isso me obrigaria a circular entre a faixa do BUS e as outras... não obrigado!
    b) se toda a gente abandonasse carros e transportes públicos e passasse a usar bicicletas (ok, talvez fossem necessários uns poucos veículos motorizados - ou ciclo-riquexós? - para pessoas mais limitadas fisicamente), acredito (não fiz as contas, confesso) que as cidades seriam muito mais sustentáveis em termos de poluição do ar e sonora, espaço disponível, saúde da população... que acho que é um objectivo partilhado com os transportes públicos. Então acho que partilho o direito a usar as vias reservadas a transportes públicos.

    Mas concordo que esta questão entra na grande questão da típica "dupla personalidade" dos utilizadores de bicicleta: somos parte do trânsito ou somos peões? Eu tenho uma tendência natural(?) a ser aquilo que me dá jeito em cada momento, não necessariamente o que é mais justo ou correcto. Tendo a ser parte do trânsito, respeitando todas as regras e comportando-me de forma previsível e civilizada, mas não sou imaculado, e sei que por vezes arrisco promover a má fama dos ciclistas (p.ex., mudando para peão num semáforo e atravessando - geralmente a pé - na passadeira; ou, pior, subindo um passeio a pedalar para alguns metros finais até ao meu destino). Tenho de me policiar! :)

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  2. Para mim a questão das faixas BUS é simples. Prefiro atrasar 15 carros que levam 15 pessoas do que atrasar um autocarro que leva 30. Não uso as faixas BUS. No entanto admito que se o trajecto for mais fácil por estradas exclusivas para BUS as utilizo, mas geralmente nessas os autocarros não têm problemas em ultrapassar. Mas sou sincero, no percurso que faço diariamente são eles que me atrasam e aí tb caio em tentação: ultrapasso todos pelo meio e prontos!

    Fico contente por saber que existem mais ciclistas que "tentam cumprir as regras". Sinto-me bicho do mato qd vejo MTBs e biclas de downhill cheios de licra flurescente a passar vermelhos na Av. da Liberdade e a olhar para mim com ar de "tanso que paras nos semáforos".

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  3. Circular na faixa do BUS é o mais sensato por uma questão de segurança do ciclista, e por acréscimo, de todos os outros utilizadores da estrada.
    Uma bicicleta tem uma velocidade média em cidade muito próxima da do autocarro.
    Mesmo quando o ciclista não consegue acompanhar o normal fluir do trânsito, é mais seguro as tais trinta pessoas, munidas dalgumas toneladas de ferro, mudarem de faixa em segurança para ultrapassar a bicicleta, que uma bicicleta ficar entalada entre um autocarro a 50km/h dum lado, e um artista das razia a 70km/h do outro!
    Também porque quando chegado a um cruzamento, ficaria muito mais exposto quando tenho virar à direita, já que ao virar à esquerda mantinha o grau de risco.
    Esta discussão é frequente em todas as cidades onde a utilização da bicicleta tem vindo a crescer, mas é solucionada logo que as regras do trânsito passam a considerar o direito à via na exacta medida da fragilidade do utilizador. Ou seja, e de forma simplificada, prioridade ao peão, depois à bicicleta, a seguir à moto, ao carro e ao pesado.
    Em relação as semáforos, bom... eu não conheço ninguém, independentemente do tipo de pedais que tem debaixo dos pés, que seja 100% cumpridor, até porque, It's a jungle out there!

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  4. Em vias de várias faixas onde aquela mais à direita é BUS, é nessa que circulo. A menos que o trânsito esteja quase parado, é demasiado perigoso circular pela esquerda, tendo em conta a relação do automobilista português com os limites de velocidade. Não é legal, mas o que está mal é a infraestrutura.

    De resto, faço o possível por planear os deslocamentos e evitar ruas muito movimentadas e zonas onde estes problemas possam surgir. É claro que nem sempre é possível. Resta-nos o bom senso.

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